1 UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSU MESTRADO EM TURISMO LISIANE SCHERER ROTEIRIZAÇÃO TURÍSTICA NO ESPAÇO RURAL: ESTUDO LONGITUDINAL DA ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS - DOIS IRMÃOS, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL CAXIAS DO SUL 2014 2 LISIANE SCHERER ROTEIRIZAÇÃO TURÍSTICA NO ESPAÇO RURAL: ESTUDO LONGITUDINAL DA ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS - DOIS IRMÃOS, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL Dissertação submetida à Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Turismo - Mestrado, da Universidade de Caxias do Sul, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre em Turismo. Linha de Pesquisa: Turismo, Organizações e Sustentabilidade. Orientador: Prof. Dr. Eurico de Oliveira Santos CAXIAS DO SUL 2014 3 4 5 "Aventure-se, pois da mais insignificante pista surgiu toda riqueza que o homem já conheceu". John Masefield "Entre as dificuldades se esconde a oportunidade". Albert Einstein 6 Dedico esse trabalho à minha família. 7 AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, a Deus por iluminar meu caminho, me amparando nos momentos difíceis. Agradeço aos meus pais, Rudi e Tecla, pelo carinho, apoio e, pela força que sempre me transmitiram, na busca da realização dos meus sonhos. Agradeço ao meu noivo, André, pelo companheirismo, compreensão, por acreditar e incentivar as minhas escolhas, vibrando comigo, a cada conquista. Agradeço ao meu irmão e minha cunhada, Daniel e Thiciany, pelos auxílios prestados durante os anos do Mestrado. Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Eurico de Oliveira Santos, pelo incentivo, pela paciência, e pela confiança no meu trabalho. Esses aspectos foram primordiais no transcorrer desta dissertação. Agradeço aos demais professores do Mestrado Acadêmico em Turismo, pelos conhecimentos adquiridos, em especial à Prof. Dra. Susana de Araújo Gastal e Prof. Pedro de Alcântara Bittencourt César, os quais contribuíram, e muito, para a construção deste trabalho. Agradeço à Universidade de Caxias do Sul pelo apoio, por intermédio da bolsa de estudos concedida, e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pelo financiamento de parte dos meus estudos no PPGTUR, por meio de concessão de bolsa de estudos. Agradeço aos colegas do PPGTUR pelos momentos alegres de convívios, pela amizade que espero que perdure por muitos anos e, à nossa querida Secretária Regina, pela paciência e solicitude. Agradeço aos empreendedores da Rota Colonial Baumschneis pela paciência, disponibilidade, acolhimento e cooperação na realização das entrevistas e demais pesquisas efetuadas. Agradeço a Prefeitura Municipal de Dois Irmãos pelo auxílio prestado, bem como à todos aqueles que contribuíram com informações relevantes para a concretização desta pesquisa. Enfim, agradeço a todos que, de alguma forma, torceram por mim e participaram desta conquista! Muito Obrigada! 8 RESUMO O Turismo no Espaço Rural vem sendo associado a perspectivas de desenvolvimento econômico, social e cultural na área rural e, razão pela qual, muitas localidades estão investindo neste segmento turístico, como forma de agregar valor às propriedades rurais. A partir desse contexto, a presente pesquisa foi direcionada à área de roteirização turística no espaço rural e, buscou realizar um estudo longitudinal da Rota Colonial Baumschneis, com o objetivo de analisar a construção e desenvolvimento da Rota, nos seus quatorze anos de funcionamento, buscando descobrir os fatores que somaram para a atual situação do roteiro. Para tanto, foram identificados os aspectos da criação, organização e desenvolvimento da Rota, caracterizados os atrativos que fizeram e fazem parte do roteiro, elencando seus potenciais turísticos e a motivação e permanência na atividade turística, bem como, evidenciados os fatores que levaram ao estágio atual da Rota. A metodologia que norteou o processo de pesquisa caracterizou-se por um estudo de caso, com uma abordagem qualitativa e quantitativa, desenvolvida através de uma pesquisa do tipo exploratório-descritiva. A Rota Colonial Baumschneis, localizada no município de Dois Irmãos, Rio Grande do Sul, foi criada em 1998, e implantada no ano 2000, com o intuito de oferecer alternativas socioeconômicas para a comunidade, transformando as potencialidades encontradas na área rural em atrativos turísticos, enaltecendo a cultura germânica presente no município, resultado do seu processo de colonização. O roteiro tem um percurso de sete quilômetros, abrangendo, atualmente, quinze atrativos turísticos, categorizados em naturais e culturais. Os resultados obtidos mostram que a Rota Colonial Baumschneis foi criada por incentivo do Governo Municipal e, na fase de concepção, houve a participação efetiva dos proprietários e da comunidade local. Durante os quatorze anos houveram alguns ingressos de novos atrativos, entretanto, também ocorreram o desligamento de outros. Observou-se que os fatores que levaram a Rota, a atual situação, estão vinculados à ausência de interesse dos familiares em continuar a atividade da família, a duplicidade de produtos e/ou atrações em alguns atrativos, diminuindo a lucratividade destes e, principalmente a falta de retorno econômico, de divulgação, e de gerenciamento, aspectos estes que geraram frustração, acomodação e desmobilização. Todavia, ao mesmo tempo, evidenciou-se que a Rota proporcionou uma melhora na autoestima dos proprietários dos empreendimentos turísticos, os quais, hoje, se sentem valorizados pelos seus costumes e tradições germânicas, bem como, parcela dos participantes, tem perspectivas de melhora do roteiro e, estão otimistas quanto ao aumento do fluxo turístico. Palavras-chave: Turismo. Turismo no Espaço Rural. Roteiro Turístico. Rota Colonial Baumschneis. Dois Irmãos/RS, Brasil. 9 ABSTRACT Tourism in rural environment is related to the prospects of economic, social and cultural development in rural areas and therefore, many localities are investing in this tourist segment as a way to add value in their farms. Starting this context, this research is directed to the area of tourism in rural space and routing, though a longitudinal study of Colonial Route Baumschneis, with the aim of analyzing the construction and development of this route, in his fourteen years in operation, and seeking to discover the factors that contributed to the current situation on the route. To do so, aspects of the creation, organization and development of the route, which featured the attractions that have made and have still part of the itinerary, listing its tourist potential and motivation and his retention in tourism were identified, as well as reporting the factors that led to the current stage of the Route. The methodology that guided the research process was characterized by a case study with a qualitative and quantitative approach, developed through a survey of exploratory- descriptive. The Colonial Route Baumschneis, located in the municipality of Dois Irmãos, Rio Grande do Sul, Brazil, was created in 1998 and implemented in 2000, aiming to provide economic-social alternatives for the community, turning the potential found in rural as tourist attractions, praising German culture in this city, a result of the process of colonization. The route has seven kilometers, covering currently fifteen tourist attractions, categorized into natural and cultural. The results show that the Colonial Route Baumschneis was created by incentive of the Local Government, and at the design stage, there was the effective participation of the owners and the local community. During the fourteen years there were some inflows of new attractions, however, also other shutdown occurred. It was observed that the factors that led the route to the current situation is linked to the lack of interest of the families to continue the family activity, duplication of products and/or attractions in some cases, reducing the profitability of these, and especially the lack of economic return, disclosure, and management aspects that have generated frustration, accommodation and demobilization. However, at the same time it became clear that the route provided an improvement in self-esteem of the owners of tourist developments , which today feel valued by their customs and Germanic traditions, as well as portion of the participants has improved prospects routes and are optimistic about the increased tourist flow. Keywords: Tourism. Tourism in Rural Areas. Tourist Route. Route Colonial Baumschneis. Dois Irmãos/RS, Brazil. 10 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Gráfico 1 - Evolução da população do RS por condição de domicílio ....................... 30 Figura 1 - Configuração do turismo no espaço rural ................................................. 40 Quadro 1 - Classificação das atividades produtivas .................................................. 52 Quadro 2 - Pontos fortes e fracos das fontes de evidências ..................................... 69 Figura 2 - Localização do município de Dois Irmãos ................................................. 81 Gráfico 2 - Componentes do IDHM de Dois Irmãos .................................................. 82 Figura 3 - Kerb em Dois Irmãos ................................................................................ 96 Figura 4 - Bandinha alemã em Dois Irmãos ............................................................ 100 Figura 5 - Placa de identificação dos atrativos ........................................................ 114 Figura 6 - Marca da Rota Colonial Baumschneis .................................................... 115 Figura 7 - Kolonistenwagen ..................................................................................... 119 Figura 8 - Convite do lançamento da Rota em Porto Alegre ................................... 120 Figura 9 - Convite do lançamento da Rota em Dois Irmãos .................................... 121 Figura 10 - Plantações da Casa Velha Colha e Pague ........................................... 125 Figura 11 - Galpão para depósito ............................................................................ 126 Figura 12 - Casa de recepção aos turistas .............................................................. 128 Figura 13 - Paisagem rural e alguns animais da propriedade ................................. 130 Figura 14 - O galinheiro: externamente e internamente .......................................... 133 Figura 15 - Produtos artesanais expostos para comercialização ............................ 134 Figura 16 - Galpão para eventos no Campo 7 Amigos ........................................... 136 Figura 17 - Área de lazer com churrasqueiras no Campo 7 Amigos ....................... 136 Figura 18 - Lago com pedalinhos ............................................................................ 137 Figura 19 - Passeio de carroça ............................................................................... 139 Figura 20 - Vista panorâmica do Cerro Bela Vista .................................................. 140 Figura 21 - Praça do Imigrante em Dois Irmãos/RS ................................................ 141 Figura 22 - Casa antiga ........................................................................................... 143 Figura 23 - Espaço para eventos interno e ao ar livre ............................................. 145 Figura 24 - Biodigestor ............................................................................................ 147 Figura 25 - Plantações de verduras do Sítio Ecológico Falkoski ............................. 148 Figura 26 - Curso de agroecologia com crianças .................................................... 149 11 Figura 27 - Casa Rübenich...................................................................................... 151 Figura 28 - Roda d'água do Moinho Collet .............................................................. 153 Figura 29 - Maquinário do Moinho ........................................................................... 154 Figura 30 - Fachada do Armazém Scholles ............................................................ 155 Figura 31 - Balcões do Armazém Scholles.............................................................. 156 Figura 32 - Serraria e Carpintaria Becker ................................................................ 158 Figura 33 - Espaço da carpintaria ........................................................................... 159 Figura 34 - Serra para corte de madeira ................................................................. 160 Figura 35 - Fachada da Casa da Colônia Klaus ...................................................... 163 Figura 36 - Ponte de Pedra ..................................................................................... 166 Figura 37 - Salão Jacob Feiten ............................................................................... 167 Figura 38 - Cemitério Evangélico ............................................................................ 168 Figura 39 - Museu Histórico Municipal .................................................................... 169 Figura 40 - Cervejaria Hunsrück .............................................................................. 172 Figura 41 - Fabricação da cerveja ........................................................................... 173 Figura 42 - Casa Dienstmann .................................................................................. 175 Figura 43 - Acervo da Casa Dienstmann ................................................................ 176 Figura 44 - Apresentação da Casa Dienstmann ...................................................... 178 Figura 45 - Quadros do Atelier de Arte Leila Blauth ................................................ 180 Figura 46 - Restaurante Kioske da Rota ................................................................. 182 Figura 47 - Restaurante Kaffe Haus ........................................................................ 184 Gráfico 3 - Histórico da Rota Colonial Baumschneis ............................................... 187 Gráfico 4 - Motivação para ingressar na Rota Colonial Baumschneis ..................... 188 Gráfico 5 - Administração das propriedades ........................................................... 190 Gráfico 6 - Escolaridade dos proprietários .............................................................. 192 Gráfico 7 - Atividade profissional dos proprietários ................................................. 192 Gráfico 8 - Propriedades com atividade agrária ...................................................... 193 Gráfico 9 - Histórico hereditário das propriedades .................................................. 204 Figura 48 - Paisagens do trajeto da Rota Colonial Baumschneis ............................ 211 Figura 49 - Participação na Expointer ..................................................................... 214 Figura 50 - Antigas placas dos atrativos turísticos .................................................. 218 Figura 51 - Placa de sinalização da Rota na BR 116 .............................................. 219 Figura 52 - Comparação das placas de sinalização turística dos atrativos ............. 220 12 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Grupo 1 .................................................................................................... 75 Tabela 2 - Grupo 2 .................................................................................................... 76 Tabela 3 - Cronograma de visitas e entrevistas aos atrativos e equipamentos turísticos .................................................................................................................... 77 Tabela 4 - Cronograma de entrevistas com os Gestores municipais ........................ 78 Tabela 5 - Setores econômicos de Dois Irmãos ........................................................ 90 Tabela 6 - Fornecedores de produtos da Rota Colonial Baumschneis ................... 118 Tabela 7 - Histórico das atividades turísticas da Rota ............................................. 122 Tabela 8 - Relação da distância e tempo de viagem e a frequência das visitas ..... 208 13 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16 2 PRESSUPÓSTOS TEÓRICOS .............................................................................. 22 2.1 O TURISMO: FENÊMENO ECONÔMICO E SOCIAL ......................................... 24 2.2 O TURISMO NO ESPAÇO RURAL ..................................................................... 28 2.2.1 O espaço rural como local de multifuncionalidades ................................... 29 2.2.2 Histórico do Turismo no Espaço Rural no mundo ...................................... 34 2.2.3 O turismo no Espaço Rural no Brasil ........................................................... 37 2.3 ROTEIROS TURÍSTICOS ................................................................................... 47 3 METODOLOGIA DE PESQUISA ........................................................................... 59 3.1 PROBLEMA DE PESQUISA E OBJETIVOS ....................................................... 61 3.1.1 Problemática de Pesquisa ............................................................................. 62 3.1.2 Objetivo Geral ................................................................................................. 62 3.1.3 Objetivos Específicos .................................................................................... 62 3.1.4 Hipótese de estudo ........................................................................................ 62 3.2 ABORDAGENS METODOLÓGICAS .................................................................. 63 3.2.1 Procedimentos Metodológicos ..................................................................... 66 3.2.1.1 Técnicas de Pesquisa ................................................................................... 68 3.2.1.1.1 Documentação ........................................................................................... 70 3.2.1.1.2 Registros em Arquivos ............................................................................... 72 3.2.1.1.3 Entrevista ................................................................................................... 73 4 MUNICÍPIO DE DOIS IRMÃOS ............................................................................. 81 4.1 CHEGADA DOS IMIGRANTES ........................................................................... 83 4.2 CRESCIMENTO ECONÔMICOS DE DOIS IRMÃOS ......................................... 87 4.3 TURISMO EM DOIS IRMÃOS ............................................................................. 90 4.4 PRESENÇA CULTURAL GERMÂNICA EM DOIS IRMÃOS ............................... 93 4.4.1 Dialeto germânico - o Hunsrück ................................................................... 95 4.4.2 Manifestações religiosas e sociais ............................................................... 95 14 4.4.3 Música ........................................................................................................... 100 4.4.4 Gastronomia ................................................................................................. 101 5 ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS .................................................................... 105 5.1 ATRATIVOS TURÍSTICOS DA ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS ................ 123 5.1.1 Atrativos Naturais ........................................................................................ 124 5.1.1.1 Casa Velha Colha e Pague ......................................................................... 124 5.1.1.2 Propriedade Rural Ignácio Stoffel ................................................................ 129 5.1.1.3 Mundo dos Ovos ......................................................................................... 131 5.1.1.4 Campo 7 Amigos ......................................................................................... 135 5.1.1.5 Propriedade Rural Cerro Bela Vista ............................................................ 138 5.1.1.6 Praça do Imigrante ...................................................................................... 140 5.1.1.7 Convento Doce - Casa de Chá .................................................................... 142 5.1.1.8 Sítio Ecológico Falkoski ............................................................................... 146 5.1.2 Atrativos Culturais ....................................................................................... 150 5.1.2.1 Casa Rübenich ............................................................................................ 150 5.1.2.2 Moinho Collet .............................................................................................. 152 5.1.2.3 Armazém de Secos e Molhados Scholles ................................................... 154 5.1.2.4 Serraria e Carpintaria Becker ...................................................................... 157 5.1.2.5 Casa da Colônia Klaus ................................................................................ 162 5.1.2.6 Ponte de Pedra ........................................................................................... 164 5.1.2.7 Centro Comunitário Jacob Feiten ................................................................ 166 5.1.2.8 Cemitério Evangélico ................................................................................... 167 5.1.2.9 Museu Histórico Municipal de Dois Irmãos .................................................. 169 5.1.2.10 Centro de Dois Irmãos ............................................................................... 171 5.1.2.11 Cervejaria Hunsrück .................................................................................. 171 5.1.2.12 Casa Dienstmann - história e cultura ......................................................... 174 5.2 PONTOS DE APOIO AO ROTEIRO ................................................................. 179 5.2.1 Atelier de Arte Leila Blauth .......................................................................... 179 5.2.2 Restaurante Kioske da Rota ........................................................................ 181 5.2.3 Restaurante Kaffe Haus ............................................................................... 183 5.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS ......................................................................... 184 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 224 15 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 233 APÊNDICE A - ENTREVISTA COM O PROPRIETÁRIO ....................................... 251 APÊNDICE B - ENTREVISTA COM GESTORES MUNICIPAIS ............................ 259 APÊNDICE C - ENTREVISTA COM SR. ÉVERTON FRITSCH ............................. 263 ANEXO A - LISTA DAS CASAS TOMBADAS ....................................................... 266 ANEXO B - 1º FOLDER ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS ............................... 267 ANEXO C - 2º FOLDER ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS ............................... 268 ANEXO D - 3º FOLDER ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS ............................... 269 16 1 INTRODUÇÃO O turismo é uma atividade dinâmica. É um grande negócio global, compreendido como fator econômico de grande relevância, pois não só beneficia o crescimento econômico de uma localidade ou região, como também favorece a oferta de empregos e o aumento da renda, propiciando novas perspectivas sociais como resultado do desenvolvimento econômico e cultural (TRIGO, 1998; PANOSSO NETTO; TRIGO, 2009; BENI, 2011). A atividade turística (quando bem planejada e implementada), compreendida como um investimento rentável, pode ocasionar um efeito multiplicador na economia, ocasionando o surgimento de investimentos (nacionais e estrangeiros), o aumento de receitas, a geração de empregos (diretos e indiretos), entre outros fatores que possam vir a ocorrer no local onde incide o fluxo turístico (BENI, 2011). Complexa e heterogênea, essa atividade é, muitas vezes, mensurada apenas pelo seu valor econômico, implicando o deslocamento de pessoas de seu local de origem a um local de destino e com isso rompe com a monotonia do cotidiano. Porém o turismo também deve ser percebido como "um processo que tem por base as próprias relações sociais e as diversas formas de produção humana, não só as mercantis" (LEMOS, 2005, p. 68), assim se destacando como fenômeno social, por proporcionar uma inter-relação social entre os turistas e a comunidade receptora (CASTELLI, 1975; DIAS, 2005; LEMOS, 2005; PANOSSO NETTO; TRIGO, 2009). Portanto, o turismo, compreendido como um processo social, por promover “a difusão de informações sobre uma determinada região ou localidade, seus valores naturais, culturais e sociais” (BENI, 2003, p.39), e como uma atividade econômica, altamente rentável, na medida em que proporciona novas perspectivas sociais, a partir do desenvolvimento cultural e econômico que acontece na região ou localidade na qual é realizada, só tende a gerar benefícios. O município de Dois Irmãos, localizado no estado do Rio Grande do Sul, a 58 km da sua capital, Porto Alegre, vem buscando oportunidades no concorrido mercado turístico, por acreditar nesses benefícios do turismo, nas novas perspectivas sociais, no desenvolvimento econômico e na preservação do 17 patrimônio natural e histórico-cultural que a atividade pode estimular. Nesse sentido, no ano 2000, foi lançada a Rota Colonial Baumschneis1, a qual enaltece principalmente os atrativos da área rural do município, apostando no segmento de Turismo no Espaço Rural (TER). O Turismo no Espaço Rural é um segmento turístico que tem por objetivo harmonizar o meio rural com o turismo, permitindo, para quem o pratica, o contato com a natureza, através da realização de diferentes atividades, bem como a possibilidade de participar do cotidiano da vida do dono da propriedade, verificando in loco a cultura do local, tradições cultivadas de geração em geração, em um ambiente rural e familiar. Esse segmento vem proporcionando uma fonte de geração de renda extra para muitas famílias, principalmente nos períodos de menor safra com a terra, ou até como uma nova fonte de renda, evitando assim, o êxodo rural (ALMEIDA, RIEDL, 2000; SANTOS, 2008; JASPER, 2012). No caso da Rota Colonial, o turista tem a possibilidade de apreciar e vivenciar as tradições, a cultura e os costumes dos descendentes germânicos, que colonizaram Dois Irmãos a partir do início do séc. XIX. Nesse sentido, o espaço rural está se tornando um local de multifuncionalidades. O cenário agrícola, primeiramente absoluto, está aos poucos abrindo oportunidade para a inserção de outras atividades que não somente a agricultura e/ou a pecuária (SCHNEIDER, 2003; SANTOS, 2008). Pensar no rural como um local multifuncional e pluriativo demonstra uma nova ideia do rural, sendo hoje um espaço reconhecido e valorizado através da exploração de outras possibilidades atreladas a paisagem, cultura, história, com "potencialidades que podem e devem ser aproveitadas a favor do mundo rural" (CRISTOVÃO, 2002, p. 81). O Turismo no Espaço Rural está servindo, para muitas propriedades de pequenas áreas de terra, para um aumento da fonte de renda e, sendo, cada vez mais, procurado como destino turístico. A população urbana procura sair da cidade nos feriados, finais de semana e também nas férias e encontra, nas áreas rurais, um lugar ideal para usufruir de descanso e lazer. Essas experiências ofertadas pelo TER aos turistas são atividades como: cavalgadas ou passeios em meio a produção 1 Palavra do dialeto alemão que significa Picada dos Baum. Pedro Baum e sua família foram uns dos primeiros colonos a se instalar em Dois Irmãos, e devido a grande influência deles junto aos demais imigrantes, o local foi denominado de Baumpikade ou Baumschneis (ARANDT, 1999). 18 de maçã, pêssego, morango, uva, hortifrutigranjeiros, podendo inclusive colher as frutas ou verduras diretamente do pé e comê-las no local, bem como, há a possibilidade de apreciar a paisagem rural, suas construções, conhecendo um pouco da história do lugar. É possível ainda a participação nas lidas diárias do proprietário, vivenciando e aprendendo como é o seu dia a dia, encilhando cavalos, manejando os animais, entre tantas outras possibilidades. Como forma de agregar valor às suas propriedades rurais, muitos proprietários estão investindo no turismo. E uma das maneiras de participar desse mercado, é a sua inclusão em rotas e roteiros turísticos, locais ou regionais. Essa prática está se tornando frequente em diversos municípios, através da união de propriedades rurais com algum atrativo relevante para ser mostrado aos turistas. Ao invés do turista encontrar atrativos dispersos em um local, é ofertado a ele um conjunto de atrativos integrados, com opções para usufruir em seu tempo de lazer (GARCIA; MOLETTA, 2000; BRAMBATTI, 2002). A demanda para esse segmento turístico está em crescimento no mundo e no Brasil. Muitas pessoas o procuram por considerarem uma maneira de refazer suas energias vitais, pelo contato com a natureza, como forma de redescobrir os valores antigos, presentes nos costumes, na arquitetura e na interação com a comunidade local. O turismo, portanto, tem sido encarado como uma maneira de contribuir para a revitalização das áreas rurais, a partir do empreendedorismo, sob a ótica de um novo negócio em relação à tradicional vocação agrícola ou pecuarista (CRISTOVÃO, 2002; SANTOS, 2004; 2008). Entretanto, para que esse segmento se torne um agregador de resultados para as famílias rurais, é necessário que o mesmo seja planejado e gerenciado corretamente para se evitar problemas imediatos e futuros, devendo-se considerar diversos aspectos, como: a potencialidade turística do local, a autenticidade, a infraestrutura necessária para bem receber o turista e muitos outros, uma vez que o turismo: [...] quando bem planejado e com a participação efetiva dos moradores, pode constituir uma atividade econômica importante para o desenvolvimento local e regional, possibilitando também uma maior interação dos diversos setores produtivos, dinamizando-os (ANDRADE; MARQUES NETO, 2006, p. 113). 19 Essa preocupação diversas vezes não ocorre, causando assim frustrações aos proprietários e desilusões com relação ao turismo, ocasionando danos à continuidade da atividade turística e afetando a comunidade envolvida. Diante disso, a presente pesquisa foi direcionada para a área de roteirização turística no espaço rural, tendo como objeto de estudo a Rota Colonial Baumschneis, no município de Dois Irmãos, Rio Grande do Sul, Brasil. A partir da delimitação do tema e do objeto de estudo, este estudo foi norteado pela seguinte problemática de pesquisa: Como ocorreu a construção e desenvolvimento da Rota Colonial Baumschneis, no município de Dois Irmãos/RS, nestes quatorze anos de atividade, buscando descobrir os fatores que somaram para a atual situação do roteiro? Portanto, a presente pesquisa traçou um estudo longitudinal da Rota Colonial Baumschneis, tendo como objetivo geral: analisar a construção e desenvolvimento da Rota nos seus quatorze anos de funcionamento, buscando descobrir os fatores que somaram para a atual situação do roteiro. Cabe ressaltar que, para se alcançar esse objetivo, foram formulados outros, os quais serviram de subsídios: identificar os aspectos da criação, organização e desenvolvimento da Rota Colonial Baumschneis; caracterizar os atrativos que fazem e fizeram parte do roteiro, seu potencial turístico, motivação e permanência na atividade turística; identificar fatores que levaram ao estágio atual da Rota, observando possíveis lacunas e ações que podem ser reestruturadas para sua revitalização. Optou-se por esse roteiro uma vez que o mesmo é objeto de interesse da pesquisadora desde 2003, tendo sido já realizadas algumas pesquisas preliminares, antes do ingresso no Programa de Pós-Graduação em Turismo, no entanto, sem um aprofundamento em relação às causas que levaram à atual situação do roteiro. Em todas as vezes que a Rota foi tema principal ou citada na academia e em mídias de comunicação, sempre foi referenciada como uma iniciativa de desenvolvimento econômico, social e cultural para o município de Dois Irmãos e principalmente para os envolvidos. Compreendida por todos como forma de preservação da cultura e patrimônio histórico, fonte alternativa ou essencial de renda, motivo de permanência dos colonos na zona rural, e a maneira de colocar Dois Irmãos no mercado turístico. Nesse sentido, entende-se que este trabalho apresenta relevância econômica e social para Dois Irmãos, uma vez que, tanto o município, como toda a 20 comunidade usufruiu do fluxo turístico que passou a existir após a criação da Rota Colonial Baumschneis e, que hoje está necessitando de uma reformulação. Portanto, pretende-se contribuir com este estudo para o futuro do roteiro, pontuando seus pontos fortes e fracos, para que ele tenha condições de continuar sendo gerador de renda de algumas famílias e um investimento lucrativo para antigos e novos integrantes, fazendo jus ao objetivo para o qual a mesma foi criada: buscar alternativas socioeconômicas para a área rural do município, diversificando suas atividades, ressaltando as características naturais, culturais e sociais do local, com a possibilidade de um retorno financeiro aliado à permanência da população rural em seu local de origem, bem como valorizar a parte histórica e cultural do município. A presente pesquisa divide-se em seis capítulos, sendo que os aspectos introdutórios norteiam o leitor sobre as motivações que resultaram neste trabalho, seu problema, objetivos, identificando o foco da pesquisa. O próximo capítulo, "Pressupostos Teóricos" refere-se ao referencial teórico, no qual se apresenta o fenômeno turístico em sua concepção, fazendo um breve histórico do Turismo no Espaço Rural no mundo, considerando seus principais expoentes, esclarecendo principalmente a segmentação de Turismo no Espaço Rural e seus desdobramentos no Brasil. Ao final, abordam-se aspectos relacionados aos roteiros turísticos. A trajetória metodológica está descrita no terceiro capítulo, "Metodologia de Pesquisa". Discorre-se sobre os procedimentos metodológicos adotados para a realização desta pesquisa, a qual tem uma abordagem qualitativa e quantitativa, sendo desenvolvida através de uma pesquisa do tipo exploratório-descritiva, caracterizando-se por um estudo de caso. No quarto capítulo, "Município de Dois Irmãos", primeiramente caracteriza-se o município, para então abordar seu aspecto histórico, sua importância na colonização germânica do estado do Rio Grande do Sul e no desenvolvimento regional. Pondera-se brevemente sobre a trajetória do município no mercado turístico e, por fim, apresenta-se a presença cultural germânica em Dois Irmãos. O quinto capítulo "A Rota Colonial Baumschneis", refere-se especificamente à Rota, sua criação, seu desenvolvimento e trajetória nestes quatorze anos de atividades. Também se discorre sobre todos os empreendimentos que fizeram e fazem parte do roteiro, desde sua concepção, apresentando seus potenciais turísticos, suas características, juntamente com as análises realizadas do roteiro, 21 relacionando com a teoria apresentada no referencial teórico, apontando os fatores que despontaram como fundamentais e relevantes conduzindo, para o atual estágio em que a Rota Colonial Baumschneis se encontra. É exposto no sexto capítulo, "Considerações Finais", as principais conclusões, as limitações da pesquisa e as sugestões para estudos futuros. E, por fim, apresenta-se as referências utilizadas ao longo da pesquisa, os anexos e apêndices usados neste estudo. 22 2 PRESSUPÓSTOS TEÓRICOS O Turismo atual teve sua evolução no século XX. Contudo, considera-se que, desde os primórdios da humanidade, o homem já se locomovia no espaço, realizando assim viagens e não fazendo propriamente o turismo como é conhecido hoje (RUSCHMANN, 1997). Na Antiguidade, as viagens eram motivadas por questões religiosas e de saúde. Outro aspecto motivador para as viagens nesse período foram os Jogos Olímpicos, os quais movimentavam um grande fluxo de pessoas. Estes jogos eram realizados de quatro em quatro anos, momento, no qual, muitas pessoas se deslocavam de várias regiões do mundo para a Grécia, onde assistiam às competições. Na Idade Média, a atividade turística era considerada elitizada, isto é, à disposição de uma elite relativamente limitada, como reis, imperadores, nobres, e era indicativa de status social, sendo que as viagens normalmente ocorriam por razões religiosas (YASOSHIMA; OLIVEIRA, 2002; IGNARRA, 2003; OLIVEIRA, 2005). No período do Renascimento, o enfoque para os deslocamentos eram as viagens de estudos, realizadas, principalmente, por jovens estudantes de maior poder aquisitivo. Esses jovens, após concluírem a faculdade, eram incentivados por suas famílias a fazerem viagens pelo mundo, principalmente pela Europa, para adquirir novos conhecimentos, aprender outros idiomas, e ampliar suas informações sobre o mundo, e desta forma, tornarem-se pessoas mais cultas. Essa viagem pelo mundo, realizadas pelos jovens, foi chamada de Grand Tour, expressão que surgiu no século XVII e XVIII na Inglaterra (YASOSHIMA; OLIVEIRA, 2002; OLIVEIRA, 2005). A partir da Revolução Industrial, houve a transformação das estruturas econômicas e sociais de grande parte da população, proporcionando a inserção de uma nova classe social, a qual também começou a usufruir das atividades de lazer e houve, com estas mudanças, uma procura pelas viagens recreativas, declinando em popularidade as grandes viagens realizadas até então somente pela elite da sociedade (REJOWSKI et al., 2002; IGNARRA, 2003). O desenvolvimento do transporte ferroviário foi outro fator importante, pois “proporcionou deslocamentos a distâncias maiores em períodos de tempo menores” (IGNARRA, 2003, p. 05). Nessa mesma época, mais especificamente na segunda 23 metade do século XVIII, houve o advento da navegação, com a transformação dos barcos à vela, em barcos a vapor, tornando as viagens marítimas “mais seguras, mais rápidas e com maior capacidade de carga e de passageiros” (IGNARRA, 2003, p. 06). Com todos estes avanços, as viagens turísticas intercontinentais tornaram-se mais viáveis. No final do século XVIII e todo o século XIX, o turismo adquire uma nova roupagem. Surge o termalismo, locais onde se pudesse cuidar da saúde, e ocorre a ascensão do paisagismo e do montanhismo, convertendo esses lugares como sinônimos de contemplação da natureza, de apreciação das paisagens naturais e espaço de descanso. Oliveira (2005) faz referência a esse fato quando menciona: O novo comportamento humano foi decorrente da deterioração da qualidade de vida nos grandes centros urbanos e industriais, que desgastavam psicológica e fisicamente. Os habitantes passaram a necessitar de períodos de descanso para recuperar as forças perdidas (p. 25). Outro segmento da atividade turística que também teve início no século XIX foi o do entretenimento que se caracterizou pelos jogos de azar, através do surgimento e da propagação dos famosos cassinos que, até hoje, são grandes influenciadores no deslocamento de muitas pessoas pelo mundo (REJOWSKI et al., 2002; IGNARRA, 2003). Da mesma forma que os navios a vapor e os trens trouxeram benefícios para o turismo, o advento do automóvel e da aviação, no século XX, tiveram igualmente sua participação na evolução da atividade turística. O automóvel, como meio de transporte seguro e econômico, muito utilizado até hoje para viagens curtas ou para longas distâncias por diversos turistas, e o uso do avião tornou "as viagens cada vez mais rápidas e baratas, possibilitando assim um grande intercâmbio turístico” (IGNARRA, 2003, p. 06). As conquistas no campo social pela população, no decorrer do século XX, como, jornada de trabalho, férias remuneradas, entre outras, permitiram ao homem mais tempo livre e, consequentemente, necessidade de preenchê-lo com alguma atividade. Esses fatos, aliados ao desenvolvimento dos transportes, simultaneamente aos grandes avanços dos meios de comunicação, permitiram o 24 surgimento do turismo de massa2, isto é, do turismo organizado (REJOWSKI; SOLHA, 2002; OLIVEIRA, 2005). A mesma linha de pensamento tem Ruschmann (1997), quando afirma que os anos de 1950 a 1970 caracterizaram-se pela massificação da atividade, quando: Os vôos charters e os “pacotes turísticos” conduziram milhares de pessoas às partes mais remotas do planeta, além de conduzi-las a localidades nos próprios países emissores (turismo interno). Nos anos 80, a prosperidade econômica dos países desenvolvidos fez com que a grande maioria da sua população usufruísse de férias pelo menos duas vezes ao ano e as mais diversas categorias profissionais tiveram acesso às viagens turísticas empreendidas em grupo ou isoladamente (p. 15). Em decorrência da globalização no século XX, o turismo assume o formato de uma atividade econômica e começa a ser analisado como um segmento de grande importância para a economia. Lemos (2005, p. 22), destaca que "nas últimas décadas deste século, vem aumentando sua importância como atividade social e econômica", ou seja, além de ter se tornado impulsionador da economia, o turismo releva-se como um processo de interações contínuas entre as comunidades e os visitantes. 2.1 O TURISMO: FENÔMENO ECONÔMICO E SOCIAL Conhecer a base do turismo, sua história e "suas nuances e contexto de desenvolvimento é importante para que se possa entender a situação atual do fenômeno" (CISNE; GASTAL, 2010, p. 10). Partindo das informações relacionadas no breve histórico da atividade turística, chega-se ao ponto em que se inicia a compreensão do turismo como um fenômeno econômico e social. Juntamente com a globalização, verifica-se a importância da evolução tecnológica na atividade turística, através da utilização dos meios de comunicação e transportes, tornando o turismo mais difundido e acessível às pessoas, e consequentemente proporcionando uma grande circulação e movimentação financeira em todos os segmentos envolvidos, com ótimo resultado para a economia de uma comunidade, estado ou nação (OLIVEIRA, 2005; BENI, 2003, 2011). Beni 2 Modalidade de turismo que mobiliza grandes contingentes de viajantes. Uma forma de organização do Turismo que envolve o agenciamento da atividade bem como a interligação entre agenciamento, transporte e hospedagem, de modo a proporcionar o barateamento dos custos da viagem e permitir, conseqüentemente, que um grande número de pessoas viaje (CRUZ, 2001, p. 06). 25 (2011) é enfático ao dizer que a globalização do turismo é resultante, principalmente, dos seguintes fatores: [...] aumento da liberalização do comércio mundial; incorporação de novas tecnologias, como a informática e as telecomunicações; integração horizontal e vertical das empresas de turismo; difusão territorial do consumo; e flexibilização do trabalho nos diversos setores produtivos, incluindo o próprio setor do turismo (p. 21). A partir disto, na visão de Barretto (1996) o turismo: [...] exerce na economia um efeito multiplicador, gerando empregos, impostos, e originando uma rede de serviços e apoio nas mais variadas áreas que movimentam recursos materiais e humanos. É por este efeito multiplicador diversificado que o turismo é visto como um grande investimento (p. 49). O impacto econômico do turismo pode repercutir até em locais que não possuam atrações turísticas, agindo como fornecedores de bens e serviços, na confecção de produtos artesanais, industriais, agrícolas, alimentícios e mão-de-obra (OLIVEIRA, 2005). Os reflexos na economia gerados por essa atividade "podem ser dimensionados direta, indiretamente e de forma induzida, tanto antes quanto durante e depois das viagens" (LEMOS, 2005, p. 23), provocando assim uma verdadeira reação em cadeia. Entretanto, o turismo passou de uma atividade vista somente pela ótica econômica, transformando-se também em um fenômeno social, por entender-se que, a partir dele, ocorre a proximidade social entre diferentes sujeitos. Diversos autores, como Aguiar e Dias (2002), Lemos (2005), Panosso Netto e Trigo (2009) e Beni (2003; 2011), consideram, hoje, essa atividade responsável pela integração social, aproximação dos povos e de inter-relação social e cultural entre os turistas e a comunidade receptora, como também entre os elementos que o cercam, proporcionando, assim, a multiculturalidade, conforme define Castelli (1975): O turismo é a soma de relações existentes entre pessoas que se encontram passageiramente numa localidade e os naturais desta, [...] a infra-estrutura, os recursos naturais, culturais, artísticos, históricos, os meios de hospedagem e os serviços complementares (p.19, grifo nosso). Mesmo o turismo sendo pensado como um negócio global deve-se atentar às demais questões intrínsecas a ele, como sendo "um convite à convivência entre 26 pessoas, etnias e culturas diferentes" (PANOSSO NETTO; TRIGO, 2009, p. 49), fruto de um deslocamento, de um movimento temporário. Ao mesmo em tempo que se nota a crescente demanda de viagens em escala maciça, onde "pessoas das mais variadas classes sociais, e de todos os países, viajam para todos os cantos do planeta" (BENI, 2011, p. 45), observa-se também a tendência de viagens mais intimistas. A demanda turística está em busca de qualidade em suas viagens, deseja encontrar no destino uma infraestrutura adequada, um bom acolhimento da população local e uma experiência marcante da viagem. Observa-se que o turista, cada vez mais, está a procura de novas e diferentes sensações (STEIL, 2002; LEMOS, 2005; BENI, 2011). Da mesma forma que o turismo se utiliza de toda a inovação tecnológica do século XXI, materializando-se "na oferta das atrações contemporâneas, a exemplo dos lugares artificiais e dos parques temáticos" (XAVIER, 2007, p. 54), pretende-se refletir neste trabalho sobre a atividade turística ligada ao natural e ao histórico- cultural, relacionada com aquele turista que não se contenta mais com o turismo de massa, mas busca uma experiência mais autêntica, mais real, sendo, muitas vezes, próxima da natureza. É importante destacar que, de acordo com Molina (2003), o pós-turismo identifica-se com um desnecessário deslocamento do turista, a partir da utilização cada vez maior da tecnologia, e a consequência disso seria um contato mínimo entre turista e comunidade local. Contudo, o mesmo autor ressalta que aqueles que tiverem interesse em competir com este novo paradigma do turismo, deverão agregar valores à sua oferta, ressaltando a autenticidade de seus cenários culturais e naturais, valorizando o contato com a população de cada lugar de modo diferenciado. Essa necessidade de vivências mais autênticas, para conhecer espaços que tenham uma paisagem não construída, que remetem ao verde, ao meio ambiente e à natureza é mencionada por Beni (2011), [...] observa-se uma tendência de crescimento destacado do turismo, [...] visando motivar o reencontro com a natureza, de caráter familiar, com o meio ambiente, [...] deslocando em grande parte, o fluxo turístico dos grandes centros urbanos e cosmopolitas para áreas locais com expressivo patrimônio histórico-étnico-cultural, em que podem ser vivenciadas experiências mais autênticas e genuínas, [...] passando do ter para ser, com o apelo simples de viver o que ainda não foi impregnado por artificialismos e tensões dialéticas (p. 45). 27 A autenticidade é entendida por Domenico e Miller (2012) como um conceito confuso, porém, podendo ser relacionado ao realismo das circunstâncias, envolvendo objetos, ou com respeito às atividades "que, para os turistas, é a medida em que eles são capazes de experimentar um produto que lhes permite ser fiéis a si mesmos3" (p. 287). Compreende-se, a partir da visão dos autores, que a autenticidade está ligada com o envolvimento do turista durante sua visita, envolvimento este que proporcione uma experiência diferenciada, envolvendo emoção e sentimento, contrários às pressões da modernidade. Xavier (2007) compartilha do mesmo pensamento apresentado por Beni (2011), onde considera o turismo pós-moderno como um retorno à natureza, da procura por espaços que possibilitam a contemplação da paisagem, sendo essa necessidade imposta pelo crescimento expressivo das cidades e o aumento do estresse. Essas necessidades, conforme o mesmo autor, foram, em grande parte, criadas pela mídia, mas, mesmo assim, são consideradas pelo autor como reais. Beni (2011) e Xavier (2007) destacam que emergiu na sociedade a vontade do re-despertar dos valores culturais, a partir da fruição de espaços que contenham manifestações antropológicas, artísticas, religiosas, artesanais, folclóricas e históricas. Skuras, Dimara e Petrou (2006), a partir de estudos realizados na Europa, também apontam para o mesmo fato: [...] cada vez mais pessoas estão interessadas não só em 'provar' novos lugares, mas também na descoberta de diferentes formas de turismo, dando maior ênfase em produtos de qualidade, por formas ambientalmente e culturalmente mais sensíveis de turismo e por viagens mais curtas, porém mais frequentes, enquanto que um número significativo de europeus (23%) escolheu o campo como o destino turístico preferido (p. 770)4. Esse novo turismo, fruto da globalização ou mundialização, como se refere Beni, trouxe novas formas de ofertar segmentos já consagrados pela demanda turística, como o turismo de sol e praia e o turismo de circuitos e roteiros, bem como uma diversificação de novos segmentos para a área, "os chamados turismos 3 Tradução livre da autora para o seguinte texto original de Domenico e Miller (2012, p. 287): "that for tourists is the extent to which they are able to experience a product that allows them to be true to themselves. Hence, in the case of this study, the related concept of ‘experiential authenticity’ is used". 4 Tradução livre da autora para o seguinte texto original de Skuras, Dimara e Petrou (2006. p. 770), "increasingly more people are interested not only in ‘sampling’ new places, but also in discovering different forms of tourism, placing greater emphasis on quality products, on more environmentally and culturally sensitive forms of tourism and on shorter but more frequent trips, while a significant number of Europeans (23%) choose the countryside as the most preferred tourism destination". 28 alternativos: ecoturismo, turismo de aventura, turismo no meio rural e turismo endógeno" (BENI, 2011, p. 33, grifo nosso). O Turismo no Espaço Rural, um dos assuntos correlatos a esta pesquisa, é um segmento turístico que está de acordo com essa nova tendência destacada pelos autores no pós-turismo, uma vez que, quando desenvolvido com qualidade, essa proposta de turismo no espaço rural surge para propiciar àqueles que o praticam, uma experiência ligada à liberdade, à autenticidade, à beleza natural, à saúde, ao encontro com o antigo modo de vida e produção de alimentos, entre outros motivos que influenciam os que se identificam com essa proposta e turismo. 2.2 O TURISMO NO ESPAÇO RURAL Existe um amplo universo de tipologias de Turismo, de segmentos turísticos, sendo cada um responsável por destacar atividades e/ou atrações que servem como parâmetro para identificá-los entre si. Porém, cada vez mais, surgem e se criam atividades e/ou atrações que compõem mais de uma tipologia e, tipologias com nomenclaturas diferenciadas, no entanto apresentam as mesmas características. Nesta perspectiva, Tulik (2006, p. 113) afirma que “os diferentes critérios utilizados vêm resultando numa grande profusão de categorias não excludentes, tornando difícil a identificação dos diferentes tipos de turismo e, mais ainda, a conceituação de cada um deles”. Esta confusão terminológica e infinidade de critérios para abordar os mercados-alvo do turismo dificulta a compreensão, por parte do turista, quando este se propõem a viajar, e para os empresários que trabalham no setor. Tulik (2006), a partir da análise de diversos autores, como: Petrocchi (1998), Moraes (1999), Cunha (1987) e, Montaner Montejano (2001), chegou a seguinte conclusão: [...] as terminologias e, também os critérios variam ao sabor da criatividade e da imaginação de empresários e especialistas. Estes tentando elaborar critérios para organizar o conhecimento e as informações advindas da prática; aqueles, nomeando os tipos e, muitas vezes, atribuindo nomes novos a práticas antigas. Verifica-se que, com base na segmentação, nas características dos destinos ou nas atividades praticadas pelos turistas, proliferam os tipos de turismo que, geralmente, obedecem à uma lógica pessoal e, com frequência, apoiada nas denominações oriundas do mercado (p. 111). 29 Sob essa ótica, o Turismo no Espaço Rural está inserido no contexto abrangente do turismo, considerado por uns como uma segmentação, que abrange duas modalidades específicas: o Turismo Rural (TR) e o Agroturismo (AG). Entretanto, outros identificam essas duas modalidades como sub-modalidades do TER, ou como segmentações do turismo, excluindo assim a nomenclatura Turismo no Espaço Rural. Da mesma forma, observa-se que existem diversas concepções e interpretações do TER nos diferentes países do mundo. Para este trabalho, portanto, emprega-se a nomenclatura Turismo no Espaço Rural. O propósito desta pesquisa não é definir um conceito único. Porém, entende-se ser necessário, primeiramente, abordar o espaço rural, suas representações e características, para então, a fim de proporcionar uma melhor compreensão acerca do Turismo no Espaço Rural, versar sobre sua história, discutindo sua conceitualização. 2.2.1 O espaço rural como local de mutifuncionalidades O espaço rural por exclusão é aquilo que não é urbano, caracterizado pela baixa densidade populacional, prestação de serviços restringidos, relacionados à saúde e à escola, infraestrutura menos desenvolvida, principalmente no que se refere à inexistência ou à precariedade da energia elétrica e vias de acesso, resultando em baixos índices de desenvolvimento e pouca valorização. Nessas áreas também ocorriam poucas oportunidades de trabalho (CAMPANHOLA; SILVA, 2000; TREVIZAN, 2006; SPINDLER et al., 2012). O meio rural era diferenciado do urbano por suas atividades produtivas, as quais se concentravam na agricultura, através do cultivo de vegetais, hortaliças e frutas e, na pecuária, com a produção de bovinos, suínos, caprinos, ovinos, entre outros. Também reconhecido como produtor de alimentos, fornecedor de matéria- prima e de mão-de-obra (TREVISAN, 2006). Houve, a partir da década de 1960, uma modernização da agropecuária no Brasil, resultando em "um conjunto de transformações socioeconômicas que configuram um novo padrão de desenvolvimento rural" (ELESBÃO, 2007, p. 51). Essa modernização implicou mudanças significativas, como o surgimento do crédito rural e da inovação tecnológica, principalmente no que tange a modernização e industrialização da agricultura. A partir disso houve a divisão dos agricultores em 30 dois grupos: os que obtiveram êxito com esse processo e os que não tiveram. Muitos daqueles que não conseguiram acompanhar essa modernização acabaram por migrar para a cidade, fato este que ocorreu nas décadas de sessenta e setenta (TREVISAN, 2006; ELESBÃO, 2007; LOPES; PONTILI, 2013). Valentini, Spindler e Santos (2012) elucidam este fato: Ao mesmo tempo em que, o setor primário passou por significativas mudanças desenvolvendo-se em virtude de novas tecnologias, insumos, alterações biogenéticas que possibilitaram maior rendimento de plantas e animais entre outros aspectos, a dedicação dos habitantes do espaço rural com as atividades agrícolas foi consideravelmente minimizada, desencadeando problemas como a redução dos rendimentos, a necessidade de obter outras fontes de renda e até mesmo o deslocamento dessas pessoas para os espaços urbanos em busca de melhores condições de vida desencadeando o processo de êxodo rural (p. 575). Observa-se no Gráfico 1 este declínio da população residente no espaço rural, especificamente no estado do Rio Grande do Sul, a qual era de 68,8% em 1940 e, em 2010 diminui para apenas 14,9%. Por consequência, nota-se o aumento constante dos habitantes da zona urbana, de 31,2% na década de quarenta, cresceu para 85,1% em 2010. Gráfico 1 - Evolução da população do RS por condição de domicílio 90 85,1 80 81,7 76,6 78,7 70 68,8 65,9 67,8 60 55,1 53,6 50 Urbana 44,9 46,4 40 Rural 34,1 30 31,2 31,2 23,4 20 21,3 18,4 14,9 10 0 1940 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000 2010 Fonte: Extraído de ATLAS SOCIOECONÔMICO RIO GRANDE DO SUL (2014) Como forma de permanecer e garantir sua sobrevivência na zona rural, as famílias que escolheram ficar e não migrar para a cidade enfrentaram, no início, dificuldades, precisaram se adaptar às novas realidades, e passaram a se dedicar a 31 outras atividades, estando essas atreladas à agropecuária ou não. O espaço rural torna-se um local de múltiplas atividades, em razão das transformações das relações sociais estabelecidas, o que ocasionou a expansão das novas modalidades produtivas, como o agronegócio, dos complexos agroindustriais, e da agricultura familiar (CAMPANHOLA; SILVA, 2000; ARAÚJO, 2010; RAMEH; SANTOS, 2011). Para Elesbão (2007), A visão simplista do rural como agrícola vai ficando totalmente superada, pelo menos como campo de análise, já que novas funções vão sendo consolidadas e incorporadas nas estratégias de reprodução de muitas das famílias que habitam esse espaço (p. 58). Com este desenvolvimento do espaço rural, relacionado ao processo de transformação econômica, o rural passa a ser compreendido como um espaço de multifuncionalidades. Essa perspectiva de criação de novas atividades no meio rural, relacionadas também aos setores secundário e terciário, diversificou as economias, onde o rural precisou se adaptar para atender a um mercado globalizado, rompendo com a visão do rural até então atrelada somente à atividade agrícola (SCHNEIDER, 2003; SANTOS, 2008; CRISTOVÃO, 2011). Cada vez mais, nos espaços rurais "articulam-se sustentabilidade, preservação e a inclusão social com novas tecnologias, conforto, segurança e diversidade" (TRIGO, 2010, p. xxiii). Algumas possíveis iniciativas são exemplificadas por Cristovão (2011): [...] de valorização dos produtos agrícolas e agro-alimentares tradicionais de qualidade e de desenvolvimento da agricultura biológica (ou orgânica); de promoção do turismo rural e de natureza e de múltiplas actividades de lazer; de exploração de fontes energéticas alternativas; de valorização das práticas culturais e dos patrimônios locais; de fomento da educação ambiental e apoio a cidadãos com necessidades especiais (quintas pedagógicas e sociais) (p. 104). Observa-se, a partir da relação posta pelo autor, que existem muitas possibilidades que podem ser implementadas em propriedades rurais. Esta diversificação das atividades da zona rural é denominada, conforme Schneider (2009), de pluriatividades, ou seja, a ocorrência de duas ou mais atividades em uma mesma propriedade, permitindo assim a variação da renda gerada pela propriedade, e possibilitando a permanência de muitos proprietários na área rural. A existência de outras atividades, além daquelas denominadas como agrícolas, caracteriza as 32 propriedades como pluriativas (ELESBÃO, 2007; SANTOS, 2008; SCHNEIDER, 2009). Schneider (2003) reforça essa ideia ao colocar que: A pluriatividade tende a se desenvolver como uma característica ou uma estratégia de reprodução das famílias de agricultores que residem em áreas rurais situadas em contextos nos quais a sua articulação com o mercado se dá através de atividades não-agrícolas ou para-agrícolas. Objetivamente, a pluriatividade refere-se a um fenômeno que pressupõe a combinação de duas ou mais atividades, sendo uma delas a agricultura (p. 10). As atividades agrícolas estão relacionadas com a agricultura, ou seja, com o cultivo do solo para o plantio de vegetais, produção de matérias-primas e ornamentação. Por atividades para-agrícolas compreende-se aquelas que: [...] formam um conjunto de operações, tarefas e procedimentos que implicam na transformação, beneficiamento e/ou processamento de produção agrícola (in natura ou de derivados) produzida dentro de um estabelecimento ou adquirida (em parte ou no todo) fora (SCHNEIDER, 2009, p. 04, grifo do autor). Estas atividades para-agrícolas se classificam como atividades produtivas realizadas na propriedade (setor secundário), beneficiando o consumo dos próprios membros da família ou visando à venda para terceiros. As atividades não agrícolas aparecem associadas àquelas "que não se enquadram na definição de atividade agrícola ou para-agrícola. Em geral, são atividades de outros ramos ou setores da economia, sendo os mais tradicionais a indústria, o comércio e os serviços" (SCHNEIDER, 2009, p. 04). Assim emerge uma nova realidade no espaço rural, onde esse "é encarado, não como a simples sustentação geográfica de um setor, mas como base de um conjunto diversificado de atividades e de mercados potenciais” (ABRAMOVAY, 2003, p. 98). A escolha por uma ou outra atividade depende das condições de execução do local, da vontade do proprietário e dos membros da família em realizá- la(s). Schneider (2009) ainda ressalta: A pluriatividade é heterogênea e diversificada e está ligada, de um lado, as estratégias sociais e produtivas que vierem a ser adotadas pela família e por seus membros e, de outro, sua variabilidade dependerá das características do contexto ou do território em que estiver inserida (p. 04). 33 Estas potencialidades que o novo rural proporciona, estabeleceram um crescimento e melhorias para diversas famílias rurais, a partir da promoção de novas atividades rentáveis dentro de uma mesma propriedade ou empresa familiar, colaborando com a diversificação dos rendimentos (ELESBÃO, 2007; RIBEIRO; VAREIRO, 2007; RAMEH; SANTOS, 2011). Sendo assim, o turismo no espaço rural, caracterizando-se por ser uma atividade não agrícola, se apresenta como uma das melhores alternativas, e com grandes perspectivas de sucesso econômico, pois, de acordo com Ortiz (2010, p. 05) "atividades como o turismo, [...] são potencialmente úteis para as áreas rurais"5. Rameh e Santos (2011), ressaltam este fato: Dessa maneira, em meio às novas opções de atuação no meio rural, as atividades de lazer - com destaque para o turismo – surgem como grandes promessas de geração de empregos para a mão-de-obra local, com potencial para diminuir o êxodo rural dos jovens e de estimular uma série de atividades produtivas, agrícolas e não-agrícolas, inerentes ao contexto rural (p. 51). O TER pode ser executado, concomitantemente, com diversas atividades, sejam elas agrícolas, industriais, comerciais ou que estejam relacionadas com outros serviços, pois ele proporciona uma contribuição valiosa para a sustentabilidade das economias rurais "através da dinamização de um conjunto de outras actividades económicas que dele são tributárias e que com ele interagem" (RIBEIRO; VAREIRO, 2007, p. 472). A atividade turística no espaço rural permitiu um processo de valorização do campo, não sendo mais visto pelos citadinos, como lugar de atraso, e, sim, dotado de valor, de natureza exuberante, ar puro, história, cultura, atraindo a atenção dos que vivem na zona urbana e, por sua vez, pela visão dos moradores locais, sendo reconhecido como um complemento aos rendimentos mensais, motivo de autoestima e de desenvolvimento da comunidade (ARAÚJO, 2010; ELESBÃO; TEIXEIRA, 2011). O TER pode, portanto, "gerar contribuições na economia e no meio ambiente, proporcionar uma melhoria na qualidade de vida do camponês, revalorizar o patrimônio natural e cultural da comunidade6" (ORTIZ, 2008, p. 230). 5 Tradução livre da autora para o seguinte texto original de Ortiz (2010, p. 05): "Actividades como el turismo, aunque implican riesgo, son potencialmente útiles a las zonas rurales". 6 Tradução livre da autora para o seguinte texto original de Ortiz (2008, p. 230): "contributions tourism might potentially generate in the economy and the environment, state from the inside an improvement in the peasant’s quality of life, revalue the natural and cultural heritage of the community". 34 Para uma melhor compreensão do Turismo no Espaço Rural, é necessário abordar este segmento, analisando seu conceito e desenvolvimento em alguns países do mundo e no Brasil. 2.2.2 Histórico do Turismo no Espaço Rural no Mundo O surgimento do TER no contexto mundial ocorre pelas transformações ocasionadas pelo crescimento urbanístico e como forma de renovação das atividades econômicas no espaço rural (SANTOS, A., 2008). A literatura e os estudos de casos demonstram que foi a partir das experiências e iniciativas europeias que o TER passou a englobar o contexto turístico brasileiro, tornando-se foco de diversas ações, implementando a renda de muitas famílias rurais. Por esse motivo, torna-se relevante versar sobre o entendimento e as manifestações do TER na Europa e em outros países, para depois abordar os casos no Brasil. No entendimento europeu, a expressão Turismo no Espaço Rural e Turismo em Áreas Rurais (TAR) são sinônimas e, muitas vezes, conforme Tulik (2003) se confundem com Turismo Rural e Agroturismo, sendo essas duas últimas, as terminologias mais empregadas nesse continente. Os europeus se referem ao TR e/ou ao AG basicamente como uma oferta de alojamentos, ou alojamentos com venda de produtos, sendo que em muitos países o TER é também identificado como uma atividade que ocorre nas zonas litorâneas ou nas zonas de montanhas. Encontra-se relacionadas a esse conceito, expressões como: Turismo de Habitação, Zonas de Caça Turística, Turismo de Aldeia e Casas de Campo, entre outros (TULIK, 2003; BOULLÓN; BOULLÓN, 2008). O Turismo no Espaço Rural surgiu no norte da União Europeia, com o objetivo de conter o êxodo rural, proteger a natureza, desenvolver as áreas rurais e complementar a renda das famílias que viviam nesse espaço. A Dinamarca não possui data específica para o início do TER, diferenciando da Alemanha, onde existem registros que o início das atividades datam de cem anos. Entretanto, ambos os países trabalham hoje o turismo na zona rural como forma de valorizar a cultura, convidando os turistas a conviverem com as tradições e costumes locais. Bélgica e Portugal desenvolveram o TER a partir da década de setenta (SARTOR, 1981; SANTOS A., 2008). 35 França é considerada um dos países europeus pioneiros no TER, juntamente com a Alemanha, por ter iniciado as atividades em 1950, tendo hoje o melhor índice de desenvolvimento do TR dos países da Europa. Espanha e Itália começaram suas atividades turísticas no espaço rural na década de 60, pelo mesmo motivo que a França: necessidade de conservação desses espaços e diversificação das atividades rurais (SANTOS A., 2008). No início das atividades, havia, em alguns países como Espanha, Portugal, Itália e Grécia, a intervenção pública no desenvolvimento do TR, sendo que algumas iniciativas foram planejadas, já outras careceram de um planejamento adequado. Em 1991 foi criado na Europa o programa, Ligação entre Ações de Desenvolvimento da Economia Rural (LEADER), o qual foi de iniciativa comunitária para o desenvolvimento rural que atribuiu fundos para o incremento da atividade turística. O programa teve três etapas de execução: LEADER I (1991 - 1993), LEADER II (1994 - 1999) e LEADER + (2000 - até mais ou menos 2008) (CANDIOTTO, 2010). Esse programa proporcionou "a aplicação de uma nova abordagem para o desenvolvimento rural, contribuindo para a consolidação de uma nova política de desenvolvimento sustentável para os territórios rurais" (RESENDE, 2003, p. 03) da União Europeia e tinha, como característica principal, proporcionar uma gestão participativa, levando em conta a parceria entre os participantes e as necessidades dos habitantes, [...] acentuando a relevância da responsabilização local para a construção e definição de uma estratégica local comum, integrada e sustentável e sublinhando a importância do trabalho em cooperação para a concertação de pontos de vista (RESENDE, 2003, p. 03). O LEADER incentivou a criação de diversas ações nacionais em países da Europa e fora dela. Como é o caso da Espanha, que intensificou as atividades do TER em meados de 1990, como alternativa à massificação do Turismo de Sol e Praia. Em 1996 foi instituído no país o Programa Operativo de Desenvolvimento e Diversificação econômica das Zonas Rurais - PRODER I (1996 - 1999), e o PRODER II (2000 - 2006), com o intuito de auxiliar ainda mais no desenvolvimento deste segmento turístico (BOULLÓN; BOULLÓN, 2008). Na Áustria, o TER se desenvolveu a partir do aproveitamento de casas, edifícios e prédios, localizados em propriedades rurais, que se encontravam vazios e 36 sem utilização. Nesse país, o TER representava em 2008, 25% da capacidade de leitos de todo o território. A Suíça iniciou em 1983 a tradição do Agroturismo, como forma de auxiliar os agricultores, evitando assim o êxodo rural (BOULLÓN; BOULLÓN, 2008). Barrera (2004) cita que vinte e quatro mil agricultores no Reino Unido, especificamente Inglaterra e Escócia, investem no TR, oferecendo hospedagem aos turistas. Para Boullón e Boullón (2008, p. 158) o turismo rural na Europa hoje "é uma atividade consolidada, estima-se que existam mais de 500.000 estabelecimentos deste tipo7". Referente à Nova Zelândia, Tulik (2010) coloca que existe o turismo rural de aventura, o qual se utiliza de estruturas urbanas para a efetivação de atividades no espaço rural. Zhang (2012) refere-se ao início da década de cinquenta para o surgimento do turismo rural na China. O autor relata que atualmente existem mais de trezentas novas atrações turísticas rurais em Sucheu, localizada próxima a Xangai, onde esse segmento continua em expansão. Na década de setenta, a atividade iniciou nos países da América do Norte. Nos Estados Unidos da América, o processo de inserção do TR começou nos ranchos, onde os turistas podem montar em um touro ou cavalo. Existe também nos EUA a comunidade Amish, grupo religioso cristão anabatista, que possue costumes conservadores. Esses, a partir de 1990, proporcionam aos visitantes um dia na comunidade, onde podem participar das refeições e conhecer o local, sem se hospedar. A partir da década de oitenta encontram-se dados sobre o início da atividade no Brasil, e depois de 1990, na África e no Japão (BOULLÓN; BOULLÓN, 2008; TULIK, 2003; SANTOS, 2008; SANTOS A., 2008). Para Sartor (1981), no final da década de setenta, início dos anos oitenta, [...] países como a Alemanha, a França e os Estados Unidos, entre outros, coordenam o crescimento do turismo rural através de amplas políticas e incentivos de desenvolvimento, estimulando, também a elaboração de estudos e investigações regulares (p. 13). Ao fazer alusão ao desenvolvimento do TER na América do Sul, Barrera (2004), Boullón e Boullón (2008) comentam que não há muitos registros confiáveis. Mesmo assim Barrera (2004) indica a década de 80 para o início da oferta turística no espaço rural, onde eram disponibilizadas camas e lugares para hospedagem aos 7 Tradução livre da autora para o seguinte texto original de Boullón e Boullón (2008, p. 158): "Es una actividad consolidada, pues se estima que existen más de 500 000 estabelecimientos de este tipo". 37 visitantes, uma vez que atualmente existem cerca de mil e quinhentos estabelecimentos de turismo rural neste país. Segundo Spindler (2013), no Chile ocorrem atividades turísticas em áreas indígenas, e no Paraguai, somente depois de 1990 houve a inserção do turismo em áreas rurais. Conforme a mesma autora, temos iniciativas na Colômbia, desenvolvendo-se atividades arroladas com a cultura cafeeira e no Peru, atividades como piscicultura, ecoturismo e agroturismo são ofertadas. 2.2.3 O Turismo no Espaço Rural no Brasil No Brasil, assim como na Europa, há uma imprecisão de conceitos relativos ao que se entende por Turismo no Espaço Rural, sendo que a classificação foi, inicialmente, baseada nos parâmetros europeus, "o que resulta em graves equívocos por se tratar de realidades tão diferentes e complexas" (RODRIGUES, 2003, p. 101). Constata-se inclusive que até entre os países europeus há uma divergência em relação aos conceitos utilizados para explicar essa atividade realizada em áreas rurais. De acordo com Candiotto (2010), A partir da experiência europeia da década de 1990 em incentivar o turismo como uma atividade econômica viável para o meio rural, que valoriza o ambiente e a cultura local, o turismo no espaço rural passou a ser considerado uma alternativa de emprego, renda e desenvolvimento para o rural em todo o mundo (p. 07). Distingue-se, de acordo com Rodrigues (2003) e Tulik (2003), a enorme diferença entre os territórios (brasileiro e europeu), sendo o europeu com vários países e o Brasil um único país, com uma grande extensão geográfica, especificamente 8.515.767,049 km2 (IBGE, 2010b). Outro fator importante a ser considerado, são as diversas fases da história do Brasil, as quais se constituíram nos "chamados ciclos econômicos [...] os quais deixaram na paisagem seus aspectos marcantes, constituindo um diversificado patrimônio histórico-cultural" (RODRIGUES, 2003, p. 102). Estes ciclos podem ser identificados como: o ciclo do gado, o ciclo da cana-de-açúcar, o ciclo do ouro, o ciclo do café, como também a fase da imigração européia, o início da atividade agrícola, entre outros. As diferentes realidades do território brasileiro fazem com que se tenha uma ampla oferta de produtos e serviços sendo oferecidos ao turista, demonstrando que 38 o TER, no Brasil, deva ser classificado de forma diferenciada em relação a outros países. Pela diversidade geográfica, climática, ocupação do território e formação cultural no Brasil, o TER se apresenta de formas diferentes, como especifica Jasper (2006): [...] ao se analisar a atividade no Brasil - país de território imenso, com vários climas e com diferentes populações étnicas, surgem, em cada região, características inerentes a cada lugar e, conseqüentemente, são criadas dezenas de atrações e opções para o turista no espaço rural brasileiro (p. 25). Não existem dados precisos a respeito do início do Turismo no Espaço Rural no Brasil. Zimmermann (1996), Rodrigues (2003), Santos A. (2008) e Tulik (2010) indicam que a atividade teve suas primeiras iniciativas, no início da década de oitenta, no município de Lages, em Santa Catarina, mais precisamente na fazenda Pedras Brancas, "a qual em 1986 se propôs a acolher visitantes para passar 'um dia no campo'" (RODRIGUES, 2003, p. 101). Tulik enfatiza que o incentivo para o início das atividades no meio rural aconteceu porque se incidiu uma crise agropecuária no município no início dos anos oitenta. E, para a autora, a atividade surgiu neste Estado em 1984, com "a ideia de se aproveitar a estrutura existente nas fazendas para receber turistas" (TULIK, 2010, p. 03). Cada Estado da Federação Brasileira estruturou as atividades turísticas no espaço rural de acordo com suas características geográficas, espaciais, culturais, econômicas, uma vez que, conforme ressalta Trigo (2010, p. xxiii) "os espaços rurais brasileiros são diversificados, extensos e complexos". O Estado de São Paulo, por exemplo, alicerçou suas atividades relacionando-as com as fazendas da época do ciclo do café. No Rio Grande do Sul, as atividades desenvolveram-se em meados do ano de 1980, iniciando pela região do município de Lavras do Sul, onde foi enfatizada a possibilidade da vivência da colheita, da fabricação de doces, de participar de cavalgadas pelos campos, sendo todas elas relacionadas com a colonização europeia. No Paraná, o TER foi fundamentado em roteiros gastronômicos, romarias e no tropeirismo. A Bahia tinha roteiros diversificados no interior e no litoral (TULIK, 2003). Pelo curto espaço de tempo que a atividade turística TER é explorada no Brasil e por ter adotado primeiramente os conceitos utilizados na Europa, encontram-se hoje múltiplos conceitos e caracterizações para identificarmos as 39 atividades que são realizadas na zona rural, como: Turismo Rural, Turismo no Espaço Rural, Turismo em Áreas Rurais, Agroturismo, Turismo Verde, Turismo Alternativo. Esta divergência existente em relação aos termos usados para identificar a conceituação da realização de atividades turísticas na zona rural, faz com que haja uma profusão de nomenclaturas, sendo que para alguns autores algumas delas se tornam distintas entre si e, para outros, todas estas expressões são indistintamente consideradas. A luz de Tulik (1999) A avaliação da literatura existente sobre Turismo Rural mostra grande riqueza de termos, expressões e conceitos que variam conforme a realidade de cada país e expressam diferentes maneiras de aproveitar os recursos do espaço rural e os programas e ações empreendidos nessa área (p. 137). A mesma autora ainda corrobora com esta discussão ao relatar que as confusões terminológicas [...] se sucedem como, por exemplo, Turismo Verde que vem sendo aplicado, indistintamente, tanto ao Turismo Rural como ao Ecoturismo. Multiplicam-se denominações genéricas ou específicas aplicadas ao Turismo Rural, decorrentes de diferenciações geográficas, econômicas, sociais e culturais dos países e que também variam ao sabor das campanhas de marketing. Para resolver o problema conceitual, alguns autores sugerem termos e expressões mais abrangentes, enquanto outros mostram-se despreocupados com o assunto adotando a expressão Turismo Rural ou Turismo no Espaço Rural, indistintamente (TULIK, 1999, p. 137). Nesse sentido, observa-se a diversidade de concepções e interpretações, fazendo-se necessária uma diferenciação entre os conceitos, sendo cada um apropriado para uma atividade específica, surgindo assim segmentações com nomenclaturas diferenciadas, mas muitas vezes muito semelhantes, sendo talvez esse o motivo, pelo qual, ocorre tal confusão. Para fins desta pesquisa, o Turismo no Espaço Rural é uma atividade que engloba toda e qualquer forma de Turismo no ambiente rural, podendo assim abarcar o Turismo Rural, o Agroturismo, o Turismo Cultural, o Turismo Religioso, o Turismo de Aventura, o Turismo ecológico ou Ecoturismo, conforme demonstrado na Figura 1. 40 Figura 1 - Configuração do turismo no espaço rural TURISMO NO ESPAÇO RURAL Turismo Turismo de Turismo Turismo rural Cultural Agroturismo Aventura Religioso Ecoturismo Fonte: Própria autora (2014) Existem diferentes formas de se fazer turismo em uma área rural. Na Figura 1, foram classificadas algumas delas, as quais podem ser realizadas separadamente, como também, dependendo das condições que o local proporcionar, complementarem-se ou inter-relacionarem-se, isso irá depender em muito dos diferentes atrativos ofertados, os quais motivam turistas, por razões distintas e particulares, a procurarem esses locais. Muitas vezes as visitações a estas áreas são motivadas pela curiosidade ou pela oferta de produtos ali expostos, bem como pela busca de produtos orgânicos, produzidos em ambientes mais livres de poluição, ou pela confecção artesanal de produtos, feitos e produzidos como antigamente. Existe também da participação e vivência na área visitada, seja na lida diária ou na exploração do espaço físico, como exemplo o rafting, ou na simples contemplação do espaço natural. Existe também a visitação de espaços com histórico e significado religioso (TULIK, 2003). Para Tulik (2006), o TER e o TAR podem ser considerados como sinônimos, sendo ambos compreendidos como qualquer manifestação do turismo no meio rural, pois, [...] o turismo no espaço rural, em seu mais amplo sentido, caracteriza-se hoje, pela pluriatividade de práticas em virtude da incorporação de novas funções derivadas dos múltiplos recursos as quais proporcionam o desenvolvimento de atividades inovadoras, nem sempre tipicamente rurais, ajustadas a uma demanda crescente (p. 107). As atividades consideradas não tipicamente rurais abordadas por Tulik (2006) são: espaço para banho com piscinas, churrasqueiras, quadras esportivas, espaço para organização de eventos, entre outras. Silva (2003, p. 87), comunga das 41 mesmas ideias de Tulik (2003; 2006) quando se refere que o turismo "em sua modalidade rural, é concebido como uma apropriação do espaço rural para atividades turísticas. Essas atividades se configuram no campo, trazendo transformações espaciais e culturais". Do mesmo modo que Santos A. (2008, p. 53) também se refere ao TER como "todos os movimentos turísticos realizados neste território", ou seja, no meio rural. Verifica-se assim, que um número cada vez maior de propriedades está levando equipamentos, ditos urbanos, para o meio rural, com o intuito de satisfazer as necessidades dos turistas urbanos. Essa é uma forma de atrair esses turistas e, ao mesmo tempo buscar uma maior ligação entre os dois espaços: o urbano e o rural, caracterizando desta forma a pluriatividade do espaço rural. O conceito apresentado pelo Ministério do Turismo sobre o Turismo no Espaço Rural está associado ao posicionamento das autoras Tulik (2003; 2006) e Silva (2003), uma vez que ele também considera o TER sinônimo do TAR, e assim destaca que ambas as nomenclaturas identificam: [...] todas as atividades praticadas no meio não urbano, que consiste de atividades de lazer no meio rural em várias modalidades definidas com base na oferta: Turismo Rural, Turismo Ecológico ou Ecoturismo, Turismo de Aventura, Turismo de Negócios e Eventos, Turismo de Saúde, Turismo Cultural, Turismo Esportivo, atividades estas que se complementam ou não (BRASIL, 2010, p. 17) Desta forma, identifica-se o TER como uma modalidade turística que consiste na realização de diversas atividades no ambiente rural, tendo dois segmentos diretamente relacionados, também chamados de modalidades: o Turismo Rural e o Agroturismo, sendo que esses possuem como pré-requisitos estar na zona rural para a realização de suas atividades. Examinando os conceitos apresentados, verifica-se a existência de um consenso crescente no que diz respeito ao conceito de Turismo Rural por parte de diversos autores, entretanto ainda existem autores que têm posicionamentos controversos a esta ideia. Araújo (2010) relata esta divergência de conceituação: [...] dada a ausência no Brasil de uma conceituação mais precisa do conjunto de atividades turísticas e recreativas que acontecem no meio rural, muitos consideram que a terminologia turismo rural deva ser usada apenas quando o turista efetivamente se hospeda no meio rural e participa (de forma lúdica, em geral) dos trabalhos realizados nas fazendas ou sítios. Outros, que deve ser entendido como uma situação em que o turista visita 42 fazendas e sítios nos quais passa o dia se entretendo, fazendo cursos em unidades agrícolas ou compras de alimentos e artesanatos típicos (p. 28). Diante do exposto, entende-se que o TR tem como princípio o uso do ambiente rural para a realização de serviços e atividades, sejam elas mais específicas da zona rural (alojamento em antigas instalações rurais, cavalgadas, pescaria, atividades agrícolas), como também aquelas não tão características com o campo (rodeios, piscinas, quadras esportivas, churrasqueiras). Para Beni, (2003, p. 429, grifo nosso) "turismo rural refere-se ao deslocamento de pessoas para espaços rurais, em roteiros programados ou espontâneos, com ou sem pernoite para usufruírem dos cenários e das instalações rurais". Salvatierra (apud BENI, 2002) tem a mesma concepção de Beni (2003): O Turismo rural constitui uma atividade turística através da qual se oferece uma gama de variedades recreativas, alojamento e serviços afins, localizado no meio rural e especialmente destinadas a pessoas que procuram para desfrutar de alguns dias no campo, estar em contato com a 8 natureza e a comunidade local (p. 87, grifo do autor). Todavia, ambos os segmentos (TR e AG) têm como função principal agregar valor a terra, fazendo com que haja a permanência dos trabalhadores rurais no campo, aumentando assim suas rendas. Pode-se dizer, conforme Guerreiro, que o TR contribui para o desenvolvimento das regiões, onde ocorre em três níveis: [...] demográfico - através da fixação da população, sobretudo a mais jovem e qualificante; sócio-econômico - criação de emprego, melhoria dos rendimentos e diversificação das actividades econômicas; cultural - promovendo a recuperação do patrimônio arquitectónico local, de hábitos, usos e costumes, entretanto caídos em desuso e dinamização dos diversos produtos regionais (GUERREIRO, 2001, p. 41). As propriedades rurais que realizam o TR podem ser produtivas ou não produtivas. As produtivas são aquelas que possuem alguma produção agrícola, e o turismo torna-se uma atividade paralela, através da oferta de serviços e atividades de lazer, porém atividade agrícola é considerada como a principal fonte de renda do 8 Tradução livre da autora para o seguinte texto original de Salvatierra (apud BENI, 2002, p. 87): "El turismo rural conforma una modalidad turística a través da la cual se ofrece una gama de actividades recreativas, alojamentos y servicios afines, situadas en el medio rural y dirigidas especialmente a personas que buscan disfrutar unos días en el campo, estar en contacto con la naturaleza y con la comunidad local". 43 local. Por sua vez, nas propriedades não produtivas, nas quais não ocorre qualquer produção agrícola, mas existem instalações receptivas, com atividades diferenciadas aos turistas, o turismo torna-se a principal e única atividade produtiva do local (SANTOS, 2004; 2008). A partir da visão de Sartor (apud SANTOS, 2004, p. 27), o qual afirma que o TR "é o exercício de atividades desenvolvidas em áreas rurais. Implica a produção de bens e serviços turísticos, destinados a satisfazer a clientela turística, que é atraída pelo consumo destes bens no ambiente rural", se observa que a principal consumidora desse segmento turístico é a população urbana, a qual se encontra desejosa de estar próxima à natureza, de retornar às origens, entre outros aspectos. Ortiz (2008, p. 231) corrobora com Sartor, mencionando que "o turismo rural é a atividade realizada no espaço rural, composta por uma oferta integrada de lazer, dirigida a uma demanda cuja motivação é o contato com o ambiente autóctone e uma inter-relação com a sociedade local"9. De forma semelhante ao TR, no AG a maioria dos turistas também advém da zona urbana, porém ele possui um foco diferenciado no uso do espaço. Se no Turismo Rural há a fruição do ambiente rural, com atividades nem sempre características deste espaço, o Agroturismo tem como principal função a participação dos turistas no dia a dia do proprietário. Candiotto (2010) relata que, de forma geral: [...] entendemos que o agroturismo apresenta todos os atributos do turismo rural, sobretudo pelo fato de ser uma atividade realizada no espaço rural, e ter como principais atrativos as atividades agropecuárias, os produtos paraagrícolas e o modo de vida rural. Ocorre, porém, que o diferencial do agroturismo em relação ao turismo rural diz respeito à participação direta e/ou indireta do turistas em atividades comuns dos agricultores, como plantio, colheita, ordenha, entre outras. Nesse sentido, toda a oferta de agroturismo poderia ser classificada como turismo rural, porém nem toda a oferta de turismo rural pressupõe a existência de agroturismo (p. 13). Os argumentos, utilizados por Candiotto (2010), são também descritos por Beni (2002), quando este apresenta seu conceito de Agroturismo como o: 9 Tradução livre da autora para o seguinte texto original de Ortiz (2008, p. 231): "Rural tourism is that tourist activity carried out in the rural space, composed of an integrated offer of leisure, directed to a demand whose motivation is the contact with the autochthonous environment and an interrelation with the local society". 44 [...] deslocamento de pessoas para espaços rurais, em roteiros programados ou espontâneos, com ou sem pernoite, para fruição dos cenários e observação, vivência e participação em atividades agropastoris (p. 32, grifo nosso). Verifica-se que esse autor conceitua os dois segmentos de forma bastante parecida, porém distintas no que diz respeito aos seus objetivos principais. Para o TR ele traz a ideia de que os turistas devem usufruir dos cenários e das instalações rurais, já no Agroturismo deve ocorrer, da mesma forma, a fruição dos cenários, entretanto acrescida da observação, vivência e participação em atividades agropastoris. Outra característica que diferencia estas duas formas de turismo é o fato de, no AG, a produção agropastoril representar, em escala econômica, a maior fonte de renda da propriedade, e o turismo uma receita complementar. No TR, o turismo torna-se a fonte principal seja em propriedades produtivas ou não (BENI, 2002). Conforme Tulik (2003), a partir de experiências europeias, [...] o agroturismo [...] desenvolve-se integrado a uma propriedade rural ativa, de organização e gestão familiar, com a presença do proprietário, como forma complementar de atividades e de renda; pressupõe o contato direto do turista com o meio rural, alojamento na propriedade e possibilidade de participar das atividades rotineiras (p. 39). Esta apreciação nos remete ao aspecto da gestão da propriedade que, para alguns autores, ela deve ser feita pela própria família, se tornando assim mais uma característica intrínseca da conceituação de AG. Conforme Candiotto (2010, p. 15), "os autores consideram que o agroturismo seria uma estratégia de diversificação produtiva das propriedades rurais, através de atividades internas à propriedade e ao modo de vida rural, que geram ocupações complementares às atividades agrícolas", tornando-se, assim, o turismo um diferencial da propriedade, constituindo-se como receita complementar. Dale, Silva e Vilarinho (2004) conduzem a uma explicação de Agroturismo que mais se caracteriza com a realidade brasileira: As atividades associadas ao agroturismo - a fazenda-hotel, a pousada, o restaurante típico, as vendas "diretas do produtor", o artesanato, a industrialização caseira e outras atividades de lazer associadas à recuperação de um estilo de vida dos moradores do campo - podem ser consideradas uma estratégia de diversificação produtiva das propriedades rurais, no intuito de gerar renda não-agrícolas para fazer frente à queda de 45 rentabilidade dos negócios tradicionais. O importante é que se constituem em atividades internas à propriedade - on farm -, que geram ocupações complementares às atividades agrícolas, as quais continuam a fazer parte do cotidiano da propriedade em menor ou mais intensidade. Elas devem ser entendidas como parte de um processo de agregação de serviços aos produtos agrícolas e bens não-materiais existentes nas propriedades rurais, como a paisagem, o ar limpo, no "tempo livre" das famílias que ali residem, com eventuais contratações de mão-de-obra externa (p. 20). Pode-se então definir que o principal atrativo do AG são as atividades agrícolas internas, existentes nas propriedades, com a possibilidade da participação dos turistas, através do contato com animais e plantações, oferta de refeições preparadas com os produtos cultivados na propriedade, consumo e compra de produtos alimentícios também cultivados no local. Neste sentido, os valores naturais e culturais se tornam atributos indissociáveis do Turismo Rural e do Agroturismo e, dessa forma devem ser valorizados para que esses segmentos possam se tornar uma nova forma de desenvolvimento e de criação de riqueza, como opção à produção agrícola, ou agregada a ela. Santos (2008) enfatiza esta ideia quando diz: Assim, o meio rural oferece serviços e atividades de entretenimento dentro desta nova realidade que se estabelece. São reconhecidas as implicações positivas derivadas dessa combinação de atividades agrícolas e não agrícolas e com a possibilidade de estimular o desenvolvimento do turismo como atividade inovadora e complementar, oferecendo entretenimento no 10 meio rural (p. 37). A diversidade de atividades rurais que ocorre no Brasil demonstra e implica uma profusão de ideias, as quais surgem com viabilidade de serem implantadas no espaço rural como forma de atrair turistas. Cada espaço rural tem seu potencial e características próprias que necessitam ser identificadas, selecionadas e preparadas para se transformarem em um produto turístico com capacidade de atrair e motivar turistas. Neste mundo rural há um espaço multifuncional, com diversos recursos existentes, dentre eles, cita-se os: [...] antigos, atuais e novos produtos agrícolas e agroindustriais (alimentares e não alimentares), paisagem, fauna e flora, rios e albufeiras, 10 Tradução livre da autora para o seguinte texto original de Santos (2008, p. 37): "Así, el medio rural ofrece servicios de consumo y actividades de entretenimiento dentro de esta nueva realidad que se establece. Son reconocidas las implicaciones positivas derivadas de esa combinación de actividades agrícolas y no agrícolas, y con posibilidad de estimular el desarrollo turístico como actividad innovadora y complementaria, ofreciendo entretenimiento en el medio rural". 46 montanhas e vales, caça e pesca, rochas e minerais, águas minero- medicinais, patrimônio arqueológico e histórico, arquitetura popular, tradições culturais, artesanato, gastronomia, linhas férreas, solares e casas rurais, miradouros, parques e reservas naturais, feiras, festas e romarias, música, teatro e poesia popular (CRISTÓVÃO, 2002, p. 82). O objetivo do TER no Brasil, assim como na Europa, é ser uma alternativa de diversificação da economia do rural para muitos proprietários de terra, trazendo benefícios econômicos e diminuindo o êxodo rural. Skuras, Dimara e Petrou (2006, p. 770), citam que esse segmento turístico "pode funcionar como um meio de gerar efeitos multiplicadores em termos de desenvolvimento local e regional para as economias frágeis11", pois o aumento da demanda na zona rural auxilia na criação de novos mercados de trabalhos e/ou fortificação de antigos. Esta ideia vincula-se com outra característica do TER, a valorização do trabalho no campo, auxiliando na conquista de um melhor nível de renda para muitos empreendedores em um melhor nível de renda, pois "juntamente com outras atividades não-agrícolas desenvolvidas pela família rural, tem-se revelado como uma opção viável e de significativo retorno econômico em curto prazo" (ALMEIDA; RIEDL, 2000, p. 09). A ideia de fomentar o desenvolvimento do TER, articulando forças e potencialidades de cada espaço vai ao encontro com as tendências do mercado turístico, uma vez que, [...] o turismo no espaço rural em suas várias modalidades e operadas em pequena escala pode ser uma multinfuncionalidade viável e que vem ao encontro das tendências do mercado turístico que procura por serviços personalizados, por experiências e vivências únicas nos lugares visitados: sua cultura, sua história e peculiaridades em função do diferencial que cada destino possui. [...] As oportunidades de ofertas autênticas e exclusivas são muitas e vão de encontro às expectativas de demandas que buscam vivências, experiências, podendo se constituir no que se conhecerá como o 12 quarto setor econômico-produtivo, tal seja: a economia da experiência (BARBOSA, 2012, p. 23). 11 Tradução livre da autora para o seguinte texto original de Skuras, Dimara e Petrou (2006, p. 770): "Rural tourism could function as a means to generate multiplying effects in terms of local and regional development for fragile economies". 12 Economia da experiência é uma mudança defendida por Joseph Pine e James Gilmore que preveem uma nova fase na economia, onde após sucessivos ciclos econômicos associados à geração de valor agregado a produtos e serviços, o mercado inicia uma nova Era, na qual a educação, o entretenimento, a estética e a interação se fundem em momentos de evasão formando novos elementos de competitividade. A economia orientada pelos ciclos de produção primária, secundária e terciária, contempla hoje um ciclo quaternário que são as experiências que permitem ao cliente vivenciar a sensação que o produto pode provocar. Ver, tocar e ouvir são sensações que dão sentido para tudo na vida, todos querem sair do comum, querem se emocionar. O cliente quer ser surpreendido, seduzido e apostar em aventuras da realidade, quer viver experiências conjuntas que 47 Entretanto, é necessário que haja um planejamento que considere todos os recursos existentes na propriedade, levando-se em conta as características da propriedade, bem como se deve analisar quais as atividades que serão oferecidas aos turistas, identificando o que poderá ou não ser mostrado e de que forma tudo isto será apresentado, durante o espaço de tempo que esse permanecer no local. É necessária a preocupação com estudos e análises tanto do espaço físico, como também com os atores locais envolvidos, uma vez que este envolvimento é de suma importância para o sucesso do empreendimento. O turista, busca no ambiente rural, entre outros aspectos: conforto, paz, tranquilidade, atmosfera de intimidade, natureza. Portanto, é necessário que se realize uma pesquisa com o intuito de verificar qual será o público-alvo que se pretende atingir, para então adequar a propriedade para receber este público. A qualidade da experiência vivenciada no espaço rural deve ser garantida, uma vez que o visitante quer ver, sentir, saborear e usufruir desse ambiente que, para ele, muitas vezes, é um momento único, de satisfação pessoal, de contato com o natural, diferente de diversas experiências, além disso torna-se uma viagem, um momento de retorno ao passado, já que outrora morava em lugares idênticos e, tendo emigrado para a cidade, por razões diversas, busca o contato com suas origens e o (re)encontro das lembranças já vivenciadas em outra época, quando mais jovem. A partir disso compreende-se a importância da estruturação e adequação das propriedades para a prática do TER. É necessário que haja um pensamento coeso entre planejamento e gestão, para que se possa promover o desenvolvimento desta atividade, satisfazendo tanto o proprietário quanto o turista. 2.3 ROTEIROS TURÍSTICOS Os estudos referentes ao tema turismo, como uma atividade econômica, social, política, ainda são relativamente recentes, razão pela qual os termos usados para definir e caracterizar atividades, emitir conceitos e definições ainda não estão totalmente claros para todos os pesquisadores. Há nomenclaturas diversas sendo empregadas para denominar produtos com características semelhantes e vice-versa aprofundam vínculos e atualizam conteúdos de vida. O sentido de exclusividade é um dos princípios básicos, fazendo com que seu cliente se sinta realmente especial. 48 (TAVARES, 2002). Tal complexidade de conceituação abarca o termo roteiro turístico, o qual não tem ainda, totalmente clara a sua definição na literatura especializada (MENESES, 2011). Cisne e Gastal (2009) constataram a limitação existente em relação a esse termo. A partir de uma extensa pesquisa em canais de divulgação do conhecimento científico na área do turismo, como: livros, banco de teses e dissertações de cursos de Mestrado e Doutorado, relacionados à área turística, revistas e eventos turísticos, ressaltam que o termo roteiro turístico ainda não possui uma conceituação consolidada. Corroborando com Cisne e Gastal, Tavares (2002, p. 09) relata que, para descrever o que é roteiro turístico, "inexistem conceitos e definições que sejam capazes de englobar todos os seus pormenores". A autora ainda enfatiza que a conceituação de roteiro turístico é uma incógnita, como também o considera bastante genérico. Tavares expõe a existência de vários termos para identificar roteiro turístico, como: itinerário, percurso, trajeto, caminho, roteiro, city tour, pacote, forfait, by night, sendo que, para Cisne e Gastal (2009, p. 07), "alguns, muitas vezes são utilizados como sinônimos ou complementares". A dificuldade de conceituação demonstra o quanto esse assunto é complexo, carecendo de uma definição mais ampla. Tavares (2002) cita três razões pelas quais considera haver dificuldades em se encontrar a definição e conceitualização de roteiro turístico: 1. O estudo do turismo e de seus termos técnicos ser bastante recente, o que ainda não permitiu grande integração entre teoria e prática. 2. O fato de o turismo ser uma atividade social que está em constante alteração e sofre mudanças e adaptações no que se refere ao local onde é praticado, operado ou agenciado. 3. A pouco ou quase inexpressiva união das empresas que compõem o mercado turístico (p. 13). A autora considera que a existência de diversas nomenclaturas pode ocasionar prejuízos ao trade turístico e aos turistas, ocasionados pelo falso entendimento do que está sendo oferecido, uma vez que, "cada um desses termos possui características operacionais específicas, não sendo possível utilizá-los como sinônimos" (TAVARES, 2002, p. 14). Cisne e Gastal (2009) destacam, após analisarem diversas produções, a tendência de os roteiros serem definidos, levando-se em consideração, 49 principalmente, as questões relativas à comercialização e à operacionalização. As autoras mencionam que alguns conceitos não se restringem a essas questões, no entanto, observa-se na definição do Ministério do Turismo (MTUR) a alusão realizada ao termo: O roteiro turístico é um itinerário caracterizado por um ou mais elementos que lhe conferem identidade, definido e estruturado para fins de planejamento, gestão, promoção e comercialização turística das localidades que formam o roteiro (grifo nosso) (BRASIL, 2007, p. 13). Da mesma forma, Bahl (2004) e Tavares (2002) também se reportam aos roteiros como produtos a serem comercializados, ou seja, transformando-se em produtos a serem vendidos aos turistas. Para Tavares (TAVARES, 2002, p. 15), os roteiros "tornaram-se peças fundamentais na organização e na comercialização do turismo como produto" (grifo nosso). O MTUR (2007) ainda se refere a roteirização turística como forma de acrescer a permanência do turista no local e, consequentemente, aumentar seus gastos. Brambatti (2002), Tavares (2002) e Eichenberg (2003) consideram roteiro turístico como um fluxo organizado, onde haverá um itinerário de visitação organizado. Entretanto Cisne (2011, p. 363), considera este olhar reducionista, analisando-o de forma diferenciada dos demais autores, ou seja, sob as percepções de tempo, espaço e tematização, propondo "um pensamento filosófico sobre Roteiro Turístico que considere o Sujeito do Turismo e, particularmente, incorpore a lógica dos fluxos". Brambatti (2002, p. 15) elege esse termo como "percursos, caminhos, rotas percorridas por turistas, com o objetivo de usufruir de um contexto, visto no seu conjunto, de forma organizada e atrativa". Tavares (2002, p. 15) ressalta que "os roteiros turísticos [...] são uma das principais formas de contextualizar os atrativos existentes em uma localidade e, consequentemente, de pontencializar seu poder de atratividade". Essa definição está em concordância com o que é apresentado por Brambatti (2002, p. 16), quando o autor expõe que "o roteiro surge então como algo próprio do lugar. Algo que só acontece ali e que faz a vantagem comparativa frente aos outros produtos e atrações". Ainda nesta perspectiva, Bahl (2004), evidencia que os roteiros precisam ser elaborados enaltecendo as potencialidades e as características locais visando à demanda. 50 Subentende-se então, que o Roteiro Turístico tem como um dos objetivos a articulação de atrativos dispersos num espaço geográfico. Qualquer cidade ou edificação, sendo histórica ou não, pode tornar-se um atrativo turístico para visitação. Pois cada atrativo possui suas próprias características e, é a partir da identificação e da potencialização dos atrativos que se inicia a organização do processo de roteirização, fazendo com que a oferta turística de uma região torne-se mais rentável e comercialmente viável (BRASIL, 2007, p.15). Como atrativo turístico, podemos entender “todo o lugar, objeto ou acontecimento de interesse turístico que motiva o deslocamento de grupos humanos para conhecê-los” (OLIVEIRA, 2002, p. 65). É relevante se observar que alguns autores não se referem ao termo atrativo turístico, mas o balizam como recurso turístico, o qual, se for adaptado e formatado, pode vir a se transformar em um atrativo turístico. A luz de Dias (2003): Os recursos turísticos constituem-se nos elementos naturais, atividades humanas ou qualquer outro produto gerado pelo homem que possa motivar um deslocamento de pessoas, cuja motivação seja a curiosidade ou a possibilidade de efetuar alguma atividade física ou intelectual. [...] A existência do recurso é a condição fundamental para a ocorrência do fato turístico [...] desse modo, os recursos turísticos revelam o potencial existente em determinado local ou região para a exploração do turismo [...] trata-se de viabilizá-los como atrativos (p. 58). Portanto, o atrativo turístico pode ser considerado como a matéria-prima do Turismo. A partir dele, pode-se pensar no "fazer turismo" em uma determinada localidade. No entanto, é imprescindível para que o turismo ocorra de forma idealizada, que se invista em infraestrutura, serviços turísticos, divulgação e outros elementos: As atrações são um componente integral – e importante – do produto turístico. Entretanto, para que a maioria das atrações sobreviva e floresça, outros elementos do produto turístico devem ser oferecidos em uma destinação, em um nível complementar, além de qualidade e preço, para dar suporte à atração e oferecer ao turista as necessárias superestrutura e infra-estrutura de apoio (COOPER et al., 2001, p. 347). Existem muitas formas de classificar os atrativos turísticos, sendo as mais usuais, as tipologias de atrativos naturais e culturais, existindo ainda subdivisões dessas categorias macro. Os atrativos naturais são aqueles formados pela ação da natureza, como: clima, paisagem, vida selvagem, florestas, costas ou litoral, 51 montanhas, vales, fenômenos naturais em destaque, entre muitos outros. Em relação aos atrativos culturais, citam-se os museus, manifestações da cultura popular, patrimônio histórico e cultural, sítios históricos, folclore, entre outros. Alguns autores estão acrescentando outra tipologia, a qual está sendo chamada de atrativos artificiais, entendidos como aqueles complexos criados artificialmente, como os parques temáticos (BENI, 2003; 2007; IGNARRA, 2003; DIAS, 2003; LOHMANN; PANOSSO NETTO, 2008). Os atrativos turísticos compõem o patrimônio turístico local e juntamente com outros elementos constituem-se na oferta turística de um determinado lugar. Esta, por sua vez, a partir da compreensão de Beni (2003, p. 159), é o “[...] conjunto de equipamentos, bens e serviços de alojamento, de alimentação, de recreação e lazer, de caráter artístico, cultural, social ou de outros tipos”. A integração desses elementos com a superestrutura, estrutura de produção e a demanda, conforme apresentado no Quadro 1, se configura no produto turístico, uma vez que, este "é composto por um conjunto de serviços que devem ser concebidos como um sistema. É um conjunto formado por um serviço de base e vários serviços complementares" (ZIMMERMANN, 2010, p. 209). Para melhor exemplificar o produto turístico citado pelo autor e a relação existente entre os seus diferentes elementos formatou-se o quadro a seguir. Este relacionamento entre os diversos elementos, que compõem a atividade turística é chamado por Boullón (2002) de sistema turístico, uma vez que sistema é compreendido por Petrocchi (1998, p. 55), a partir de Kast e Rosenzweig, como "um todo organizado ou complexo: um agregado ou combinação de coisas ou partes, formando um todo complexo ou integral". 52 Quadro 1 – Classificação das atividades produtivas Oferta Turística Produto Satisfaz o consumo de Bens e serviços postos atividades turísticas efe tivamente no mercado Empreendimento turístico Superestrutura  Atrativos turísticos Ve nda  Equipamentos e instalações  Infraestrutura (sistemas e redes próprias e alheias que apóiam o funcionamento do setor) Demanda turística  Interna  Externa Serviços solicitados efeti vamente pelo consumidor Estrutura de produção do setor Fonte: Extraído de BOULLÓN (2002) O Quadro 1 mostra as diversas partes que compõem o sistema turístico, o qual é descrito por Boullón (2002): Na parte esquerda da figura registra-se o ponto de partida do funcionamento do sistema, originando no encontro da oferta com a demanda turística, mediante um processo de venda chamado produto turístico, que, com a infra-estrutura, formam a estrutura de produção do setor, tal como indicado na parte direita da figura. No centro da mesma está representada a superestrutura turística, cuja função é controlar a eficiência do sistema, fiscalizando seu funcionamento e a inter-relação entre as partes (p. 38-39). Percebe-se, a partir da explicação do autor, que o sistema turístico é um conjunto de conexões e que deve haver uma harmonia entre elas para que ocorra o funcionamento correto do mesmo. Dentro do sistema, encontra-se o produto turístico, que necessita dos elementos citados por Bahl (2004) para seu bom funcionamento: Os serviços e estruturas de recepção também influem na procura das localidades gerando, consequentemente, a necessidade de manutenção e conservação constante e a busca do equilíbrio, através da organização e planejamento dos serviços, equipamentos, instalações, saneamento, 53 benfeitorias, vias de acesso e restaurantes, vislumbrando-se a absorção e expansão dos fluxos, a geração de rendas e a auferição de lucros (p. 35). Neste sentido, os atrativos turísticos necessitam ser complementados pelos outros elementos do produto turístico para serem vendidos e consumidos, não possuindo a capacidade de venderem-se sozinhos (MARTINS, 2003). Mesmo que os atrativos turísticos sejam a motivação da viagem, sendo eles a principal causa, objetivo do deslocamento dos turistas, eles necessitam estar alicerçados no planejamento e na existência mínima dos demais elementos do produto turístico para atender o visitante. Portanto, o roteiro turístico só atingirá os objetivos propostos se for, primeiramente, feita a análise dos atrativos existentes, identificando sua real atratividade e condições para receber os turistas, bem como, verificando a possível demanda e a estruturação da oferta (SCHERER, 2005; MENESES, 2011). Bahl (2004) ainda acrescenta que, a partir de um roteiro turístico, pode surgir o estímulo pela viagem, uma vez que, Um roteiro turístico resume todo um processo de ordenação de elementos intervenientes na efetivação de uma viagem. O roteiro pode estabelecer diretrizes para a posterior circulação turística, seguindo determinados trajetos, criando fluxos e possibilitando um aproveitamento racional dos atrativos a visitar (p. 31). Os elementos intervenientes, citados pelo autor, referem-se às condições do transporte utilizado pelo turista e sua adequação ao local; a qualidade e quantidade de atrativos que serão visitados no roteiro; aos serviços de hospedagem e restauração que serão ofertados; e, por fim, a duração do roteiro, devendo haver uma sincronização entre esses elementos. Nem todos os roteiros turísticos se constituem de todos esses elementos, podem ocorrer roteiros sem hospedagem, caracterizando-se assim em um roteiro no qual o turista retorna ao seu lar ao final do dia, ou acaba por utilizar casas de parentes para se hospedar (BAHL, 2004). Esta sincronização citada por Bahl é apoiada por Brambatti (2002) no momento em que o autor diz que o roteiro é o encadeamento das atrações, porém, [...] uma atração per si não faz um roteiro. São necessários vários equipamentos encadeados, ligados uns aos outros, formando uma cadeia, que no turismo, pertencem a classes econômicas distintas, como hotéis, restaurantes, lojas comerciais, artesanato, prestadores de serviços de transportes, guias, o que caracteriza uma cadeia produtiva (p. 16). 54 Os roteiros têm a função de facilitar o consumo do produto turístico de uma ou mais localidades. Neste contexto, criam-se os elos de ligação de diferentes atrativos turísticos, facilitando uma visão mais abrangente de um espaço físico ou histórico, proporcionando um ambiente favorável que permite ao turista o contato e conhecimento de um maior número de locais e uma melhor visão socioeconômica e cultural. A roteirização confere realidade turística aos atrativos que estão dispersos através de sua integração e organização. Os objetivos gerais da roteirização são: estruturar, ordenar, qualificar e ampliar a oferta de roteiros turísticos de forma integrada e organizada (BRASIL, 2007, p.15). Pode-se assim deduzir que a criação de roteiros é uma das maneiras de fazer com que o turismo se desenvolva, uma vez que a diversificação de atrativos e um planejamento claro e objetivo desses destinos, facilita, em muito, a organização das viagens e passeio dos turistas, pois lhe são oferecidas uma gama de opções no momento da decisão para qual destino viajar. O MTUR afirma que a roteirização turística deve ser entendida [...] como um passo fundamental, pelo papel que pode exercer na busca pelo desenvolvimento socioeconômico de nosso país. Sua correta implementação pode contribuir para o aumento do fluxo de turistas para um determinado destino, assim como para aumentar seu tempo de permanência e os gastos que realizam (BRASIL, 2007 p.13) Bahl (2004) também se posiciona, neste mesmo aspecto, afirmando que: [...] deve-se levar em conta ainda, o fato de que o roteiro possa ser direcionado ou que atinja um determinado público-alvo, oportunizando oferecer um produto passível de consumo e altamente motivador, devendo ser exposto de maneira clara e objetiva (p. 32). Com a criação dos roteiros turísticos, os turistas permanecem, muitas vezes, mais de um dia na mesma localidade ou região, fazendo com que consumam e efetuem maiores gastos nas localidades receptoras, ampliando assim a geração de renda, aumentando a arrecadação de valores, bem como gerando mais empregos, postos de trabalho (MTUR, 2007). O MTUR criou em 2004, o Programa de Regionalização do Turismo (PRT) - Roteiros do Brasil. Nesse programa foi apresentada uma nova perspectiva para o turismo brasileiro, viabilizando uma 55 abordagem regional do turismo, buscando a interiorização da atividade turística, realizada até então, com maior ênfase, no litoral brasileiro. Essa proposta foi pautada na gestão descentralizada e teve como intuito a propagação do turismo no interior do Brasil, proporcionando assim uma melhor distribuição da renda, com um volume maior de recursos financeiros para as regiões a partir da ocorrência da atividade turística. A roteirização turística, organizando e integrando a oferta turística brasileira a partir dos princípios da participação, da flexibilidade e da sustentabilidade, mostra-se como elemento-chave para permitir que os recursos, resultantes do incremento da atividade turística de uma região, possam significar a promoção de inclusão social e auxiliar na redução das desigualdades sociais e regionais (BRASIL, 2007, p. 14). Torna-se relevante acrescentar que o roteiro turístico deve ser elaborado contextualizado ao local onde acontece, uma vez que, "[...] não devem ser concebidos tão somente como uma sequência de atrativos a serem visitados, mas como uma importante ferramenta para a leitura existente e da situação sociocultural vigente na localidade" (TAVARES, 2002, p. 14). Desta forma, os roteiros precisam proporcionar uma visão clara e ampla do local visitado. Os roteiros turísticos tornam-se fatores importantes para o turismo, porque agem como uma das maneiras de se contextualizar os atrativos turísticos de uma localidade, aumentando assim, seu potencial turístico, como afirma Tavares (2002): [...] o turismo não é feito por visitações realizadas a atrativos isoladamente, mas sim pela visitação de atrativos ou locais inseridos em um contexto maior, quer seja com referência a aspectos de sua história, de sua cultura, de sua geografia ou relativos a seu meio ambiente (p. 15). A autora e Beni (2003; 2007) complementam que seriam poucos os turistas que se deslocariam para visitar apenas um único atrativo, uma vez que, na maioria das vezes, os turistas "viajam devido às diferentes atrações oferecidas por destinos turísticos13" (RODRÍGUEZ, et al., 2012, p. 926). Desta forma, se os atrativos estiverem inseridos em um contexto maior, aumentam seu poder de atração (TAVARES, 2002). Spindler (2013, p. 89) 13 Tradução livre da autora para o seguinte texto original de Rodríguez, et al. (2012, p. 926): "who travel because of the different attractions offered by tourism destinations". 56 complementa, "um único atrativo tende a ter um menor poder de atratividade, sendo normalmente conjugado com demais atrativos locais ou regionais". Assim, um roteiro surge como uma forma de reunir diversos elementos dispersos em um espaço geográfico que tenha características comuns e afinidades, permitindo a conjugação dos "esforços empreendidos na atividade e por ser considerado um caminho para o desenvolvimento turístico" (MENESES, 2011, p. 118). De acordo com Jasper (2012, p. 83), "a roteirização pode ser uma das formas de desenvolvimento do turismo e também estar inclusa no planejamento, desde a criação até a comercialização, e, por fim, uma avaliação contínua". Os roteiros, se bem planejados e implementados, tornam-se uma maneira de reunir diversos elementos até então dispersos e desarticulados de uma região ou localidade. O autor ainda complementa que a correta ordenação dos atrativos, considerados de interesse, baseados no aspecto espacial, possibilita uma melhor visualização e inserção do roteiro. Esses atrativos podem vir embasados e focados em uma temática específica, enaltecendo uma tipologia de turismo única, bem como pode haver roteiros multitemáticos, que abrangem diferentes segmentos turísticos. Dentre estes diferentes segmentos turísticos pode-se incluir o Turismo Cultural, Turismo Religioso, Turismo de Aventura, Turismo no Espaço Rural. As viagens para tratamentos de saúde eram consideradas como as primeiras motivações para o deslocamento de pessoas e, hoje, estão novamente em evidência, sendo chamadas de Turismo de Saúde, Turismo Termal, entre outras nomenclaturas (Bahl 2004). As motivações que levam os turistas a optarem por um determinado tipo de turismo são as mais variadas e estão em constante mudança, conforme corroboram Cisne e Gastal (2009): Ora, o interesse de cada ser humano, aqui encarado como turista, é variável e dependente de cada situação e local, no caso do Turismo, envolve fatores complexos como motivação e, ao considerá-lo sob a perspectiva de desejo, envolve as expectativas intrínsecas do ser turista frente àquela localidade visitada (p. 08). Ao analisar os hábitos das pessoas em modificarem suas perspectivas e seus enfoques turísticos na atualidade, Brambatti (2002, p. 07) versa sobre o fato da modernização, dos processos urbanísticos acelerados e as transformações ocasionadas na vida das pessoas, atualmente movidas pelos novos modelos de vida que a sociedade impõe, estarem ocasionando tais mudanças, fazendo com que elas 57 (pessoas) busquem "novas alternativas de recreação e entretenimento como forma de satisfazer a necessidade de aliviar o stress, gerado pela sociedade industrial moderna". O mesmo autor ainda enfatiza: Com esta perspectiva, cresce a demanda por férias e passeios em regiões de forte apelo paisagístico, cultural e histórico. Milhares de pessoas buscam anualmente aventura com segurança, contato com a natureza e a redescoberta dos valores antigos, presentes na arquitetura colonial ativa, nos costumes, e na interatividade com comunidade rurais (BRAMBATTI, 2002, p. 7). Inclui-se nessa visão de Brambatti o Turismo no Espaço Rural, um dos segmentos turísticos com potencial para ofertar aos visitantes os aspectos citados pelo autor. Segundo Fucks e Souza (2010) A motivação que ocasiona o deslocamento do turista ao mundo rural está ligada ao imaginário rural dos urbanos e à busca por espaços com valores ecológicos, simbólicos e culturais a apreciar, bem como por lugares autênticos, com belas paisagens, com níveis baixos de poluição, ruídos e agitação que as cidades, no intuito de resgatar a nostalgia da vida próxima à natureza, a memória e as raízes históricas no passado, de obter novas experiências e conhecimentos (p. 100). As pessoas desta nova sociedade, em constantes modificações, com níveis de exigências cada vez maiores e pontuais em vários aspectos, como econômico e social, estariam em busca de passeios e viagens, onde possam entrar em contado com a natureza, locais tranquilos, com o intuito de fugir das tensões e estresse dos centros urbanos, o que impulsiona a criação de roteiros rurais, pois "as atividades no meio rural representam um elemento positivo de revitalização física, mental, espiritual, como também oportunidade de refazer as energias, necessárias ao mundo da produção e do mercado" (BRAMBATTI, 2002, p. 07). Hoje o TER encontra-se em crescimento ascendente. A opção da criação de roteiros, comercializando os diferentes atrativos encontrados na zona rural, possibilita aos proprietários a inserção no mercado turístico. Para implantar o turismo em uma localidade ou região, é muito importante saber analisar as potencialidades regionais e locais. Bittencourt e Silva (2007) julgam o planejamento da atividade turística no espaço rural de suma importância, pois a partir de um planejamento coerente: 58 [...] os benefícios serão maiores, pois terá a possibilidade de aumentar a renda do produtor, geração de emprego direto e indireto, fortalecimento da economia local, diversifica a renda, favorece o intercâmbio entre o visitante e o visitado, fortalece o associativismo, impede a imigração dos jovens do campo, entre vários outros benefícios (p. 13). Constata-se, assim, que a atividade turística necessita de um planejamento adequado e atualizado, uma vez que as necessidades, exigências e objetivos dos turistas estão sempre em constante alteração. Por essa razão, proliferam-se cada vez mais ideias e formas de exploração turística, inclusive nos espaços rurais. Para fazer frente aos desafios que se impõem pela maior quantidade de locais ofertados, é imprescindível que se apresentem serviços, infraestrutura e atrativos de qualidade que mobilizem parcela do fluxo turístico, conforme enfatiza Bahl (2004, p. 159), "o turismo depende dos roteiros; esses dependem da oferta de serviços turísticos e se fundamentam pela mobilidade fornecida aos indivíduos para se deslocarem”. Em suma, é necessária a renovação constante da apresentação de novas e múltiplas ofertas turísticas, que motivem um público-alvo específico, se aperfeiçoando para bem atender a essa clientela. A criação da Rota Colonial Baumschneis buscou justamente um roteiro inserido no segmento do Turismo no Espaço Rural, procurando desta forma captar parcela dos turistas do município, da região e do Estado. 59 3 METODOLOGIA DE PESQUISA No estado do Rio Grande do Sul, conforme a Secretaria Estadual de Turismo (SETUR) há um total de quarenta e quatro rotas turísticas rurais, sendo a maioria localizada na Região Turística Serra Gaúcha14 (SETUR, 2012a). Entretanto, a partir de um levantamento realizado junto a SETUR/RS, constatou-se que uma grande parcela dessas rotas não estão em pleno funcionamento. Um dos motivos advém do fato de algumas propriedades integrantes dos roteiros não estarem sempre abertas ao público, dificultando, portanto, sua visitação e, por outro lado, ocorre a falta de interesse dos proprietários em continuar participando da atividade turística. Todavia, os roteiros ainda estão sendo divulgados no site da SETUR15 ou em outros materiais de divulgação. A constatação dessas informações geraram uma série de questionamentos pautados na relação estabelecida entre a roteirização turística no espaço rural e os proprietários envolvidos nestes roteiros. Questiona-se, portanto, sobre como acontece a formatação destas rotas rurais para que as mesmas tornem-se economicamente rentável e socialmente interessante aos olhos dos proprietários, fazendo com que os mesmos não se desestimulem ao longo do processo. O que motiva os proprietários a participarem de uma rota turística? Quais os impactos econômicos, sociais e culturais que incidem nas propriedades e aos proprietários a partir da implantação de um roteiro turístico? Partindo desta premissa, este estudo foi direcionado para a área de roteirização turística no espaço rural, sendo que o objeto escolhido foi a Rota Colonial Baumschneis, no município de Dois Irmãos, Rio Grande do Sul, Brasil. A Rota Colonial Baumschneis teve, no início de suas atividades, grande importância local e regional, se destacando em diversas matérias de jornais e revistas, sendo tema ou estando relacionada a alguns artigos científicos, capítulos de livros, dissertações de mestrado e teses de doutorados. Neste sentido, pode ser citada como exemplo a Dissertação de Mestrado, "Organização em rede: Rota Colonial Baumschneis: uma alternativa econômica, política e socioambiental no setor de turismo rural, no município de Dois Irmãos - 14 A Serra Gaúcha é uma das onze Regiões Turísticas do estado do Rio Grande do Sul, e, onde se localizam dois destinos indutores deste Estado, Gramado e Bento Gonçalves (SETUR, 2012b). 15 Disponível em: . Acesso em: 11 out. 2012. 60 RS" (MOLETTA, 2002), que teve a Rota Colonial como tema centralizador da pesquisa, descrevendo como a ela foi montada, as relações estabelecidas entre as partes envolvidas, identificando no processo os elementos de uma rede. O artigo, "O turismo rural em áreas de agricultura familiar: as 'novas ruralidades' e a sustentabilidade do desenvolvimento local" (BLANCO, 2004), trata sobre as novas ruralidades, fazendo alusão à Rota como um espaço de resgate do patrimônio rural e exemplo de sucesso de uma parceria entre o poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil. A Rota também se tornou o assunto principal de análise de mais dois artigos científicos16, nos quais é ressaltada a importância desse roteiro para o município de Dois Irmãos, no desenvolvimento do turismo local. Como tema relacionado a pesquisas mais abrangentes, a própria autora desta dissertação cita a Rota como o único produto turístico formatado no município de Dois Irmãos, e o valor que ele representa para o turismo local, ao fazer uma análise do potencial turístico do município de Dois Irmãos no seu Trabalho de Conclusão de Curso. No capítulo intitulado "Atividades não agrícolas e turismo rural no Rio Grande do Sul", o projeto da Rota Colonial Baumschneis é apresentado como uma experiência de turismo rural. Fialho e Schneider (2000), citam que a localização da rota, distanciando-se cerca de 58 km de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, "é um aspecto positivo porque o turismo rural só gera atividades que permitem o desenvolvimento econômico, quando se localiza em núcleos próximos às cidades" (FIALHO; SCHNEIDER, 2000, p. 40). Os mesmos autores ainda ressaltam que Dois Irmãos possui um potencial turístico apreciável e que a ideia da Rota era complementar à atividade agrícola desenvolvida pelos proprietários rurais. Na Dissertação de Mestrado, denominada "Agricultura familiar e as rendas não-agrícolas na Região Metropolitana de Porto Alegre: um estudo de caso dos municípios de Dois Irmãos e Ivoti - RS", Fialho, 2000, discute a agricultura familiar e as rendas não agrícolas desse dois municípios e chama a atenção para a Rota 16 ASHTON, Mary Sandra Guerra; FAGUNDES, Camila. O desenvolvimento do turismo: a Rota Colonial Baumschneis em Dois Irmãos/RS. In: Revista Rosa dos Ventos, vol. 3, n. 2, 2011, p. 228- 235. Disponível em:. Acesso em: 10 mar. 2013. E, FAGUNDES, Camila; ASHTON, Mary Sandra Guerra. Rota Colonial Baumschneis - Dois Irmãos/RS: uma investigação sobre a contribuição para o desenvolvimento do turismo municipal. In: ITERCOM SUL, COMUNICAÇÃO, CULTURA E JUVENTUDE, XI, 2010, Novo Hamburgo, RS, Universidade Feevale. Disponível em:. Acesso em: 10 mar. 2013. 61 Colonial Baumschneis, como uma iniciativa de Dois Irmãos para valorizar a cultura local e o meio ambiente (FIALHO, 2000). Também na Tese de Doutorado, "Mosaico Identitário: História, Identidade e Turismo nos municípios da Rota Romântica - RS", a Rota aparece como coadjuvante ao tema principal do trabalho, sendo apontada como paradigmática para abalizar as questões relativas à valorização do homem do meio rural. Em relação a matérias em jornais e revistas, há uma reportagem no Caderno Especial da Revista Veja, que destaca a Rota em análise: É também em Dois Irmãos que está a Rota Colonial Baumschneis, uma estrada rural de terra batida com 7 quilômetros de extensão e dezesseis pontos turísticos, que incluem marcos históricos, pontos de compra de produtos coloniais típicos e gastronomia (MONTEIRO, 2004, p. 64, grifo nosso). Também consta uma reportagem da Revista Expansão "Turismo por força de lei17", outra no site do Clic RBS, "Rota Colonial destaca tradição alemã em Dois Irmãos18", sendo que ambas pautam a Rota como sinônimos de gastronomia, arquitetura, patrimônio e local onde pode se verificar hábitos e costumes do passado. A partir dessas pesquisas iniciais, observou-se que a Rota teve grande importância para o turismo local no início do seu desenvolvimento e que ainda mantém essa importância, o que pode se verificar pelas últimas reportagens realizadas pelo Clic RBS, as quais foram feitas no ano de 2011. Delimitado o tema e o objeto de estudo, e os questionamentos iniciais, apresenta-se o problema de pesquisa, os objetivos, geral e específico e, a hipótese de estudo, para então descrever os procedimentos metodológicos e técnicas de pesquisa adotadas para a coleta de dados. 3.1 PROBLEMA DE PESQUISA E OBJETIVOS Desse modo, emergiram algumas indagações especificamente relacionadas à esta Rota: como foi criada a Rota Colonial Baumschneis? Como ocorreu sua evolução e desenvolvimento? A Associação da Rota agiu conforme os seus objetivos? Os proprietários rurais tiveram ganhos culturais, sociais e principalmente 17 Disponível em: . Acesso em: 15 abr. 2013. 18 Disponível em: . Acesso em: 15 abr. 2013. 62 econômicos após a estruturação do roteiro? Quais os principais acontecimentos que a levaram a sua atual situação? Em que dimensão a Rota e seus parceiros buscaram ou buscam novas ideias e planos para seu desenvolvimento e crescimento? A partir dessas indagações, a pesquisa foi orientada para um questionamento macro. 3.1.1 Problemática de Pesquisa Como ocorreu a construção e desenvolvimento da Rota Colonial Baumschneis, no município de Dois Irmãos/RS, nestes quatorze anos de atividade, buscando descobrir os fatores que somaram para a atual situação do roteiro? 3.1.2 Objetivo Geral Analisar a construção e desenvolvimento da Rota nos seus quatorze anos de funcionamento, buscando descobrir os fatores que somaram para a atual situação do roteiro. 3.1.3 Objetivos Específicos  Identificar os aspectos da criação, organização e desenvolvimento da Rota Colonial Baumschneis;  Caracterizar os atrativos que fazem e fizeram parte do roteiro, seu potencial turístico, motivação e permanência na atividade turística;  Identificar fatores que levaram ao estágio atual da Rota, observando possíveis lacunas e ações que podem ser reestruturadas para sua revitalização. 3.1.4 Hipótese de Estudo Se a construção e desenvolvimento da Rota ocorreu a partir de um planejamento adequado, pautado nas características locais, com a participação e empenho de todos os envolvidos durante estes quatorze anos de funcionamento, hoje, o roteiro está consolidado, havendo um fluxo turístico regular. 63 3.2 ABORDAGENS METODOLÓGICAS Köche (2011) aponta a ciência como metódica e sistemática, a qual exige uma preocupação pelo aperfeiçoamento, tentando eliminar os erros, procurando fazer com que os métodos sejam cada vez mais confiáveis, a partir de um planejamento e revisões críticas. O mesmo autor, parafraseando Popper, afirma que "a ciência não progride pelo acúmulo de verdades superpostas, mas por revoluções constantes, e [...] pela audácia de seus pesquisadores na formulação de novas hipóteses" (KÖCHE, 2011, p. 77). Neste sentido, a atitude científica necessita ser destituída de preconceitos e juízos preestabelecidos, pois, [...] para se construir um novo conhecimento, o pesquisador deve se colocar em atitude de aprendizagem, de querer descobrir o novo, de procurar encontrar fundamentos para esclarecer dúvidas inerentes aos fatos, pessoas, objetos e fenômenos da natureza para os quais ainda não se tem resposta, nos campos de domínio empírico e teórico" (ANTUNES et al., 2012, p. 129). A ciência, compreendida por Severino (2007, p. 100), é "o enlace de uma malha teórica com dados empíricos, é sempre uma articulação do lógico com o real, do teórico com o empírico, do ideal com o real", portanto, a ciência atual se baseia na correção constante dos métodos de investigação, sendo estes renovados, sempre que se constatar necessário, uma vez que "caminhos os mais variados podem ser seguidos pelos diversos pesquisadores para produzir uma explicação" (KÖCHE, 2011, p. 73). O conhecimento científico pode ser compreendido como aquele que se utiliza de experimentos, observações e comprovações, validando ou não algo que se pretende provar, sendo baseado em uma metodologia (KÖCHE, 2011). Esta, por sua vez, está relacionada ao tipo de pesquisa que se realiza, e nela são especificados os procedimentos científicos que serão utilizados e as normas a serem seguidas durante a pesquisa. A partir da escolha da metodologia é que se define quais as técnicas e ferramentas necessárias para o registro dos dados observados (DENCKER, 1998; DUARTE, 2002; MOREIRA, 2002). Nesta perspectiva, tem-se a metodologia como a descrição de quais procedimentos metodológicos, técnicas, instrumentos serão necessários para a construção de uma pesquisa científica, uma vez que "a definição do objeto de 64 pesquisa assim como a opção metodológica constituem um processo tão importante para o pesquisador quanto o texto que ele elabora ao final" (DUARTE, 2002, p. 140). A pesquisa científica pressupõe que deverá haver um método e técnicas, os quais correspondem ao tipo de pesquisa a ser realizada, sendo esses utilizados para alcançar os objetivos, que são estabelecidos a partir da formulação de um problema proposto. Segundo Dencker (1998, p. 25), "o que determina o caráter científico do conhecimento é o método utilizado para a sua construção". O método é uma orientação geral e abrangente, o qual direciona a um conjunto de etapas, sistematicamente dispostas, ou seja, "a descrição e a discussão de quais critérios básicos são utilizados no processo de investigação científica" (KÖCHE, 2011, p, 69). De acordo com Dencker (1998), o método científico consiste em: [...] formular questões ou propor problemas; efetuar observações; registrar cuidadosamente as observações feitas, procurando responder às perguntas formuladas ou resolver problemas propostos; rever conclusões, ideias e opiniões anteriores que estejam em desacordo com as observações e as respostas resultantes (p. 24). Desse modo, foi escolhido como método de pesquisa o estudo de caso, entendendo que seja este o mais apropriado ao objetivo que se propôs alcançar, o qual seja: analisar a construção e desenvolvimento da Rota Colonial Baumschneis, nos seus quatorze anos de funcionamento, buscando descobrir os fatores que somaram para a atual situação do roteiro. Na visão de Yin (2010), [...] o método do estudo de caso permite que os investigadores retenham as características holísticas e significativas dos eventos da vida real - como os ciclos individuais da vida, o comportamento dos pequenos grupos, os processos organizacionais e administrativos (p. 24). Com o intuito de investigar um objeto de pesquisa, podem-se ter estudos de casos únicos ou de casos múltiplos, decisão esta que cabe ao pesquisador adotar em relação ao que se pretende descobrir, uma vez que ele pode usar o estudo de caso como método complementar em um estudo multimétodos maior ou utilizar apenas o estudo de caso (YIN, 2010). O estudo de caso, conforme Godoy (1995), tem sido apontado como o mais apropriado para as questões "como" e "por que", uma vez que essas formas de 65 questões de pesquisa possibilitam respostas mais abrangentes e explanatórias. Yin (2010) ressalta que: O estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo em profundidade e em seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes (p. 39). De acordo com o autor, o uso do estudo de caso como método é recomendado, quando se deseja compreender um acontecimento, episódio, fato da vida real, o qual exige intensa coleta de dados no mesmo local e pressupõe a existência de múltiplas interpretações dos atores envolvidos (YIN, 2010; COSTA et al., 2013), neste caso, dos empreendedores da Rota. Partindo dessas informações foi empregado o estudo de caso único, resultando a análise da construção e desenvolvimento da Rota, principalmente a partir dos relatos dos proprietários participantes e ex-participantes do roteiro, ou seja, da visão deles sobre os acontecimentos ocorridos durante estes quatorze anos de funcionamento, pois considerou-se que, como atores de todo o processo, suas opiniões, argumentos, vivências, alegrias e tristezas, possibilitariam encontrar respostas aos questionamentos do presente trabalho. A luz de Goldenberg (2003), [...] o estudo de caso tornou-se uma das principais modalidades de pesquisa qualitativa em ciências sociais. [...] reúne o maior número de informações detalhadas, por meio de diferentes técnicas de pesquisa, com o objetivo de apreender a totalidade de uma situação e descrever a complexidade de um caso concreto. Através de um mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado, o estudo de caso possibilita a penetração na realidade social, não conseguida pela análise estatística (p. 33). A autora considera o estudo de caso somente como uma pesquisa qualitativa, porém neste trabalho optou-se por empregar uma abordagem tanto qualitativa, quanto quantitativa, partindo da premissa que foram utilizados dados estatísticos, a partir de um levantamento de parcela dos empreendimentos que participaram, classificando aqueles que se encontravam em atividade plena, parcial ou desativado, bem com se coletou informações a partir de entrevistas e fotos. Godoy (1995, p. 26), reforça esta ideia ao mencionar que "ainda que os estudos de 66 casos sejam, em essência de caráter qualitativo, podem comportar dados quantitativos para aclarar algum aspecto da questão investigada". Esta pesquisa, portanto, tem uma abordagem qualitativa e quantitativa para que fosse possível obter um maior e mais relevante volume de informações que permitisse uma análise mais precisa do objeto, uma vez que são compreendidas como complementares e não excludentes, conforme afirma Neves (1996): [...] uma pesquisa pode revelar a preocupação em diagnosticar um fenômeno (descrevê-lo e interpretá-lo); o autor poderia também estar preocupado com explicar esse fenômeno, a partir de seus determinantes, isto é, as relações de nexo causal. Tais pontos de vista não se contrapõem; na verdade, complementam-se e podem contribuir, em um mesmo estudo, para um melhor entendimento do fenômeno estudado (p. 02). Dentro deste contexto, abarca-se a complementação das abordagens e se salienta a necessidade da utilização simultânea de ambas neste estudo, pois da mesma forma que foram levantados dados numéricos, através de algumas pesquisas mais pontuais, estatísticas, empregou-se também o uso de entrevistas, através de uma pesquisa de campo na investigação do fenômeno. 3.2.1 Procedimentos Metodológicos Com o intuito de aprofundar a descrição do fenômeno, identificando suas várias dimensões, esta pesquisa iniciou como um estudo exploratório-descritivo, implicando em dois momentos distintos. Na primeira etapa realizou-se uma pesquisa de caráter exploratório, que serviu de base para a realização dos estudos mais aprofundados posteriormente. A fase exploratória da pesquisa é de familiarização com o tema, tempo dedicado à interrogação sobre o "objeto, os pressupostos, as teorias pertinentes, a metodologia apropriada e as questões operacionais para levar a cabo o trabalho de campo" (MINAYO, 1994, p. 26), o qual faz parte da próxima etapa. A luz de Dencker (1998): A pesquisa exploratória procura aprimorar ideias ou descobrir intuições. Caracteriza-se por possuir um planejamento flexível, envolvendo em geral levantamento bibliográfico, entrevistas [...] As formas mais comuns de apresentação das pesquisas exploratórias são a pesquisa bibliográfica e o estudo de caso (p. 151). 67 Köche (2011, p. 126) salienta que a pesquisa exploratória é utilizada principalmente nas ciências sociais e acrescenta que esta trabalha com "o levantamento da presença das variáveis e da sua caracterização quantitativa e qualitativa". Nesta fase também se utilizou, além da pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de materiais já existentes, e baseai-se em "conhecer e analisar as principais contribuições teóricas existentes sobre um determinado tema ou problema" (KÖCHE, 2009, p.122). Para tanto, foram consultadas obras literárias, produções acadêmicas a nível de mestrado e doutorado, e artigos científicos nacionais e estrangeiros que versassem assuntos pertinentes à pesquisa, com o intuito de ampliar o conhecimento, auxiliando assim na compreensão das variáveis do fenômeno estudado. Dencker (1998, p. 152) descreve a pesquisa bibliográfica como aquela que "permite grau de amplitude maior, economia de tempo e possibilita o levantamento de dados históricos". Porém a mesma autora faz uma ressalva, citando que este tipo de pesquisa tem uma limitação, referente à possível "reprodução dos erros das fontes consultadas" (DENCKER, 1998, p. 152), salientando a importância do pesquisador em procurar sempre utilizar a fonte original, quando ainda houver e estiver disponível. Dentre todas as dissertações existentes no Banco de Dados do Programa de Pós-Graduação em Turismo da Universidade de Caxias do Sul (PPGTUR), não foram encontradas nenhuma que tivesse como objeto de estudo a Rota Colonial Baumschneis, sendo esta a primeira, e uma das poucas Dissertações do Programa de Pós-Graduação em Turismo da Universidade de Caxias do Sul que traz estudos sobre a Região do Vale do Rio dos Sinos. Algumas focaram seus estudos em roteiros turísticos, porém, a maioria deles sempre voltados para a região de localização do PPGTUR, Caxias do Sul. A partir das pesquisas preliminares, verificou-se que o objeto de estudo deste trabalho fez parte de alguns artigos científicos, monografia, dissertações de mestrado e teses de doutorado de outras Universidades do Rio Grande do Sul, bem como de capítulo de livro, sendo o tema principal somente em parte desses documentos, como já mencionado anteriormente. Entretanto, nenhum desses trabalhos estudou a Rota da maneira como esta pesquisa se propôs a fazer, um estudo longitudinal dos quatorze anos do funcionamento do roteiro, com o intuito de descobrir os fatores que levaram a Rota a se encontrar na situação atual. 68 Diferenciando-se da pesquisa bibliográfica, a documental é caracterizada "por utilizar material que ainda não recebeu tratamento analítico ou que pode ser reelaborado" (DENCKER, 1998, p. 153). Para descrever a história da criação da Rota e sua evolução, estava prevista a análise de documentos oficiais, como: ofícios, atas de reuniões, regulamentos, correspondências, tanto da Prefeitura de Dois Irmãos, como da Associação da Rota. Entretanto, houve dificuldade no acesso a essas fontes, quer como originais, quer como cópias, que referissem à criação da Rota Colonial Baumschneis, dificultando, em alguns momentos, a pesquisa ou mesmo inviabilizando uma análise mais aprofundada do processo. Na técnica de pesquisa "documentação", será tratada mais sobre este assunto. Todos os materiais coletados, a partir da utilização das pesquisas bibliográfica e documental, juntamente com as entrevistas, se tornaram dados e informações, os quais foram reunidos e utilizados na próxima etapa que teve um caráter descritivo. A pesquisa descritiva analisa uma situação existente, proporcionando novas visões sobre esta realidade conhecida a partir de "técnicas padronizadas de coleta de dados" (DENCKER, 1998, p. 151). Portanto, para a coleta de dados, utilizou-se três fontes de evidência ou informação, baseadas em Yin (2010), as quais são: documentos, registros em arquivo e entrevistas, pois um "importante ponto forte da coleta de dados do estudo de caso é a oportunidade de usar diferentes fontes de evidência" (YIN, 2010, p. 142). A pesquisa descritiva constata os dados e fatos, a partir de uma manifestação a posteriori, sendo considerada por Köche (2011) como uma pesquisa dotada de espontaneidade, naturalidade e um certo grau de generalização, entretanto o mesmo autor enfatiza que o pesquisador necessita ter um conhecimento aprofundado sobre o fenômeno. 3.2.1.1 Técnicas de Pesquisa A escolha pela qual técnica a ser empregada dependerá da problemática de cada pesquisa, dos objetivos e de quais recursos o pesquisador dispõe para a realização da pesquisa. As técnicas podem ser múltiplas em um mesmo estudo, sendo elas, portanto, não excludentes (SEVERINO, 2007; YIN, 2010; COSTA et al., 2013). Severino (2007), referente a este assunto, afirma que as técnicas de pesquisa: 69 [...] servem de mediação prática para a realização das pesquisas. Como tais, podem ser utilizadas em pesquisas conduzidas mediante diferentes metodologias e fundamentadas em diferentes epistemologias. Mas, obviamente, precisam ser compatíveis com os métodos adotados e com os paradigmas epistemológicos adotados (p. 124). Para Dencker, o método estabelece o que irá ser feito na pesquisa, sendo este mais abrangente, e as técnicas são a etapa em que o pesquisador decide como irá fazer a pesquisa, pois "de acordo com as técnicas utilizadas, as pesquisas podem ser classificadas de diferentes maneiras em decorrência dada pelo autor que elabora a classificação" (DENCKER, 1998, p. 148). Neste sentido, foram escolhidas as três técnicas de pesquisa: documentação, registros em arquivo e entrevistas. O Quadro 2 demonstra os pontos fracos e fortes considerados pelo mesmo autor em relação as técnicas selecionadas. Quadro 2 - Pontos fortes e fracos das fontes de evidências Fonte Pontos fortes Pontos fracos de evidência Documentação  Estável - pode ser revista  Recuperabilidade - pode ser difícil repetidamente de encontrar  Discreta - não foi criada em  Seletividadade parcial, se a coleção consequência do estudo de caso for incompleta  Exata - contém nomes, referências  Parcialidade do relatório - reflete e detalhes exatos de um evento parcialidade (desconhecida) do  Ampla cobertura - longo período autor de tempo, muitos eventos e muitos  Acesso - pode ser negado ambientes deliberadamente Registros em arquivo  [Idem à documentação]  [Idem à documentação]  Precisos e geralmente  Acessibilidade devida a razões de quantitativos privacidade Entrevistas  Direcionadas - focam diretamente  Parcialidade devida às questões os tópicos do estudo de caso mal articuladas  Perceptíveis - fornecem inferências  Parcialidade da resposta e explanações causais percebidas  Incorreções devido à falta de memória  Reflexividade - o entrevistado dá ao entrevistador o que ele quer ouvir Fonte: Extraído de YIN (2010) 70 Conforme Severino (2007) e Yin (2010) as técnicas são procedimentos complementares, elas se articulam. Pode-se, portanto, coletar, utilizando fontes múltiplas, desde que estas estejam alinhadas, visando o mesmo fato ou fenômeno. Yin (2010) ainda ressalta que: [...] o uso de múltiplas fontes de evidência nos estudos de caso permite que o investigador aborde uma variação maior de aspectos históricos e comportamentais. Assim, qualquer achado ou conclusão do estudo de caso é, provavelmente, mais convincente e acurado se for baseado em diversas fontes diferentes de informação, seguindo um modo corroborativo (p. 143). Para Yin, isto se chama triangulação de dados, ou seja, quando apoiamos o estudo em mais de uma fonte de informação. A utilização das múltiplas fontes torna- se uma opção pertinente, uma vez que propicia várias avaliações do mesmo fenômeno. Posteriormente, as técnicas utilizadas no estudo serão apresentadas, bem como irá se relatar os seus usos, fazendo um contraponto com os pontos fortes e fracos apresentados por Yin (2010) no Quadro 2. 3.2.1.1.1 Documentação A importância da utilização dos documentos já foi citada anteriormente, quando se explanou a pesquisa documental. Entretanto, cabe ressaltar que a documentação "é toda a forma de registro e sistematização de dados, informações, colocando-os em condições de análise por parte do pesquisador" (SEVERINO, 2007, p. 124). Dentre os pontos fortes destacados no Quadro 2, constata-se que os documentos são fontes importantes em uma pesquisa, enfatizado pelo fato de haver a possibilidade de serem revistos diversas vezes, quantas forem necessárias, durante todo o processo. Também se tornam fontes exatas, por conterem nomes, números e dados exatos descritos, por um período mais amplo de tempo. Contudo, ao analisar os pontos fracos desta técnica de pesquisa, observa-se que os documentos nem sempre estão em locais de fácil acesso, ou pode ser negado por aqueles que os possuem. Contudo, cabe ressaltar que "os documentos são úteis mesmo que não sejam sempre precisos e possam apresentar parcialidades" (YIN, 2010, p. 128). A ideia de utilizar esta técnica nesta pesquisa é assim resumida por Yin, 71 [...] para os estudos de caso, o uso mais importante dos documentos é para corroborar e aumentar a evidência de outras fontes, [...] os documentos podem proporcionar outros detalhes específicos para corroborar a informação de outras fontes (2010, p. 130). Os documentos necessitam ser interpretados, e "não devem ser aceitos como registros literais dos eventos ocorridos" (YIN, 2010, p. 128), uma vez que eles foram redigidos com outra finalidade que não o propósito deste estudo específico. Neste sentido, foram consultadas as seguintes fontes de informações que no corpo deste trabalho foram considerados como documentos:  Filme "Ancestralidade Biografada: resgate histórico dos Dienstmann de Dois Irmãos" - arquivo pessoal do Sr. Roberto Dienstmann (2010);  Oito cartões postais do 1º Concurso Fotográfico "Fotografe Dois Irmãos", realizado em 1999;  Seis materiais impressos de divulgação - folders - do município de Dois Irmãos ou especificamente da Rota Colonial Baumschneis (s/d);  Uma matéria da Revista Plaza (2000), um recorte do Jornal NH (ABC Domingo, 1999) e dois materiais de divulgação da Casa Dienstmann (2001 e 2003) - acervo pessoal do Sr. Roberto Dienstmann;  Três recortes de jornais (Jornal NH (2013) e Correio do Povo (s/d)) - acervo pessoal da pesquisadora;  Guia de Turismo Rural, organizado pela Secretaria Estadual de Turismo, Esporte e Lazer, em 2004;  170 fotos e diversos recortes de jornais e outros materiais (s/d) - acervo pessoal do Sr. Juarez Stein;  Alguns registros internos (correspondências internas, detalhamento de algumas etapas do Projeto Turismo com Qualidade desenvolvido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), orçamentos de serviços, entre outros) fornecidos pela Prefeitura Municipal de Dois Irmãos, referente aos anos de criação da Rota Colonial e dos quatorze anos de funcionamento (s/d). Como já mencionado, não houve registros oficiais sobre os processos de implantação da Rota Colonial Baumschneis, que, a partir de relatos, teriam sido extraviados ou perdidos. Com isso, possivelmente, muitas das informações 72 relevantes acabaram por não ser encontradas, como por exemplo o Projeto de Criação da Rota, 3.2.1.1.2 Registros em Arquivos Os registros em arquivos, conforme Yin (2010) referem-se aos: [...] mapas e gráficos das características do local; dados previamente coletados sobre os participantes do local; arquivos de uso públicos, disponibilizados pelos governos federal, estadual e local; registros organizacionais, como o orçamento ou os registros pessoais (p. 132). Estes registros em arquivos, juntamente com outras fontes de informações, servem para embasar ou contribuir com os demais dados da pesquisa. Para tanto, foram fornecidos ou consultados durante a pesquisa as seguintes fontes de evidência compreendidas nesta pesquisa como registros:  Dados estatísticos e históricos retirados dos sites do IBGE e do Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil;  Registro de visitas realizadas à Casa Dienstmann - acervo pessoal do Sr. Roberto Dienstmann;  Lei Nº 1.686/1999, cria a Rota Colonial;  Lei Nº 2.932/2010, institui o mês do Café Colonial no Município de Dois Irmãos;  Lei Nº 1.628/1999, cria o Programa de Incentivo ao Turismo (PRIT);  Lei Nº 2.312/2006, altera dispositivos da Lei Nº 1.628/1999. Yin (2010) considera que a utilidade dos registros em arquivos, ao contrário da evidência documental, [...] variará de estudo de caso para estudo de caso. Para alguns estudos, os registros podem ser tão importantes que se tornam objeto de recuperação extensa e de análise quantitativa. Em outros estudos, eles podem ser apenas de relevância passageira (p. 132). Optou-se por utilizar essa técnica, uma vez que, com a falta de documentos originais, seria possível, através dela, descobrir informações úteis à pesquisa, mesmo que ela possua os mesmos pontos fracos da documentação, acrescentando o fato de haver a impossibilidade do acesso às informações pelo direito de 73 privacidade dos dados pelo proprietário. Entretanto, teve-se alguns resultados positivos, ao utilizar esta técnica, uma vez que foi possibilitado o acesso a elementos privados, como por exemplo a relação de visitantes/dia da Casa Dienstmann, resultando na obtenção de mais informações valiosas para uma melhor análise da Rota Colonial Baumschneis. 3.2.1.1.3 Entrevista As entrevistas são meios de se obter informações a partir do contato direto com o entrevistado. É considerado por Yin (2010) como uma das fontes de informação mais importantes em um estudo de caso. Segundo Dencker (1998, p. 165 - grifo do autor), "a entrevista é uma comunicação verbal entre duas ou mais pessoas, com grau de estruturação previamente definido, cuja finalidade é a obtenção de informações de pesquisa". Elas podem ser formatadas de três maneiras:  estruturada: com perguntas previamente elaboradas e direcionadas para o objetivo da entrevista de forma bastante diretiva;  semiestruturada: também com perguntas elaboradas, porém proporcionam uma maior liberdade ao entrevistador para realizar interferências durante a aplicação da entrevista;  não-estruturada: quando o entrevistador e o entrevistado realizam uma conversa sobre o tema ou os temas pertinentes à pesquisa, objeto de estudo do entrevistador, sem perguntas previamente elaboradas. A entrevista é, muitas vezes, a maneira de se ter acesso a dados que não são encontrados em documentos, registros em arquivos ou outras fontes de evidências, por isso, torna-se uma importante técnica, pois é através dela que "o pesquisador visa apreender o que os sujeitos pensam, sabem, representam, fazem e argumentam" (SEVERINO, 2007, p. 124). Neste sentido, optou-se pela entrevista como uma das técnicas de pesquisa, por se entender que seria, a partir dela que se conseguiria as principais informações para a construção do objetivo geral: analisar a construção e desenvolvimento da Rota Colonial Baumschneis nos seus quatorze anos de funcionamento, buscando descobrir os fatores que somaram para a atual situação do roteiro. Para alcançar tal 74 objetivo, a pesquisa norteou-se, principalmente, nas respostas dadas pelos empreendedores da Rota Colonial Baumschneis, pois "em geral, as entrevistas são uma fonte essencial de evidência do estudo de caso porque a maioria delas é sobre assuntos humanos ou eventos comportamentais" (YIN, 2010, p. 135). Dessa forma, a entrevista se tornou a fonte de evidência mais importante de toda a pesquisa. Como parte da coleta de dados, foram realizadas outras entrevistas, com os Secretários e Diretores que estão e estiveram nos cargos, durantes estes quatorze anos. Essas entrevistas tinham como intuito servir de fonte de informações secundárias, auxiliando assim na análise final. Dencker (1998) corrobora com a ideia de utilizarmos a entrevista para descobrirmos informações mais específicas sobre um tema: A entrevista é especialmente indicada para o levantamento de experiências. É preciso lembrar que grande parte dos conhecimentos existentes não pode ser encontrada na forma escrita, pois faz parte das experiências das pessoas. O pesquisador precisa localizar as pessoas que, em função do cargo que ocupam, de sua experiência de vida e de sua situação em relação ao objeto de estudo, acumulam informações preciosas sobre o problema que se pretende investigar (p. 166, grifo do autor). Neste sentido, as entrevistas se constituíram como semiestruturadas, com perguntas abertas e fechadas, pois se compreende que algumas perguntas devam ser mais diretas, com respostas mais objetivas, e outras demandem, por parte dos pesquisados, uma resposta mais longa, com mais detalhes. Essas questões mais longas podem proporcionar insights sobre determinados fatos, trazendo à tona informações relevantes à pesquisa e, assim, resultando em informações mais precisas para a compreensão do fenômeno. A entrevista é, conforme Severino (2007), uma técnica de pesquisa, de coleta e é uma interação entre pesquisador e pesquisado, ou seja, uma conversa guiada. As questões formuladas objetivam um propósito, por este motivo necessitam ser bem planejadas, organizadas, preparadas, fazendo com que o entrevistado responda o que o pesquisador precisa saber. Mas também deve se ter o cuidado de não deixar o pesquisado na defensiva, em alguma situação embaraçosa, ou seja, precisa ao mesmo tempo satisfazer "as necessidades [...] de investigação, enquanto, simultaneamente, apresenta questões "amigáveis" e não ameaçadoras" (YIN, 2010, p. 133). 75 Outra etapa importante, quando da preparação das entrevistas, é limitar o universo de pessoas que serão entrevistadas, pois [...] a definição de critérios segundo os quais serão selecionados os sujeitos que vão compor o universo de investigação é algo primordial, pois interfere diretamente na qualidade das informações a partir das quais será possível construir a análise e chegar à compreensão mais ampla do problema delineado (DUARTE, 2002, p. 141). Justamente, por se entender essa necessidade de delimitar quais serão as pessoas entrevistadas, criou-se dois grupos. O Grupo 1 está demonstrado na Tabela 1, e se constitui dos proprietários dos atrativos turísticos que fizeram e fazem parte da Rota Colonial Baumschneis que possuem visitação, formando um total de quinze pessoas. Os seus nomes não será revelados, uma vez que optou-se por deixar seus nomes no anonimato, garantindo a integridade dos entrevistados. Tabela 1 - Grupo 1 Atrativos turísticos Casa Velha - Colha e Pague Atelier de Arte Leila Blauth Mundo dos Ovos Convento Doce - Casa de Chá Propriedade Rural Ignácio Stoffel Serraria e Carpintaria Becker Campo 7 Amigos Casa da Colônia Klaus Armazém Secos e Molhados Scholles Casa Dienstmann: história e cultura Cervejaria Hunsrück Sítio Ecológico Falkoski Moinho Collet Casa Rübenich Propriedade Rural Cerro Bela Vista Fonte: Própria autora (2013) O Grupo 2 foi constituído pelos gestores municipais da Secretaria de Indústria, Comércio, Turismo e Agricultura, desde 1997 até 2014, composto por doze pessoas, desses cinco tiveram o cargo de Secretários e sete foram Chefes do 76 Departamento de Turismo, conforme pode-se verificar na Tabela 2. Estes possuem seus nomes revelados por se constituírem de pessoas públicas, porém no momento da análise não serão citados a partir dos seus nomes, sendo para tanto utilizados pseudônimos. Tabela 2 - Grupo 2 Cargo e Nome Gestão Sec. Flávio Müller 2001 - 2004 Sec. Gilberto Scheffer 2005 - Jul. 2006 Chefe Dep. Laurindo Julien 1997 - 2004 Chefe Dep. Cládis Maria Hansen 2003 - 2005 Sec. Ramon Arnold Ago. 2006 - 2008 Chefe Dep. Éverton Schaumloeffel 2006 - 2008 Chefe Dep. Patrícia Weber 2009 - 2011 Sec. Sérgio José Fritzen 2009 - 2012 Chefe Dep. Zélia Golembieski 2011 - 2012 Sec. João Luiz Weber 2013 - atual Chefe Dep. Paula Machado Jan. 2013 - Jul. 2013 Chefe Dep. Letícia Schumacher Ago. 2013 - atual Fonte: Própria autora (2013) As entrevistas com o Grupo 1 (APÊNDICE A), consistiram de um conjunto de questões objetivas, pré-elaboradas pelo pesquisador, incluindo perguntas abertas e/ou fechadas "sistematicamente articuladas, que se destinam a levantar informações escritas por parte dos sujeitos pesquisados, com vistas a conhecer a opinião dos mesmos sobre os assuntos em estudo" (SEVERINO, 2007, p. 125). As questões abertas são respondidas pelo próprio entrevistado, com suas palavras, sem a interferência do entrevistador. As perguntas fechadas têm as respostas pré- fixadas e oferecem ao pesquisado a opção de múltipla escolha. Também se pode formular uma mistura de questões, incluindo perguntas fechadas e abertas. A Tabela 3 apresenta a relação das visitas realizadas aos atrativos da Rota, evidenciando o dia em que foi feita e qual o instrumento utilizado. Existem seis atrativos que possuem apenas contemplação do local, sem comercialização de produtos, ou interação no local. Nesses locais foram apenas registradas fotografias, sem a realização de entrevistas. 77 Tabela 3 - Cronograma de visitas e entrevistas aos atrativos e equipamentos turísticos Data Atrativo e equipamento turístico Instrumento aplicado 23 e 24 ago. 2013 Casa Velha - Colha e Pague Apêndice A 31 ago. 2013 Museu Histórico Nenhum. Apenas fotografias 31 ago. 2013 Centro de Dois Irmãos Nenhum. Apenas fotografias 31 ago. 2013 Ponte de Pedra Nenhum. Apenas fotografias 31 ago. 2013 Cemitério Evangélico Nenhum. Apenas fotografias 31 ago. 2013 Salão Jacob Feiten Nenhum. Apenas fotografias 31 ago. 2013 Praça do Imigrante Nenhum. Apenas fotografias 02 set. 2013 Kioske da Rota Apêndice A 02 set. 2013 Atelier de Arte Leila Blauth Apêndice A 06 set. 2013 Mundo dos Ovos Apêndice A 09 set. 2013 Convento Doce - Casa de Chá Apêndice A 09 set. 2013 Propriedade Rural Ignácio Stoffel Apêndice A 10 set. 2013 Serraria e Carpintaria Becker Apêndice A 10 set. 2013 Campo 7 Amigos Apêndice A 30 out. 2013 Casa da Colônia Klaus Apêndice A 12 dez. 2013 Armazém Scholles Apêndice A 02 fev. 2014 Casa Dienstmann Apêndice A 07 fev. 2014 Cervejaria Hunsrück Apêndice A 21 mar. 2014 Sítio Ecológico Falkoski Apêndice A Fonte: Pesquisa de campo (2013, 2014). No trajeto da Rota Colonial estão localizados dois empreendimentos gastronômicos - Kioske da Rota e Kaffe Haus, os quais não são considerados atrativos turísticos, mas equipamentos turísticos, uma vez que apenas servem refeições, sem haver uma visitação ao local. No entanto, por se entender que eles pertencem ao roteiro e fazem parte da Associação da Rota, pretendia-se realizar entrevistas com os proprietários desses estabelecimentos também. Porém, somente a proprietária do Kioske da Rota se dispôs a participar da pesquisa, estando assim presente no Cronograma de visitas e entrevistas demonstrado na Tabela 3. As entrevistas realizadas com o Grupo 2 (APÊNDICE B), tiveram como finalidade corroborar com algumas informações, fatos que se consideram importantes para a pesquisa, não havendo questionamentos de maior profundidade, ou seja, as entrevistas eram mais focadas e mais rápidas, assumindo uma forma mais conversacional, porém, também foram feitas perguntas abertas e fechadas. Essas foram criadas com o intuito de se encontrar alguma informação relevante que 78 auxiliasse na pesquisa, desvendando algum caso, algum fato que, por ventura, ainda não havia sido explicado completamente. Na Tabela 4 pode-se verificar a listagem das entrevistas realizadas com os gestores, com as datas em que foram feitas, bem como informando o instrumento utilizado. Tabela 4 - Cronograma de entrevistas com os Gestores municipais Data Nome do Gestor Instrumento Aplicado 07 fev. 2014 Sec. João Luiz Weber Apêndice B 07 fev. 2014 Chefe Dep. Letícia Schumacher Apêndice B 07 fev. 2014 Chefe Dep. Zélia Golembieski Apêndice B 18 mar. 2014 Chefe Dep. Laurindo Julien Apêndice B 24 abr. 2014 Chefe. Dep. Cládis Maria Hansen Apêndice B 05 mai. 2014 Sec. Ramon Arnold Apêndice B Fonte: Própria autora (2014) Esta fase da coleta de dados teve o intuito de ser censitária, ou seja, não seria realizado um estudo por amostragem, e sim com todos os integrantes e ex- integrantes da Rota, como também iriam ser entrevistados todos os Secretários e Chefes de Departamento de Turismo que fizeram parte da Secretaria de Turismo Municipal nestes quatorze anos de gestões. Entretanto, por razões não especificadas ou indisponibilidade por parte dos entrevistados, as entrevistas foram realizadas com apenas seis pessoas relacionadas à Gestão Municipal, faltando assim outros seis gestores. Em relação aos proprietários, foram feitas treze entrevistas, ficando pendente a realização em três atrativos. Na Casa Rübenich, depois de muitas tentativas, via telefone e pessoalmente, não se encontrou ninguém no local. No Moinho Collet e na Propriedade Rural Cerro Bela Vista houve recusa por parte dos proprietários em participar desta pesquisa, sendo que os motivos não foram revelados. Outro contratempo está relacionado com o cronograma original para a realização das entrevistas, pois o mesmo teve que ser modificado, demandando assim mais tempo do entrevistador do que fora previamente previsto. Mais um motivo do retardamento da pesquisa de campo foi a falta de tempo dos entrevistados. O protelamento dessas entrevistas impediu que esta fase fosse encerrada em dezembro de 2013, como estava planejado no cronograma original. 79 No decorrer do processo se observou a necessidade de conversar com outras pessoas que estivessem ligadas à construção da Rota Colonial, como: o ex- Prefeito Municipal, Juarez Stein (APÊNDICE B), que atuava no momento da criação do roteiro e o Guia de Turismo, Éverton Fritsch (APÊNDICE C), que conduzia diversos grupos nos primeiros anos e, hoje, se encontra envolvido com a Rota, sendo o vice-presidente da Associação da Rota Colonial Baumschneis. Cabe ainda ressaltar que se pretendia conversar com a técnica do Sebrae/RS, presente durante a criação do Projeto Rota Colonial Baumschneis, Sra. Vania Beatriz Florentino Moletta, já que a mesma poderia estar de posse do projeto e fornecer diversas informações relevantes à pesquisa. A mesma foi contatada e, na oportunidade, foi solicitada a possibilidade de realizar uma entrevista pessoalmente. Em um primeiro momento, a Sra. Vania se manifestou a favor da entrevista, porém, ao se fazer o segundo contato, para então marcar a data da entrevista, a Sra. Vania desistiu de participar da pesquisa, alegando indisponibilidade devido à saúde. O registro de todas as entrevistas foi feito, utilizando-se o recurso da áudio- gravação e posterior transcrição dos dados. Entende-se ser essa a maneira mais indicada de realizar esta fase, pela possibilidade da riqueza de detalhes e dados que podem ser obtidos pelos pesquisadores através, desta forma de técnica de pesquisa. Antes de realizar a gravação, solicitou-se que os entrevistados lessem a entrevista e caso a autorizassem, ela era então realizada. Cada entrevista com os proprietários teve a duração de duas horas, sendo que em alguns locais se necessitou de mais tempo, tendo de três a quatro horas. É necessário esclarecer que as perguntas não podem sugerir uma resposta, precisam ser claras e fáceis de serem respondidas. Cada dúvida do pesquisador deve corresponder a uma pergunta, para não confundir o entrevistado ou possibilitar a manipulação da resposta. Severino (2007, 125), confirma esta informação quando diz que "as questões devem ser objetivas, de modo a suscitar respostas igualmente objetivas, evitando provocar dúvidas, ambiguidades e respostas lacônicas". É necessário atentar ao fato que as "respostas dos entrevistados estão sujeitas aos problemas comuns de parciabilidade, má lembrança e articulação pobre ou inexata" (YIN, 2010, p. 135), sendo esses alguns dos pontos fracos relacionados no Quadro 1 quanto à utilização das entrevistas como fonte de evidência. Por esse motivo as questões devem ser bem formuladas, de maneira que se minimizem esses 80 problemas. Caso haja outras fontes de informação, pode-se corroborar os dados das entrevistas com estas outras fontes. Como muitos dos proprietários são pessoas simples, com pouca escolaridade, ocorreu que o entrevistador tivesse que explicar melhor algumas perguntas, trocar algumas palavras para um vocabulário mais simples. Outro problema enfrentado foi o fato de alguns proprietários estarem com uma idade avançada e, por este motivo, não recordarem de algumas informações que lhes estava sendo questionada, dificultando a obtenção de dados mais precisos sobre a propriedade ora estudada. A entrevista precisa ser testada antes de ser realmente aplicada ao grupo ao qual se destina. Este pré-teste serve como parâmetro para possíveis ajustes e revisões. Neste sentido, aplicou-se um teste com um dos proprietários de um dos empreendimentos pertencentes à Rota, com o objetivo de avaliar se as perguntas formuladas eram de fácil compreensão e estavam de acordo com o objetivo da pesquisa. Esse teste serviu para verificar que havia várias perguntas, sem valor para a pesquisa, que poderiam ser retiradas e outras que poderiam ser melhor formuladas para um melhor entendimento por parte dos entrevistados. Optou-se por fazer entrevistas ao invés de questionários, pois, conforme Dencker (1998, p. 111, grifo do autor), a diferença entre entrevista e questionário é entendida no sentido de que "no questionário, as perguntas são entregues por escrito e os informantes preenchem as respostas; na entrevista, é o pesquisador que formula as perguntas e anota ou grava as respostas". Todas as entrevistas foram realizadas pelo pesquisador, a partir de um roteiro semiestruturado, baseado em Santos (2004, 2008), portanto, não foi entregue nenhum papel com questões para os entrevistados responderem sozinhos. Considerou-se esse método mais adequado ao objetivo deste trabalho, uma vez que as entrevistas possibilitam um maior número de informações, flexibiliza mais a obtenção de dados e amplia a riqueza de detalhes. 81 4 MUNICÍPIO DE DOIS IRMÃOS O município de Dois Irmãos está localizado no sul do Brasil, no Estado do Rio Grande do Sul, mais precisamente a 59 km de Porto Alegre, capital regional desse Estado. O município fica situado nos primeiros degraus da encosta do Planalto Meridional, em uma altitude média de 175 metros, recebendo, por esse motivo, o codinome de “Portal da Serra Gaúcha” (IBGE, 2014a) (Figura 2). Figura 2 - Localização do município de Dois Irmãos Fonte: Extraído de GLOBO (2014) Dois Irmãos abrange geograficamente 65,156 km². Com base na hidrografia, o município pertence à região do Vale do Rio dos Sinos, a qual compreende a área banhada pelo Rio dos Sinos e, economicamente, pertence à Região Metropolitana de Porto Alegre (WEBER, 2006; IBGE, 2014b; MARTINS, 2013). Segundo o Programa de Regionalização do Turismo (BRASIL, 2013), o município de Dois Irmãos se insere na Região Turística Vale do Rio dos Sinos, juntamente com Araricá, Campo Bom, Estância Velha, Ivoti, Lindolfo Collor, Morro Reuter, Nova Hartz, Novo Hamburgo, Presidente Lucena, São Leopoldo, Sapiranga e Sapucaia do Sul. A população estimada para 2013 apontava em 29.528 habitantes, sendo que, 98,93% localizam-se na zona urbana e somente 1,07% permanecem morando na área rural. O PIB per capita é R$25.327,45 (IBGE, 2014b; ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL, 2013). Fonte: Adaptado do ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL (2013) 83 desenvolvimento turístico regional do Rio Grande do Sul19 (BARBOSA, 2013), e também localiza-se a 76,9 km de Caxias do Sul, cidade reconhecida como o principal Polo Industrial Metal Mecânico do Estado e o segundo maior do Brasil (MOLETTA, 2002; CAXIAS DO SUL, 2008), inserindo-se assim numa localização geográfica favorável para investidores, tanto em negócios como em turismo. Além de Dois Irmãos estar próximo aos destinos turísticos: Gramado e Bento Gonçalves, também pertence à Rota Romântica, a qual foi inspirada em um roteiro turístico existente na Alemanha, com a mesma denominação, "Romantische Strasse". Esse roteiro é composto por quatorze municípios: São Leopoldo, Novo Hamburgo, Estância Velha, Ivoti, Dois Irmãos, Morro Reuter, Santa Maria do Herval, Presidente Lucena, Linha Nova, Picada Café, Nova Petrópolis, Gramado, Canela e São Francisco de Paula. Essas cidades que formam a Rota Romântica possuem características em comum, mas mantém um marco divisor que define suas singularidades. As várias etnias que formam a região, com suas diferentes culturas, se encarregam naturalmente das atrações: variação gastronômica, a música, o artesanato e produtos típicos se aliam à hospitalidade e ao conforto dos hotéis (HAAS, 2007; ROTA ROMÂNTICA, 2014). A partir da criação desta Rota, Dois Irmãos, visualizou a possibilidade de se inserir mais no mercado turístico e dentre outros motivos criou a Rota Colonial Baumschneis, objeto deste estudo. 4.1 A CHEGADA DOS IMIGRANTES Dois Irmãos fez parte da antiga colônia alemã de São Leopoldo, instalada em 1824, no Rio Grande do Sul. Após o processo de Independência do Brasil de Portugal foram demarcadas terras na Real Feitoria do Linho Cânhamo, para que nelas se estabelecessem os descendentes germânicos20, no Rio Grande do Sul, pois "a região estava em completo abandono e carecia de novo incremento o que podia, talvez, ser conseguido com uma exploração sistemática e uma penetração gradativa para o interior" (ARANDT, 1999, p. 11). Nesse sentido, em julho de 1824 19 Por destino indutor do desenvolvimento turístico regional entende-se, conforme Barbosa (2013, p. 51) aquele município que tem "a capacidade crescente de gerar negócios nas atividades econômicas relacionadas com o setor de turismo, de forma sustentável, proporcionando ao turista uma experiência positiva". 20 Alguns autores se referem à estes imigrantes como alemães, outros como teuto-brasileiros ou germânicos. Com a falta de comprovação de como estes devem ser citados, estes imigrantes serão chamados, neste estudo, de descendentes germânicos. 84 chegaram a primeira leva de imigrantes à região do Rio dos Sinos (ARANDT, 1999; VIER, 1999; ROST, 2008; SPINASSÉ, 2008; BRAUN, 2010). O motivo da vinda desses imigrantes para o Brasil e especificamente para o Rio Grande do Sul foram muitos, entre eles, a explosão demográfica, a terrível crise econômica, após as guerras napoleônicas, pelo lado germânico (VIER, 1999; WEBER, 2006; SPINASSÉ, 2008; BRAUN, 2010). O Império brasileiro também havia realizado diversas promessas aos que aqui chegassem, como por exemplo: garantia de viagem gratuita até o Brasil; terras gratuitas; isenção de impostos por dez anos; direito de receber mudas e sementes para iniciar as culturas. Todas essas garantias e os problemas enfrentados na Alemanha21 estimularam o processo de emigração (VIER, 1999; WEBER, 2006; BRAUN, 2010). O nome do município, o qual teve origem portuguesa, se refere aos dois morros quase iguais que se localizam na parte sul da cidade, atualmente, entre os municípios de Dois Irmãos e Novo Hamburgo (VIER, 1999). Entretanto, antes de se tornar realmente emancipado, o município de Dois Irmãos mudou diversas vezes de nome, entretanto, Dois Irmãos foi o primeiro nome dado, quando da criação da gleba para fins de distribuição aos imigrantes germânicos, conforme consta em documento oficial. Em 1825, quando foi aberta a picada22, mudou para Linha dos Dois Irmãos. Após, foi denominado de Linha Grande dos Dois Irmãos, por se tratar de uma faixa bastante extensa de terra, passando a chamar-se mais tarde, quando em 1829 chegou a maior leva de imigrantes germânicos, de Linha Grande de São Miguel dos Dois Irmãos. Entretanto, pela dificuldade de pronunciar esse nome extenso e, em Língua Portuguesa, os moradores começaram a chamar a localidade de Baumschneiss (Picada dos Baum) ou Picada Baumschneiss, devido a grande 21 "No início do século XIX, a Alemanha ainda não constituía um Estado, uma unidade política, como conhecemos hoje. Uma Federação Alemã, dividida em estados independentes regionais, formou-se após o Congresso de Viena, em 1815. Ela era formada pelo Império Austríaco, por cinco Reinados (Prússia, Baviera, Saxônia, Hannover e Württemberg), um Eleitorado (Hessen), 18 Ducados e Grão- Ducados, 13 Principados e quatro cidades" (RÜRUP apud SPINASSÉ, 2008, p. 03). 22 "A picada que, inicialmente, nada mais era que trilha de acesso a uma propriedade, passou a ser, em pouco tempo, orientadora de vida comunal, geograficamente identificável. Era unidade humana, na qual se encontrava tempo (católico ou luterano, as confissões religiosas às quais pertenciam imigrantes alemães), a escola (tradição trazida pelos imigrantes e que teria importância fundamental para o desenvolvimento do Brasil meridional), o cemitério (espaço de reverência a mortos e de preservação de memória comunal), a residência do professor ou do padre/pastor, o salão de festas comunitárias (também designado de sociedade ou clube). Cada picada abrigava uma casa comercial, [...] muitas vezes conhecida por "venda", era a porta de comunicação da picada com o mundo exterior" (DREHER, 2005, p. 15). 85 influência que Pedro Baum e sua família tiveram junto aos demais colonos (ARANDT, 1999; VIER, 1999, BRAUN, 2014b). Arandt (1999) reforça esta ideia: A família Pedro Baum, chegou com a décima primeira leva a São Leopoldo, pela sumaca Delfina (em sua terceira viagem), em 31 de dezembro de 1825. Pedro aparece identificado nas listas de Hillebrand - que, como diretor da Colônia de São Leopoldo, registrou e descriminou todos os colonos chegados, como "lavrador, evangélico, sapateiro em Dois Irmãos (Baumschneiss)". Não se pode precisar, porém, a data em que essa família tenha se deslocado para lá, fixado residência. Henrique Baum, irmão de Pedro, só chegaria a São Leopoldo com sua família, em 16 de dezembro de 1827, depois de haver permanecido algum tempo na colônia de Nova Friburgo no Rio de Janeiro. [...] A influência de ambos ou a sua importância local parecem ter concorrido para que os demais colonos os distinguissem, cognominando o vale de Baumpikade ou Baumschneiss, oficialmente tido como Linha Grande de Dois Irmãos (p. 13). Autores como Arandt (1999) e Vier (1999), ambos pesquisadores da história de Dois Irmãos, comentam sobre a falta de registros e documentos oficiais de muitos fatos ocorridos, quando houve a chegada dos descendentes germânicos no Rio Grande do Sul que se direcionaram para Dois Irmãos. Conforme Arandt (1999, p. 14), muitos dados "são apenas baseados na dedução lógica e não há - ou não veio a ser descoberto ainda - documentação que os comprove integralmente". Esses autores mencionam que, a partir da tradição oral, no ano de 1829 houve a chegada de mais um grupo numeroso de imigrantes germânicos, conhecidos como os náufragos do navio Cecília, Cäcilie ou Cäcilia. O navio Cecília zarpou do porto de Hamburgo em 1827, e foi surpreendido por uma tempestade no Canal da Mancha. O navio, que estava parcialmente destroçado, foi abandonado pelo Capitão e a tripulação, ficando seus passageiros a deriva até serem encontrados por um barco inglês, sendo conduzidos para a cidade de Plymouth, na Inglaterra. Neste porto permaneceram por cerca de dois anos, aguardando a definição de seu destino (ARANDT, 1999; VIER, 1999; BRAUN, 2010). Dois anos depois, em 1829, os imigrantes aportaram no Rio de Janeiro, no dia 29 de setembro, dia do Arcanjo São Miguel. O percurso ao Rio Grande do Sul foi feito em barcos costeiros, onde esses imigrantes ancoraram no Passo do Rio dos Sinos e daquele local se dirigiram a Dois Irmãos. Eles ocuparam parte dos 249 lotes que o governo Brasileiro mediu no ano de 1824 (ARANDT, 1999; VIER, 1999). Arandt (1999) menciona que esses imigrantes eram procedentes da zona de Tréveris, considerada a cidade mais antiga da Alemanha, localizada no estado da 86 Renânia-Palatinado, onde também se encontra a cidade de Rhein-Hunsrück. Entretanto, Vier (1999) identifica como sendo estes imigrantes provenientes do Hunsrück, Koblenz e Trier (Tréveris em português), e, Braun (2010, p. 19), é enfático ao dizer que "a maior parte dos alemães que vieram para a região do Vale do Rio dos Sinos eram originários do Hunsrück, [...] região no sudoeste da Alemanha, na divisa com a França". Luersen (2010) faz uma observação com relação a este dilema: Vale ressaltar também que a origem dos imigrantes teutos não era de uma Alemanha como a conhecemos hoje, e sim de diferentes estados independentes ou mesmo semi-dependentes. A maior parte dos imigrantes da Europa central provinha da região do Hunsrück e circunvizinhanças (p. 73). Segundo relatos obtidos em pesquisas, que utilizaram a história oral como metodologia, os colonos imigrantes estabeleceram a data de 29 de setembro como o marco de fundação da cidade de Dois Irmãos, em homenagem ao Arcanjo São Miguel, sendo essa data até hoje comemorada no “Michelskerb” – Kerb23 de São Miguel (ARANDT, 1999). Vier (1999) se manifesta referente à data de 29 de setembro de 1829, colocando que não se sabe ao certo se essa data foi o dia em que os imigrantes chegaram no Rio de Janeiro, em São Leopoldo ou em Dois Irmãos, pois não existem documentos que comprovem esse fato, como também, não há relatos em documentos que evidenciem, se é verídica a história dos náufragos do navio Cecília. Arandt (1999) se refere a esse fato como uma “lenda”, a qual foi relatada de geração em geração entre a população de Dois Irmãos, e comenta que a data de 29 de setembro de 1829 é um mito fundatório, pois não há dados comprobatórios, bem como documentações que comprovem integralmente esse episódio da história da cidade. Independente da origem lendária, tornou-se a data oficial da fundação da cidade de Dois Irmãos, na época chamada de Picada Baumschneiss. O contato entre a Picada Baumschneiss e as outras colônias dava-se através de uma estrada, denominada de Estrada do Travessão Rübenich, em 23 Em relação a palavra kerb, Prietsch (1984) comenta que esta não consta em dicionários alemães, pois foi criada pelos imigrantes em solo gaúcho. Ela provém de kircheeinweihfest, que significa festa de inauguração de igreja, segundo o idioma alemão, e sofreu as seguintes alterações: “Kircheeinweihfest; kercheinweihfest; kerchweihfest; kerchweih; kerw; kerb” (PRIETSCH, 1984, p. 37). 87 homenagem à família Rübenich, hoje chamada de Rua Alberto Rübenich (ARADNT, 1999; VIER, 1999). Mesmo com o desenvolvimento das colônias, localizadas ao longo dessa rua, na época ponto de passagem obrigatório para se chegar a Dois Irmãos, ainda é uma estrada com uma paisagem peculiar, repleta de história e cultura, pois ela interliga toda a zona rural do município, local esse onde se localiza a Rota Colonial Baumschneis. 4.2 CRESCIMENTO ECONÔMICO DE DOIS IRMÃOS A comunidade caracterizou-se pela produção rural e artesanal. A principal atividade econômica, desde o início da colonização até meados dos anos quarenta, era a agricultura, considerada "uma pacata e uniforme colônia agrícola" (VIER, 1999, p. 41). Todas as regiões teuto-brasileiras, conforme Vier, não obtiveram uma vasta evolução por quase cem anos, porém tinham muita integração e união, o que os auxiliou nos momentos de dificuldades. Os problemas enfrentados pelos imigrantes podem ser explicados pelo fato deles terem chegado sem seus pertences, ferramentas, roupas, os quais foram perdidos durante o naufrágio (VIER, 1999, WEBER, 2006). Para Vier (1999): É evidente que todos eles saíram da Alemanha (Hunsrück, Kobtlenz e Trier) com uma respeitável bagagem de ferramentas, roupas, utensílios, medicamentos, como também dinheiro (marco) necessário para se instalarem na nova pátria. Tudo isto ficou perdido nesta trágica viagem e o dinheiro tiveram que gastar na permanência na Inglaterra (p. 41). Neste sentido, os colonos imigrantes tiveram muitas dificuldades logo após sua chegada. Inicialmente, as propriedades tinham entre vinte e quatro, quarenta e oito ou até sessenta hectares. Neste período, a colônia estava em fase de crescimento, e era necessário aumentar a população, e, para tanto, cada família tinha em torno de oito filhos, o que significava uma média de um filho a cada dezoito meses ou dois anos. Os filhos eram estimulados a continuar morando com os pais ou próximo a eles, trabalhando todos juntos e repartindo a produção igualmente. Porém, com o crescimento populacional, foi necessário o fracionamento das terras, ficando assim a maioria delas com vinte e cinco hectares, surgindo os pequenos agricultores. Hoje, existem em Dois Irmãos muitas pequenas propriedades, de cinco, dez, dezoito ou vinte e um hectares. Por motivo do parcelamento das áreas 88 agrícolas ocorreu, nos anos 1920-1930, o primeiro êxodo rural da região, resultando no deslocamento de diversos colonos para outras regiões, como: Cerro Largo, Santo Cristo (RS), Itapiranga (SC) e regiões mais longínquas (VIER, 1999). Além da falta de terras, o solo das propriedades estava dando sinais de desgaste, o que também resultou nas migrações. Portanto, para que a colônia "não ficasse ainda mais pobre, foi preciso introduzir novas técnicas na correção do solo" (VIER, 1999, p. 42). A partir da utilização dos calcários e adubos químicos, foi possível melhorar as condições da terra e aumentar a produção, uma vez que, nas décadas de cinquenta e sessenta, Dois Irmãos "foi um dos maiores produtores de batatas e cebola, aipim e moranguinhos de toda a região" (VIER, 1999, p. 43). Porém, esse setor começou a perder forças na década de oitenta, quando houve a ascensão do setor coureiro-calçadista no município. Da mesma forma, Dois Irmãos sempre foi destaque na produção e criação de suínos (MOLETTA, 2002; WEBER, 2006). Em um período de mais de cem anos, ou seja, desde 1825 à 1930/1940 não existiam estradas adequadas, apenas caminhos coloniais, o que dificultava o transporte de produtos e mercadorias que entravam e saíam da localidade de Dois Irmãos, sendo esse mais um dos motivos que, somente após a década de quarenta, com a melhora do acesso à localidade, houvesse um crescimento próspero para Dois Irmãos e região (VIER, 1999). Durante todo o desenvolvimento da Picada Baumschneiss, até a localidade se tornar município, surgiram diversas atividades comerciais e industriais para atender às necessidades da comunidade, as quais foram se desenvolvendo com o passar dos anos ou foram sendo deixadas de lado com o surgimento de novas ideias e empreendimentos. Como exemplo, cita-se: alambiques24, atafonas25, moinhos de grão, serrarias, carpintarias, olarias, ferrarias, selarias, sapatarias, alfaiatarias, matadouros, cantarias26, fábrica de cerveja e refrigerante, e [...] para completar, uma das atuais e urgentes necessidades, o Hotel, já tínhamos nos anos 40-50: Hotel Sander que, além, de quartos para hóspedes, tinha restaurante e até salão de Baile (bem no centro de Dois Irmãos). Aos domingos era muito procurado pelos famosos cafés coloniais (VIER, 1999, p. 122). 24 Local para a fabricação de cachaça (VIER, 1999). 25 Casa de moagem de farinha (VIER, 1999). 26 Local onde eram esculpidos os monumentos aos mortos em pedras grês ou mármore (VIER, 1999). 89 O crescimento demográfico e econômico de Dois Irmãos foi acompanhado de mudanças político-administrativas: em 1857, a localidade foi transformada no quarto Distrito do Município de São Leopoldo; em 1938, a povoação é considerada Vila. Obteve, por conseguinte, uma evolução em todos os setores – político, econômico e social, e, aos dez dias do mês de setembro de 1959, é criado o município de Dois Irmãos. A constituição do município é enfatizada por Arandt (1999) [...] é criado o município de Dois Irmãos, com sede na localidade de mesmo nome, constituído dos territórios de Dois Irmãos, Morro Reuter e Santa Maria do Herval, antes pertencentes ao município de São Leopoldo, sendo- lhes fixadas as demais [...] transcorrido este século, a “Baumchneiss” sairia da condição de simples colônia ao pé dos morros gêmeos para chegar a pertencer ao rol dos municípios autônomos, como município de Dois Irmãos (p. 24). O município de Dois Irmãos continuou sua trajetória de crescimento. Dentre todas estas atividades comerciais e industriais, a partir da década de trinta, a sapataria foi a que mais prosperou, gerando riqueza, emprego e outros benefícios, uma vez que "diversos pequenos empresários acreditaram no progresso da 'Baumschneiss', pois iniciaram pequenos empreendimentos, que se viabilizaram, principalmente a partir da década de 70" (VIER, 1999, p. 123). Até os dias de hoje o setor coureiro-calçadista é um dos mais competitivos na economia municipal, bem como possui destaque na economia do Estado, sendo considerado o "4º produtor no Estado e 5º em exportação no Brasil, Dois Irmãos tem a indústria do calçado, importante riqueza econômica, colaborando com o desenvolvimento do Rio Grande do Sul" (IBGE, 2010a). Para Moletta (2002), [...] a necessidade de terceirizar algumas partes da manufatura de calçados oportunizou a criação de empresas com esta finalidade, tais como ateliers de costura, oficinas de produção de solados pré-fabricados e serviços de trançados, entre outros (p. 18). O progresso das fábricas de calçados ocasionou diversos fluxos migratórios de várias regiões do Rio Grande do Sul, em direção à Dois Irmãos, a partir da década de 1980 (DOIS IRMÃOS, 2013; WEBER, 2006). Fazendo uma relação entre os diferentes setores da economia de Dois Irmãos, tem-se, no setor primário, o cultivo de flores, acácia-negra e 90 hortifrutigranjeiros (IBGE, 2014b), considerado o menos rentável atualmente, conforme demonstra-se na Tabela 5. Tabela 5 - Setores econômicos de Dois Irmãos Produto Interno Bruto (Valor Adicionado) Variável Dois Irmãos Rio Grande do Sul Brasil Agropecuária 7.698 8.764.507 105.163.000 Indústria 246.438 37.475.448 539.315.998 Serviços 374.305 77.628.594 1.197.774.001 Fonte: IBGE (2014b) No setor secundário, encontram-se, além de indústrias coureiro-calçadistas, fábricas de móveis, como a indústria Herval, responsável pela fabricação de móveis e esquadrias sob medida e colchões em sistema ecologicamente correto. A instalação da Malharia Daiane, no ano 2000, trouxe ao município mais desenvolvimento na área de vestuário e comércio, tanto no atacado, quanto no varejo, alavancando a oferta de empregos e o aumento de divisas. As indústrias encontram-se em segundo lugar na tabela do Produto Interno Bruto (PIB) do município. E, o setor que mais receita proporciona ao município, atualmente, é terciário, através da prestação de serviço, turismo, comércio e serviços (DOIS IRMÃOS, 2013; MOLETTA, 2002; WEBER, 2006). 4.3 TURISMO EM DOIS IRMÃOS O turismo já era destaque no município de Dois Irmãos na década de 1970. Conforme pesquisas realizadas por Weber (2006), por suas características econômicas e potencialidades turísticas, o Guia Econômico do Vale e outros jornais de circulação regional mencionavam o município como local, onde o turista encontraria uma paisagem natural e muitas prédios históricos, fazendo referência às diversas casas históricas da época da colonização germânica: Dois Irmãos é uma daquelas localidades em que ainda se mantêm vivos muitos costumes da época da Colonização Alemã no Estado. Devido a isso, o turista é sempre bem recebido, pois a vida em comunidade e o labor cotidiano feito sem a pressa dos grandes centros urbanos, são importantes para que haja sempre um sorriso e um gesto simpático para o visitante (Jornal do Comércio, 1977, apud WEBER, 2006, p. 135). 91 Observa-se que este artigo indica a cidade de Dois Irmãos como um local bucólico e hospitaleiro, onde não prevalecia a pressa, se diferenciando do que ocorria, já na época, nos centros urbanos. Outra característica analisada pela autora, a partir de suas pesquisas, foi a vinculação da etnia germânica à promoção turística de Dois Irmãos, a partir dos anos 1980, que fez com que o município fosse considerado um lugar de alto valor turístico, não apenas pelo seu "patrimônio físico, mas também por consequência da cultura de seu povo, um precioso legado dos avós europeus que tanto se preservou" (Jornal Dois Irmãos, 1983, apud WEBER, 2006, p. 136). Com o fomento das indústrias de calçados, ocorrido nas décadas de setenta e oitenta, houveram muitas migrações para a região do Vale do Rio dos Sinos, ocasionando um processo de modificação das comunidades, até então praticamente formadas por descendentes da colonização germânica. Esse processo gerou dúvidas da população local com relação aos novos moradores, se esses influenciariam a etnia germânica ali instalada, ou alterariam os aspectos culturais e o modo de ser de sua população. Weber (2006) se manifesta sobre este assunto: A cidade é marcada por um estilo imutável que se mantém continuamente no decorrer do processo histórico. Essa idéia conserva-se mesmo ou até porque o momento de crescimento industrial passa a apresentar uma diversidade de fenômenos que tornam contraditória a imagem que se quer dar à cidade (p. 138). Neste sentido, observa-se que a influência germânica na cultura permanece até os dias atuais, não tendo sofrido grandes mudanças com as migrações. A década de 1980 foi palco de várias manifestações da vontade política municipal, no sentido de incentivar o turismo em Dois Irmãos: [...] na administração de Romeu Wolf no período de 1983 a 1988 [...] se instalou uma assessoria de turismo com a intenção de atrair o turista para aumentar o comércio. [...] Esse pensamento pautou algumas ações, como a política e preservação de praças e monumentos históricos (WEBER, 2006, p. 147). A Praça do Imigrante, muito frequentada pelos moradores e turistas, considerada um dos atrativos turísticos da cidade atualmente, foi construída na gestão do Prefeito Romeu Wolf (1983-1989). Foi aprovado pela Câmara de Vereadores, no ano de 1987, um projeto que permitiu à Prefeitura realizar parcerias 92 com o Estado para pesquisas com o intuito de descobrir as características culturais de Dois Irmãos. A partir dessa década, o município passou a investir mais no Kerb de São Miguel27, com o objetivo de comercializar essa festa como uma atração turística (WEBER, 2006). Weber (2006) faz menção a um mapa turístico de São Leopoldo que, na década de cinquenta quando criado, tinha uma imagem de um casal sentado à mesa, provavelmente fazendo referência a um café colonial, sendo este talvez considerado um atrativo turístico, uma vez que, Dois Irmãos é considerado o berço do café colonial. O interesse pelo turismo volta à pauta municipal (comunidade e gestores) por motivo da crise no setor calçadista, ocorrida na década de noventa, e principalmente após a implantação da Rota Romântica, da qual Dois Irmãos é um dos quatorze municípios participantes. Essa rota foi fundada em 22 de abril de 1996, abrangendo "uma região que tem em comum valores culturais de imigração alemã" (PORTO; DHEIN, 2012, p. 7). Ela foi idealizada a partir do trabalho acadêmico na PUCRS e batizada de Rota Romântica (HASS, 2006; WEBER, 2006; SCHOMMER; GASTAL, 2013; ROTA ROMÂNTICA, 2014). Haas (2006) destaca que a proposta da implantação da Rota Romântica possui [...] um forte apelo cultural, supondo a utilização de hábitos, costumes e tradições como a gastronomia e a língua ainda falada por muitos moradores da região, que têm sido transmitidos de geração em geração e ainda mantidos pelos atuais moradores, também em suas manifestações artísticas, arquitetônicas e mesmo folclóricas, cuidadosamente conservadas (HAAS, 2006, p. 7). Com a implementação da Rota Romântica, e os problemas provenientes da crise do calçado instaurada na região, Dois Irmãos vislumbrou a possibilidade de participar, de maneira mais efetiva do mercado turístico, procurando captar uma parcela dos turistas que fossem passear pela Rota Romântica e principalmente aqueles que se dirigissem à Gramado, utilizando a BR 116. Envolvidos por este movimento em prol do desenvolvimento do turismo a Rota Colonial Baumschneis foi idealizada. No ano 1996, foi instituído em Dois Irmãos o Natal dos Anjos. Na formulação desse evento, houve a participação da comunidade local, apoiado pelo Poder 27 A festiviadade "Kerb de São Miguel" será descrita mais adiante. 93 Público e Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Dois Irmãos. De acordo com Vier (1999), O Natal dos Anjos deu certo porque conquistou o que precisava - o apoio da comunidade. O evento, que nasceu para incrementar as vendas do comércio e ser um atrativo a mais na parte turística, não esqueceu da parte principal - o motivo da festa, o nascimento do menino Jesus, o Salvador (p. 423). O Natal dos Anjos se consagrou como um dos importantes eventos municipais, fonte de divulgação de Dois Irmãos. Dentre os demais eventos promovidos, os quais também são significativos para a oferta turística do município, e importantes influenciadores da demanda turística, cita-se: Kerb de São Miguel, Kerb da Bergamota, Mês do Café Colonial, Choco Circus, Salão da Micro e Pequena Empresa e Feira Agropecuária de Dois Irmãos. Além dos atrativos pertencentes à Rota Colonial Baumschneis, a Prefeitura Municipal elege hoje, outros espaços como locais que possuem potencialidade de atração turística. Como exemplo de atrativos naturais são nomeados o Parque Municipal Romeo Benício Wolf e a Cascata São Miguel. No que tange aos atrativos culturais, são elencados a Antiga Igreja Matriz de São Miguel, edificada em 1880, a Igreja Evangélica, datada de 1855, a Sociedade Atiradores, construída no ano de 1897, o Colégio Imaculada Conceição, erguido em 1900, a Sociedade de Canto Santa Cecília, construída em 1927, e a Igreja Evangélica Luterana, inaugurada em 1938 (DOIS IRMÃOS, 2014b). 4.4 PRESENÇA CULTURAL GERMÂNICA EM DOIS IRMÃOS Dois Irmãos foi colonizada por imigrantes germânicos, de maneira que se observa a herança cultural dessa etnia no município. A germanidade se manifesta através da gastronomia, da arquitetura de algumas construções antigas, pela presença de grupos folclóricos de danças, pelo modo de festejar e pelo modo muito especial da presença do dialeto germânico, o Hunsrück, ainda falado por muitos germanos descendentes. Para Grünewald (2003) Etnicidades são fenômenos sociais que refletem as tendências positivas de identificação e inclusão de certos indivíduos em um grupo étnico. A 94 distintividade dessa identidade, para caracterizar um grupo étnico, deve se remeter a noções de origem, história, cultura e, até, raça comuns (p. 145). Os traços da colonização germânica ainda se mantém bastante vivos em Dois Irmãos. Uma das razões que contribui para que isso ocorresse foi pela forma como se desenvolveu a imigração germânica no Rio Grande do Sul, assim descrita por Moraes (1981), [...] isolados e esquecidos pelo governo [...] sem meios de comunicação [...] sem instrução, sem o agente de descendência lusa, e preso à sua gleba, às suas tarefas, adstrito às suas tradições, usos e costumes, [...] os imigrantes e descendentes teriam que se desenvolver num sentido quase eminentemente alemão, conservando, durante décadas, os mesmos usos e costumes de seu país de origem (p. 09-13). Os itens constitutivos de uma etnia são considerados em suas marcas culturais e históricas - ou seja, um passado comum, que se tornam capazes de definir as características de um grupo em relação a outros, ou seja, uma etnia de outra. Grünewald (2003, p. 145) destaca que, "elementos de cultura são pensados (tratados) e operados como tradições – termo que indica substância constituinte de um povo, mas que, na prática, pode ser construída situacionalmente com vistas, inclusive, no futuro". Muitos hábitos, costumes e características peculiares dos colonizadores e descendentes germânicos foram preservados, constituindo-se, assim, aspectos sociais, culturais e políticos intrínsecos à comunidade de Dois Irmãos. De acordo com Cogan (2012), A germanidade das origens da população de Dois Irmãos está presente não apenas nos cabelos loiros e olhos azuis, no forte acento na língua portuguesa, nas tradições culturais, traduzidas na dança, canto, música, festas, na gastronomia, no cuidado com as ruas da cidade, nos jardins das residências, em hortas cultivadas até mesmo em laterais de calçadas, mas também em sua forma de organização comunitária (p. 48). As principais características da germanidade encontradas em Dois Irmãos, legado transmitido de geração em geração, serão, na sequência, abordados. 95 4.4.1 Dialeto germânico - o Hunsrück Uma das maiores manifestações culturais germânicas presentes em Dois Irmãos é a conservação do dialeto Hunsrück, o qual foi e ainda é passado de geração em geração. Conforme Moraes (1981, p. 09), "a língua falada, como um dos elementos culturais trazidos, foi o que mais perdurou e ficou para as gerações sucessivas e, mais tarde, como preciosa contribuição de cultura para o nosso Estado". O mesmo autor ainda complementa ao dizer que "a língua alemã foi preponderante na aproximação e união dos imigrantes e, posteriormente, entre os descendentes" (MORAES, 1981, p. 13). Fato este que se observa ao caminhar pelas ruas de Dois Irmãos e adentrar nos estabelecimentos comerciais. Além de ouvir o povo falando o Hunsrück, existe uma característica própria dos descendentes falarem o português, uma vez que muitos deles cometem erros ao utilizarem a Língua Portuguesa por causa da forte presença do dialeto em sua vida. Vier (1999), um dos pesquisadores e escritores da história e cultura de Dois Irmãos, se manifesta, relatando que, [...] o idioma alemão é, sem dúvida, uma das heranças mais preciosas, e é preservada até nossos dias. Por isso afirmamos que o "idioma", "die Sprache", é a expressão da palavra, do querer, do ser, dos sentimentos e da vontade, em fim, foi o que nossos pais e avós nos legaram (p. 148). Sem dúvida alguma, a linguagem falada foi o grande elo de ligação nas antigas colônias germânicas, e a sua manutenção, como forma de comunicação, ainda hoje demonstra a sua importância no contexto histórico e cultural, fato este existente na comunidade doisirmonense. 4.4.2 Manifestações religiosas e sociais Em Dois Irmãos a festividade "Kerb" é a festa mais tradicional e representativa do município de Dois Irmãos, realizada sempre no dia 29 de setembro, denominada Kerb de São Miguel. Segundo a tradição, essa festa ocorre em virtude de uma promessa feita pelos náufragos do navio Cecília, caso sobrevivessem e “[...] aportassem um dia no Brasil, consagrariam esse dia de sua 96 chegada como feriado e oferecido ao santo do dia” (ARANDT, 1999, p. 38). Vier faz menção ao dia 29 de setembro dizendo que [...] a partir desta data, o padroeiro, o intercessor e o protetor da Picada "Baumschneiss" é o Arcanjo São Miguel. E, em sua honra e homenagem, os colonos construíram a primeira Capela de São Miguel, que foi inaugurada com celebrações festivas e com missa solene, rezada pelo Pe. Antônio Nunes da Silva, de São Leopoldo, no dia 30 de novembro de 1832" (1999, p. 36). As comemorações do Kerb criaram uma tradição social e religiosa no município. Conforme Arandt (1999, p. 39), essa festa faz parte “[...] das tradições teuto-riograndenses, não havendo similar em outras partes do mundo, onde exista colonização germânica, nem mesmo na própria Alemanha, devido às características exclusivas”. Essa festividade era um dos maiores acontecimentos das regiões povoadas por imigrantes germânicos (WEBER, 2006). Além de ser uma manifestação da culinária, torna-se também uma manifestação religiosa e social, conforme mostra a Figura 3. Figura 3 - Kerb em Dois Irmãos Fonte: BRAUN (2014b) 97 Segundo Weber (2006), essa festa acabou sendo menos comemorada na década de 1930 por causa da Nacionalização28. Com o passar dos anos, ela foi sofrendo algumas alterações, e [...] mais recentemente, pode-se observar, de modo geral, que o peso maior desse festejo está muito mais na atração de público para os bailes e jantares [...] do que numa festividade restrita ao núcleo da comunidade paroquial. Em Dois Irmãos, a municipalidade, especialmente a partir dos anos 1980, investiu financeiramente no sentido de demarcar o Kerb como uma festa para atrair turistas (WEBER, 2006, p. 148). No início da colonização germânica em Dois Irmãos, as festividades do Kerb envolviam toda a comunidade e arredores, "os amigos, parentes e vizinhos vinham de todos os lados das regiões vizinhas, a pé ou a cavalo, para comemorar, durante três dias em salões, igrejas e casas de famílias, com muita oração, diversão e comes e bebes" (VIER, 1999, p. 36) e, com isso, o padroeiro da colônia, o Arcanjo São Miguel, foi se consagrando, com o passar do tempo, em um tradição culturalmente enraizada. Hoje, encontramos poucas famílias que ainda comemoram o festejo nesses moldes, "embora tenha perdido progressivamente seu caráter essencialmente religioso, para tornar-se a festa da povoação" (ROCHE, 1969, p. 642), transformando-se numa atração turística, perdendo um pouco a sua autenticidade (WEBER, 2006). No ano de 2011, "a cidade comemorou os 182 anos desta festa" (COGAN, 2012, p. 50). Entretanto, ainda hoje o Kerb de São Miguel tem duração de três dias, onde são mantidos alguns costumes antigos, como as cores da decoração, nos tons preto, amarelo e vermelho e a festa religiosa em homenagem ao Padroeiro da cidade. Acontece também uma grande festa de rua, com apresentações de bandinhas típicas, desfiles de carros alegóricos pela Avenida São Miguel, apresentação de grupos folclóricos, e distribuição gratuita de cerveja à população e à visitantes pelo bierwagen29. Esse carro transita pela cidade, durante um período do dia, distribuindo cerveja aos transeuntes. 28 "Com a implantação da Campanha de Nacionalização no final da década de 30 e primeira metade dos anos 40 do século XX, tirou-se dos descendentes de alemães o seu direito de comunicação em sua língua herdada e proibiu-se toda e qualquer manifestação de seus hábitos culturais" (AZAMBUJA, 2014). 29 No idioma alemão significa carro da cerveja. 98 Nesta festa ao ar livre, existem muitos grupos que se organizam com camisetas alusivas à festa, vestimentas com trajes típicos alemães, bem como, grupos folclóricos, caracterizados com a indumentária do folclore alemão. Outra manifestação da manutenção das tradições culturais locais, que se encontra em Dois Irmãos, é o Kerb da Bergamota. Esse evento ocorre no Travessão Rübenich e é importante, principalmente para os moradores do Travessão, pois resgata uma tradição do local. O objetivo do Kerb da Bergamota é comemorar a colheita da fruta, através de uma confraternização entre todos os envolvidos e os visitantes. Neste ano a programação está em sua 12ª edição. O Kerb da Bergamota foi revitalizado pela Associação da Rota Colonial Baumschneis, promovendo assim a valorização das atividades agrícolas, turísticas e de lazer oferecidas pelos moradores do Travessão Rübenich. O evento ainda agrega a Exposição Agropecuária, em parceria com o CONDAPE (Conselho Doisirmonense de Desenvolvimento Agropecuário), Centro Comunitário Jacob Feiten e Prefeitura de Dois Irmãos. Os festejos natalinos são junto com o Kerb, uma das maiores atrações turísticas do município de Dois Irmãos. O evento denominado "Natal dos Anjos" teve sua primeira edição no ano de 1996, na primeira administração do Prefeito Renato Dexheimer (1993-1996). Esse evento, hoje, é organizado pela Prefeitura Municipal em parceria com a Associação Pró-Turismo de Dois Irmãos30. A produção de bolachas coloridas e enfeitadas, alusivas aos festejos natalinos, também é uma das manifestações legadas aos descendentes pelos imigrantes germânicos, qual seja "o costume alemão de fabricar cada família seus doces de Natal" (MÜLLER, 1978, p. 94). Müller (1978) descreve o processo de fabricação desses doces: Já três ou pelo menos duas semanas antes do Natal, a mãe começava os preparativos. Uma tarde inteira era consumida com os doces caseiros: "Mehltoss", doce de farinha; "Pefeniss", biscoitos; "Stergtoss", broas. Isso representadava para as crianças uma tarde extraordinária, pois além de ajudarem em algum momento mexendo a massa ou ativando o fogo do forno, havia a grande e especial oportunidade de lamber as tigelas. Ou comer algum doce recém-saído do forno e que tivesse defeito. [...] Mais alguns dias e uma nova tarde, ou uma noite, marcava a segunda etapa dos 30 Segundo informações da Prefeitura Municipal de Dois Irmãos, esta Associação é uma entidade voltada, exclusivamente, para o desenvolvimento do Natal dos Anjos, sendo composta por pessoas da cidade que trabalham principalmente na iniciativa privada. 99 doces: a pintura dos "Mehltoss", isto é, passar clara em neve e enfeitar com açúcar colorido. Uma festa! (p. 94). A fabricação dessas guloseimas ainda se mantém até os dias atuais, e é ofertada aos visitantes e turistas na feira colonial de Dois Irmãos, localizada na Praça do Imigrante, no centro da cidade, e em alguns atrativos da Rota Colonial Baumschneis. Durante a organização do evento, Natal dos Anjos, a comunidade é envolvida no que toca a decoração dos jardins, casas e prédios comerciais, bem como as ruas também recebem ornamentação. Os locais utilizados como pontos de destaque dessa festa, são o Palco Móvel, a Praça do Imigrante, a Avenida São Miguel e a Casa do Papai Noel. Ocorrem diversas atrações culturais no decorrer das festividades, como apresentações de corais, orquestras, peças teatrais apresentadas por alunos da Rede Municipal, tornando-se "uma festa de fraternidade, onde a religiosidade, a cultura, a arte e os costumes recriam a cada ano um ambiente de paz e harmonia" (VIER, 1999, p. 423). De acordo com Müller (1978, p. 97) "a Páscoa também era marcada de modo muito especial na colônia". Cada criança fazia o seu ninho na semana que antecedia o domingo de Páscoa, enfeitando e colocando chá de macela no seu interior. Às vezes, elas faziam mais de um ninho, "já que os padrinhos e madrinhas diziam 'Bringst dai Nest bai uns', traga teu ninho lá em casa, para indicar que o coelho passaria também por lá" (MÜLLER, 1978, p. 97). No domingo, todas as famílias iam na igreja, participar do culto ou missa. Este ano, a Prefeitura Municipal implantou um novo evento na cidade, o Choco Circus - Um doce de Páscoa. Através desse evento, a Prefeitura uniu os festejos da Páscoa com as atividades religiosas tradicionais da comunidade, fortalecendo a cultura local e resgatando as tradições dos colonizadores germânicos, como a Österbaum, a árvore de Páscoa. Os eventos Kerb de São Miguel e Natal dos Anjos já são atrações conceituadas e prestigiadas pelo público local e pelos turistas que circulam o município nestes períodos, uma vez que a cada ano atraem um maior número de visitantes. 100 4.4.3 Música A música sempre teve presença marcante nas colônias de imigração germânica. Os instrumentos musicais e as canções vieram junto com muitos imigrantes e em pouco tempo se fazia ouvir as cantorias nas picadas e nas colônias (MÜLLER, 1978, 1984). Conforme Müller (1978): O imigrante alemão trouxe para cá um dos costumes mais bonitos de sua terra: "Hausmusik", a música caseira, e o "Lied", o canto. [...] Canto, música, leitura. Tudo isto veio transplantado para cá. Ainda hoje as picadas e as vilas têm seus grupos corais muitas vezes acompanhados por instrumentistas (p. 125). O surgimento das bandas e bandinhas, demonstrada na Figura 4, foi mera consequência, sendo sempre presentes nas "Kaechefest", festas de igreja, quermesses ou capelas no interior, como relata Müller (1978): [...] elas foram, de fato, um elemento fundamental na vida social da colônia. [...] Era uma época em que a única música era a das bandinhas. [...] Inicialmente as bandinhas tinham apenas instrumentos de sopro. Depois juntaram-se os violinos e os rabecões. Mais tarde os tambores, em forma de "bateria" (p. 123-124). Figura 4 - Bandinha alemã em Dois Irmãos Fonte: acervo pessoal do Sr. Juarez Stein Atualmente, no município de Dois Irmãos, durante as festas locais e, muitas vezes aos domingos, na Praça do Imigrante, sempre existe a presença das 101 bandinhas, as quais são muito prestigiadas pelo público visitante, durante a execução de músicas típicas do folclore alemão. 4.4.4 Gastronomia No início da colonização, as dificuldades encontradas pelos imigrantes eram diversas, entre elas, cita-se a dificuldade em encontrar alimentos que eram iguais ou se pareciam com os habituais consumidos em território germânico, conforme destaca Fleck (2001, p. 156), "era preciso aprender a cultivar as culturas estranhas aos colonos como: feijão, arroz, milho, mandioca, cana-de-açúcar, etc". Moraes (1981) corrobora com esta afirmação de Fleck: O regime alimentar a que foram submetidos os imigrantes ao se instalaram nas proximidades do Rio dos Sinos diversificava em muito daquele a que estavam acostumados em seu país de origem. A substituição foi uma questão de sobrevivência biológica (p. 86). Moraes ainda complementa que, pelas dificuldades de encontrar alimentos com os quais estavam acostumados a cozinhar ou produzir suas refeições, os imigrantes foram obrigados a substituir os ingredientes e aprender a consumir novos alimentos: Quem estava acostumado, na Alemanha, a alimentar-se de carne e usar gordura regularmente, não poderia conformar-se tão facilmente com a ausência, em sua alimentação, dessas substâncias tão nutritivas, assim como o pão de trigo e de centeio, - que teve de substituir, aqui, pelo de farinha de mandioca -, batatinhas, massas e outros alimentos (MORAES, 1981, p. 87). Segundo o mesmo autor (1981, p. 84), "o aipim, segundo correspondência daquele tempo e de autoria também de um colono, constitui um dos principais alimentos, pois os colonos consideravam suas raízes mais saborosas do que as batatas-inglesas". O consumo do aipim pelos imigrantes iniciou em solo brasileiro e, até hoje, se consome muito aipim pelos descendentes. E a farinha de mandioca, a qual inicialmente fora utilizada na fabricação de pães, também foi moída e consumida como paçoca ou papas. Moraes menciona uma carta escrita por um dos colonizadores, em 1832, na qual ele relata a importância da mandioca na alimentação dos primeiro imigrantes: 102 Da raíz da mandioca se fabrica uma farinha fina, que se conserva durante muito tempo. É usada por quase todas as famílias como sucedaneo do pão. [...] É boa farinha produzida, pelos nossos moínhos dos quais já existem vários, bem como atafonas e serrarias (MORAES, 1981, p. 83). Os colonos germânicos produziam banha de porco, muito utilizada na preparação de diversos pratos. A linguiça de porco era consumida em abundância, uma vez que os imigrantes comiam Wurst (linguiça) em sua terra natal, sendo esse um dos costumes trazidos para o Brasil, conforme afirma Moraes (1981), [...] a criação de suínos veio a constituir uma das principais riquezas da colônia, [...] a carne de porco e a fabricação de banha e linguiça ensejaram novas oportunidades para o comércio com a capital da província assim como reequilibraram o regime alimentar a que estavam habituados, antes de virem para o Brasil (p. 88 - grifo nosso). As famílias de descendentes germânicos ainda cultivam outros hábitos dos seus antepassados, como o consumo da Schmier, "mistura de batata-doce e frutas cozidas em calda" (ROCHE, 1969, p. 638) e do Sauerkraut, chucrute ou "também conhecida por 'chukrut' (repolho cozido e fermentado)" (MORAES, 1981, p. 92), que era antigamente "preparado em cada família e guardado em potes de barro, para o inverno (MÜLLER, 1984, p. 55). Podem-se acrescentar ainda vários outros pratos da culinária alemã, aqui introduzidos, conforme relaciona Roche (1969) "Riwwelesupp", sopa de "massa ralada"; [...] "Eierschmier", Schmier de ovos; "Kless", bolos de farinha cozida; [...] "Grumbeeresupp31", "Schneeballen", 32 "Apfelkuchen " e tantos outros nomes conhecidos entre nós. Em outras palavras: ainda hoje comemos aqui o que na Alemanha também se come há dezenas de anos! (p. 53). Müller (1984, p. 52) complementa ao colocar que "quando se fala em comida, não se deve esquecer o pão e a Schmier (chimia). E para passar por cima da schmier nada melhor do que a 'Keeschmia', requeijão ou Quark", hábito este muito comum nas casas dos descendentes. Outro costume típico é o consumo de frutas em conserva, a qual é produzida a partir da fervura das frutas com açúcar e colocação em potes esterilizados, podendo ser consumida logo ou algum tempo depois. 31 Sopa de batata inglesa (ROCHE, 1969, p. 64). 32 Cuca de maçã (ROCHE, 1969, p. 63). 103 Na listagem dos pratos servidos durante a ocorrência dos festejos do Kerb, no início dos festejos, onde eram servidos os pratos mais tradicionais da colônia, é possível verificar que, ainda hoje, muitos deles compõem a mesa: [...] massa e "kless", fervido n'água, levemente salgados e sem tempero, "chucru"', rabanete e couve em conserva, carne de boi e de porco assadas no forno, linguiça fervida, arroz e, como sobremesa, geralmente, o doce de chuchu e de ameixas comuns, além da indispensável cuca, tão apreciada (MORAES, 1981, p. 97). Esses alimentos, comidas, receitas, foram trazidos da Alemanha e/ou introduzidos pelos imigrantes e, incorporados e somados à culinária local, os quais podem ser encontrados em diversos restaurantes de Dois Irmãos e, consequentemente, na Rota Colonial Baumschneis. De acordo com Fröhlich (2004, p. 24) "[...] no início eram servidos pão de milho, manteiga, mel, nata, schmier, kässchmier, cuca, rosca, linguiça crua e cozida, queijo de porco, morcela branca e morcela preta, café e leite". Com o passar do tempo, parcela desta culinária deu origem ao que hoje se denomina "Café Colonial", onde são servidos diversos alimentos que eram consumidos pelos imigrantes e descendentes, acrescidos de vários outros pratos, entretanto, descaracterizando a refeição que era oferecida aos viajantes. Conforme pesquisas desta autora, existem relatos que essa refeição teve origem em Dois Irmãos, onde o café colonial era servido aos caixeiros-viajantes que passavam e/ou se hospedavam na localidade, entretanto não existem registros oficiais. Mesmo assim, a cidade se autointitula o "Berço do Café Colonial". Contudo, Dois Irmãos não se utiliza da maneira como poderia desse codinome, uma vez que dentre os restaurantes da cidade são poucos os que possuem essa opção no cardápio, e menos ainda, aqueles que se dedicam somente a esta refeição típica. Para incentivar o resgate desta culinária e divulgar mais este atrativo gastronômico local, a Prefeitura Municipal, em 2010, "institui o mês de julho de cada ano como o mês de do Café Colonial no município de Dois Irmãos". Em relação às bebidas, era muito comum a fabricação da Spritzbier. Müller (1984, p. 20) na sua tentativa de elucidar o que seria essa bebida coloca que o Spritzbier era uma "bebida típica entre os teutos". Porém o autor comenta que ninguém sabe explicar o significado desse nome. A palavra Bier é traduzida como cerveja e Spritz é esguichar, logo o autor conclui que, "Spritzbier é cerveja que 104 esguicha. O nome deriva do fato da fermentação da bebida fazer estourar as rolhas das garrafas, quando não a própria garrafa" (MÜLLER, 1984, p. 20). Um dos exemplos mais claros e contundentes, de que o imigrante germânico assimilou também parte da cultura local, foi a introdução do chimarrão em seus hábitos diários, conforme descreve Moraes (1981): Dificilmente, pelo que se tem observado em toda a extensa e povoada área colonizada pelos alemães, a cuia e a bomba deixam de fazer parte dos utensílios mais indispensáveis de sua vida cotidiana e de acompanhá-lo aos locais de amanho da terra. E em casa, pela manhã e ao entardecer principalmente, o chimarrão reúne a família, para descanso da faina diária e para o debate de seus problemas e projetos (p. 136). Verifica-se assim que os emigrantes assimilaram parcela da cultura gaúcha, mas mantiveram-se igualmente fiéis a muitos hábitos e costumes da culinária germânica. Neste sentido, observa-se a forte presença de diversos costumes e tradições deixadas pelos colonizadores germânicos. Estas manifestações podem ser visualizadas na Rota Colonial Baumschneis, demonstrando que nada foi criado ou inventado para o turista, não sendo construída uma etnicidade específica para exibição na arena turística (GRÜNWALD, 2003). Foram utilizados espaços e pessoas que fazem parte da cultura local, que possuem envolvimento com esta cultura germânica e estas manifestações estão presente no dia a dia da maioria dos proprietários rurais da Rota. 105 5 A ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS No final da década de 1980, o município de Dois Irmãos tinha muitas empresas do ramo industrial, as quais estavam impulsionando a economia local, porém não se observava uma articulação entre os empresários desse setor, para criar uma política social, visando diminuir o desemprego (MOLETTA, 2002). Esse fato fez com que o poder público se preocupasse com a possibilidade do fechamento de algumas fábricas calçadistas repentinamente, podendo ocorrer assim a demissão de diversas pessoas ao mesmo tempo, fato que acontecia, quando uma indústria calçadista fechava na região. Como forma de contrabalançar esses problemas, juntamente com a inserção do município de Dois Irmãos ao roteiro Rota Romântica (SCHNEIDER; FIALHO, 2000), o Prefeito Juarez Stein (1997-2004) resolveu incluir o turismo como uma atividade agregadora de renda no município, a qual seria "uma forma de se integrar na economia da região serrana gaúcha" (SCHNEIDER; FIALHO, 2000). Conforme Moletta (2002), Em 1998, o Prefeito de Dois Irmãos, Sr. Juarez Stein, oriundo do ramo coureiro-calçadista, decidiu criar uma estratégia de desenvolvimento econômico diferenciado do ramo calçadista. Assim, surgiu a possibilidade de trabalhar com o turismo. [...] Diante de tal situação o Prefeito de Dois Irmãos procurou o SEBRAE - Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Sul - para desenvolver um programa de turismo voltado ao meio rural, uma vez que o município possuía alternativas de desenvolvimento turístico (p. 24). Verifica-se, a partir do exposto, que a população residente na zona rural foi motivo de preocupação do poder público municipal, visto que, desde 1970 até 1990, houve um aumento nas migrações em direção às áreas urbanas, em busca de emprego e, na década de 1990, o setor coureiro-calçadista enfrentou um período de instabilidade, ocasionando o desemprego de muitos trabalhadores, acarretando o movimento de retorno à zona rural por alguns ex-moradores (SCHNEIDER; FIALHO, 2000; MOLETTA, 2002). A crise no setor coureiro-calçadista é assim descrita por Schneider e Fialho (2000): A valorização do real em relação ao dólar, no plano Real (1994), deflagrou uma crise no setor calçadista devido ao aumento do preço do calçado brasileiro em relação aos concorrentes, reduzindo drasticamente o volume exportado dos calçados produzidos no Vale dos Sinos - RS (p. 39). 106 Para conter o êxodo rural e facilitar a readaptação do trabalhador no meio rural, surgindo como "uma alternativa para incorporar a mão de obra dispensada pela crise no setor calçadista" (WEBER, 2006, p. 227), o município decidiu investir no Turismo no Espaço Rural, tentando assim "[...] patrocinar uma alternativa aos agricultores familiares da cidade, especialmente aos mais jovens, que praticamente haviam abandonado a agricultura e estavam trabalhando nas indústrias de calçados" (SCHNEIDER; FIALHO, 2000, p. 40). Candiotto (2011) salienta que, a partir do desenvolvimento do turismo, muitas áreas rurais passaram a ter melhores condições de vida, sendo atendidas por uma melhor e maior infraestrutura, no que diz respeito às vias de acesso, à energia elétrica, à comunicação, bem como pela criação de novos postos de trabalho, provenientes da implantação de hotéis, restaurantes, centros de informações turísticas, uma vez que "os novos empreendimentos de turismo no espaço rural vêm contribuindo para a transformação e densificação técnica do espaço rural e, consequentemente, para a complexificação de objetos, atores e ações no rural" (CANDIOTTO, 2011, p. 560), facilitando assim a readaptação do antigo morador na área rural, o qual já dispunha e usufruía de todas estas facilidades e comodidades, durante sua vivência na zona urbana. O autor ainda complementa: O incentivo público ao turismo rural e as novas possibilidade de acumulação desta atividade através da transformação dos produtos, paisagens, manifestações culturais, modo de vida rural e elementos naturais em mercadorias, levou à implantação dos mais variados empreendimentos públicos e privados de turismo no espaço rural, assim como de roteiros, circuitos e até resorts de turismo rural (CANDIOTTO, 2011, p. 560). Schneider, Fialho (2000), Weber (2006), juntamente com os relato das entrevistas, evidenciam que no projeto da Rota Colonial Baumschneis, além da participação da Prefeitura Municipal de Dois Irmãos, do Sebrae e dos proprietários envolvidos, também existiu a assistência e envolvimento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e da Associação Rio-Grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) local. Schneider e Fialho (2000, p. 41), ao fazerem alusão ao projeto, citam que "originalmente, iniciou-se no escopo do Programa Turismo com Qualidade, desenvolvido pelo Sebrae/RS, e financiado pela Prefeitura e pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais", de acordo com os autores: 107 Durante o desenvolvimento desse programa, os moradores do Travessão "Rübenich" vislumbraram a possibilidade de instalar nessa localidade, que no passado foi o principal caminho de chegada dos imigrantes alemães, vários tipos de atrações turísticas como pousadas, pesque-pague, passeios a cavalo, passeios de carroça, artesanato colonial, cervejaria caseira, entre outros (SCHNEIDER; FIALHO, 2000, p. 41). Moletta (2002) também se manifesta sobre o início do Projeto da Rota Colonial Baumschneis e enfatiza que o mesmo foi resultado do Programa realizado pelo Sebrae/RS, o qual ocorreu durante o mês de julho de 1998. Na ocasião, diversos proprietários rurais realizaram os cursos ofertados pelo Sebrae/RS. Foi então que os moradores da zona rural vislumbraram, juntamente com o Prefeito Juarez, a criação de um roteiro que abrangesse o Travessão Rübenich33, o qual se localiza na zona rural de Dois Irmãos. A região escolhida para a implantação da Rota atendia vários aspectos, entre eles, se referenciava ao histórico do início da colonização germânica (1824) em Dois Irmãos, uma vez que os primeiros lotes de terra (entre vinte e quatro e sessenta hectares), a serem ocupados, foram os que atualmente correspondem a esta área, em cada lote foi se desenvolvendo a agricultura e, em menor grau, a pecuária. Na época, o contato entre a Picada Baumschneiss e as outras colônias dava-se através da estrada que atravessa o Travessão Rübenich (ARANDT, 1999; VIER, 1999). Ao longo do percurso dessa estrada, que ligava a Picada Baumschneiss às outras colônias foram surgindo pequenos empreendimentos comerciais, como serrarias, moinhos, alambiques, armazém, bem como uma escola, típicos de uma Picada, o que denota a importância dessa área para a história de Dois Irmãos e como patrimônio histórico-cultural da região (ARANDT, 1999; VIER, 1999). Vier (1999) ainda enfatiza: [...] é uma encantadora ruela, que outrora era usada apenas por pedestres, carroças e cavalos; atualmente, convive com veículos de todos os portes. O trajeto é pródigo em belezas naturais e construções que remontam da época da colonização; hoje, são submetidas à convivência pacífica com antenas parabólicas e outras modernidades. Independente do tempo, a estrada é bem conservada, e a velocidade do automóvel é naturalmente reduzida, pois só assim é possível contemplar as belezas de cada curva. E são muitas. Tantas, que o visitante, ou o mero curioso por novos caminhos, se rende às belezas e fatalmente inclui esta "estrada" em seu mapa rodoviário particular (p. 109). 33 O nome do bairro rural, Travessão Rübenich, deve-se a família Rübenich, a qual possuía terras nesta localidade e era dona de um popular armazém (ARANDT, 1999; VIER, 1999). 108 A partir do relato das entrevistas e de Schneider e Fialho (2000), compreende-se que a criação da Rota Colonial Baumschneis teve como objetivo principal buscar alternativas socioeconômicas para a área rural do município, diversificando suas atividades, ressaltando as características naturais, culturais e sociais do local, com a possibilidade de um retorno financeiro aliado à permanência da população rural em seu local de origem, bem como valorizar a parte histórica e cultural do município. Nas palavras de Schneider e Fialho (2000), [...] o turismo rural surge no município como uma possibilidade de criar novos postos de empregos para absorver a permanência da população jovem na área rural, além da necessidade de aproveitar as características ambientais, culturais e sociais. Assim, a opção seguida pelas lideranças políticas locais foi a de desenvolver um projeto de "turismo sustentável no meio rural" (p. 40). A implantação da Rota visava à criação de 65 empregos diretos e 126 empregos indiretos, a partir da implantação de aproximadamente 20 novos estabelecimentos comerciais (SCHNEIDER; FIALHO, 2000; MOLETTA, 2002). Moletta (2002) destaca, em sua pesquisa, que a Rota tinha como intuito [...] também, estimular o empreendedorismo no meio rural, capaz de promover novos tipos de parcerias entre os diversos moradores da referida rota, bem como a sensibilização da comunidade da Rota Colonial (Travessão Rübenich) para a importância do turismo, não só como uma atividade econômica, mas, ainda, como uma forma de preservação do patrimônio natural e cultural da região (p. 25). Com o intuito de incentivar o empreendedorismo local, o então Prefeito de Dois Irmãos, Sr. Juarez Stein, no ano de 1999, instituiu o Programa de Incentivo ao Turismo (PRIT), o qual tem como objetivo "proporcionar amparo financeiro aos programas municipais de desenvolvimento do turismo e atividades correlatas" (DOIS IRMÃOS, 1999a, p. 01). Trata-se de um programa que visa o financiamento de projetos para o desenvolvimento do turismo local, "com vistas ao incremento da potencialidade turística do Município e melhoria das condições de vida dos munícipes" (DOIS IRMÃOS, 1999a, p. 03). É importante observar que a prefeitura estava interessada em investir no turismo, em desenvolver uma cultura empreendedora no município, principalmente de apoio ao segmento turístico. Até hoje foram seis empresas que solicitaram financiamentos do PRIT, estando uma 109 delas relacionada com a Rota Colonial Baumschneis atualmente, o Sítio Ecológico Falkoski. Convém, ainda salientar, que a liderança política local, além de criar o PRIT, promulgou a Lei Municipal Nº 1.686 de 1999, a qual cria a Rota Colonial, autorizando o Poder Executivo Municipal a repassar valor para a fundação da Rota Colonial: Art. 1º - Fica criada a Rota Colonial de Dois Irmãos, e autoriza o Poder Executivo a participar das despesas de sua implantação, com o objetivo de fomentar o turismo, propiciando o desenvolvimento do Município através da diversificação das atividades com a oferta de novos empregos e preservação dos costumes e tradições de nosso povo (DOIS IRMÃOS, 1999b, p. 01). Evidencia-se, portanto, o empenho e a participação do poder público na implantação da Rota Colonial Baumschneis, através da criação de alternativas para fomentar o turismo no município, vislumbrando a possibilidade da atividade turística se tornar um impulso ao desenvolvimento local, como mais uma alternativa de geração de emprego e renda que, até então, estava vinculada praticamente à indústria calçadista. A criação dessas políticas públicas ampararam, motivaram e incentivaram aqueles que gostariam de se inserir no processo do desenvolvimento de atividades turísticas no município. Molleta (2002) e alguns entrevistados se referem ao ano de 1998 como o ano de início do projeto da Rota. E, para uma melhor avaliação e administração do projeto, Schneider e Fialho (2000) destacam que: [...] foi estipulado um período de adaptação dos agricultores e agentes à nova realidade do turismo rural para, posteriormente, promover a inauguração formal e definitiva. Essa primeira fase compreende o período entre setembro de 1999 a março de 2000 e seu funcionamento ocorreu de forma provisória, tendo em vista o caráter experimental. A segunda fase, e definitiva, iniciou em março de 2000, já com todos os atrativos à disposição dos turistas (p. 42). Portanto, de acordo com Moletta (2002), como também enfatizado pelos participantes da Rota por ocasião das entrevistas, no decorrer do ano de 1998, ocorreram algumas etapas do projeto: análise de viabilidade e interesse de alguns empreendimentos, diagnóstico do potencial turístico das propriedades e estudo do 110 perfil empreendedor dos proprietários. O Sujeito34 1 realça que "em 1998 a gente já começou a trabalhar no projeto da Rota Colonial, só que em 2000 a gente conseguiu inaugurar ela". A autora destaca que a escolha dos empreendimentos que possuíam potencial turístico se deu a partir de critérios pré-estabelecidos, como: [...] autenticidade cultural dos colonos (homens do campo do referido município); prédios antigos com valores históricos com ênfase na cultura alemã; locais próximos a belezas naturais com mata nativa preservada; paisagens cênicas como lugares altos, beira de rios, cascatas e outros (MOLETTA, 2002, p. 35). Existem dificuldades para delimitar o que é autêntico. Verbole (2002), Talavera (2002) e Candiotto (2011) discorrem sobre esse assunto, relatando que a autenticidade pode estar ligada ao que seria genuíno de um ambiente, ou seja, uma experiência que só poderia ser sentida, vivenciada naquele local específico, normalmente diferente do que o turista está acostumado a vivenciar no seu dia a dia. Para Verbole (2002): O desconhecido e o diferente permitem experimentar algo diferente do ambiente caseiro, seja em contato com a natureza, com o passado ou com o exterior. A autenticidade é contrastada com a experiência associada a visita a atrações comercializadas, eventos programados, locais reconstruídos, parques temáticos, resorts, manifestações culturais (p. 123). Candiotto (2011, p. 563) ainda acrescenta que a autenticidade condiz para o turista na representação de "uma experiência que compensa as rotinas do cotidiano, de modo que este paga por ela como qualquer outro bem ou serviço vinculado a sua viagem". Os autores consideram que esta autenticidade no caso do Turismo no Espaço Rural estaria vinculada ao imaginário rural, sendo esta imagem "uma construção complexa com diferentes significados e interpretações atribuídas a ela por diferentes atores sociais e está permanentemente sendo desconstruída e reconstruída" (VERBOLE, 2002, p. 131). A procura dos turistas pelo ambiente rural ocorre por diferentes aspectos, como: motivacional, expectativas, significados e/ou percepções. 34 Com a intenção de preservar a identidade daqueles que foram entrevistados, optou-se por utilizar o termo "Sujeito" acrescido de um numeral, conforme a relação estabelecida nesta pesquisa, cada vez que se irá citar a fala de algum deles. O termo "Proprietário" refere-se aos proprietários quando estes tratam de suas propriedades. 111 O imaginário rural é constantemente utilizado para a comercialização de muitos espaços, como forma de promover o produto para o turista, colocando atrativos ou produtos que verdadeiramente não são típicos daquele espaço ou cultura. No caso da Rota Colonial Baumschneis, a partir do relato das entrevistas, verificou-se que este fato não ocorreu quando ele foi planejado, uma vez que todos os atrativos foram implantados nas casas das próprias famílias ou adaptados em espaços realmente históricos, já existentes, como se refere um dos Sujeitos: Que eu me lembro, desde que o Sebrae veio para cá, cada propriedade foi levantado o que nós trabalhava dentro de uma propriedade, e daí perguntaram para mim - "tá o que tu faz na tua propriedade" - isto, isto e aquilo, que era o mais forte que a gente vendia para fora, então aí eles colocaram onde eu ia me encaixar, o que eu podia fazer, então eu vou ficar na parte da vende a minha produção, e vou vender produto colonial, daí eu optei pelos produtos coloniais, [...] nada foi obrigado, tu vai ter que mudar isto, mudar aquilo (SUJEITO 1). Da mesma forma, Schneider e Fialho (2000, p. 43) referem-se a esse mesmo fato ao comentarem que os estabelecimentos da Rota Colonial "eram essencialmente propriedades familiares do meio rural de Dois Irmãos que vendiam ou comercializavam apenas pequenas quantidades de produtos agrícolas". Após o estudo do potencial dos empreendimentos, teve início uma nova etapa do projeto, qual seja, a realização de entrevistas diretamente com cada proprietário dos estabelecimentos que seriam ofertados no roteiro. Essas conversas tiveram o objetivo de descobrir e verificar quais as potencialidades que cada local possuía, e quais as atividades que poderiam ser ofertadas ao público visitante. Ao mesmo tempo se preocuparam em saber qual a capacidade financeira de cada proprietário para investir na propriedade, em curto, médio e longo prazo (MOLETTA, 2002). Schneider e Fialho (2000) também se referem a essas etapas, citadas por Moletta (2002), no entanto, detalham outras atividades realizadas durante estes dois anos de planejamento e criação da Rota Colonial: 1. levantamento das condições sanitárias dos estabelecimentos comerciais; 2. formação e treinamento dos moradores para receber os turistas; 3. elaboração de um plano de marketing e de comercialização da Rota Colonial Baumschneiss; 4. avaliação das etapas anteriores procurando identificar possíveis complicadores para o desenvolvimento sustentável do projeto (SCHNEIDER; FIALHO, 2000, p. 42). 112 O aspecto que envolve a formação e o treinamento dos proprietários, item este que é de suma importância para o futuro do empreendimento, uma vez que a partir desses os proprietários receberam subsídios e informações de como melhor receber os turistas e gerir o seu negócio, é assim relatado por Weber (2006): As pessoas envolvidas no projeto, os proprietárias das casas da “Rota Colonial”, os familiares e funcionários tiveram que participar de um curso denominado “Condutor da Rota Colonial”, com 51 horas/aula, abrangendo desde os primeiros socorros até noções de etiqueta. Essas aulas também envolveram o que se pode identificar como sensibilização em torno da importância que o lugar tem como patrimônio local (p. 221). Durante as entrevistas, diversos proprietários confirmaram que houve diversos cursos: de gestão, atendimento ao cliente, empreendedorismo, conservação e higiene dos alimentos, entre outros, os quais foram oferecidos pelo Sebrae. O Sujeito 1 refere-se a eles citando que foram diversos cursos: [...] foram 800 horas de cursos para todos os empreendedores da época [...] tinha curso que não precisava ter, não parou [...] etiqueta [...] pra tu come, pega talher [...] primeiros socorros foi feito também [...] durante estes dois anos (1998 à 2000) [...] foram mensais, um mês atrás do outro (SUJEITO 1). Observa-se que pelas manifestações relatas pelo Sujeito 1 ocorreu uma quantidade excessiva de cursos, o que, segundo seu ponto de vista, gerou um desgaste junto a todos os participantes. Porém, também foi comentado pelos proprietários que foi muito bom terem participado dos cursos, uma vez que neles aprenderam muitas informações importantes para seus negócios. Também foi relatado pelos proprietários que, durante estes dois anos aconteceram diversas visitas a outros locais em que já haviam rotas turísticas rurais em funcionamento. Conforme os Sujeitos 1 e 7, um dos locais visitados foi o município de São Martinho, em Santa Catarina e, o Sujeito 4 lembra de terem visitado Santo Antônio da Patrulha, no Rio Grande do Sul, os Sujeitos 1, 4 e 6 mencionaram o roteiro turístico "Caminhos de Pedra", em Bento Gonçalves, também no Rio Grande do Sul. No que tange a participação em seminários e eventos, o Sujeito 1 mencionou que estiveram no Festival de Turismo, no município de Gramado, relatando que essa foi uma experiência memorável. Esta fase, na qual foram realizados os treinamentos, é destacada por Nonato, Bitarello e Staudt (2009): 113 Considerando que, se treinamento e capacitação elevam o desempenho profissional dos funcionários e geram a competência na organização, então, a busca do entendimento e a identificação de necessidades de treinamento levam, consequentemente, à realização de treinamentos que visem a contribuir na busca dos resultados desejados pela organização. Por isso, passa a ser relevante avaliar e pesquisar a correlação entre treinamento e desempenho funcional (p. 89). Os autores mencionam que a capacitação profissional possibilita, aos trabalhadores, atuar com melhores resultados e a gerenciar melhor o seu negócio, contribuindo para uma busca do compromisso, criatividade e competência cada vez maior por parte deles. E os autores complementam [...] a capacitação deixa de ser investimento aplicado apenas no know-how - capacitar para fazer, e passa a ser investimento também no know why - capacitar para pensar, fazer autocrítica e agir. Com esta última abordagem, o treinamento amplia a atuação, a participação consciente no processo (NONATO; BITARELLO; STAUDT, 2009, p. 89). Novaes (2012) também se manifesta sobre a importância de envolver a comunidade e principalmente aqueles que estarão envolvidos diretamente com a atividade turística, como uma forma de instigar a vontade de desenvolver o turismo para que o mesmo traga benefícios positivos. Para o autor É preciso que o poder público local envolva a comunidade, criando programas de capacitação e, principalmente, educando, conscientizando e motivando-a a investir neste segmento, o que em concomitância com outras atividades desenvolvidas possa agregar ainda mais renda às famílias, o que não deixa de ser um forte estímulo para a busca da conservação e preservação destas áreas (p. 248). Sendo assim, a participação da comunidade local nas decisões relacionadas ao desenvolvimento do turismo na sua cidade fica explícita, uma vez que [...] a comunidade tem importância norteadora da forma como o visitante irá apropriar-se do espaço local. A mesma é capaz de apontar o que, para ela, é importante, em termos de lugares, pessoas, memórias e histórias, entre outros, e que, portanto, aparecerá como potencialidade turística (GASTAL; MOESCH, 2007, p. 48). Dessa forma, observa-se que este envolvimento da comunidade, principalmente dos proprietários e suas famílias ocorreu na formatação da Rota Colonial. O poder público fez questão de que eles participassem de todo o processo 114 e, conforme os relatos, este envolvimento aconteceu, e eles puderam apresentar suas opiniões e ideias sobre o projeto em reuniões e encontros. No decorrer do ano de 1999, diversas atividades voltadas para a formatação da Rota Colonial Baumschneis foram desenvolvidas, como a estruturação do mapa do roteiro. Ao mesmo tempo foi decidido qual seria a sinalização adequada para a Rota, a qual demonstrasse as características culturais e naturais do espaço rural onde ela se localizava. A Figura 5 demonstra como eram as primeiras placas de identificação dos atrativos. Figura 5 - Placa de identificação dos atrativos Fonte: Própria autora (2003) Observa-se, na Figura 5, que as placas faziam alusão e reforçavam a cultura germânica presente na Rota, uma vez que todas continham a informação e a identificação do atrativo na Língua Portuguesa e na Língua Alemã. Também faziam referência ao espaço rural, uma vez que consistia em uma estrutura feita de madeira rústica com um telhado, criando no imaginário dos turistas a ideia de ser uma casa. 115 A marca da Rota, representada na Figura 6, fica logo abaixo do telhado, e faz menção à zona rural de Dois Irmãos, caracterizando os atrativos do roteiro, representada por um caminho que tem em seu trajeto uma casa na técnica de construção enxaimel, árvores, verduras, alguns animais como vacas e galinhas e os dois morros que dão nome ao município de Dois Irmãos. Figura 6 - Marca da Rota Colonial Baumschneis Fonte: SÍTIO ECOLÓGICO FALKOSLI (2014) De acordo com Bahl e Nitsche (2012) um roteiro turístico precisa de uma marca, algo que o identifique perante os demais, pois [...] compreende a disposição de atrativos e equipamentos turísticos num determinado espaço, interligados por vias de acesso, com infraestrutura de apoio, contando com uma comunicação visual própria que evidencie a sua identidade (p. 41, grifo nosso). Foi realizada uma pesquisa em 1999, com o objetivo de analisar o fluxo de visitantes que ia a Dois Irmãos, avaliando qual o mercado turístico potencial e efetivo do município e qual o interesse dos turistas em visitar a Rota Colonial Baumschneis. Nessa pesquisa, constatou-se que a vontade do visitante estava relacionada à gastronomia e ao lazer presente no município, sendo a maioria do fluxo procedente do município de Novo Hamburgo e da Região Metropolitana de Porto Alegre e uma minoria dele oriunda das demais regiões do estado do Rio Grande do Sul 116 (SCHNEIDER; FIALHO, 2000; MOLETTA, 2002). Neste sentido, a Rota teria como abrangência da demanda, o público regional e estadual. Foi constituído, juntamente no processo de criação da Rota Colonial, um grupo associativo, o qual foi chamado de Associação da Rota Colonial de Dois Irmãos. Não se teve acesso aos registros oficiais de implantação dessa Associação, razão pela qual não se sabe qual a data em que ela foi fundada oficialmente, todavia, pelos relatos se compreendeu que foi entre os anos 1998 e 1999. Os únicos dados descritivos a que se teve acesso foram aqueles citados na pesquisa de Moletta (2002). Compete a esta Associação: a) desenvolver o turismo rural no município; b) dar condições de fixação do jovem na propriedade rural produtiva; c) oferecer ao turista produtos coloniais de excelente qualidade tais como: hortifrutigranjeiros, panificação, derivados do leite e embutidos, geléias, schmiers, artesanato e atividades culturais; d) proporcionar ao turista, locais agradáveis para recreação e lazer, tais como: passeios de carroça, a cavalo e pesque-pague; e) mostrar costumes, tradições e arquitetura característicos da colonização alemã; f) oferecer cafés coloniais, gastronomia, pousadas e hotelaria, com a proposta dentro do contexto rural em harmonia com o meio ambiente; g) geração de empregos, divisas para o município, melhoria da qualidade de vida do produtor e diversificação da economia do município de Dois Irmãos; h) promover estudos, projetos e pesquisas que visem a qualificar as pessoas do lugar para melhor explorar seus recursos naturais/culturais; i) promover o município no estado, no país e, até mesmo, no exterior, relativamente às atividades, bens, serviços e produtos que a Associação venha a gerar, visando a atrair turistas ao local, de forma a proporcionar uma melhor qualidade de vida aos associados (MOLETTA, 2002, p. 36-37). Os sócios constituintes da Associação são pessoas físicas e jurídicas, identificados em três categorias: fundadores, referente àqueles que fundaram a Rota Colonial Baumschneis; efetivos, considerados os contribuintes em geral; e, os honorários, empresas ou pessoas que tenham relação com a Rota, tendo prestado serviços ou serem considerados pelos membros fundadores como pessoas que mereçam tal título (MOLETTA, 2002). A criação de uma associação se torna importante para o desenvolvimento da atividade turística local '"enquanto estratégia de gestão da atividade" (TEIXEIRA; SOUZA; WANDSCHEER, 2012, p. 71), uma vez que o "associativismo apresenta-se como um instrumento estratégico, capaz de propiciar de forma organizada ações da sociedade civil, de forma a colaborar para a melhoria das condições de vida das pessoas envolvidas, bem como de suas comunidades" (TEXEIRA, 2011, p. 60). 117 Neste sentido, as associações se constituem de grupos sociais, ou seja, indivíduos da sociedade que possuam interesses em comum. No caso da Associação da Rota Colonial, esse interesse está ligado ao desenvolvimento do turismo no espaço rural no município de Dois Irmãos. O associativismo prevê a manutenção da democracia, afastando o individualismo presente na sociedade, fortalecendo a união dos diferentes atores envolvidos em prol de um bem comum. Conforme relata o Sujeito 1, a Associação da Rota Colonial "surgiu antes da inauguração da rota", ou seja, antes de 2000, e os motivos que os levaram a criar a Associação são expostos por ele: [...] a gente fez a Associação, até pra pedir verbas e coisa, né, [...] pra tu ter o grupo mais unido, e pra pedir algum auxílio, ou coisa né, daí a gente tem a Associação. [...] isso ajuda o grupo, [...] daí tu precisa pedir alguma coisa ao Poder Público, tu tem como via Associação, porque daí tu tem CGC, tem tudo registrado (Sujeito 1). A Associação da Rota Colonial iniciou com trinta membros, entre fundadores, fornecedores de produtos e pessoas da comunidade ou empresas ligadas e/ou interessadas no desenvolvimento do roteiro, como, por exemplo, guias de turismo e agências de viagens locais. O Sujeito 4 também se manifesta sobre a criação da Associação, relatando que "tinha que ter uma, [...] é que nem uma fábrica sem gerente, precisa ter uma mãe ou um pai pra tudo". Inicialmente, estavam previstas reuniões mensais, todas as primeiras terças- feiras de cada mês, onde seriam analisadas as ações realizadas no mês anterior, e aquelas previstas para o mês corrente (MOLETTA, 2002). Como também a Associação tinha como objetivo promover bingos, festas, rifas, cursos e viagens aos associados, entre outras atividades, utilizando para este fim, o dinheiro arrecadado com o pagamento da mensalidade dos associados e do lucro obtido nas promoções com o público externo. O Sujeito 3 conta que algumas atividades foram realizadas e alguns materiais foram adquiridos por causa da existência da Associação: [...] a gente criou a Associação, [...] aí fazendo alguns eventos, [...] o Kerb da Bergamota todo ano, [...] aí aquele dinheirinho que entrava ia pro caixa da Associação e quando a gente queria conhecer alguma rota, a gente usava aquele dinheiro. [...] também adquirir algumas coisas, porque eles adquiriram algumas máquinas pro pessoal que faz pão, [...] foi comprado bastante material pro pessoal (Sujeito 3). 118 Uma parcela do dinheiro, utilizado na realização de viagens, o que comenta o Sujeito 3, foram conseguidos através da realização do Kerb da Bergamota. A aquisição dos materiais e máquinas para serem utilizados pelos proprietários em seus empreendimentos, foram adquiridos através de projetos em nome da Associação, conforme menciona o Sujeito 1: Veio maquinário agora pra Associação, que veio do governo federal, o Falkoski faz o suco de uva, um maquinário grande, [...] eu acho que deu em torno de uns 30, 40 mil. Daí veio mesa de inox, veio caixas plásticas, [...] para fazer massas e coisas, veio uma máquina, [...] e aí o pessoal tá usando isto (Sujeito 1). Entretanto, o Sujeito 20 e alguns proprietários relatam que o valor da mensalidade nos últimos tempos é inexpressivo, em torno de um real ao mês, o que impossibilita a realização de várias atividades previstas. Hoje, as reuniões não acontecem mais, a Associação, conforme relatos, se encontra estagnada, "oh, hoje em dia tá parado aquilo, eles nem tão cobrando mais a anualidade, [...] tá caído" (Sujeito 4). Integram a Associação algumas pessoas que participam da Rota Colonial apenas como fornecedoras de produtos aos proprietários dos atrativos, sendo assim, não são considerados pontos de visitação do roteiro e não se constituem em atrativos turísticos. A listagem desses fornecedores pode ser conferida na Tabela 6. Tabela 6 - Fornecedores de produtos da Rota Colonial Baumschneis Fornecedor Produto Rosinha Catharina Berlitz Biscoitos coloniais, bolachas caseiras Vera Backes de Vargas Roscas, merengues, Spritzbier Plínio Ignácio Bool Mel Fonte: própria autora (2013) Os fornecedores mencionados deixam seus produtos em alguns estabelecimentos da Rota para que esses sejam ofertados aos turistas, acrescentando, desta forma, valor aos atrativos que os comercializam. Moletta (2002, p. 27) caracteriza esses fornecedores como "famílias de agricultores que produzem para a subsistência familiar e que, com o advento do turismo, ampliaram sua produção diária". Essa forma de comércio ocorre em virtude de alguns atrativos não ofertarem tais produtos ou não estarem estruturados para os produzirem, como, 119 por exemplo, o mel produzido pelo Sr. Plínio Bool, que fornece alguns potes de mel a alguns empreendimentos para comercialização. O percurso da Rota Colonial Baumschneis tem uma extensão total de sete quilômetros. Scherer e Santos (2013, p. 297) colocam que, "até o ano de 2007, o caminho percorrido para a visitação dos atrativos era realizado em estrada não- pavimentada. Atualmente, o trajeto está todo asfaltado, facilitando assim o deslocamento dos visitantes". O passeio pelo roteiro pode ser feito utilizando-se do transporte particular ou do ônibus, com grupos fechados, previamente agendados. Entre os anos 2000 e 2003, havia um diferencial na realização dos passeios com grupos fechados: Quando o passeio era realizado a partir de uma agência de viagens, com agendamento prévio, contava com a recepção feita por guias de turismo locais e por uma banda de música alemã, sendo o itinerário da Rota Colonial percorrido com um ônibus especial, denominado Kolonistenwagen (SCHERER; SANTOS, 2013, p. 297). O Kolonistenwagen é um ônibus adaptado especialmente para a realização da Rota Colonial Baumschneis onde foram colocadas janelas estendidas até o assoalho, possibilitando aos turistas uma visão panorâmica, conforme é possível visualizar na Figura 7. Também conta com aparelhagem de som no seu interior para uso dos guias de turismo, a fim de prestarem e oferecerem informações inerentes ao passeio durante o trajeto. Figura 7 - Kolonistenwagen Fonte: Própria autora (2003) 120 Esse ônibus pertencia inicialmente à Prefeitura Municipal de Dois Irmãos, tendo sido posteriormente vendido. Foi readquirido pela Prefeitura, sendo então doado à Associação, conforme relata o Sujeito 20, "este ônibus foi vendido pra Salvador do Sul pra fazer um roteiro turístico lá. [...] em 2011, acenou-se a possibilidade da compra desse ônibus de volta. E, hoje, ele pertence à Associação da Rota Colonial". Esse ônibus foi adaptado pela empresa de transportes Wendling, exclusivamente para ser utilizado na Rota Colonial Baumschneis, através de uma "parceria com o Wendling" (Sujeito 20). Todos os passeios dos grupos eram realizados nele, pois além de estar identificado, através dos desenhos na lataria, também proporcionava aos passageiros uma ampla visão do passeio. Essas características o tornavam um atrativo, quando permanecia estacionado na Praça do Imigrante, local de encontro dos turistas para iniciar o percurso, aos domingos. A Rota Colonial Baumschneis foi oficialmente lançada, no dia 11 de abril de 2000, em um evento realizado no Centro Cultural 25 de Julho, no município de Porto Alegre, conforme Figura 8. Figura 8 - Convite do lançamento da Rota em Porto Alegre Fonte: acervo pessoal do Sr. Juarez Stein (2000) 121 Na ocasião, foram convidadas diversas autoridades, entre elas o Cônsul Alemão de Porto Alegre, Sr. Reinhard Thurner, para prestigiar o evento e divulgar este novo roteiro que estava sendo implantado em Dois Irmãos. Alguns dias depois, na data de 15 de abril de 2000, foi realizada na Praça do Imigrante de Dois Irmãos, a solenidade de abertura oficial da Rota Colonial Baumschneis para a comunidade doisirmonenses, conforme Figura 9. Figura 9 - Convite do lançamento da Rota em Dois Irmãos Fonte: acervo pessoal do Sr. Juarez Stein (2000) A Rota Colonial Baumschneis iniciou suas atividades com quinze atrativos. Ao longo de sua história, ocorreram algumas modificações no trajeto e na quantidade de atrativos ofertados, no entanto, alguns empreendimentos se desligaram do roteiro e ao mesmo tempo novos pontos de visitação foram adicionados à Rota, o que pode ser observado na Tabela 7. Os pontos de visitação que faziam parte no início da Rota Colonial eram: Casa Dienstmann, Museu Histórico, Centro de Dois Irmãos, Moinho Collet, Ponte de Pedra, Propriedade Rural Ignácio Stoffel, Armazém Scholles, Serraria e Carpintaria Becker, Casa da Colônia Klaus, Cemitério Evangélico, Casa Velha Colha e Pague, Casa Rübenich, Mundo dos Ovos, Atelier de Arte Leila Blauth e Propriedade Rural Cerro Bela Vista. 122 Tabela 7 - Histórico das atividades turísticas da Rota Atrativos e equipamentos Início das atividades Término das turísticos turísticas atividades turísticas Casa Velha - Colha e Pague 2000 Em atividade Atelier de Arte Leila Blauth 2000 2011 Mundo dos Ovos 2000 Em atividade Propriedade Rural Ignácio Stoffel 2000 Em atividade Serraria e Carpintaria Becker 2000 Em atividade Casa da Colônia Klaus 2000 2003 Armazém Secos e Molhados Scholles 2000 Em atividade Casa Dienstmann: história e cultura 2000 2003 Moinho Collet 2000 Sem informação Casa Rübenich 2000 Sem informação Propriedade Rural Cerro Bela Vista 2000 Sem informação Museu Histórico Municipal 2000 Em atividade Centro de Dois Irmãos 2000 2003 Ponte de Pedra 2000 Em atividade Cemitério Evangélico 2000 Em atividade Campo 7 Amigos 2002 Em atividade Convento Doce - Casa de Chá 2003 Em atividade Salão Jacob Feiten Entre 2002 e 2003 Em atividade Sítio Ecológico Falkoski Entre 2002 e 2003 2012 Kaffe Haus Sem informação Sem informação Kioske da Rota 2005 2010 Praça do Imigrante 2005 Em atividade Cervejaria Hunsrück 2011 Em atividade Fonte: própria autora (2013-2014) Entre os anos 2002 e 2003 houve as primeiras mudanças. O atrativo denominado Centro de Dois Irmãos foi retirado da Rota, ficando apenas como local de passagem ou visitação extra durante o passeio. A Casa da Colônia Klaus e a Casa Dienstmann solicitaram afastamento da Rota em 2003. No mesmo período houve a integração de novos participantes, sendo no ano 2002 o Campo 7 Amigos, e em 2003, o Convento Doce - Casa de Chá, o Sítio Ecológico Falkoski e o Salão Jacob Feiten. Dois anos depois, em 2005 foram integrados à Rota o Kioske da Rota e a Praça do Imigrante, esta, até então, era somente o local de ponto de partida do trajeto, dos ônibus de excursão e do Kolonistenwagen. O restaurante Kioske da Rota se desligou do roteiro em 2010. No ano de 2011 ocorreu a saída do Atelier de Arte 123 Leila Blauth e a inclusão da Cervejaria Hunsrück. E, por fim, em 2012 houve o desligamento do Sítio Ecológico Falkoski, como local de visitação, todavia permanecendo como fornecedor de produtos. A relação de empreendimentos que fizeram e fazem parte da Rota Colonial Baumschneis foi extraída dos folders de divulgação do roteiro (ANEXOS B, C, D), aos quais se teve acesso, sendo, portanto, desprezados outros materiais de divulgação. Nesse sentido, optou-se por considerar apenas aqueles que se encontram descritos em materiais oficiais de divulgação do roteiro. Os motivos que levaram os atrativos e empreendimentos a se desligarem da Rota Colonial Baumschneis, bem como a se inserirem, serão explicados junto à descrição de cada local, apresentada na sequência. 5.1 ATRATIVOS TURÍSTICOS DA ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS A oferta turística da Rota Colonial pode ser classificada em atrativos de ordem natural e cultural. Os atrativos, sejam eles naturais ou culturais, são a matéria-prima na criação de um produto turístico e são capazes de revelar o potencial existente em qualquer localidade para a exploração do turismo (BOULLÓN, 2002; DIAS, 2003). Beni (2007, p. 331), define os atrativos turísticos como “todo lugar, objeto ou acontecimento de interesse turístico que motiva o deslocamento de grupos humanos para conhecê-los”. Portanto, os atrativos são essenciais para o desenvolvimento do turismo, pois sem eles, não se pode pensar no turismo. Optou-se por apresentar os atrativos da Rota Colonial Baumschneis a partir das duas categorias: naturais e culturais. Contudo existem locais que apresentam e proporcionam atrações pautadas a essas duas categorias de atrativos, como as propriedades rurais, que, além de atrações relacionadas natureza, ao campo, as quais foram aqui entendidas como sua atração principal, também proporcionam a contemplação de aspectos culturais contidos nas edificações histórias existentes em tais locais e na própria história das famílias. No trajeto da Rota Colonial estão localizados dois empreendimentos gastronômicos - Kioske da Rota e Kaffe Haus, os quais não são considerados atrativos turísticos, uma vez que apenas servem refeições, assim como o Atelier de Arte Leila Blauth, o qual somente possuía venda de artesanato, sendo que nesses 124 locais não há visitação. Porém, esses espaços também serão apresentados, pois eles também eram associados à Associação e faziam parte do roteiro. Após a descrição dos atrativos naturais e culturais, esses três empreendimentos serão descritos, ao final, como Pontos de Apoio ao Roteiro. 5.1.1 Atrativos Naturais Os atrativos naturais da Rota Colonial Baumschneis são contabilizados em oito locais e, se classificam nessa categoria por possuírem aspectos condizentes com a paisagem, a criação de animais, as plantações de verduras, vegetais, frutas, entre outras atrações e características. 5.1.1.1 Casa Velha Colha e Pague O atrativo turístico Casa Velha Colha e Pague localiza-se na Rua Rincão dos Berlitz, no Travessão Rübenich, a cinco quilômetros do centro do município de Dois Irmãos. O proprietário da Casa Velha Colha e Pague é natural de Dois Irmãos, de descendência germânica. Ele é viúvo, mora com os pais e sua única filha, a qual tem dezesseis anos e está no ensino médio. O proprietário possui ensino fundamental incompleto, e sua profissão é agricultor, mas também é pensionista e se considera um empreendedor por ter tido a coragem de se aventurar no ramo do turismo. A área total da propriedade é de vinte e quatro hectares, na qual se encontra uma casa de moradia, galpões, animais e plantações, assim distribuídos: em dez hectares existem plantações de acácia-negra, eucalipto, cana-de-açúcar e mata nativa reflorestada; em dois hectares são cultivadas verduras como: batata, beterraba, cenoura, brócolis, couve-flor, alface, rúcula, repolho, salsa, cebolinha, espinafre, couve chinesa, cebola, moranga, chuchu, alho e milho (Figura 10). Em meio hectare está a plantação de frutas: bergamota, laranja, figo, caqui, uva, melancia e melão doce. E ainda tem dois mil metros de área construída, distribuídas entre casas de moradia e galpões. 125 Figura 10 - Plantações da Casa Velha Colha e Pague Fonte: Própria autora (2014) A administração da propriedade, tanto da parte agrícola, quanto do setor turístico é feita pela própria família. A propriedade pertenceu ao avô do proprietário, sendo ele a terceira geração que continua morando na propriedade, nunca tendo sido dividida. A propriedade não possui empregados. Os pais do proprietário, juntamente com o mesmo é que fazem todo o trabalho no campo e a lida com os animais, bem como recepcionam e atendem aos turistas. A filha do proprietário ajuda, quando tem disponibilidade. O que ocorre, esporadicamente, é a contratação de um tratorista, para realizar serviços na área agrícola, por um algum período. Os produtos agrícolas e alguns de fabricação artesanal são vendidos diretamente ao visitante, como verduras, frutas, ovos e Spritzbier35. No entanto, uma atividade oferecida por este empreendimento o torna peculiar, uma vez que o turista tem a possibilidade de ir diretamente ao local, onde são produzidas as frutas e verduras e realizar, ele próprio, coleta ou colheita, razão pela qual o nome do atrativo provém dessa prática "Colha e Pague", sendo essa a principal atração do local. Outras atrações da propriedade são os galpões para silagem e depósito de utensílios, (Figura 11), utilizados no dia a dia das atividades agrícolas, na lida de 35 Cerveja confeccionada em casa, cujos ingredientes são lúpulo, quilária, caramelo, açúcar, água e fermento. 126 campo e com os animais, bem como ferramentas necessárias para o plantio e colheita das verduras e frutas. Também há vários utensílios antigos, como um tacho e um fogão de barro, "pra faze Schmier, banha" (Proprietário). A paisagem natural é outra atração do local, sendo motivo de contemplação pelos turistas, uma vez que o espaço é característico de zonas rurais, com áreas verdes, além da construção de uma casa datada do século XIX, a qual era primeiramente casa de moradia das primeiras gerações da família e, hoje, o proprietário a utiliza como local para receber os turistas, expor e vender os seus produtos. Figura 11 - Galpão para depósito Fonte: Própria autora (2014) Outra atração da propriedade são os animais e o seu manejo, havendo duas mulas que auxiliam no trabalho da roça, galinhas, porcos e algumas cabeças de gado leiteiro. Na propriedade, também se encontra um açude e uma carreta puxada pelas mulas. O proprietário comentou que ele também proporciona aos visitantes um passeio no tratorzinho, para aqueles que tenham vontade de passear e conhecer a propriedade. Um reboque é acoplado nesse tratorzinho, onde cabem, no máximo, oito pessoas, e o valor do passeio é de quarenta e cinco pelo grupo, mas o proprietário enfatiza "geralmente a gente faz assim, é quarenta e cinco, mas se a 127 gente cobra cinquenta, a gente coloca um copo de caldo de cana junto no final, quando a gente volta" (Proprietário). O passeio é assim descrito pelo proprietário: [...] esse é um passeio de uma hora e meia, duas hora, aí é pelas roça né, aí tu para, explica, tu mostra pra cá, tu vê Ivoti, em cima do morro depois tu tem o lado do morro Ferrabrás, tu explica que eles voam de asa-delta, tem Campo Bom, Sapiranga que tu vê né, daí tu faz todo o trajeto dentro das roça né, aí tu sobe por um caminho e volta por outro caminho de novo né. Neste passeio, portanto, o turista aprecia a paisagem, as plantações de verduras, as árvores frutíferas, os animais, as plantações de acácias e eucaliptos, ou seja tem uma visão panorâmica do local onde a propriedade se localiza e do entorno. A motivação do proprietário em aceitar a proposta para participar da Rota Colonial Baumschneis ocorreu em virtude da participação no Programa Turismo com Qualidade, realizado pelo Sebrae/RS e, por querer aumentar os rendimentos da propriedade, diversificando a atividade econômica. O proprietário, antes de ingressar no roteiro, vendia seus produtos em minimercados no município de Novo Hamburgo. Contudo, com a possibilidade de se inserir no turismo, transformando sua propriedade em um atrativo turístico, poderia vender os produtos aos clientes diretamente na sua propriedade. De acordo com ele: [...] primeiro por tu ter uma renda maior, que a gente via que tinha possibilidade de ter um ganho a mais na propriedade, que era uma coisa diferente, então a gente via que tu podia vender o teu produto direto, que não precisava levar para fora, este foi um motivo a mais que a gente teve e uma parte cultural, porque assim tu tá trabalhando numa propriedade (Proprietário). A inserção na atividade turística foi do interesse do proprietário e serviu de pretexto para preservar o patrimônio histórico-cultural do local. A ideia de haver uma troca de vivências e experiências com os turistas que ali chegassem, também fez com que o proprietário se interessasse pelo turismo, como forma de aumentar seu convívio social e cultural, conforme descreve o proprietário: [...] o turismo para mim é uma escola ambulante, é uma escola, porque tu aprende, [...] a mãe nunca atendeu ninguém e hoje está atendendo normal, [...] tranquilo, fala português, ou fala quebrado, continua falando o alemão, [...] ninguém tem vergonha, né. Então a parte cultural foi muito, [...] a gente ganhou muito com isto, com o turismo né, até a gente se valorizou mais (Proprietário). 128 O proprietário comenta que foram feitas reformas na casa antiga, onde são recepcionados os turistas e expostos os produtos para comercialização (Figura 12). E, ao longo dos anos, a família foi introduzindo alguns novos produtos, "muita coisa que a gente não plantava a gente começou a plantar" (Proprietário), referindo-se a algumas verduras e frutas, bem como mel, "a gente tinha um pouquinho, mas foi ampliado também". Com o dinheiro da vinda dos turistas, o proprietário enfatiza que conseguiu investir um pouco na propriedade, "maquinário eu comprei, comprei um tratorzinho novo" (Proprietário), entretanto, para a realização de reformas, as quais tinha interesse em fazer, ele conta que ainda não possui valores suficientes. Figura 12 - Casa de recepção aos turistas Fonte: Própria autora (2014) O proprietário comentou que uma das dificuldades no início da atividade turística foi convencer os pais que receber turistas em casa e vender o que a propriedade produzia, diretamente a eles, seria uma boa ideia. Hoje os pais afirmam que foi complicado se adaptar, no começo, aos horários de atendimento, principalmente aos finais de semana, mas enfatizam que a experiência foi significativa. 129 5.1.1.2 Propriedade Rural Ignácio Stoffel A Propriedade Rural Ignácio Stoffel possui uma área de terra de nove hectares e meio, e se encontra na terceira geração da Família Stoffel, ou seja, faz em torno cento e vinte anos que pertence à mesma família. Antigamente a propriedade tinha em torno de doze hectares (o proprietário não tem mais a noção exata do tamanho), portanto dois hectares e meio já foram vendidos. O proprietário tem oitenta e cinco anos de idade, está casado com sua segunda esposa e reside com a mesma, atualmente, na zona urbana. Quem administra a propriedade hoje é um dos seus seis filhos, com o qual não foi possível realizar uma entrevista por motivo dele não ter interesse, e o proprietário, pela idade, não lembrava de muitas informações, dificultandoaa descrição desta propriedade. O proprietário tem o ensino fundamental incompleto, era agricultor, sendo hoje aposentado, pois, no momento, não pode mais trabalhar por ter sido submetido à cirurgia para a retirada de parte do braço direito, dificultando assim o seu trabalho no campo. A Propriedade Rural Ignácio Stoffel fica a dois quilômetros do centro de Dois Irmãos. Nela são plantados aipim, batata doce e milho. O objetivo dessa produção agrícola é a comercialização de seus produtos. Alguns hectares são explorados no cultivo da acácia-negra. A propriedade tem algumas cabeças de gado leiteiro, galinhas, porcos e ovelhas para consumo da família, e existem burros e cavalos que auxiliam na lida da roça, puxando o arado e tracionando a carreta. O proprietário relatou que o seu filho, o qual administra a propriedade hoje, era o único que auxiliava e ainda auxilia nas atividades agrícolas e turísticas. Os demais membros da família estão envolvidos e se dedicam a outras profissões. Não há empregados fixos na propriedade e, eventualmente, para algum trabalho específico era contratado um funcionário temporário, entretanto o proprietário não soube relatar para qual atividade específica, apenas comentou que esse funcionário temporário era contratado esporadicamente e somente para trabalhos agrícolas. A Propriedade Rural integrou suas atividades junto à Rota Colonial em 2000, fazendo parte, portanto, desde o início do desenvolvimento da mesma. Os aspectos elencados pelo proprietário que o motivaram a fazer parte desse roteiro turístico eram: que residia no local e a viabilidade de poder interagir e ter uma maior 130 convivência social com os turistas, "para ter companhia", como afirmou o Proprietário, e desta forma melhorar a sua qualidade de vida. Essa propriedade também apresenta construções típicas e características da área rural, além de animais comuns ao cotidiano rural. Dentre os atrativos que estão à disposição do público visitante, para observação, se encontram "vestígios de uma antiga olaria, além do prédio de uma atafona (desativada), onde se realizava a moagem da farinha" (ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS, 2013). Também existem diversos animais: porcos, burros, galinhas, gado leiteiro e ovelhas, havendo a possibilidade de conhecer os locais, onde eles vivem e são criados, como estrebarias, chiqueiros, áreas de pastagem (Figura 13). Outro atrativo é um galpão que serve de depósito de ferramentas usadas na roça e com o manejo dos animais. Figura 13 - Paisagem rural e alguns animais da propriedade Fonte: Própria autora (2014) Além de todos esses atrativos elencados, o turista ainda pode apreciar a paisagem rural, durante um passeio pela propriedade em uma carreta, que é puxada pelos burros, contornando um pequeno açude, observando a produção e o cultivo dos produtos agrícolas, o manejo e a criação dos animais nela encontrados. 131 5.1.1.3 Mundo dos Ovos Originalmente tamanho da área da propriedade era de cinquenta e oito hectares, entretanto a família vendeu, no decorrer dos anos, parte da área e hoje possui trinta e dois hectares. A propriedade localiza-se a cinco quilômetros do centro da cidade. A propriedade que abriga o "Mundo dos Ovos" pertence à Família Scheid há anos, estando hoje na sua terceira geração. Entretanto, a proprietária não tem dados sobre datas da construção das casas e outras informações precisas, conforme ela conta: [...] o pai nasceu em 1888, e nasceu aqui, eu não sei dize completamente desde que ano existe, por onde eu ia sabe era por um túmulo, de uma irmã do pai que tinha 4 anos quando vieram pra cá, e este túmulo foi todo destruído, ali no Travessão. E não tem como, [...] e acaba se perdendo, [...] a gente não dá valor quando não interessa (Proprietária). A proprietária tem setenta e um anos, é solteira, de descendência germânica. Ela é agricultora, não tem filhos e possui o ensino fundamental incompleto. A proprietária produz aipim para a fabricação dos pães, milho para tratar os animais, gado leiteiro para a ordenha de leite para consumo, galinhas, além da existência de ovelhas, que servem para manter o campo limpo, foi enfatizado por ela. São arrendados a terceiros oito hectares, para a plantação da acácia-negra. A renda da propriedade provém da aposentadoria que a proprietária recebe e do arrendamento de alguns hectares de terra, da venda de pães, produzidos por ela, aos colégios estaduais que, de acordo com a mesma, "isto é para ter uma ocupação, não é que dá aquele dinheiro", e também do turismo, com a venda de pães, bolachas, roscas e ovos. A proprietária tinha uma irmã, já falecida, e hoje tem apenas duas sobrinhas. No início da atividade turística, quando havia maior fluxo turístico, a irmã auxiliava. Hoje, com a redução desse fluxo, a proprietária consegue atender sozinha aos turistas. Apenas quando ocorre a visita de um grupo maior, como um ônibus de excursão, uma das sobrinhas auxilia na recepção aos visitantes, "a minha sobrinha vem ajudá as vezes, [...] ou peço pra vizinha uma mão, mas geralmente ela também tá ocupada" (Proprietária). Desta forma, fica evidente que nunca houve a 132 contratação, fixa ou temporária, de empregados para auxiliar nas atividades turísticas. Para o trabalho na atividade agrícola, a proprietária nunca precisou de ajuda dos familiares. Ela apenas tem uma diarista para auxiliar na limpeza das casas, e uma pessoa que realiza a vacinação dos animais, quando é necessário, ou seja, não possui funcionário fixo e nem temporários, somente esporádico. A propriedade foi inserida na Rota Colonial Baumschneis no início do projeto, no ano 2000. Entretanto, ela não lembrava quais foram os motivos que a fizeram decidir a desenvolver atividades turísticas em sua propriedade. Dentre as opções destacadas, a partir da entrevista, ela relatou que morava no local e, a inclusão da propriedade na Rota ocorreu pela transformação de uma estrebaria em um galinheiro, propiciando assim a venda de ovos, com o intuito de melhorar a renda da propriedade, "tudo que se ganha é bom, porque tem muito prédio, e tudo tem que ser mantido" (Proprietária), bem como uma maneira de conservar o patrimônio histórico da família. Ela relata como foi o processo de inserção no roteiro: [...] porque tinha os prédios, tinha tudo. [...] eles foram conhecer as propriedades. [...] Aqui vai ser o Mundo dos Ovos, porque eu sempre já tinha galinha, [...] naquela época eu tinha galinha aqui em cima só, mas o que, eu tinha 20, 30 galinha, nem isso. E daí eu fui criar mais porque vinha mais pessoas buscar, e botei lá embaixo, no chiqueiro, [...] aí nós reformamos. [...] Aí foi modificado. [...] Foi pensando, um disse aqui, outro ali. [...] eu sempre lidava com pessoas, porque quando nova eu trabalhava no comércio, aí eu sempre tive aquilo, eu sempre tinha, [...] tá, não tinha muita galinha, mas eu sempre tinha a clientela que buscava ovos, e depois aumentou (referindo-se a depois que entrou na Rota) (Proprietária). A proprietária faz alusão ao fato de já ter, na época do início das atividades da Rota, clientela do município de Novo Hamburgo e região, onde vendia os ovos produzidos na propriedade: "eu tinha amizade, porque eu trabalhava no comércio em Novo Hamburgo, [...] tinha freguês de ovos, que eu tenho freguês que são mais de 25 anos". Desta forma, ela explica que por trabalhar em Novo Hamburgo, esses clientes acabaram virando turistas e divulgando seu empreendimento, fazendo com que no início das atividades do roteiro tivesse um fluxo bom de turistas que visitavam o seu espaço. A proprietária relatou que não teve problemas operacionais, uma vez que tinha experiência no atendimento do comércio, não encontrando dificuldades na recepção aos turistas. 133 Encontra-se, no local, um galinheiro que chama a atenção pela singularidade, pois é possível observar como se criam as galinhas, razão pela qual o local passou a ser chamado de “Mundo dos Ovos” (Figura 14). Ao visitante é facultada a liberdade de colher os ovos diretamente no galinheiro, caso desejar adquiri-los. Entretanto, se preferir, a proprietária pode colhê-los e entregá-los numa bandeja. Figura 14 - O galinheiro: externamente e internamente Fonte: Própria autora (2014) 134 Outros produtos que podem ser comprados no local são licores feitos de frutos nativos, plantados na propriedade, como amora, morango, laranjinha, além de outros produtos fabricados artesanalmente pela proprietária, como: schmiers, pães, roscas e bolachas, panos de prato com bordados ou crochês, os quais são expostos em uma casa, construída há mais de cem anos (Figura 15). Neste local também há uma exposição de ferramentas agrícolas antigas, as quais eram utilizadas nas lidas diárias do campo. Nesse sentido, a arquitetura dessa casa, bem como da casa da proprietária, que também é uma construção antiga, além do galinheiro, somam-se aos atrativos oferecidos aos turistas. Figura 15 - Produtos artesanais expostos para comercialização Fonte: Própria autora (2014) A proprietária também salienta a paisagem como um dos atrativos turísticos, uma vez que a natureza é singular, com características rurais que proporcionam, aos que apreciam, momentos de paz e conforto, e lamenta o fato de outros objetos e prédios não existirem mais, [...] porque antigamente tinha a cachaçaria do tempo do meu avó, antes que eu nasci, e meu pai trabalhava com leite, com manteiga, fazia até manteiga e leite, ali no prédio, isto faz o que, 70 ou 80 anos. [...] Olha! a Laticínios Hamburguesa começou com a nossa desnatadeira, que eu me lembro de criança, porque o pai levava daqui o leite para eles. O que tem aqui é só aquelas forminhas de manteiga. A máquina de fazer manteiga, manteigueira 135 que a gente diz, [...] aquela os cupins comeram, porque era de madeira. A gente não dá valor para isto, agora depois que acabou (Proprietária). A inserção no roteiro de um atrativo com essa peculiaridade é muito interessante pelo ineditismo do empreendimento e a singularidade que ele possui. E ela enfatiza dizendo que os turistas " acham lindo, tudo muito bonito" (Proprietária), e menciona que permanece na atividade, mesmo que não esteja rendendo os rendimentos esperados e que esteja com idade avançada, porque é gratificante escutar de um turista: "porque eu nasci, eu cresci nisso, eu sei como é que é isso, [...] colher ovos, que vontade, que saudade daquela época" (Proprietária). 5.1.1.4 Campo 7 Amigos O empreendimento denominado "Campo 7 Amigos" tinha, inicialmente, trinta e um hectares, dos quais somente quatro hectares pertencem ao proprietário, os demais foram divididos entre os irmãos da esposa, uma vez que a terra pertencia à família dela e se localiza a dois km do centro do município. O proprietário é, portanto, casado, tem o ensino fundamental incompleto, tem uma filha e é empresário, uma vez que ele e a esposa decidiram em 1998 criar na propriedade da família um sítio de lazer. Na propriedade não ocorrem atividades agrícolas, sendo desenvolvidas apenas atividades de lazer voltadas ao turismo. Essas são executadas pelo proprietário, a esposa e a filha, existindo apenas um empregado fixo que exerce a função de auxiliar geral. Na temporada de maior movimento, qual seja, de novembro a março, são contratados funcionários temporários que auxiliam em diversas atividades, como segurança e limpeza da área. No local, há um espaço para eventos e quando são realizados esses acontecimentos, é necessária a contratação de mais empregados temporários, para funções específicas de que necessita, " às vezes de oito a dez, as vezes até mais, depende do movimento, [...] quando funciona a piscina, aí sempre tem o segurança direto, porque tem que ter, porque trabalhar com o público hoje em dia não é fácil" (Proprietário). É uma propriedade, localizada na zona rural, com uma extensa área verde de mata nativa e reflorestada. Nesse espaço, encontra-se erguido um galpão para eventos (Figura 16), quatro piscinas, um lago com pedalinhos, um açude. 136 Figura 16 - Galpão para eventos no Campo 7 Amigos Fonte: Própria autora (2013) Existe também no local uma área sombreada com mesas e churrasqueiras (Figura 17) e um campo de futebol sete, o que deu origem ao nome da propriedade. Figura 17 - Área de lazer com churrasqueiras no Campo 7 Amigos Fonte: Própria autora (2013) Os turistas e visitantes também podem admirar alguns animais como: ovelhas, pavões e patos, bem como a paisagem do local. Junto ao galpão de 137 eventos existe um espaço adequado para a venda de lanches e bebidas aos frequentadores do local. O proprietário relatou que, mesmo tendo iniciado as atividades do Campo 7 Amigos no ano de 1998, começou a fazer parte do roteiro da Rota Colonial Baumschneis somente em 2002, por força das solicitações dos outros integrantes da Rota e do Prefeito Juarez Stein, por sua importância como espaço de grande beleza natural e por possibilitar o desenvolvimento de atividades diferenciadas dos demais atrativos. O mesmo expõe como se deu este início: [...] eles vieram aqui pedi. A gente nem queria entrar junto, aí eles pediram e a gente tinha um espaço bonito, [...] bom, [...] daí eles pediram pra nós entra. Aí a gente começou a entrá. [...] e isso até ajudou um pouco (se referindo a inserção na Rota), porque já tinha isso aqui, já tinha um bom começo quando a Rota começou, ai eles pediram pra nós entrá. Aí a gente toco, e ajudou um pouco na divulgação, que o pessoal ficou sabendo e conhecendo. E agora, a cada vez, cada ano dá mais movimento, porque o pessoal mesmo divulga. O pessoal vem, já gosta do lugar, na próxima vez, quem vem já trazem outro junto, e assim vai, no boca a boca (Proprietário). A propriedade oferece atrações turísticas, direcionadas tanto para um público infantil como adulto, possibilitando a realização de atividades voltadas e focadas ao lazer e à recreação, com duração variável, entre algumas horas ou um dia inteiro (Figura 18). Figura 18 - Lago com pedalinhos Fonte: Própria autora (2013) 138 Hoje, o empreendimento não é dependente do fluxo turístico da Rota Colonial, pois já possui seu local divulgado e, a cada ano, recebe mais visitantes, conforme conta o proprietário. Entretanto, o mesmo comenta que não tem interesse em se desligar do roteiro, pois "a cada ano tem uma festa. Tem o Kerb da Bergamota que às vezes a Rota faz. Daí a gente fica dando uma ajuda, dando uma mão. [...] Porque, por causa do movimento, a gente não precisa mais ficar mais" (Proprietário). Este atrativo possui uma diferenciação dos demais por ser o único, atualmente, que exige a cobrança de ingressos, no valor de dez reais por pessoa durante os dias da semana e quatorze reais por pessoa aos finais de semana. Crianças de cinco a dez anos pagam somente dez reais nos finais de semana. Crianças até quatro anos e adultos com mais de sessenta e cinco anos não pagam entrada, somente se forem utilizar as dependências das piscinas, são cobrados, então, dez reais por pessoa. 5.1.1.5 Propriedade Rural Cerro Bela Vista A propriedade iniciou suas atividades turísticas no ano 2000, juntamente com o início do roteiro. Hoje, a propriedade não faz mais parte da Rota Colonial Baumschneis. No entanto, por não ter sido realizada a entrevista com o proprietário, não existem dados de quando ocorreu o seu desligamento do roteiro, os motivos que o levaram a essa decisão, bem como para uma coleta mais precisa de informações sobre a propriedade. A Propriedade Rural Cerro Bela Vista se localiza junto as duas elevações denominadas morros Dois Irmãos. A propriedade pertence à Família Berlitz desde 1880, sendo essa a data de construção da casa existente na propriedade, a qual ainda hoje é residência da família. Nessa propriedade eram produzidos trigo, batata, lentilha, cevada, entre outros produtos e era muito procurada "na época da Páscoa, quando as pessoas buscavam [...] ervas medicinais" (ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS, s/d, p. 29). A principal atração oferecida nessa propriedade era a possibilidade de realizar um passeio de carroça, puxada por mulas (Figura 19). 139 Figura 19 - Passeio de carroça Fonte: Própria autora (2003) A carroça empregada para as lidas diárias na lavoura e no campo pertence à família Berlitz, desde sua primeira geração. Era a mesma utilizada para a realização dos passeios. Moletta (2002) relata como ocorria esse passeio: Passeio de carroção com roteiro predefinido e duração de mais de hora. Durante o trajeto, o condutor do carroção conta aos visitantes a história da origem do município de Dois Irmãos. [...] O passeio inicia na porteira da propriedade, terminando no topo de um dos morros de Dois Irmãos, onde o turista poderá visualizar, em dia claro, a região metropolitana (p. 30-31). O nome alusivo à propriedade, Bela Vista, faz menção à privilegiava posição geográfica desse empreendimento com acesso ao alto de um dos morros característicos do município de Dois Irmãos e, consequentemente, proporciona uma visão abrangente de todo o seu entorno (Figura 20), inclusive como mencionado por Moletta (2002), visualizar a Região Metropolitana de Porto Alegre, transformava o local em um diferencial em relação aos outros atrativos da Rota". Desta forma, com o desligamento desse atrativo, a Rota perde um local diferenciado do roteiro, uma vez que nenhum outro atrativo têm esta vista panorâmica. 140 Figura 20 - Vista panorâmica do Cerro Bela Vista Fonte: Própria autora (2013) Ao visitar a propriedade, durante a pesquisa de campo, com o intuito de fotografá-la, se descobriu que uma parte da propriedade está sendo alugada para terceiros, e estes estão utilizando a área para a realização de atividades relacionadas à prática de motocross. 5.1.1.6 Praça do Imigrante Esta praça foi criada em 1987, na gestão do Prefeito Romeu Wolf (1983- 1989). É um local bastante arborizado, com muitos bancos, um parque de brinquedos para crianças, um lago com uma pequena ponte. É nesse local que muitos moradores da cidade se reúnem para tomar chimarrão, principalmente aos finais de semana. A Praça do Imigrante é local de realização de vários eventos artísticos e culturais municipais. Também existem, na Praça, tendas para a venda de lanches e o Armazém da Agricultura, espaço destinado aos produtores locais para a comercialização de produtos típicos da região, frutas, verduras e plantas. Aos domingos, ocorre sempre a Feira de Artesanato, com a exposição de muitos produtos feitos pelos artesãos locais, como também há, muitas vezes, apresentações das Bandinhas Alemãs, animando o local com suas músicas típicas. 141 É um dia de circulação da maioria dos turistas que aproveitem este espaço para comprar os produtos ofertados e também para lazer (Figura 21). Figura 21 - Praça do Imigrante em Dois Irmãos/RS Fonte: Própria autora (2014) Entre os anos 2000 - 2003, a Praça já era um espaço bastante utilizado pelos moradores locais e visitantes, palco de pequenos eventos e exposição de artesanato. Existia ali, durante esses anos, um ponto de informações turísticas, o qual funcionava somente aos domingos, principalmente para divulgar a Rota Colonial Baumschneis, a qual tinha passeios agendados duas vezes ao dia. Nessa época, a Praça servia como ponto de partida do ônibus Kolonistenwagen, que permanecia ali estacionado, bem como havia apresentações de Bandinhas Alemãs, para recepcionar os turistas e animar os frequentadores da Praça. Foi apresentado na montagem do último folder criado pela Associação da Rota, a Praça tornou-se um dos atrativos oficiais da Rota Colonial, por entenderem que é um ponto importante de convívio social local e onde os turistas podem consumir e adquirir produtos coloniais locais. 142 5.1.1.7 Convento Doce - Casa de Chá O atrativo turístico Convento Doce - Casa de Chá situa-se na Rua Rincão dos Berlitz, próxima à Casa Velha Colha e Pague, rua perpendicular à Rua Alberto Rübenich, trajeto oficial da Rota Colonial Baumschneis. O acesso a essas propriedades é de estrada não asfaltada, o que, na ocorrência das chuvas, dificulta o acesso para essas propriedades. Entretanto, a proprietária da Casa de Chá, ao mesmo tempo que considera que o acesso podia ser melhorado pela Prefeitura, considera que ele é aceitável, conforme relata [...] a dificuldade do acesso tem dois lados, porque eu tenho uma relativa segurança pelo acesso ser assim, e as pessoas são bem coniventes comigo porque, quando tem um carro, alguma coisa que tá meio estranho, porque eu não falei, porque eu me comunico com eles (vizinhos) todos os dias, não tem festa, qualquer coisa assim, já acham estranho e me avisam [...] isto até me proporciona certa segurança (Proprietária). A proprietária é casada, tem três filhas, também casadas. Ela é empresária, e seu marido, aposentado. Ambos possuem o ensino médio completo e moram na propriedade. A propriedade tem onze hectares, com uma extensa área verde e alguns espaços de área construída, se distanciando quatro quilômetros do centro de Dois Irmãos, e apenas há uma geração está no nome da família e nunca foi dividida. No local, ocorrem apenas atividades turísticas ou de eventos, não sendo usada para agricultura ou pecuária. Para auxiliar nas atividades turísticas e em eventos a proprietária tem uma funcionária fixa, a qual realiza atividades ligadas a serviços gerais e auxilia na cozinha. Quando necessário, principalmente por causa dos eventos que são realizados na propriedade, são contratados empregados temporários, como: garçons, seguranças, auxiliares gerais, contudo, as contratações oscilam, conforme a necessidade da atividade que é realizada, "às vezes chega a ser cinco ou seis, depende do evento" (Proprietária). Quem administra as atividades da propriedade é a proprietária, com o auxílio do seu marido. O casal reside na propriedade, onde foi construída uma casa com o objetivo de servir de moradia à família, apesar de que no local já existir uma casa antiga, provavelmente construída há mais de oitenta anos (Figura 22). A atividade turística é 143 desenvolvida pela proprietária, desde 2003, ano que também ingressou na Rota Colonial Baumschneis. Figura 22 - Casa antiga Fonte: Própria autora (2013) Inicialmente, o sítio servia apenas de área de lazer para os funcionários da empresa que a proprietária tinha em Novo Hamburgo. Após o fechamento da empresa e, em virtude de suas filhas morarem no exterior, a proprietária decidiu morar no sítio e transformá-lo em um espaço de lazer e eventos. A proprietária conta como se deu o processo de mudança para Dois Irmãos e início das atividades na propriedade: A propriedade era da firma, [...] nós tínhamos firma e ela era da firma, [...] o sítio de lazer pra firma. [...] depois que a gente fechou a firma, ficou meio que abandonado isto aqui, [...] e as minhas três filhas morando fora na época, então o sítio ficou abandonado, [...] ninguém morando no sítio, [...] quando os caseiros saíram meu marido veio pro sítio, e depois eu vim pra cá (para o sítio) [...] como eu já tinha esta atividade lá (em Novo Hamburgo) [...] café colonial, [...] café é uma coisa que as pessoas gostam, [...] a gente vinha pra cá tomar café, [...] pra não ficar alienada eu resolvi botá isso aqui pra ter contato com as pessoas, acho que mais foi este o motivo, pelo contato com as pessoas, e comida sempre é uma coisa que dá prazer, [...] eu queria trabalhar com alegria [...] para não se sentir só, ter contato com as pessoas, porque o lugar é bonito [...] eu preciso de gente, e esse contato me faz bem (Proprietária). 144 Conforme relata a proprietária, ela já possuía um estabelecimento em Novo Hamburgo, o qual servia café colonial e realizava alguns eventos. Após residir na propriedade, transformou o local no novo espaço para a sua casa de chá, mantendo o mesmo nome: Convento Doce - Casa de Chá. Esse fato fez com que seu fluxo de clientes e turistas já fosse bom desde o início, uma vez que muitos que conheciam o espaço de Novo Hamburgo, acabaram por prestigiá-lo em Dois Irmãos e divulgá-lo para outras pessoas. Primeiramente, eram servidas refeições aos turistas na casa antiga, uma vez que a nova, era residência dos proprietários. A atração do local, nessa época era o típico café colonial alemão, sem a inclusão de alimentos fritos e tortas muito incrementadas. Em virtude de melhorar o atendimento, houve a necessidade da inversão das casas, passando os proprietários a residirem na casa antiga e atender o público na casa nova, por motivos assim alegados: "eu não fiz grande investimentos, eu só troquei de residência porque lá não dava pra abrir parede, as paredes são muito grossas, [...] pras pessoas ficou mais prático aqui em cima, as pessoas me pediam" (Proprietária). Conclui-se que o novo espaço era mais adequado e prático para o atendimento e a realização de eventos. Hoje o empreendimento possui opções mais variadas de cardápio, para melhor atender os eventos e os turistas, oferecendo almoço, café da tarde, café colonial e janta. Tem ainda a opção de pratos únicos, founde ou pizza, "a pessoa que escolhe, como tem o chá da tarde, tem o café colonial, tem almoço, tem janta, ou só pizza, ou tem muitas pessoas que querem só pratos integrais" (Proprietária). Além de oferecer refeições na propriedade, o atrativo Convento Doce também permite ao turista a realização de caminhadas numa trilha em meio à natureza, a qual apresenta pequeno grau de dificuldade. Há também a possibilidade de práticas esportivas, como jogar voleibol, brincar na cama elástica, andar de carrinho de lomba ou perna de pau, além usufruir de uma pequena piscina. No entanto, a proprietária ressalta que o que mais atrai os turistas e visitantes "é a natureza mesmo, porque as pessoas sentam aqui e eles aproveitam muito este gramado" (Proprietária). O atendimento na propriedade para refeições ou aproveitar a natureza e demais atrações só ocorre mediante agendamento, pois "eu atendo de forma personalizada" (Proprietária). A propriedade dispõe de um local fechado que comporta em torno de 80 pessoas e um gramado, onde podem ser colocados até cinco toldos grandes (Figura 145 23), para a realização de eventos maiores, conforme ela expõe "eu cobro só alimentação, o espaço é algo a mais" (Proprietária). Figura 23 - Espaço para eventos interno e ao ar livre Fonte: Própria autora (2013) Ela enfatiza que a maioria dos turistas é da Região do Vale do Rio dos Sinos e Região Metropolitana de Porto Alegre, "tem muita gente que vem aqui e vai pra Gramado, ou na volta de Gramado vem toma um café aqui, [...] de Porto Alegre fazem isto, daí já pegam o caminho, chegam aqui quatro, quatro e pouco, tomam o café e vão embora" (Proprietária). E ela ainda menciona que já estiveram no seu empreendimento turistas estrangeiros, de países como Alemanha e França. A participação na Rota ocorreu porque achou que ajudaria na divulgação da propriedade. Entretanto, ela menciona que gostaria que a Rota enviasse mais turistas para sua propriedade, e que hoje é dependente do roteiro, pois recebe um grande fluxo turístico e realiza vários eventos. Ela conta que a percentagem do ganho com os eventos é maior que o turismo, todavia, ela relata: "o que me dá mais prazer são as outras coisas, o que me dá mais satisfação, meu objetivo é o turismo, até porque o meu sonho é botar um minispa aqui. Fui vê tudo pra botar o minispa" (Proprietária). A proprietária considera muito gratificante trabalhar com o turismo, elencando como ponto positivo principal "conhecer pessoas que me acrescentaram 146 bastante como ser humano, que me valorizaram bastante como ser humano" (Proprietária). Ela diz permanecer na Rota por se "sentir bem" em receber os turistas e por acreditar que o fluxo turístico irá melhorar. 5.1.1.8 Sítio Ecológico Falkoski O Sítio Ecológico Falkoski está situado na Rua Princesa Isabel, a qual é perpendicular à Rua Alberto Rübenich, trajeto oficial da Rota Colonial Baumschneis, localizando-se quatro quilômetros do centro do município. O total da área de terra da propriedade, nunca antes dividida, é de um hectare e meio. Nessa propriedade estão localizadas a casa do proprietário, as plantações de citros, verduras, hortaliças, sua indústria de fabricação de sucos, licores, geleias, doce de leite e ambrosia, bem como nessa propriedade há criação de porcos e galinhas. Conforme relato do proprietário [...] aqui a gente, dentro desta área, como eu trabalho a agroecológica, a gente tem a galinha caipira, tem porcos, pra ter o sistema, na propriedade a gente tem o biodigestor que a gente produz o gás natural, a gente tá tentando fazer o sítio ser autosustentável [...] ai tem esta diversidade mais por isto, [...] na diversidade de plantas é pela agroecologia e o equilíbrio do solo (Proprietário). Ao lado dessa propriedade a família possui uma área de três hectares e meio arrendada para a plantação de uva e, no município de São José dos Ausentes, Rio Grande do Sul, numa área de sessenta hectares, estão investindo na plantação de mirtilo, uva e na criação de gado leiteiro e de corte. O proprietário é agricultor e tem ensino fundamental incompleto. Ele e a esposa têm quatro filhos. Atualmente, um dos filhos está demonstrando interesse em futuramente assumir as atividades da propriedade e, paulatinamente, vem se envolvendo na parte da agroindústria, sendo então a administração realizada pelo proprietário. O intuito do proprietário, ao adquirir a propriedade, era utilizar o espaço como área de lazer. Contudo, ele foi, aos poucos, plantando hortaliças e árvores frutíferas, e, a partir dos conhecimentos adquiridos na juventude e aprendidos de casa, o proprietário investiu na produção de adubo orgânico (Figura 24). Além disso, utiliza a terra, a partir da produção sustentável, com a diversificação de culturas, respeitando a natureza, mantendo assim o equilíbrio nutricional das plantas da 147 propriedade, gerando produtos orgânicos e naturais, sem o uso de agrotóxicos (SÍTIO ECOLÓGICO FALKOSKI, 2014). Figura 24 - Biodigestor Fonte: Própria autora (2013) O início das atividades turísticas na propriedade ocorreu em 2002, por iniciativa do proprietário, pois identificou no turismo uma forma de aumentar os rendimentos da propriedade e obter maior convivência social com os turistas (Figura 25). No ano de 2005, relatou que utilizaram uma das casas da propriedade como pousada durante algum tempo, "a gente tinha pousada ali também, aquela casa ali de trás era usada como pousada, tava funcionando super bem, é um investimento que tá sendo usado hoje para depósito, não foi investimento perdido" (Proprietário). O proprietário relata que a esposa e os filhos sempre eram envolvidos na atividade agrícola e no atendimento aos turistas, quando necessário. Atualmente, somente um dos filhos atua junto ao proprietário no beneficiamento dos produtos da propriedade, os outros três desenvolvem outras atividades profissionais. A propriedade contrata funcionários temporários para auxiliar na agricultura, quando precisam, no entanto o proprietário enfatiza que "é sempre gente da família, não pegamo mais gente estranha" (Proprietário). 148 Figura 25 - Plantações de verduras do Sítio Ecológico Falkoski Fonte: SÍTIO ECOLÓGICO FALKOSKI (2010) A renda principal da propriedade hoje é a agroindústria, fornecem doce de leite, sucos e geleias para a merenda escolar da rede municipal e de alguns municípios da região, participam de feiras de agricultores em Dois Irmãos e inclusive em feiras nacionais. O proprietário resolveu, em 2012, se desligar da Rota Colonial Baumschneis como atrativo de visitação, permanecendo apenas como fornecedor de produtos. Ele conta que ainda atende grupos particulares de turistas, porém, somente mediante agendamento prévio. Nesse sentido, fica claro que a atividade turística representa um complemento à renda mensal da propriedade. Em relação s outras atividades que eram realizadas na propriedade, podem ser citadas aquelas que envolviam as escolas e universidades. Às crianças da rede municipal de Dois Irmãos e região eram ofertadas atividades relacionadas com a agroecologia, a partir de um curso que tinha duração de quase um ano, conforme descreve o proprietário: O curso era assim, eles chegavam aqui, eles iam lá desde o início e durante o ano eles tinham que passar por toda etapa do trabalho do sítio. Então eles começavam lá a trabalhar a compostagem, faze a composteira, faze o composto, aí eles ficavam naquele dia fazendo aquele trabalho, daí eles voltavam daqui dois meses, [...] aí, claro, dentro desse dois meses eu ficava dando assistência, senão aqui ali estragava [...] ai eles voltam, [...] aí naquele dia eles iam penera os humos e prepara os canteiros, aí naquele dia eles faziam toda esta parte de planta, aí mais dois meses eles voltavam de novo um dia, [...] o último então que era a época de colheita, então eles 149 iam lá, colhiam o que eles plantavam, limpavam, e eles faziam a comida deles aqui com aquele produto, [...] que festa! Fazia o suco, fazia a salada, [...] o que eles plantaram ali eles tinham que fazê o alimento deles, era superinteressante (Proprietário). O proprietário relata que esses cursos foram muito satisfatórios e lamenta que não tenha mais disponibilidade para continuar realizando-os, uma vez que a família está priorizando outras atividades no momento, como ele relata " este é um trabalho de agroecologia e dá muito trabalho" (Proprietário), referindo-se aos cursos (Figura 26). Figura 26 - Curso de agroecologia com crianças Fonte: SÍTIO ECOLÓGICO FALKOSKI (2010) O proprietário menciona que trabalhar com o turismo foi muito gratificante, e a razão para ter se retirado do roteiro não está ligada ao turismo em si, mas sim ao fato de estar voltado a outras atividades no momento, não dispondo de tempo para atender a grandes grupos, além de outros motivos não relatados por ele. Nesse sentido, ele se diz aberto a visitações de pequenos grupos que venham em um carro ou dois. A satisfação em atender esse público é exposta por ele, a partir de duas situações ocorridas na propriedade, "uma vez chegou uma criança ali com uma mãe um dia, [...] chegou debaixo do pé de laranja - ô mãe, olha aqui, a laranja dependurada, porque a laranja tá dependura? - ele (a criança) não sabia nem que a laranja dava num pé" (Proprietário). Ao fazer esse comentário, o proprietário lembra 150 como é importante que haja espaços, como o sítio dele, para que as crianças e até o adultos possam ter o contato com a natureza e vivenciar como se produz frutas e verduras. Ele ainda relatou mais uma história vivenciada na propriedade: [...] uma vez tinha um cara de 65 ou 68 anos, uma coisa assim, eles vieram da grande Porto Alegre, e daí muito admirado com tudo, [...] eles vieram mesmo na época das frutas, [...] e daí ele perguntou se podia apanhar uma laranja aqui, [...] ele tinha um sonho de entra debaixo da laranjeira, apanha uma laranja e come, porque ele nunca na vida dele toda ele tinha feito isso, [...] e ele tinha um sonho de fazê isso, [...] a gente permitiu, [...] a gente ficou observando ele, a felicidade que esse homem fico, ele tava solto, realizado (Proprietário). O entrevistado considera que, lentamente, houve um declínio nas atividades da Rota, principalmente na vinda de turistas de grupos, "mas os visitantes particulares ainda visitam" (Proprietário), e esse é o foco turístico da propriedade agora, juntamente com as outras atividades do sítio. Essas experiências satisfatórias, que lhe foram proporcionadas pelos turistas, que visitaram a sua propriedade, fizeram com que o proprietário esteja, atualmente, investindo no município de São José dos Ausentes, onde pretende, no futuro, instalar uma pousada. 5.1.2 Atrativos Culturais Os atrativos turísticos da Rota Colonial Baumschneis, listados como culturais, somam doze ao total. Esses atrativos se enquadram nessa categoria em função de apresentarem características, como: estar ligado a um fato histórico, ter excepcional valor arquitetônico e/ou ser portador de referência à identidade, ação, memória de relacionada à germanidade e ruralidade. 5.1.2.1 Casa Rübenich Infelizmente nesta propriedade não foi possível realizar a entrevista, uma vez que não foram encontrados os proprietários, dificultando uma descrição mais precisa do atrativo e demais informações relevantes para esta pesquisa. As informações aqui colocadas foram obtidas e retiradas junto ao material de divulgação da Rota Colonial Baumschneis. 151 A propriedade Casa Rübenich fez parte da Rota Colonial Baumschneis logo no início da implantação do roteiro, no ano 2000, constando no primeiro material de divulgação da Rota e, não sendo mais mencionada posteriormente. Por não ter sido realizada a entrevista não foi possível descobrir a data exata do desligamento deste atrativo e nem as razões que motivaram os proprietários a não mais integrarem o roteiro. Consta no primeiro material de divulgação da Rota que na Casa Rübenich morou a família que deu nome à casa, bem como à localidade - Travessão Rübenich, onde ela se encontra. Ela foi construída entre 1850 e 1860, na antiga técnica enxaimel, onde a casa era divida em duas unidades separadas, sendo "[...] uma maior, onde estão a sala e os quartos, e outra menor, completamente separada, onde existiam a cozinha e a sala de refeições" (ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS, s/d, p. 26) (Figura 27). Figura 27 - Casa Rübenich Fonte: ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS (s/d) Nessa casa foram realizadas diferentes atividades econômicas, como: comércio de carnes, linguiçaria e armazém de secos e molhados. Foi também sede 152 da Associação da Rota Colonial no início da sua implantação, onde eram realizadas reuniões com os associados (ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS, s/d). 5.1.2.2 Moinho Collet O Moinho Collet iniciou as atividades turísticas no ano 2000, juntamente com o início da Rota Colonial Baumschneis. Por razão de não ter ocorrido a entrevista com o proprietário, por falta de interesse do mesmo, não se tem a data precisa do afastamento desse atrativo do roteiro, como também os motivos que levaram o proprietário a não querer mais fazer parte da Rota, e demais informações sobre o empreendimento, nos aspectos históricos e comerciais. A única informação que foi obtida como uma das razões do desligamento deste empreendimento da Rota foi relatada pelo Sujeito 11: Ele (referindo-se à um dos donos da propriedade) era faceiro assim na época. Ali como houve muita coisa entre a família, uns queriam outros não queriam, [...] aí às vezes eles faziam mutirão para limpar aquilo tudo, mas quando era para investir alguma coisa, [...] aquilo ali era um investimento de soma alta, daí ninguém queria participar. Então ele (novamente referindo-se a um dos donos da propriedade) ficou meio sozinho. O Moinho Collet teve sua edificação concluída, "segundo os dados da tradição oral, [...] em 1854" (ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS, s/d, p. 14), e foi "desativado em 1992" (ARANDT, 1999). Esse moinho era movido por uma roda d'água e servia para moer grãos de milho e trigo, muito utilizados na fabricação de pães, bolos e bolachas (Figura 28). A atração do local era, principalmente, a demonstração do funcionamento do moinho, sendo possível observar a arquitetura do prédio e do maquinário (SCHNEIDER; FIALHO, 2000), os quais estavam em perfeitas condições de uso. Outra atração disponibilizada aos turistas era uma exposição de fotografias e documentos da Família Collet, cujo acervo estava localizado no piso inferior (MOLETTA, 2002). 153 Figura 28 - Roda d'água do Moinho Collet Fonte: ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS (s/d) Antigamente, ali também era fabricado o óleo vegetal, extraído dos grãos de amendoim. Esse óleo era utilizado, na época, para ascender as lamparinas e lampiões e era empregado para outras finalidades. As suas "engrenagens metálicas foram trazidas da Alemanha e fazem parte de dois tipos de moinhos: um de moagem de grãos e o outro de extração de óleo vegetal a frio" (ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS, s/d, p. 14) (Figura 29). O Moinho Collet retrata uma importante fábrica da época dos colonizadores germânicos, uma vez que "os colonos do Travessão Rübenich levavam para lá os grãos que produziam e precisavam ser moídos, como o trigo e o milho. Além da moagem, nos prédios do moinho foi instalado um armazém de secos e molhados" (ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS, s/d, p. 14), onde eram então vendidos o óleo e as farinhas fabricadas. 154 Figura 29 - Maquinário do Moinho Fonte: PLAZA (2000) A partir do exposto, fica enfatizado que o prédio do moinho e seu maquinário são de grande valor histórico-cultural, tanto para o município de Dois Irmãos, quanto para a região, razão pela qual foi tombado como patrimônio cultural do município, através da Lei Municipal Nº 1.939 de 2002, pois, praticamente não existem mais exemplares dessa arquitetura na região e no Rio Grande do Sul. Sendo assim, esse local era um importante atrativo turístico para a Rota Colonial e o seu afastamento excluiu do roteiro, talvez o ponto de visitação mais relevante do trajeto, no qual era possível assistir, quase que de maneira inédita, como funcionava um verdadeiro moinho de moagem do século XIX. 5.1.2.3 Armazém de Secos e Molhados Scholles O empreendimento Armazém de Secos e Molhados Scholles localiza-se nas margens da rua Alberto Rübenich, a dois quilômetros do centro de Dois Irmãos. O atual proprietário é casado, tem dois filhos, possui o ensino fundamental incompleto, é aposentado e comerciante. O Armazém faz parte da Rota Colonial Baumschneis desde 2000, ano de início da implantação do roteiro (Figura 30). No entanto, desde o início das atividades turísticas até 2010 a administração do Armazém ficava a cargo do proprietário atual e de seu irmão, o qual recepcionava os turistas, uma vez que era mais extrovertido, conforme relatou o proprietário atual, "ele gostava, [...] ele atendia 155 mais, [...] ele tirava logo amizade, [...] meu irmão sempre tava junto lá" (Proprietário). Após o falecimento do irmão, o proprietário atual assumiu todos os encargos pela administração e gerenciamento da propriedade, inclusive na recepção aos turistas, apesar de se julgar mais introvertido e, como afirmou, realiza essa atividade "por causa do irmão". Figura 30 - Fachada do Armazém Scholles Fonte: Própria autora (2014) O proprietário atual, a esposa e um dos filhos moram na casa ao lado do Armazém, que faz parte da propriedade, em uma área total de dezesseis hectares, os quais nunca foram divididos. O proprietário possui plantação de acácia-negra e eucalipto em outro terreno, não no mesmo em que está o Armazém, e o objetivo dessa produção é a comercialização do produto. A propriedade foi adquirida pela família Kieling em 1936, onde foi erguida uma casa que se transformaria em armazém – “Armazém de Secos e Molhados”, e encontra-se na segunda geração na família. O local virou, além de comércio, ponto de encontro para os moradores da localidade, uma vez que lá as pessoas iam tanto às compras, como para jogar cartas, conversar ou beber com os amigos, conforme relata o proprietário: "eles gostam de joga carta, tem gente que toda noite joga carta, toda noite, uma, duas mesas, sempre jogam canastra, até do centro tem cara que toda noite vem aqui" (Proprietário). 156 No Armazém Scholles, que ainda continua em funcionamento, mantendo as antigas características do antigo armazém de secos e molhados, podem ser observados os balcões altos e os armários (Figura 31), onde existe um pouco de tudo para vender ao cliente, "tem charutos, palhero, [...] palhero vende muito, este é o que mais sai né, quando vão pra pescaria né, eles não fumam né, só apitam" (Proprietário). Existe ainda, preservados no local, os objetos de uma antiga barbearia que funcionava junto ao estabelecimento. Figura 31 - Balcões do Armazém Scholles Fonte: Própria autora (2014) No início da atividade turística, trabalhavam no Armazém, os dois irmãos com suas respectivas esposas. Atualmente, trabalha apenas o proprietário com sua esposa, a qual se reveza nas atividades com o filho. A razão pela qual os irmãos resolveram participar da atividade turística, e consequentemente da Rota Colonial, veio a partir do convite do Sr. Laurindo Julien, Chefe do Departamento de Turismo em 1999. O proprietário e seu irmão acreditaram que o turismo iria auxiliar no aumento da renda e na preservação do patrimônio histórico da propriedade. E por morarem no local, não teriam muitos gastos e problemas para desenvolver as atividades voltadas ao turismo na propriedade. 157 O proprietário relata que permanece no roteiro por ser cômodo, entretanto menciona que o mesmo não traz lucros, mencionando que a sazonalidade das visitas é o maior problema, relatando que "agora melhorou de novo [...], há quatro anos atrás estava fraco". Considerando, portanto, que houve crescimento e depois um declínio no número de visitantes. Não foram feitos muitos investimentos na propriedade para receber os turistas, apenas algumas arrumações e pequenas reformas. De acordo com o proprietário, existem ideias de melhorias e ampliações no Armazém, mas para que isso aconteça é necessário um maior fluxo de turistas que segundo ele, "até existe, mas precisa ter mais gente vindo". Os resultados obtidos, até o momento, pelo proprietário, em relação ao desenvolvimento da atividade turística na propriedade "não é ruim, [...] não é ótimo, [...] não é bom, [...] nem ruim, [...] se tive na rede é peixe, é [...] dá para continuar" (Proprietário). Nesse sentido ele considera o retorno sazonal, ficando abaixo do que esperava, no entanto não depende da atividade turística como renda principal da família. 5.1.2.4 Serraria e Carpintaria Becker O atrativo turístico "Serraria e Carpintaria Becker" localiza-se às margens da Rua Rübenich, distanciando-se dois km do centro de Dois Irmãos. Ela pertence à família Becker há quatro gerações, desde 1872 (Figura 32). Tem extensão de apenas um hectare e nunca foi dividida. O proprietário, que é casado e tem um casal de filhos, mora com sua esposa na zona urbana de Dois Irmãos. No início de suas atividades, a Serraria produzia arados, cabos de enxada, carroças e carretas, os quais eram utilizados pelos colonos da região nos seus trabalhos diários na lavoura. 158 Figura 32 - Serraria e Carpintaria Becker Fonte: Própria autora (2014) Até hoje, a Serraria preserva suas paredes de pedra, sua roda d’água e algumas máquinas antigas, acrescidas de novos equipamentos (Figura 33). A carpintaria se localiza no primeiro pavimento do mesmo prédio e ainda é utilizada pelo proprietário, o qual fabrica ali artefatos de madeira e faz alguns consertos para os moradores da localidade, "[...] aqui a gente faz os conserto das carroças, [...] daí faz cabo, pras mulas, [...] faz o concerto dos camachos". Ele conta que às vezes vende algo para os turistas, que se interessam quando esses veem o que ele está fazendo: [...] eu faço, tenho lá em cima, carrinho de lomba, mas de vez em quando se vende um, tem que deixa pronto, [...] uma vez eu tava de serviço, tava fazendo um, e daí vieram uns turistas de Pelotas, e tem um senhor junto, [...] ele nem se interessava, só fico olhando aquele carrinho né, mas não tava pronto né, [...] perguntou o preço - Puxa vida!, diz ele - Se tivesse pronto eu ia leva. Eu disse, - Olha, se vocês quise passa na volta né, [...] porque eles iam faze toda a Rota, eu deixo pronto, [...] pararam o ônibus aí, o cara enfio no bagageiro do ônibus e levo junto (Proprietário). 159 O proprietário é aposentado e sua esposa também, a qual foi professora da Rede Municipal de Ensino de Dois Irmãos. Entretanto, ele conta que gosta de ir para a Carpintaria, para passar o tempo, "porque fica o dia todo em casa não dá". Figura 33 - Espaço da carpintaria Fonte: Própria autora (2013) O seu tio era sócio da propriedade, porém quando esse faleceu, o proprietário acabou sozinho assumindo a administração total e conta que nunca precisou contratar funcionários para trabalhar junto à serraria e à carpintaria, sempre teve a ajuda do filho, do tio (antigo sócio) e do sobrinho. A Serraria e Carpintaria Becker foi incluída na Rota Colonial Baumschneis no ano 2000, participando desde o início da implantação do roteiro. A iniciativa em participar foi em virtude do convite feito pelo Sr. Julien, Chefe do Departamento de Turismo da Prefeitura Municipal de Dois Irmãos, "eles tavam procurando coisas antigas, daí eu recebi o convite". O proprietário comenta que a participação do seu empreendimento como um ponto turístico da Rota possibilitaria aumentar seus rendimentos, até então proveniente somente das atividades da serraria e carpintaria, como também poderia ser uma alternativa para preservar o patrimônio histórico da sua família. No início das atividades turísticas da Rota ocorria a visitação à Serraria, a qual já não estava em pleno funcionamento, sendo movida somente com energia 160 elétrica (Figura 34). O proprietário apenas a ligava para demonstrar aos turistas como funcionava a serra, o que gerava bastante curiosidade por parte dos visitantes. Na Carpintaria os turistas podiam contemplar o maquinário e demais ferramentas utilizadas para a fabricação e reforma dos artefatos de madeira. O próprio prédio, construído no final do século XIX, também era um atrativo, bem como a roda d'água, a qual movia a antiga serra. A roda d'água foi reformada, para o início das visitações turísticas, com uma ajuda financeira, porém o proprietário não se recorda quem investiu nessa reforma. Figura 34 - Serra para corte de madeira Fonte: Própria autora (2013) Infelizmente, o local foi atingido por duas enchentes nos últimos quatro anos, ocasionando muitos problemas ao maquinário da serraria, à roda d'água e, 161 consequentemente, ao trabalho do proprietário. O mesmo descreve com pesar o acontecimento da última enchente: [...] faz dois anos na Páscoa que a enchente arrancou tudo [...] esta mesa aqui foi parar lá embaixo no campo do Vila Rosa, no arroio, [...] só duas semanas depois eu achei ela. E essa ali tava aqui em cima do asfalto. [...] Olha [...], foi triste. [...] Eu olhei ali pra dentro e não tinha mais nada, [...] tava limpo, [...] eu acho que minha sorte foi que eu não tive aqui, nem eles aqui do lado (casa do sobrinho), porque a gente sempre queria salvá as coisas [...] isso arrancou tudo, a rede de luz aqui, tudo [...] ali de cima veio uma árvore, uma timbaúva, tava acima da calha [...] não se vê mais, sumiu a árvore, e eu acho que essa é que fez o estrago aqui, eu acho que essa represo a água, por isso que ela tava tão alta (a água) aqui dentro né, em 65 (1965) teve uma (enchente) muito forte, chegou a tirar umas madeiras aqui de cima, [...] e agora (nesta última enchente) levou tudo (Proprietário). Por terem ocorrido esses dois acontecimentos catastróficos, a serraria hoje não funciona mais, servindo apenas como atrativo de observação aos visitantes. Também, por causa das enchentes, o prédio se encontra em mau estado de conservação, principalmente a roda d'água, a qual foi a mais atingida pela enchente, e o proprietário não possui condições financeiras de fazer uma reforma no lugar. Vontade de recuperar o prédio e as máquinas o proprietário diz ter, "melhorias sim, [...] recuperar o que estragou com a enchente, [...] mas não tem dinheiro", tanto que ao citar os atrativos que a propriedade tem para apresentar e mostrar ao turista o proprietário menciona com pesar: a "[...] roda d'água tá destruída e a serra, [...] não funciona mais". Neste sentido, podem ser visitados hoje, o prédio que abriga a serraria e a carpintaria, a serra e seu maquinário antigo, somente como observação, e os utensílios usados no dia a dia pelo proprietário na Carpintaria. O proprietário enfatiza que permanece na Rota até hoje porque "acha que vai melhora", e considera que foi bom ter aceito o convite, no entanto explica que não gostava de ter que trabalhar aos finais de semana e ficar o dia todo esperando algum turista chegar. Atualmente, o local é aberto aos finais de semana, no entanto, somente quando há agendamento de turistas. Em relação ao interesse dos descendentes permanecerem no local e continuarem com a atividade turística, o proprietário relata que "por enquanto, ninguém se manifestou". A Serraria também foi um dos prédios tombados pelo município entre os anos 2002 e 2003, através da Lei Nº 1.939 de 2002. 162 5.1.2.5 Casa da Colônia Klaus A Casa da Colônia Klaus é outro atrativo que se localiza às margens da Rua Alberto Rübenich, estando a três km do centro do município. A propriedade pertence à família Klaus há três gerações. A área de terra original da propriedade eram treze hectares, já tendo sido divida mais de uma vez, sendo que hoje a propriedade abrange três hectares. A proprietária é casada e o marido era motorista. Sua escolaridade é o ensino fundamental incompleto, é dona de casa e tem três filhos, mas somente um deles ainda reside com ela e o marido. Eram exercidas, antigamente, na propriedade, atividades agrícolas. As atividades turísticas iniciaram no ano 2000, quando teve início a Rota Colonial Baumschneis, eles foram motivados pelos amigos e conhecidos que também iriam participar do roteiro e pelo Sebrae e Prefeitura Municipal. A proprietária relata como ocorreu: Visitaram a gente, conversaram, até que a gente aceitou, e porque tinha muitos conhecidos que iam participar também. Eu não tinha como recusar porque a nossa casa era, praticamente, prioridade pra essa rota. Porque pessoas de mais idade que tinham essas casa antiga, já não queriam, não aceitaram de jeito nenhum. A mesma também faz menção ao fato de ter aceitado o convite por morar no local, facilitando assim o desenvolvimento das atividades, uma vez que não precisaria se deslocar para atender os turistas. Outras razões também mencionadas por ela que motivaram à participação, são: diversificação da atividade econômica, melhoria na qualidade de vida, e preservação do patrimônio histórico da propriedade. Um dos pontos positivos, elencados pela proprietária, que aconteceram durante o período que integrou o roteiro, foi ter tido a convivência com os turistas, conhecendo diferentes pessoas. Ela recorda que sua mãe gostava muito de interagir com os visitantes, "minha mãe vinha, sentava ali dentro e conversava com os turistas. Tinha uma cadeira de balanço no canto, a mãe sentava e contava as histórias dela. E a mãe gostava disso" (Proprietária). O filho mais novo sempre a ajudava na recepção aos turistas e, quando era necessário, as filhas ajudavam, "estavam em casa e daí me ajudavam um pouco" 163 (Proprietária). Em relação ao interesse dos descendentes em permanecer com a propriedade e retomar as atividades turísticas, a proprietária enfatiza que os filhos se interessam pelas casas e pela área de terra, mas não querem se envolver com o turismo, pois possuem outras profissões e interesses. A atração deste atrativo era, principalmente, a oferta de produtos típicos coloniais germânicos, como: cuca, rosca, pão, bolacha, bolo, schmiers, mel e spritzbier. Entretanto, ressalta que as duas casas e a história da família encantavam os turistas que visitam a propriedade. A exposição dos produtos à venda foi colocada nas primeiras duas peças da casa, logo na entrada, a qual foi transformada em uma sala de recepção aos turistas, conforme a Proprietária conta: [...] essas duas peças ali eu cedi pra Rota, pra vender coisa, botei umas prateleiras ali, botei daí os crochê que eu fazia, o pão, a cuca, o bolo, que a gente fazia, bolacha. Aí eles (turistas) entravem pela frente e visitavam aquelas peças. A casa onde a família mora teria sido construída no início do século XX, ela não tem uma informação precisa (Figura 35). Ela possui um porão onde eram, antigamente, guardados vinhos feitos pela família, carnes salgadas, servindo como espaço de refrigeração, uma vez que não existia geladeira na época. Figura 35 - Fachada da Casa da Colônia Klaus Fonte: Própria autora (2014) 164 A edificação dessa casa, também se diferencia das demais casas antigas de Dois Irmãos por ela ter as janelas no formato de arcos e as vidraças de cor avermelhada. Na parte superior da casa existe um amplo sótão. Na "a parte de fora", como se reporta a proprietária, quando se refere à outra casa existente na propriedade, a qual teria mais de centro e vinte anos de edificação, constituindo-se também em uma atração do local. No ano de 2003 a proprietária desistiu de integrar o roteiro, elencando os seguintes motivos: pouca rentabilidade da atividade turística, problema de sazonalidade do fluxo turístico, e que o exercício de outras atividades profissionais do filho o impossibilitou de auxiliá-la na recepção aos turistas, obrigando-a a realizar o atendimento sozinha, sobrecarregando-a no trabalho. Ela descreve o que aconteceu: Eu também tive problemas de saúde, os filhos começaram a trabalhar e fazer faculdade e, eu fiquei sozinha, e sozinha não dá para fazer isto, não tinha ninguém para ajudar a fazer as coisas e no dia que vinha os turistas também não tinha eles (os filhos) para ajudar, e eu não podia pagar ninguém para me ajudar, porque o meu lucro já era mínimo. Se o lucro fosse bom a gente ia da um jeito, mas assim não tinha muito lucro, daí não valia a pena pra mim (Proprietária). Ela ainda relata que a propaganda foi muito pouca, deveria ter ocorrido mais divulgação do roteiro, "eu acho que parou muito isso aí, tinha que insisti, insisti" (Proprietária). Outro aspecto também manifestado pela proprietária foi que ela e a sua família não achavam interessante o fato de terem que trabalhar aos domingos, pois esse seria um dia, considerado por eles, para reunir a família e visitar amigos. 5.1.2.6 Ponte de Pedra A Ponte de Pedra "foi, possivelmente, inaugurada em 1855, conforme a inscrição existente no local" (ARANDT, 1999, p. 53). Construída durante o Governo Imperial sobre o rio Feitoria, na antiga estrada que ligava São Leopoldo à Serra Gaúcha, tendo arquitetura em pedra grês e estilo romano, [...] teve certamente muita mão-de-obra dos primeiros colonizadores e até de escravos; vale lembrar que nestes mais de 100 anos, a mesma não sofreu qualquer reforma maior, pois foi construída para durar uma eternidade (VIER, 1999, p. 110). 165 Constituindo-se num marco histórico do desenvolvimento de Dois Irmãos, esta construção tinha uma grande importância para a população doisirmonense da época, pois tinha a função de elo de ligação entre o Travessão Rübenich e o centro da cidade de Dois Irmãos, trajeto realizado pelos moradores para ir ao culto ou à missa, participar do Kerb de São Miguel, entre outros afazeres, bem como auxiliava aqueles que desejavam viajar para Hamburg Berg, local onde hoje é o município de Novo Hamburgo (ARANDT, 1999; VIER, 1999; DOIS IRMÃOS, 2014). Moletta (2002) relata em sua pesquisa que Loudwick Daniel Kurz, responsável por fornecer a pedra grês, buscava essas, provavelmente com uma carroça, nas terras da família Stoffel. A autora menciona um trecho do diário pessoal de Loudwick, no qual ele descreve a importância da ponte para os moradores da época: Os imigrantes alemães que ganharam os primeiros lotes de terras na Picada Baumschneis viviam praticamente isolados, formando, aos poucos, locais de comércio e sociabilidade como os armazéns, as capelas e mais tarde os clubes. Quando começam a organizar-se econômica e socialmente, foi preciso melhorar o contato com as grandes cidades. A ponte de pedra foi feita para facilitar a locomoção dos colonos a Hamburgo Velho (Novo Hamburgo) que era o centro local de comércio (apud MOLETTA, 2002, p. 32). A ponte é formada por dois arcos, conforme se pode observar na Figura 36. O responsável por sua construção foi o capitão Jacob Blauth, tendo como seu mestre de obras o Sr. Johannes Sauther (DOIS IRMÃOS, 2014). Este atrativo da Rota possui grande valor histórico e cultural, tanto para os moradores de Dois Irmãos, como também para a região do Vale do Rio dos Sinos. A Ponte de Pedra teve grande importância econômica e social para a antiga Picada Baumschneis, e tem ainda hoje para a cidade de Dois Irmãos, uma vez que por ela antigamente, como hoje, muitas pessoas transitam, servindo como meio de escoamento e trânsito de produtos que entravam e saíam da cidade e, consequentemente se transformou em um marco da história do município de Dois Irmãos, razão pela qual foi incluída na Rota Colonial Baumschneis. 166 Figura 36 - Ponte de Pedra Fonte: Própria autora (2014) O seu tombamento como patrimônio cultural de Dois Irmãos foi uma decisão correta legando, desta forma, um símbolo histórico e arquitetônico para as gerações futuras. 5.1.2.7 Centro Comunitário Jacob Feiten Construído em 1982, para ser o ponto de encontro dos moradores do bairro. O Centro Comunitário se encontra no local onde era a casa do professor da escola do Travessão - Escola Dr. Mário Sperb. Infelizmente a construção do Centro obedeceu a um projeto arquitetônico atual, pois a antiga construção da casa do professor não existe mais. Atualmente o espaço é utilizado pela comunidade para a realização de festas locais, como o Kerb da Bergamota, bailes, cursos, palestras, entre outras atividades, ou seja, é um local de confraternização (Figura 37). 167 Figura 37 - Salão Jacob Feiten Fonte: Própria autora (2014) 5.1.2.8 Cemitério Evangélico O Cemitério Evangélico está localizado na zona rural do município. Esse local tem um importante valor histórico para a comunidade e para a região, uma vez que retrata uma parte histórica e cultural do século XIX, e, "de acordo com a medição dos lotes, ficava na Colônia 16, sendo que o primeiro a ser sepultado foi Johann Friedrich Ellwanger, em 24.02.1852" (ROTA COLONIAL BAUMSCHENIS, 2013). A área do Cemitério foi doação da Família Korndörfer (ROTA COLONIAL BAUMSCHENIS, 2013). Pode ser observado nas lápides esculpidas em pedra grês arenito e mármore, os desenhos de antigos símbolos cristãos e inscrições em letras góticas. No local, "estão sepultados alguns imigrantes oriundos da Alemanha" (SCHNEIDER; FIALHO, 2000, p. 43). Moletta (2002) menciona que: No início este local era usado, na parte de trás, para enterrar os escravos, cujas sepulturas eram monturos de terra. Em 1852 os moradores da localidade que pertenciam à Comunidade Evangélica e Luterana, começaram a usar a área para enterrar seus mortos (p. 32). A partir de relatos orais, calcula-se que existam em torno de noventa e cinco pessoas enterradas nesse cemitério. Pelo seu valor histórico e cultural, esse atrativo assume grande relevância no roteiro, uma vez que ele retrata a forma de 168 demonstração da cultura germânica trazida pelos colonizadores, onde é possível verificar-se com enterravam seus familiares e a importância que davam a eles, a partir dos dizeres esculpidos nas lápides. Referente a este tema, Vogt (2004) assim se reporta [...] os cemitérios, a exemplo do que ocorria na Europa desde a Idade Média, foram construídos, quando possível, ao lado dos templos e mantidos pela própria comunidade. [...] Nas lápides das sepulturas de cemitérios do interior do município [...] é possível encontrar, além do nome e da data de nascimento e falecimento do enterrado, algumas frases e versos em alemão. São os Nachrufen. Esses dizeres, que com que a deflagração da campanha de nacionalização são substituídos por um simples "aqui jaz", são de grande interesse para os historiadores (p. 131). Neste sentido, o Cemitério Evangélico torna-se uma importante fonte de informações para pesquisas históricas de famílias e para se conhecer costumes antigos, bem como no que diz respeito à arquitetura tumular (Figura 38). Figura 38 - Cemitério Evangélico Fonte: Própria autora (2041) A fim de preservar este símbolo cristão, legado pelos antigos imigrantes, o Cemitério Evangélico Luterano, foi tombado como patrimônio cultural do município, pela Lei Municipal Nº 1.939 de 2002. 169 5.1.2.9 Museu Histórico Municipal de Dois Irmãos O Museu Histórico Municipal de Dois Irmãos (MHMDI) é um dos atrativos da Rota que foi incluído no roteiro desde sua implantação, no ano 2000. Esse local pertence a Prefeitura Municipal de Dois Irmãos, e [...] foi criado através da Lei 601/1985, que "autoriza o poder executivo municipal a adquirir um prédio antigo com terreno de 828m², para instalação do museu municipal". No - "Art. 3º - O imóvel a ser adquirido se destina para o fim específico da instalação de um Museu Municipal" (COGAN, 2012, p. 55). Durante os anos de 1985 e 1989 sofreu diversas reformas e restaurações para então ser ativado oficialmente em três de junho de 1989 (VIER, 1999). O Museu está instalado em um prédio que teve como sistema construtivo a técnica de construção enxaimel, "trazido pelos imigrantes alemães, que consiste em um conjunto de estacas e caibros que sustenta as divisões da estrutura da casa, podendo ou não ficar aparente na fachada" (COGAN, 2012, p. 56), conforme se verifica na Figura 39. Figura 39 - Museu Histórico Municipal Fonte: Própria Autora (2013) 170 Vier (1999, p. 404) complementa que a casa "sofreu uma grande reforma entre 1910 e 1920, onde se introduziu tijolos cozidos". O Museu se localiza no perímetro urbano, e o prédio, onde está localizado, é um dos poucos exemplares dessa técnica ainda remanescentes no município, tombado como patrimônio histórico e cultural municipal (ARANDT, 1999; VIER, 1999; COGAN, 2012). A casa que abriga o Museu pertenceu à Família Kieling entre os anos de 1893 e 1985, todavia teria sido construída por um homem de sobrenome Weimann, provavelmente antes de 1845 (ARANDT, 1999; VIER, 1999). Segundo Vier (1999) "a tradição oral relata que, nessa época, além de residência, esteve nela instalada um armazém e uma padaria, que funcionou em um anexo da casa (VIER, 1999). O objetivo do Museu era ser um espaço que mostrasse a cultura germânica, hábitos, costumes e tradições dos antepassados, através do próprio prédio e dos objetos lá expostos, bem como ser um local para a realização de eventos relacionados com esta temática. Cogan (2012) descreve muito bem as características do Museu O MHMDI trás em seus espaços expositivos uma clara expressão do modo de vida daquele imigrante de origem alemã que na sua vida e costumes, tiveram que proteger-se de toda a maneira para que fossem respeitados em seu habitat novo, ou seja, transformar a terra que estavam chegando em sua segunda pátria. O MHMDI [...] expressa a história e as tradições do município de Dois Irmãos, o seu acervo museológico retrata uma parte da história da imigração alemã na própria organização dos objetos e nos espaços da casa onde funciona o museu. Podemos exemplificar, quando na cozinha visualizamos uma chapa, chamada pelos imigrantes alemães de kochblatt, também o fogão a lenha, a dispensa e uma mesa para as refeições. São todos espaços típicos de uma determinada época (p. 52). O Museu conta com um acervo de mais de 5.500 peças e entre elas, algumas têm o papel de retratar uma típica casa de imigrantes germânicos. Na parte externa da casa, existem outros artefatos antigos que também se tornam atrativos, como um engenho de cana, uma lápide homenageando a Família Kieling, e um coreto (cobertura situada ao ar livre, normalmente em praças ou jardins residenciais, onde ficavam as bandas musicais para a realização de concertos, bem como local de discursos políticos e culturais). Além de ser um espaço para contemplação da história e cultura passada, também ocorrem ali diversas atividades que integram a comunidade local, como exposições temporárias, seminários com as escolas da Rede Municipal, desenvolvendo a educação patrimonial e a cidadania, entre outras iniciativas. O prédio foi tombado como patrimônio cultural do município. 171 Neste sentido, o Museu não poderia ser deixado de fora do trajeto da Rota, uma vez que, pelo seu acervo e como símbolo arquitetônico do seu prédio, torna-se um referencial da cultura germânica no município de Dois Irmãos. 5.1.2.10 Centro de Dois Irmãos O Centro de Dois Irmãos se localiza ao longo da Avenida São Miguel, espaço, onde outrora teve início a colonização da antiga Picada Baumschneis, hoje Dois Irmãos. Ao longo dessa rua, os prédios e residências particulares foram surgindo e o comércio aos poucos se instalando, sendo que muitos dos antigos empreendimentos comerciais e as residências dos moradores, que foram preservadas, hoje compõem o acervo histórico-cultural do centro da cidade. Muitos desses prédios foram tombados como patrimônio cultural do município. As informações que fazem parte do primeiro material de divulgação da Rota Colonial Baumschneis enfatizam a importância que o centro da cidade de Dois Irmãos tem para a cultura e história local: [...] a arquitetura e a história que imigrantes e descendentes deixaram, levam-nos a uma viagem no tempo. O casario antigo, as igrejas, as sociedades, o hospital, a escola, as indústrias e o comércio são a prova viva da realização do sonho dos imigrantes (ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS, s/d, p. 12). Atualmente, ao se percorrer esse trajeto na Avenida podem ser visualizados diversos prédios históricos, como mencionado no material de divulgação, que se harmonizam com os novos prédios. Existem muitos bares e restaurante ao longo do centro, proporcionando ao turista que visita a cidade, aos finais de semana, a possibilidade de visualizar os hábitos dos moradores locais, qual seja: ir para o centro, sentar nas calçadas e tomar chimarrão ou cerveja com os amigos e familiares. 5.1.2.11 Cervejaria Hunsrück A Cervejaria Hunsrück é o mais novo atrativo a ingressar na Rota Colonial Baumschneis, participando desde o ano de 2011. Ela se localiza às margens da rua 172 Alberto Rübenich, há três quilômetros do centro de Dois Irmãos. E, pertence a dois sócios, sendo que ambos a administram, cada um com sua função específica. A área de terra, onde foi construída a fábrica de cerveja, é de doze hectares, pertence a um dos sócios e nunca foi dividida. Os proprietários do empreendimento não residem na propriedade, onde se localiza a Cervejaria, e sim na zona urbana do município. A única atividade que ocorre nessa propriedade é a fabricação de cerveja, sem ocorrer exploração agrícola (Figura 40). Figura 40 - Cervejaria Hunsrück Fonte: Própria autora (2014) Na Cervejaria trabalham dois familiares e um empregado fixo, os quais estão envolvidos na fabricação das cervejas. Existe um funcionário temporário que será efetivado, pois o fluxo de vendas está aumentando, portanto estão precisando de mais pessoas para o trabalho na fábrica. Os dois familiares envolvidos na fabricação também auxiliam no atendimento aos turistas, quando necessário. Os proprietários mencionaram que a escolha do local da Cervejaria nesse trajeto da Rota Colonial Baumschneis foi de propósito, pois eles consideram este um local estratégico, uma vez que "este negócio, a Rota Colonial, colocou Dois Irmãos no cenário turístico" (Proprietários) e pretendem usar a localização e a Rota como forma de divulgar seu produto, pois acreditam que a "cerveja tem tudo haver com o turismo" (Proprietários), além de avaliaram que "a Hunsrück talvez seja uma peça 173 divulgatória bem grande nesse negócio" (Proprietários), uma vez que ela é a única cervejaria do município. Eles ainda enfatizam [...] na verdade a gente queria um local [...] Este local aqui está num centro [...] e tá numa zona rural, [...] tá num caminho de fácil acesso, melhor de se trabalhar turisticamente. [...] A localização dele, a localização da rota é boa. [...] agora que a gente tá totalmente licenciado, e criamos este ambiente no final do ano, nós vamos trabalhar bastante a parte do turismo (Proprietários). Os proprietários se referem que a criação de um local para receber os turistas aconteceu em dezembro de 2013. Esse espaço é composto por mesas, cadeiras e um balcão, criando um ambiente que se assemelha a um bar, onde é facultado ao turista a possibilidade de sentar e apreciar uma das cervejas fabricadas na Hunsrück. Esse ambiente também permite a visualização interna da pequena fábrica, através de uma abertura envidraçada. Entretanto, a principal atração da Cervejaria é o acompanhamento do processo de fabricação da cerveja (Figura 41). Figura 41 - Fabricação da cerveja Fonte: Própria autora (2014) Durante essa visita é explanado como ocorre o método artesanal de produção das cervejas (Pilsen, Weiss, Pilsen Extra), que, segundo os proprietários, "respeita a lei da pureza alemã, possuindo um processo de fabricação de até 18 dias". Além disso, o turista pode adquirir as cervejas produzidas no local, como 174 também copos, chapéus, bótons, entre outros artigos que identificam e caracterizam a Cervejaria Hunsrück. Os sócios relataram que desde que se instalaram na Rota, o empreendimento iniciou uma trajetória de crescimento contínuo e existem planos de fazer adequações no local, com o objetivo de melhor atender aos turistas. Também existe o interesse em aumentar o espaço da fábrica para aumentar a produção de cerveja, criando novos tipos e investindo na criação de novos sabores. Os proprietários se mostram otimistas com o desenvolvimento e crescimento da Rota Colonial Baumschneis, e, nesse sentido, comentam que tem a pretensão de criar, no futuro, um espaço de hospedagem na propriedade, como cabanas, possibilitando ao turista a opção de permanecer mais de um dia em Dois Irmãos, ou um final de semana e, com isso, ter mais tempo para desfrutar dos demais atrativos da Rota Colonial, além de adquirir produtos coloniais, provar a culinária local e conviver junto à natureza rural. 5.1.2.12 Casa Dienstmann - história e cultura O empreendimento Casa Dienstmann, é um dos pontos turísticos da Rota Colonial Baumschneis que se localizava na zona urbana de Dois Irmãos. Ela pertenceu à Família Dienstmann durante quatro gerações e nunca foi dividida. A área total da propriedade era de quase dez hectares e não havia exploração agropecuária. O proprietário é aposentado e reside no município de Novo Hamburgo com sua esposa, ambos possuem ensino superior completo. O casal tem dois filhos, sendo que estes eventualmente auxiliavam na recepção dos turistas. A Casa Dienstmann iniciou suas atividades turísticas juntamente com a implantação da Rota, no ano 2000. O ingresso cobrado para a visitação da casa, na época, era de três reais por pessoa. Quem administrava a propriedade era o proprietário, o qual descreve como ocorreu sua inserção no roteiro: [...] o tio mais velho, era meu padrinho, e não tinha filhos. Então ele com 80 e poucos anos, [...] daí ele me propôs - tu cuida de mim e da minha tia e tu fica com isto tudo. [...] Então por isso que acabei herdando, [...] era coisa que veio lá do meu bisavó, mas foi passando de geração em geração, e quando chegou nele, esta parte aí, ele resolveu abrir mão. Então em vida ele fez usufruto que a gente chama, ele repassou por escrito, mas só com o poder de posse quando ele e a minha tia morressem. [...] Daí ele morreu em 175 1992 e a minha tia morreu em 1998. [...] Durante todo o 99 eu fiz a recuperação da casa e transformando ela, pensando em receber turista, [...] banheiros, [...] fazer uma estrutura para receber o turista, [...] aí a sala ficou, o que era a sala, [...] a estar social, a gente botou 40 cadeiras, que é a capacidade de um ônibus, com vídeo cassete e televisão, fazia palestra ali (Proprietário). Nunca foi necessária a contratação de funcionários, o proprietário e sua esposa faziam a recepção dos turistas e os conduziam pelo interior do atrativo. A visitação da Casa, que tinha dois pavimentos, conforme relato do proprietário, iniciava no andar térreo, no qual os turistas assistiam a um vídeo sobre a Casa, Depois dali a gente saia e dividia, minha mulher saía com a metade, por exemplo ia pro sótão, onde tinha os documentos, a outra metade ficava comigo no chão, e depois a gente alternava, trocava, [...] daí assim em meia hora, uma hora no máximo via tudo, se conversava, e dali eles partiam para visitar o resto da Rota (Proprietário). Esta casa é um dos bens imóveis tombados pela Prefeitura como patrimônio cultural de Dois Irmãos pela Lei Municipal Nº 1.939 de 2002 (DOIS IRMÃOS, 2002) (Figura 42). Figura 42 - Casa Dienstmann Fonte: ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS (s/d) 176 O proprietário enfatiza a importância histórico-cultural da propriedade e principalmente da casa: Só veio um imigrante dos Dienstmann, com 49 anos de idade, com a segunda mulher e três crianças, sendo que uma morreu na viagem, e aqui tiveram mais 3. Então é só este Dienstmann que veio, nenhum mais. Então tudo que tem hoje aqui são descente deste um. [...] Naquela época cada colono recebia um lote deste, que tinha 100m de largura e 3km de comprimento. E aquele lote (da casa) era original que ficou até 2003 (Proprietário). A motivação que o proprietário teve para tornar a casa um atrativo turístico e se inserir na Rota Colonial "foi para preservar o que tinha lá" (Proprietário), que, segundo ele, era um extenso acervo de documentos, fotos, utensílios domésticos, máquinas de costura (sua tia era costureira), móveis e de acordo com o proprietário: [...] uma vez tendo isto (todo o arsenal de documentos e artefatos da família) foi só monta, claro, monta de uma maneira que fosse apresentável, [...] então a ideia original partiu daí. O recurso financeiro, a renda era uma decorrência, se tivesse dado certo. Eu sempre pensei que tinha que ser alto sustentável, o que nunca aconteceu isto. [...] Então em primeiro lugar a preservação, o retorno financeiro seria secundário (Proprietário). A ideia do proprietário foi então apresentar aos turistas uma moradia de um colono do início do século XIX, com todos os objetos e pertences deixados pelos antigos moradores (Figura 43). Figura 43 - Acervo da Casa Dienstmann Fonte: PLAZA (2000) 177 O turista, portanto, durante sua visitação tinha acesso aos diversos cômodos da casa, cada qual preparado como se uma família ainda habitasse o local e no sótão ficavam os documentos e outros objetos da família: Tinha nos quartos as camas arrumadas, com roupeiros, um berço, tinha uma sala de janta completa, [...] a gente comprava rosca e passava várias mãos de verniz, durava um ano, meio ano, depois esfarelava, [...] tinha todas as louças e talheres, [...] tinha um rádio que era do meu pai da década de 30, não funcionava, mas daí eu coloquei um autofalante novo dentro, e um gravador dentro da cristaleira e daí quando as pessoas chegavam eu botava uma fita de bandinha, [...] então ficava aquela música, que é o típico ambiente, [...] então tudo são coisinhas que enriqueciam pra mostrar o lugar. Só no sótão tinha oito vitrines com iluminação interna dividido por assuntos: documentos sociais - bailes, teatros, documentos oficiais - certidão de casamento, título de eleitor, tudo dividido por assunto. Daí jornais, coisas de moda, revista de modas, [...] minha vó era costureira, minha tia era costureira [...] então tinha um canto da costura, com máquinas, e cortinas que tinha feito. Daí meu vô foi marceneiro, [...] daí as coisas de marcenaria. Daí num canto tinha os brinquedos das crianças de antigamente, o que que tinha né. [...] Vinha bastante criança para ver como era os brinquedos, bolinha de gude, e outras coisas (Proprietário). Observa-se, a partir dos relatos do proprietário, que ele formatou o atrativo com muito interesse em realmente apresentar aos turistas a cultura e história da sua família (Figura 44). Ele menciona que foram investidos "60.000,00 mil reais" (Proprietário), na recuperação da casa, "todo o reboco externo foi retirado e refeito, madeiramento de telhado, alguma coisa foi trocado, aqueles banheiros com acesso aos portadores de necessidade especiais" (Proprietário), no jardim também foi realizada alguma melhoria. O dinheiro do investimento para reformas e melhorias é proveniente de uma herança recebida pelo proprietário. O atrativo Casa Dienstmann foi desativo, em 2003 pelo proprietário, após ter acontecido um forte temporal em Dois Irmãos, no qual a Casa foi atingida, danificando alguns objetos e documentos. O proprietário conta que a Prefeitura Municipal não prestou ajuda a ele quando do ocorrido: [...] uma vez deu um temporal. Numa fábrica de calçados, em janeiro de 2003, caiu uma parede, não sei se destelhou mais coisas. E este temporal atingiu lá em casa, [...] foi uma tira de vento e chuva, estreita e comprida, onde esta ventania passou. E daí encharcou um monte de coisa, e ninguém foi lá perguntar se precisava de alguma coisa, [...] como é que foi. [...] Ninguém, foi zero, zero de interesse. Daí tu fica chateado, tu te empenha tanto...(Proprietário). 178 Figura 44 - Apresentação da Casa Dienstmann Fonte: Folder Casa Dienstmann (2000) Além desse motivo, o proprietário já estava insatisfeito com algumas situações que vinham ocorrendo entre os integrantes da Associação da Rota. No entanto, a principal razão para o fechamento das atividades turísticas foi o episódio do tombamento da Casa Dienstmann como patrimônio cultural do município, no ano de 2003. O proprietário comenta que não havia sido avisado sobre o tombamento antecipadamente, [...] apenas mandaram um papel com 3 linhas dizendo que a casa estava tombada como patrimônio histórico. E junto, [...] é que eles mandaram junto, umas 10 folhas explicativas de como funciona um tombamento de imóveis, [...] eles não seguiram nada daquilo ali, que tem que chamar as pessoas que vão ser atingidas, fazer reuniões, explicar os motivos. Nunca nem me telefonaram, [...] e eu ia toda hora na Prefeitura, [...] e eu fui isolado desta coisa, porque de certo vários reagiram (Proprietário). Ele lamenta ter saído da Rota Colonial, uma vez que apreciava muito participar, pois considera que foram muitos os proveitos culturais e sociais que obteve com a montagem da Casa Dienstmann para que esta se tornasse um atrativo turístico, bem como com a participação na Rota e a interação com os turistas: 179 [...] o que eu posso te dizer com certeza, é que com o episódio da casa, não em função da Rota, mas com o episódio da casa, eu aprendi muito sobre família, sobre meus antepassados, isto ficou muito nítido, fiz até um e-book. Que entra o da família e entra o da casa também. Então é tanto documento, tanta carta que tinha, que eu fiquei só 5 anos mergulhando nesse negócio. [...] Então aquilo ali foi uma coisa enriquecedora para mim enormemente, uma satisfação muito grande. [...] quando eu herdei aquilo lá, e eu vi que aquilo tinha este potencial, eu fui atrás da Prefeitura para ver o que podia ser feito, e daí que eu fui descobri que estava em formação a Rota Colonial. [...] daí neste ponto, a gente aprendeu muito no geral assim, foi um aprendizado, ninguém me obrigou de entrar, eu acreditei (Proprietário). O proprietário enfatiza que mesmo com o retorno financeiro bastante baixo, não teria sido esse o motivo que o faria desistir do roteiro, mas somado a outros problemas que ocorreram, motivou o afastamento do roteiro bem como vender a propriedade e todo o seu acervo. 5.2 PONTOS DE APOIO AO ROTEIRO Para esta pesquisa, os três estabelecimentos seguintes foram considerados Pontos de Apoio ao Roteiro, uma vez que não possuem visitação, apenas comércio, seja gastronômico, como o Kioske da Rota e o Kaffe Haus ou de produtos artesanais, como é o caso do Atelier Leila Blauth. 5.2.1 Atelier de Arte Leila Blauth O Atelier de Arte esteve na Rota Colonial Baumschneis do ano 2000 até 2011. No Atelier era exposto o artesanato produzido pela artesã, ou seja telas pintadas com paisagens da zona rural de Dois Irmãos e, principalmente, dos atrativos do roteiro. A artesã relata que também fazia artesanato em madeira, pintava peças pequenas com motivos da colônia, no entanto o que mais produzia eram as telas, "eu trabalhava com quadros [...] eu fazia muito quadro das paisagens rurais" (Proprietária). Neste sentido, no Atelier de Arte havia somente a exposição do seu artesanato, não havendo uma visitação maior do local (Figura 45). A propriedade, onde se localizava o Atelier de Arte Leila Blauth, pertence à família da artesã há duas gerações. A administração da propriedade é de responsabilidade da sua mãe. A artesã apenas transformou um dos prédios da propriedade para acomodar seu artesanato, conforme relata: "fechei um galpão, reformei um pedaço para transformar no atelier" (Proprietária). Entretanto ela 180 lamenta a maneira como era o seu espaço: "o meu foi fechado assim tipo um chalezinho, tipo assim eu não chamava atenção da parte externa, eu confesso que eu não me contentava" (Proprietária). Figura 45 - Quadros do Atelier de Arte Leila Blauth Fonte: ROTA COLONIAL BAUMSCHNEIS (s/d) A artesã e proprietária do Atelier é solteira, cursou o ensino médio completo, e tem uma filha. Ela alude o seu ingresso na Rota Colonial Baumschneis ao interesse em querer divulgar o seu trabalho, ampliando as possibilidades de comercializar os seus produtos e consequentemente melhorar a aumentar sua renda. A artesã destaca que sua participação na Rota lhe propiciou algumas oportunidades de trabalho, [...] de certa forma, mais no início, quando vinha bastante gente, meu trabalho foi mais divulgado [...] eu cheguei uma época, através de um turista, [...] eu fiz quase trinta quadros de toda a história cultural de São Leopoldo, [...] o senhor me conheceu na rota (Proprietária). Ao fazer referência aos quadros, ela destaca que "alguns foram para Porto Alegre, [...] um deles foi pra Alemanha" (Proprietária). Entretanto, ela lembra que 181 havia dificuldade em vender seus produtos, sendo, talvez, pelo baixo poder aquisitivo dos turistas ou o interesse do turista estar mais relacionado às propriedades rurais e aquisição de produtos coloniais, do que adquirir uma tela ou artesanato: [...] eu tenho que falar a verdade, eu não vendia praticamente nada lá no meu, porque, eu vejo assim, o aposentado não precisa comprar, minhas coisas supérfluas [...] minha vizinha do Mundo dos Ovos vendia bem, cucas, essas coisas assim, no meu caso, eles olhavam, agradeciam e saíam [...] e se fossem pessoas com poder aquisitivo melhor talvez iam comprar mais. [...] O pessoal queria assim, [...] descê e vê coisas, vê campos, os animais, que nem, [...] no Colhe e Pague é assim, no Mundo dos Ovos podia í até o galinheiro pega ovos, e no meu não tinha nada assim, a não se tu olha o meu trabalho, compra ou não e deu (Proprietária). A artesã menciona também que a divulgação do seu trabalho e do seu atrativo, o Atelier, não foram adequados, como também, na sua opinião, a divulgação da Rota não foi suficiente, pois "no início tava bom, eu não posso me queixar, mas pra mim de uma hora para outra assim, [...] quando os ônibus pararam de vim visitar, eu fui notando que estava sem divulgação" (Proprietária). Outro aspecto que fez ela se afastar foram os resultados financeiros obtidos com o turismo, os quais, na sua opinião, foram muito aquém do que esperava. Mas, mesmo assim, ela afirma que a partir da inserção da Rota Colonial Baumschneis no bairro Travessão, o mesmo "foi mais visitado na época, aumentou o fluxo de pessoas" (Proprietária), o aprendizado e as experiências vivenciadas durante os onze anos de que fez parte do roteiro foram muito satisfatórias. 5.2.2 Restaurante Kioske da Rota Este ponto da Rota Colonial Baumschneis é interpretado nesta pesquisa como um estabelecimento comercial, e não como atrativo de contemplação ou ponto turístico para visitação, uma vez que o local apenas serve refeições, não havendo atrações aos turistas. O restaurante Kioske da Rota localiza-se junto à Rua Alberto Rübenich, estando a seis quilômetros do centro de Dois Irmãos. A proprietária é empresária, viúva e tem o ensino médio completo. Ela possui apenas um filho. O empreendimento foi integrado ao roteiro no ano de 2005, por iniciativa da proprietária, a qual mora ao lado do restaurante e considerava que a sua inclusão na 182 Rota traria um aumento nos rendimentos do seu estabelecimento comercial e uma melhoria na qualidade de vida, a partir da convivência com os turistas. O afastamento do empreendimento da Rota ocorreu em 2010. Em virtude do trabalho que a atividade comercial lhe tomava, impedindo uma maior dedicação ao filho, que tinha dez anos de idade na época, a proprietária resolveu alugar o espaço para terceiros, se limitando aos ganhos do aluguel. O Kioske da Rota funcionava de segunda a segunda e servia aos clientes e turistas comida caseira. Junto ao restaurante havia uma área verde, a qual poderia ser visualizada e apreciada por aqueles que estavam realizando suas refeições. O investimento realizado foi apenas da construção do prédio que abrigava o restaurante, não fazendo nenhuma melhoria a partir do momento que se associou ao roteiro (Figura 46). Figura 46 - Restaurante Kioske da Rota Fonte: Própria autora (2014) A proprietária considera que uma das dificuldades em permanecer no turismo é a característica sazonal que ele tem, e menciona que os resultados, durante os cinco anos em que fez parte da Rota foram bons, porém não havia muita frequência de turistas, ficando o movimento abaixo do que ela esperava. Ela mencionou que no início recebia muitos grupos, mas depois houve uma diminuição: 183 Em 2005, 2006, a Rota tava um pouco melhor, porque a pessoa que era encarregada lá na Prefeitura, do turismo, quando vinha visitantes de Porto Alegre e Caxias ou outros lugares, ela sempre encaminhava então pro almoço de meio-dia pro restaurante Kioske da Rota, não deixava eles irem lá pro centro, em outro restaurante. Sempre conduzia o pessoal aqui. Essa mulher seguido me ligava perguntava - "vou te mandar um excursão, pra que horas tu pode oferece o almoço e tal". [...] Aí naquela época, seguindo vinha excursão pra cá, só que nos últimos anos nunca mais apareceu ninguém, não sei porque, se não vem mais pessoal procurando, ou o que tá acontecendo não sei (Proprietária). Entretanto, a mesma afirma que pretende retomar a administração do restaurante daqui a dois anos. Como existe o interesse do seu filho pela gastronomia, ela pretende assumir novamente o Kioske da Rota e, juntamente com o filho, fazer melhorias e investimentos no espaço, como traçar algumas trilhas e colocar churrasqueiras na área verde, para que assim, se torne mais atrativo aos clientes e turistas. 5.2.3 Restaurante Kaffe Haus O Kaffe Haus, assim como o Kioske da Rota, é outro local identificado, nesta pesquisa, como um estabelecimento comercial, sem ser incluído na relação de atrativos ou propriedades com visitação turística. Nesse estabelecimento não foi possível realizar a entrevista, dessa forma, as informações constadas aqui foram retiradas dos materiais de divulgação e outros documentos da Rota Colonial Baumschneis. Localizado no entroncamento da Rua Alberto Rübenich e a BR 116, o restaurante existe há muitos anos, mas só foi incluído na Rota por volta de 2006. Ele é aberto somente aos finais de semanas, sendo servidos em ambos os dias comida caseira ao meio-dia e, aos domingos, também há a opção do café colonial. A grafia do nome do restaurante é na Língua Alemã, porém observa-se na Figura 47 que o estilo do prédio não faz jus ao seu nome, pois apresenta uma arquitetura bastante comum para qualquer estabelecimento comercial, não obedecendo características do estilo germânico. 184 Figura 47 - Restaurante Kaffe Haus Fonte: Própria autora (2014) 5.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS Esta pesquisa se propôs a realizar um estudo longitudinal da Rota Colonial Baumschneis. Optou-se, primeiramente, apresentar a trajetória de como o roteiro foi constituído, quais foram os envolvidos na sua criação e as etapas realizadas. Após, foram descritos todos os atrativos e equipamentos da Rota Colonial Baumschneis, que integraram o roteiro, durante os quatorze anos de sua existência, apresentando suas características, potenciais e atrações turísticas, bem como as motivações que induziram os proprietários a integrar o roteiro e, no caso dos proprietários que não mais fazem parte do roteiro, as razões que os levaram a se desligar. Portanto, neste momento, a Rota Colonial Baumschneis será analisada de forma mais abrangente, considerando as respostas das entrevistas e os demais dados coletados nas pesquisas bibliográfica e de campo. Cabe ressaltar que os dados aqui analisados estarão sempre articulados às vozes dos proprietários dos empreendimentos, uma vez que foi esta a metodologia aplicada. A intenção foi estudar a Rota, a partir do relato dos proprietários, confrontando e comparando com as demais informações coletadas e assim analisar como aconteceu o desenvolvimento da Rota Colonial Baumschneis nesses quatorze anos. 185 O processo da criação da Rota Colonial Baumschneis ocorreu depois da realização do Programa Turismo com Qualidade desenvolvido pelo Sebrae/RS, em 1998, na região do Vale do Rio dos Sinos, onde Dois Irmãos se localiza. Nesse programa foram ofertados cursos, nos quais alguns dos proprietários, que hoje ainda integram a Rota Colonial, estiveram presentes. Esses cursos, juntamente com o incentivo do Poder Público Municipal e, especificamente, conforme relato dos proprietários, do Prefeito Sr. Juarez Stein (1997-2004) e do Chefe de Departamento de Turismo, Sr. Laurindo Julien (1997-2004), fizeram com que os proprietários se interessassem pela proposta e se engajassem na criação e implantação da Rota Colonial Baumschneis. Alguns Sujeitos descrevem como este fato ocorreu: "a partir da prefeitura, da comunidade, nós fomos conhecer outra rota" (Sujeito 4); "eles tavam procurando coisas antigas, daí eu recebi o convite" (Sujeito 7); "a ideia da Rota iniciou com a Emater, Sebrae, prefeitura e a comunidade do Travessão Rübenisch, - com os colonos no caso, né. Eles pegaram quem queria participar e levaram para conhecer um lugar, uma Rota, que já existia para dizer "olha, vai ser mais ou menos assim que a gente pretende fazer" (Sujeito 1). O Sr. Juarez Stein incentivou a criação da Rota Colonial como forma de propiciar, aos moradores da zona rural, a permanência no campo, a partir de uma nova fonte de renda, o turismo. Acontecia neste período, década de 1990, a crise no setor calçadista e a economia do município de Dois Irmãos, até então pautada, quase que exclusivamente neste setor, necessitava de nova alternativa de emprego/renda para a população rural. Outro fator evidenciado na pesquisa, para a criação da Rota foi a inserção de Dois Irmãos na Rota Romântica, em 1996, e, a partir desse ingresso foi vislumbrada a possibilidade de Dois Irmãos se inserir ainda mais no mercado turístico, com a criação de um roteiro municipal e, esperando assim, conquistar parcela dos turistas que fossem transitar pela Rota Romântica. Os proprietários relatam que participaram durante o período de criação e implantação da Rota Colonial, de diversos cursos, oferecidos pelo Sebrae/RS. Foram feitas visitas a outros roteiros rurais e cidades turísticas, para que pudessem utilizar e implementar os conhecimentos adquiridos em seus empreendimentos, como por exemplo, visitaram o município de Foz do Iguaçu, no estado do Paraná. Gastal e Moesch (2007, p. 48) evidenciam que deve haver esta participação dos proprietários e moradores locais, eles "devem ser ouvidos, por meio de metodologias 186 participativas e respeitados por serem capazes de, muitas vezes, indicar caminhos ao planejador com seu saber real". O envolvimento da comunidade nos dois anos de criação e implantação do roteiro, 1998 a 2000, foi enfatizado pelos proprietários como muito positivo, pois puderam expor suas opiniões e compartilhar da criação do roteiro que eles iriam desenvolver em seus empreendimentos. Elesbão (2005) afirma que: [...] desenvolver o turismo no espaço rural implica trabalhar e interagir com o homem do campo. Daí advém a importância da integração entre as pessoas envolvidas no desenvolvimento da atividade turística com os profissionais que já trabalham e têm conhecimento da realidade local, das características e potencialidades da região e dos próprios agricultores (p. 207). Santana (2002) ressalta que a participação dos envolvidos torna-se uma ferramenta importante no processo de desenvolvimento de atividades turísticas em áreas rurais e que eles não podem ser deixados à margem deste processo. A participação dos residentes deve ir além da mera consulta, de modo que estes devem ser informados sobre os possíveis custos e benefícios, e integrados no projeto e na tomada de decisões, considerando os costumes 36 locais e a divisão sexual do trabalho (p. 35). O Sujeito 1 menciona que o grupo conheceu outros roteiros, como os Caminhos de Pedra, "nós fomos conhecer e, uma nós fomos em Santa Catarina, por causa do projeto, nos dois anos de planejamento". Ele conta que as despesas destas viagens foram pagas pelo Sebrae, pela Prefeitura Municipal e pelos empreendedores, que participavam dessas atividades. De maneira geral, todos os proprietários entrevistados ressaltaram que houve esse envolvimento inicial, que se sentiram participantes de todo o processo e que as ideias sugeridas pelo Sebrae, Emater, Sindicato e Prefeitura foram muito úteis e auxiliaram na adequação de suas propriedades para serem transformadas em atrativos turísticos, não descaracterizando seus espaços. Os autores Oliveira e Kraisch (2006) enfatizam que o turismo no espaço rural deve ser desenvolvido levando-se em conta as ideias principais de sua criação, ou seja, 36 Tradução livre da autora para o seguinte texto original de Santana (2002, p. 35): "la participación de los residentes debe ir más allá de la mera consulta, manteniéndoles informados de los posibles costos y beneficios y, sobre todo, buscando su integración en el diseño del proyecto y toma de decisiones" 187 [...] em todas as etapas do processo de desenvolvimento do turismo rural, não poderão ser esquecidos os objetivos principais propostos, como a autenticidade do local, da cultura do local, a continuação das atividades do campo e o atendimento familiar (p. 247). Integraram a Rota Colonial Baumschneis, desde sua implantação no ano 2000, até hoje, um total de vinte e três atrativos turísticos, sendo que ocorreram oscilações quanto ao número total de atrativos do roteiro no período de tempo compreendido entre os anos de 2000 e 2014, conforme mostra o Gráfico 3. Gráfico 3 - Histórico da Rota Colonial Baumschneis 18 18 17 17 17 16 16 16 16 15 15 Entradas e saídas 14 13 13 20002002200320052010201120122014 Fonte: Pesquisa de campo (2013-2014) A Rota iniciou, no ano 2000, com quinze locais de visitação. Em 2005 atingiu o número de dezoito atrativos, sendo esse o ano em que mais estabelecimentos fizeram parte do roteiro, diminuindo para dezessete em 2010 e reduzindo para dezesseis em 2012. Pela a falta de informações precisas dos desligamos do roteiros de alguns atrativos, tem-se hoje, constatado a existência de treze atrativos na Rota. No total de vinte e três pontos de visitação do roteiro, seis locais não fazem parte da listagem de entrevistas, pois não possuem proprietários: Ponte de Pedra, Museu Histórico Municipal, Cemitério Evangélico, Salão Jacob Feiten, Centro de Dois Irmãos e Praça do Imigrante. Os outros dezessete pontos de visitação que integraram a listagem dos empreendimentos, foram contatados para a realização das entrevistas. Compõem esta listagem os seguintes locais: Propriedade Rural Cerro Bela Vista, Casa Rübenich, Moinho Collet, Kaffe Haus, Sítio Ecológico Falkoski, Cervejaria Hunsrück, Casa Dienstmann, Armazém Scholles, Casa da Colônia Klaus, Campo 7 Amigos, Serraria e Carpintaria Becker, Propriedade Rural Ignácio Stoffle, Convento Doce - 188 Casa de Chá, Mundo dos Ovos, Atelier de Arte Leila Blauth, Kioke da Rota e Casa Velha - Colha e Pague. Em virtude de alguns contratempos, não foi possível a realização das entrevistas em todos os empreendimentos, uma vez que o proprietário da Casa Rübenich não foi localizado, impossibilitando a entrevista e, em outros três estabelecimentos, Kaffe Haus, Propriedade Rural Cerro Bela Vista e Moinho Collet também surgiram dificuldades com a coleta de informações, por não haver retorno dos contatos ou pela indisponibilidade de tempo do proprietário. Nesse sentido, o universo da análise se ateve a treze empreendimentos. Dentre os treze proprietários dos empreendimentos entrevistados, oito iniciaram suas atividades turísticas juntamente com a implantação da Rota Colonial Baumschneis, sendo que desses oito locais, cinco ainda permanecem no roteiro. A motivação que levou os proprietários dos treze empreendimentos a integrar a Rota Colonial e receber turistas em suas propriedades, foi exposta por eles de forma individualizada, ensejando várias respostas, conforme apresenta o Gráfico 4, que foi elaborado com a possibilidade de múltipla escolha. Gráfico 4 - Motivação para ingressar na Rota Colonial Baumschneis 120% 100% Aumentar a renda 100% Melhorar a qualidade de vida 80% Belezas naturais da propriedade 62% 62% 60% 52% 52% Residir na propriedade 38% 40% Interação com os turistas 20% 15% Preservar o patrimônio da propriedade 0% Outros Fonte: Pesquisa de campo (2013-2014) Analisando as respostas dos entrevistados, pode-se verificar que o aumento da renda foi a motivação maior, uma vez que houve consenso nessa afirmação, ou seja, 100% dos treze entrevistados indicaram que almejavam, com o turismo, aumentar seus rendimentos mensais, acreditando que, ao participar do roteiro, melhorariam a sua receita. Esse mesmo motivo foi apontado por 68% dos 189 proprietários rurais, na pesquisa de Santos (2004), sobre o Agroturismo e o Turismo Rural em propriedades da Metade Sul do estado do Rio Grande do Sul, destacando que os motivos econômicos representam a maioria das iniciativas, para se desenvolver o turismo, em diferentes espaços rurais. A comodidade de morar no local, onde seriam desenvolvidas atividades turísticas e/ou ofertados serviços e produtos aos turistas, possibilitando que continuassem residindo na área rural, foi apontada por 62% dos entrevistados. A intenção em preservar o patrimônio da propriedade também obteve 62% de respostas. Apenas como forma de comparação, nas propriedades da Metade Sul este percentual atingiu 47% das respostas dos proprietários rurais (SANTOS, 2004). Ao receber turistas em seus empreendimentos, houve a possibilidade de maior convívio com diferentes pessoas, aprender coisas novas, e assim aumentar a qualidade de vida. Esse motivo foi apontado por 52% dos entrevistados. A qualidade de vida é aqui compreendida, como a possibilidade de morarem em suas áreas de terra, exercendo nesse local o seu trabalho, com melhorias nos rendimentos familiares, além de interagirem com os turistas que, segundo suas opiniões, é "muito bom e gratificante" (Sujeito 10). Este desejo dos proprietários em conviver com diferentes pessoas é apontado por Santos (2004, p. 98), ao mencionar "que a atividade primária o deixa muito isolado do convívio social", principalmente àquele que trabalha exclusivamente com a atividade agrícola. Em seu estudo, o autor constatou que 46% dos proprietários passaram a desenvolver a atividade turística, porque tinham o interesse de obter maior convivência social no campo (SANTOS, 2004). Elesbão (2005, p. 209) também se refere a este fato, ao afirmar que "um dos resultados mais visíveis do desenvolvimento do turismo no espaço rural nos municípios é a melhoria do nível de vida". A administração das propriedades da Rota são, na sua grande maioria, exercidas pelos próprios proprietários, mais especificamente, por 92% deles e, apenas na Propriedade Rural Ignácio Stoffel a administração é feita pelo filho. Ao se analisar a administração das propriedades quanto ao gênero, verifica- se que em 62% das propriedades a administração é realizada pelo sexo masculino e, em 38% pelas mulheres, conforme apresenta o Gráfico 5. 190 Gráfico 5 - Administração das propriedades 38% 62% Masculino Feminino Fonte: Pesquisa de campo (2013-2014) Evidencia-se, a partir dos dados da pesquisa, que dos treze empreendimentos pesquisados cinco são administrados por mulheres. Conforme coloca Santos (2004, p. 69), muitas dessas mulheres, proprietárias, tornam-se viúvas ou recebem a propriedade "como herança de seus pais, [...] ao invés de vendê-las, elas têm comandado estes empreendimentos com grande afinco", fato similar ao referido pelo autor ocorre no Mundo dos Ovos, cuja proprietária é solteira e herdou a propriedade dos pais, assumindo, assim, a administração da atividade turística e agrícola. Outro exemplo é a proprietária do Kioske da Rota, que assumiu sozinha a administração do restaurante, após a morte do seu marido. O atrativo turístico Convento Doce - Casa de Chá não possui exploração agrária e a atividade turística realizada na propriedade é administrada pelo casal, entretanto a proprietária relatou que as funções administrativas ficam sob sua responsabilidade. Nesse empreendimento, a iniciativa para organizar, na propriedade, atividades ligadas ao turismo e a eventos, foi decisão da proprietária, bem como de integrar a Rota Colonial Baumschneis. No atrativo denominado Casa da Colônia Klaus, a propriedade pertence ao casal, todavia, quem administrava a atividade turística, organizava e recebia os turistas era a mulher. A porcentagem de 38% de administração feminina, no roteiro, é um indicativo da presença, cada vez maior, das mulheres em várias atividades. A mulher está assumindo novas funções na sociedade, sendo vista, assumindo gerências, diretorias e também como proprietária e administradora em diferentes negócios, "deixando de lado a prerrogativa de sua invisibilidade ou da marginalização do trabalho" (LUNARDI, 2010, p. 246). No mundo rural essa 191 realidade atual não poderia ser diferente, uma vez que conforme Lunardi (2010) a mulher [...] se constitui um importante agente dinamizador do mundo rural, sendo a principal incentivadora em iniciativas inovadoras de desenvolvimento rural, pois trazem consigo o saber/fazer que dinamiza as economias locais, impulsionando o desenvolvimento de novas atividades, como as agroindústrias e o turismo rural, entre outras (p. 246). No Sítio Ecológico Falkoski a administração é realizada, principalmente, pelo homem, contudo, a esposa está presente em todas as atividades, relacionadas ao manejo da terra e ao turismo. De acordo com Lunardi (2010), em propriedades que possuem a agricultura familiar, como é o caso do Sítio Falkoski, [...] é sabido que a participação da mulher no desenvolvimento econômico e social das unidades de produção familiares sempre foi, em todos os tempos, porém com configurações distintas, muito importante. Com a inserção de novas atividades na propriedade e o desenvolvimento da pluriatividade, sua participação se tornou mais evidente e seu papel assumiu posição central no desenvolvimento de atividades estritamente relacionadas com as atividades domésticas, como o artesanato, as agroindústrias e o turismo rural (p. 248). No caso do Sítio Falkoski observou-se que não há trabalho diferenciado entre o homem e a mulher, o casal participa sempre junto de todas as atividades e as divide de acordo com as necessidades exigidas. Neste sentido, fica evidenciado que a atividade administrativa das propriedades da Rota Colonial Baumschneis é ainda executada, na sua maioria, pelo sexo masculino, principalmente nos empreendimentos onde ainda ocorre a produção agropecuária. Entretanto, nos atrativos mais voltados ao artesanato e nos quais se ofertam refeições ou vendem produtos artesanais, como bolachas, pães e outros alimentos, a administração está a cargo das mulheres. Outro levantamento relevante a ser ponderado nessa análise diz respeito ao nível de escolaridade dos proprietários. Conforme apresenta o Gráfico 6, constata-se que o maior número de proprietários, 39%, não concluíram o ensino fundamental. 192 Gráfico 6 - Escolaridade dos proprietários 39% 23% 23% 15% Ensino Ensino Ensino Ensino Fundamental Fundamental Médio Superior incompleto completo Fonte: Pesquisa de campo (2013-2014) Segundo dados do IBGE, o índice da população brasileira com mais de vinte e cinco anos que não tem o ensino fundamental completo é 49,25%, e "o índice é mais alto em áreas rurais, onde 79,6% dos brasileiros nessa faixa etária não terminaram o ensino fundamental" (UOL, 2012). Esses dados demonstram a menor frequência ao ensino escolar dos residentes da zona rural em relação àqueles da área urbana. Os proprietários da Casa Dienstmann e da Cervejaria Hunsrück são os únicos que cursaram o Ensino Superior, estudando os cursos de Ciências Contábeis e Administração de Empresas, respectivamente. Na análise dos treze empreendimentos, verifica-se que são exercidas, pelos seus proprietários, sete profissões diferentes: agricultor, comerciante, dona de casa, artesã, empresário, funcionário público aposentado, conforme apresenta o Gráfico 7. Gráfico 7 - Atividade profissional dos proprietários 8% Agricultor 8% Empresário 30% 8% Dona de Casa Artesão 8% Carpinteiro 8% Funcioário Público 30% Comerciante Fonte: Pesquisa de campo (2013-3014) 193 Dentre as atividades profissionais que os donos das propriedades exercem, a que mais se sobressai é a de agricultor, com 30% e de empresário, também com 30%. Fazem parte desse último grupo, os proprietários da Cervejaria Hunsrück e do Campo 7 Amigos e as proprietárias do Kioske da Rota e do Convento Doce. Através desta realidade, apresentada pela pesquisa, é possível se ter o indicativo da pluralidade de aptidões dos profissionais que administram os empreendimentos turísticos da Rota Colonial. Este aspecto também se torna importante, pela diversidade de experiências, ideias e opiniões possíveis de serem apresentadas em reuniões da Associação, aspecto que contribui para decisões mais elaboradas e embasadas. Na descrição e caracterização dos atrativos turísticos da Rota Colonial Baumschneis, pode-se perceber a diversidade de pontos de visitação que abrangem o trajeto do roteiro. Assim sendo, podem ser encontradas na Rota Colonial Baumschneis as duas modalidades do Turismo no Espaço Rural: Agroturismo e Turismo Rural. As propriedades Sítio Ecológico Falkoski, Propriedade Rural Ignácio Stoffel, Mundo dos Ovos e Casa Velha Colha e Pague são os quatro atrativos da Rota Colonial que possuem exploração agrícola e se enquadram no Agroturismo, representando 31% do total de empreendimentos da Rota, conforme o Gráfico 8. Gráfico 8 - Propriedades com atividade agrária 100% 31% 50% 69% 0% Possuem atividade agrária Não possuem atividade agrária Fonte: Pesquisa de campo (2013-2014) Cada uma destas quatro propriedades possui suas características de exploração, mas todas têm um aspecto em comum, a "produção agropastoril em escala econômica representa a maior fonte de rendimento da propriedade, sendo o 194 turismo uma receita complementar" (SANTOS, 2004, p. 22). Para Beni (2002) o Agroturismo se distingue do Turismo Rural por ser a atividade agrícola a maior fonte de renda e também, por proporcionar aos turistas a opção em participar ou não das atividades agropastoris da propriedade. Candiotto (2010) também se manifesta sobre esse tema, onde destaca que [...] o diferencial do agroturismo em relação ao turismo rural diz respeito à participação direta e/ou indireta do turista em atividades comuns dos agricultores, como plantio, colheita, ordenha, entre outras. [...] o agroturismo diz respeito à vivência e participação dos turistas em atividades agropastoris. [...] as atividades agropecuárias, além de antecederem o turismo, são os grandes atrativos turísticos [...] (seja através do contato com plantações e animais, da oferta de refeições, ou da compra e consumo de produtos alimentares in natura ou processados) (p. 13-14). Nesse sentido, estes quatro atrativos têm seus rendimentos pautados na produção agrícola e o turismo ocorre como uma atividade complementar. Na Propriedade Rural Ignácio Stoffel, existe a possibilidade da observação das culturas agrícolas e o manejo com os animais; no Sítio Ecológico Falkoski e na Casa Velha Colha e Pague é realizado a visitação à produção de hortifrutigranjeira, sendo nesta última facultada a possibilidade da colheita direta da horta e pomar; no Mundo dos Ovos, o turista tem a interação com o manejo das galinhas e, se preferir, pode ele mesmo recolher os ovos dos ninhos. Nestes três últimos empreendimentos são comercializados também diversos produtos coloniais fabricados nos próprios locais, como Schmiers, bolachas, Spritzbier, entre outros. É possível afirmar que, a partir desses dados, a Rota Colonial Baumschneis proporcionou a manutenção do agricultor no campo, conquistando um de seus objetivos. Além dos proprietários continuarem desenvolvendo as atividades primárias, que sempre foram realizadas pelas suas famílias, vincularam a essas as atividades turísticas, com o intuito de permanecer na propriedade e aumentar seus rendimentos econômicos. Por haver o exercício de atividades não agrícolas, como o turismo, juntamente com a agrícola, essas quatro propriedades são caracterizadas como pluriativas. Silva (1997) se refere ao agricultor que possui em sua propriedade esta pluriatividade como alguém que combina: [...] atividades agropecuárias com outras atividades não-agrícolas, dentro ou fora de seu estabelecimento, tanto nos ramos tradicionais urbano- 195 industriais, como nas novas atividades que vem se desenvolvendo no meio rural, como lazer, turismo, conservação da natureza, moradia e prestação de serviços pessoais. Dessa forma, a pluriatividade torna-se a marca fundamental desse novo agricultor, o qual começa a valorizar as oportunidades disponíveis em sua propriedade que possam ser transformadas em aumento de renda. Schneider (2009) ainda ressalta que a pluriatividade: [...] poderá representar uma alavanca importante ao processo de desenvolvimento das áreas rurais, pois permite gerar formas de trabalho e renda que se assentam tanto nas capacidades dos indivíduos como nas condições existentes nos contextos locais (p. 25). Ribeiro e Vareiro (2007) consideram o TER como uma das atividades que melhor proporciona a revitalização dos espaços rurais, constituindo-se o turismo como fator de diversificação das atividades da propriedade, a partir do uso dos recursos, história, tradições e culturas presentes nestas áreas, pois "quanto mais a economia se globaliza, mais a sociedade tem necessidades de criar suas âncoras locais, [...] visando diversificar a atividade econômica" (OLIVEIRA; DIAS; ROSA, 2009, p. 165). Dentre os empreendimentos turísticos que se localizam na zona rural, abrangem o Turismo Rural aqueles em que sua renda não esteja vinculada especificamente à atividade agrícola, sendo essa mais voltada ao turismo ou outras atividades. Tulik (2003, p. 09) compreende o TR como "uma expressão empregada, geralmente, de modo extensivo a qualquer atividade turística no espaço rural”. Ortiz (2008, p. 229) corrobora com a colocação de Tulik (2003), ao afirmar que "o turismo rural seria como 'toda a atividade turística desenvolvida no meio rural'37". Sendo assim, o TR é aqui compreendido por espaços onde o turista desfruta do ambiente rural por meio de diversas atividades. Nas propriedades da Rota Colonial Baumschneis, onde ocorre o TR podem ser realizados passeio de carroça e eventos; há possibilidade de apreciação da paisagem, caminhadas em meio à mata, contemplação de edificações históricas, comercialização de artesanato; também existem espaços com piscinas e para realização de esportes, entre outras atividades. Campanhola e Silva (2000) afirmam que 37 Tradução livre da autora para o seguinte texto original de Ortiz (2008, p.229): "rural tourism would be like 'every tourist activity developed in the rural environment'". 196 A diversidade das situações agrárias, das rendas, dos povoamentos e do meio físico levam a modelos diferentes de desenvolvimento do turismo no meio rural. Há uma relação direta entre o turismo realizado em áreas rurais e as características sociais, econômicas e ecológicas de cada local. [...] as oportunidades são locais e muito particulares (p. 152). Dessa forma, na Rota Colonial Baumschneis foram adaptadas atividades que estivessem ligadas ao que a propriedade produzia e/ou o que seria possível ser realizado, de acordo com os recursos existentes no local. Portanto, todas as atividades que estão sendo realizadas e oferecidas aos turistas na Rota Colonial Baumschneis, evidenciam a multifuncionalidade que o espaço rural atualmente apresenta e a viabilidade de ganhos financeiros e valorização da cultura e história que elas possibilitam, ou seja, "observa-se que a atividade turística rural ocorre juntamente com múltiplas realidades que ocorrem no mesmo espaço38" (ORTIZ, 2008, p. 229). Conforme afirma Rubelo (2005), emerge uma nova realidade no espaço rural, [...] fica evidente que a renda da família que habita a área rural, não está mais relacionada à atividade agrícola única e exclusivamente, e em certos casos, também não é a mais importante. [...] Devemos considerar que o potencial turístico das áreas rurais estimula a economia local (p. 08-11). Foi com esta pretensão, de estimular a economia local, que a Rota foi criada. No entanto, o fator econômico foi o menos desenvolvido durantes estes quatorze anos. Ao serem questionados sobre resultados financeiros alcançados desde que integraram à Rota, apenas dois proprietários consideram que ela é rentável para seus estabelecimentos e permanecem no roteiro por esse motivo, sendo eles a Casa Velha - Colhe e Pague e a Cervejaria Hunsrück. Estas afirmações, quase que isoladas, permitem interpretar que a Rota Colonial Baumschneis, para dois proprietários, é fator de desenvolvimento de seus empreendimentos e que o retorno foi satisfatório e significativo. Os demais proprietários têm opiniões diversificadas, não havendo um dado uniforme, uma vez que esta questão tinha caráter aberto, de múltipla escolha, dando a opção ao entrevistado assinalar mais de uma resposta. Dessa forma, 32%, consideram que o retorno foi abaixo do que esperavam, referindo-se ao fato de não estarem lucrando quanto imaginavam que aconteceria. O Sujeito 9 relata: 38 Tradução livre da autora para o seguinte texto original de Ortiz (2008, p. 229): "it is observed that rural touristic activity takes place along with multiple realities that occur in the same space". 197 [...] foi trabalhado muito em cima do turismo de pacotes fechados, com ônibus, excursões, ou grupos, [...] esta parte não vingou muito, até hoje não vingo. [...] um e outro grupo vem, só que não é a demanda como nos foi passada nestes cursos que o Sebrae deu, né. Este descontentamento, gerado pela ausência das excursões, também é salientado por parte de outros proprietários, como destaca o Sujeito 1, quando conta que havia sido feita uma promessa pelo Sebrae, da vinda de vários grupos de excursões: [...] até eu já cobrei do Sebrae, uns anos atrás, que eles trabalhavam muito em cima de grupos. Não, vai ser que nem em Bento (referindo-se aos Caminhos de Pedra), ou que seja, né, vai vir tantos grupos, assim, assim, assim. [...] Trabalharam muito em cima dos grupos e não trabalharam em cima do turista de carro. [...] Então, muita gente se decepciono por causa disso, né, e esperavam, [...] não, vai vir ônibus, excursão, isto e aquilo e aquilo, só que não se lembravam de trabalhar em cima do turista particular. [...] Isto a gente já cobrava, eu sempre falava isto dentro das reuniões, mas daí eles - "ah não, mas vai ser mais excursões, isto e aquilo". Pelo comentário do Sujeito 1, o fluxo de ônibus de excursão não se concretizou conforme o previsto. Segundo o que foi ressaltado por alguns, nos primeiros três anos tiveram mais visitas agendadas para grupos. Todavia, essas previsões ficaram aquém do que lhes fora prometido. Essa significativa diminuição deste público foi um dos argumentos, mencionados nas entrevistas, que criou o clima de descontentamento e de desmotivação com as atividades na Rota. O Sujeito 1 expõe que ele tinha uma ideia diferente dos demais e, talvez por este motivo, tenha se mantido mais otimista com relação à Rota Colonial e ao fluxo de visitantes: [...] porque hoje né, eu sobrevivo do grupo de família, que vem de carro né, então esta é a melhor que tu tem para atende, é mais fácil de tu atende, de trabalhá, porque uma excursão, né, daí amontoa tudo aqui dentro, ou lá fora, né, [...] perde o controle quase, né, muita gente ao mesmo tempo. [...] no meu modo de ver, eu prefiro atender o carro do que os grupos. Mas nada contra os grupos, se vier a gente atende, né, mas o mais prático para tu atender é o de família. De acordo com a sua opinião, ele prefere atender famílias vindas em carros particulares, pois considera que assim consegue realizar um atendimento melhor, mais personalizado. Para 23% das opiniões, os resultados obtidos, desde que participam da Rota, foi considerado bom, apesar de ocorrer de forma sazonal. Essa característica do turismo, a sazonalidade, é enfatizada por Lohmann e Panosso Netto (2008, p. 198 428), como "uma faceta marcante do turismo em várias partes do mundo, e é geralmente vista como um dos principais problemas enfrentados por esta indústria". A falta de turistas, ou a vinda esporádica de turistas desestimulou os proprietários da Rota. Um deles mencionou que "o retorno foi muito lento. Tinha épocas que tava bem, [...] no começo, [...] aí fui muito bom, mas agora vem apenas uma excursão..." (Sujeito 4). O mesmo conta que três excursões ligaram para agendar uma visita na sua propriedade, porém as três acabaram desistindo: [...] já me ligaram duas, mas sempre chovia, [...] até estes dias tinha um horário (uma visita), mas muito frio, [...] e também desistiram, [...] e vinham por meados de agosto, mas não vieram até agora, mas também sempre choveu" (Sujeito 4). Lohmann e Panosso Netto (2008) destacam o clima, as pressões sociais e de moda, para viajar aos locais que se encontram em alta como destinos turísticos, a tradição em tirar férias sempre nas mesmas épocas, como algumas das variáveis que explicam a sazonalidade turística. Os autores ainda complementam que: [...] a variação da demanda impacta vários aspectos do comportamento do lado da oferta. Em termos de negócios, a parte financeira é particularmente afetada. [...] A sazonalidade é fortemente influenciada por componentes espaciais, sendo mais acentuada em zonas rurais e regiões remotas do que em grandes centros urbanos. Estes últimos apresentam mais atrações não- sazonais, além de mais viagens a negócios e, em muitos casos, são menos vulneráveis a mudanças climáticas (p. 428-429). Observa-se, a partir da colocação dos autores, que o espaço rural está mais propício a sofrer com a sazonalidade, e como colocou o Sujeito 4, os grupos desistiram de visitar sua propriedade porque "choveu e fez frio". Teixeira et. al (2005, p. 145) mencionam, que na pesquisa realizada na Mesorregião Sul do Rio Grande do Sul, a sazonalidade do turismo foi a dificuldade mais citada pelos empreendedores rurais para permanecer na atividade turística, corroborando com o mesmo problema encontrado pelos proprietários da Rota, pois a sazonalidade "faz gerar ciclos em que se alternam altas e baixas procuras por parte dos turistas", dificultando o fluxo contínuo de visitantes e, consequentemente, a previsão de uma entrada regular de dinheiro, que não se concretiza e acaba gerando dificuldades em manter o funcionamento do empreendimento nestes períodos de baixo ganho financeiro. Desde logo, constata-se que "a importância de fomentar a demanda fora de temporada se acentua cada vez mais" (TEIXEIRA et. al, 2005, p. 145), ficando 199 explícito a necessidade da criação de estratégias para atrair o turista em diferentes épocas do ano. Entretanto, mesmo que muitos proprietários estejam um pouco desmotivados, quando indagados sobre os resultados obtidos com a sua inserção na Rota Colonial Baumschneis, 23% afirmam que os efeitos foram mais positivos que negativos e, outros, 32%, mencionam que têm perspectivas de que a Rota vai melhorar, que o fluxo irá aumentar novamente. O proprietário da Casa Velha - Colha e Pague, expõe sua persistência em permanecer no roteiro: Eu trabalhei 3 meses e atendi um carro, quando eu abri, quando inauguramos, 3 meses atendi um carro, aí o pai falou "ih das gebt net richtig", isto não vai dar certo," ich hon das immer noch gesagt das gebt net richtig", sempre falava que não ia dar certo. Então esta parte é que foi mais difícil, né. Tem que faze trabalho de formiguinha, de persistência... (Proprietário). De acordo com este proprietário, demorou algum tempo até conquistar o público e tornar o seu atrativo conhecido. Ele considera que hoje seu estabelecimento mantém uma boa frequência de turistas e só diminuiu porque ele parou de atender aos domingos. Esta persistência e otimismo também podem ser verificadas na fala do proprietário da Cervejaria Hunsrück, Cerveja tem tudo haver com o turismo, nós vamos tenta fomentar um pouco mais esta Rota Colonial, porque a gente continua acreditando nela. E uma das coisas que a Cervejaria Hunsrück vai fazer, a gente é pequeno, mas a gente tem uma visão um pouco diferente, e nós vamos abrir sábados, domingos. É só agora um tempinho da gente se organizar e contratar uma ou duas pessoas, freelance, das 10 às 6 da tarde. E nós vamos divulgar isto, que vai tá aberto aqui. Bota uma mesinha lá fora, [...] o pessoal vai vim comprar um chapéu, uma camiseta, um boné, um copo. Nós precisamos tirar nossa marca daqui de dentro. Ela está bem localizada, tá, Tá criada, tá. Agora nós temos que criar. Agora nós temos que tirar (Proprietário). Esse proprietário tem uma visão otimista do futuro, afirmando que se instalou na Rota Colonial por visualizar que a mesma irá auxiliar na divulgação do seu produto e, por esse motivo, tem grande interesse de que o roteiro volte a ter um bom fluxo turístico, contínuo e regular e, para atingir esse objetivo ele comenta que irá investir na divulgação a partir deste ano. Da mesma forma que tem interesse de, futuramente, instalar uma pousada nas terras localizadas junto à Cervejaria. 200 Oliveira, Dias e Rosa (2009) em sua pesquisa sobre o povoado de Serra dos Alves, no município de Itabira, no estado de Minas Gerais, também enfatizam que os ganhos financeiros não foram os esperados pela comunidade, Avaliando os impactos econômicos [...] provocados pela atividade turística na comunidade, de acordo com a percepção dos moradores, [...] constata- se que o turismo ainda gerou impactos econômicos considerados positivos. Não há registro de nenhuma pessoa que tire o seu sustento da atividade, somente de algumas que complementam sua renda (p. 178). O mesmo fato encontrado pelos autores, na comunidade de Serra dos Alves, é evidenciado na Rota Colonial Baumschneis, onde a maioria dos empreendedores obtém do turismo uma renda complementar, não sendo essa a renda principal da família. O único proprietário que diz ter o seu sustento advindo do turismo e da atividade primária de maneira igualitária é o da Casa Velha - Colha e Pague. Os proprietários relatam que não realizaram muitos investimentos quando ingressaram na Rota Colonial Baumschneis, foram apenas feitas algumas reformas e melhorias nos empreendimentos. O único que enfatiza ter investido um valor significativo em dinheiro para adaptar a propriedade e transformá-la em uma atração turística foi o proprietário da Casa Dienstmann, que empregou em torno de sessenta mil reais na reforma da casa. Entretanto, ele diz que o dinheiro veio de uma herança e não se arrependeu de ter feito este investimento na época. Atualmente, existem três propriedades que têm interesse em realizar melhorias nos locais, no entanto, não possuem condições financeiras para esse investimento no momento. Os proprietários foram questionados sobre o uso do Programa de Incentivo ao Turismo (PRIT) como forma de financiar seus projetos de melhorias. Em resposta, disseram que o PRIT seria uma das possibilidades, mas que ainda estavam refletindo sobre o assunto. Em todas as propriedades do universo desta pesquisa, verificou-se que a família é envolvida nas atividades, sejam elas relacionadas às atividades primárias, comerciais ou turísticas. Isso denota o comprometimento de todos os familiares no sustento da família. Conforme projetado na criação da Rota Colonial, previa-se a criação de sessenta e cinco empregos diretos e cento e vinte e cinco empregos indiretos (SCHNEIDER; FIALHO, 2000; MOLETTA, 2002), fato que não aconteceu nos quatorze anos de atividades da Rota, uma vez que as propriedades utilizam, para a manutenção e realização de suas atividades, a mão de obra familiar, havendo 201 apenas quatro funcionários fixos em todos os treze empreendimentos e em torno de seis empregados temporários, havendo uma pequena variação neste número, conforme a necessidade. Apesar dos poucos postos de serviços ofertados pelos empreendimentos, o atendimento ao público visitante, na opinião dos proprietários, foi sempre considerado bom, uma vez que as famílias e eventuais auxiliares conseguem realizar um atendimento adequado aos turistas. Constatou-se que a faixa etária dos donos dos empreendimentos fica entre cinquenta a sessenta e cinco anos de idade, sendo que existem dois proprietários com idades mais avançadas, setenta e um anos e oitenta e cinco anos. Essa realidade demonstra que na Rota Colonial Baumschneis encontram-se poucas pessoas envolvidas nas atividades com idade inferior a cinquenta anos. Isto preocupa muitos os entrevistados, proprietários e gestores municipais, manifestado nas falas do Sujeito 7 "o problema é que tem pouca gente jovem", e do Sujeito 1 "por isso que eu digo que a Rota Colonial é velha", referindo-se à idade avançada de muitos proprietários de atrativos do roteiro. A partir dos relatos das entrevistas, não existe o interesse dos familiares mais jovens em assumir o empreendimento da família e continuar, principalmente, com a atividade turística. Os relatos ainda mencionam que "o jovem não quer mais ficar" (Sujeito 9), e também que o jovem pensa ser "muito compromisso [...] trabalha no final de semana, [...] trabalha com o público é complicado" (Sujeito 8). Eles atribuem a falta de interesse dos jovens pelo fato da zona urbana ser mais atrativa, ter mais opções de emprego, mais diversão. O Sujeito 1 ainda enfatiza: A Rota Colonial tá velha, velha já vou explicar como, [...] A Rota Colonial hoje é velha, velha no sentido dos empreendedores, são tudo pessoas de idade, o novo que tá hoje sou eu e o Hunsrück, lá da cervejaria, e o Campo 7 Amigos, né, estes são os mais novos, o resto é tudo pessoas já da terceira idade, e daqui a pouco estão fechando as portas. O Mundo dos Ovos é um, Armazém Scholles é outro, a Serraria Becker é outro, né, então são 3 propriedades que, [...] no Urbano (nome do proprietário) também, lá em cima o Cerro Bela Vista também, por causa disto também os filhos não queriam tocar. Então, eu digo que a Rota Colonial tá velha, e se não tiver novos, [...] e os novos não querem, [...] então é minoria que vai ficar. Daqui uns anos menos ainda, os mais jovens não querem, eles querem sentar só no computador, ou isso e aquilo, [...] então capaz que eles vão mexer lá numa serraria e vão em um galinheiro, ou vão sujar as mãos em uma terra, né, [...] então é bem complicado (Sujeito 1). Outros proprietários também se manifestaram a respeito dessa dificuldade que a Rota possui, como o Sujeito 3, o qual comenta: "eu vejo que isso é um grande 202 problema na Rota, ninguém quer [...] que nem no Mundo dos Ovos, não tem ninguém", fazendo referência à proprietária do Mundo dos Ovos, que não tem filhos, e as sobrinhas não têm o interesse de assumir o local. Ainda para o Sujeito 3 "no Colha e Pague, se a filha não abraçar...", também será outro local que não haverá continuidade, quando o proprietário não tiver mais condições de administrá-la. O Sujeito 20 também se expressa sobre este problema, a continuidade de diversos atrativos, pela falta de interesse dos familiares: Isto é um dos grandes problemas que nós enfrentamos na Rota. É uma preocupação muito grande de todos, continuidade. Porque como nós, como dissemos, nós somos turismo rural, é o agricultor que abriu as portas de casa. Só que este agricultor não tem descendente, não tem quem vá continuar. No Mundo dos Ovos não tem filhos, tem as sobrinhas, que não vão puxar pra aquilo. Tem um sobrinho-neto, que quem sabe, mas... não, não vai. A Propriedade Cerro Bela Vista, são um casal de filhos. A filha não, o filho tem ainda algum interesse, se fosse fazer por hobby. Mas foi o que nós descobrimos, que até se pensou em comprar a propriedade. Mas isto ainda tá em inventário. Então, isto hoje é nossa grande preocupação. O Sujeito 8 expõe que a Rota precisa de "mais empreendedores jovens, mais pessoas novas" para que estes possam incentivar os demais a persistir na Rota Colonial, a melhorá-la, a investir em divulgação e melhorias no trajeto, contribuindo com novas ideias. Corroborando com as afirmações dos Sujeitos, Almeida e Souza (2006) afirmam que: O século XX trouxe mudanças drásticas sob aspecto demográfico e socioeconômico. A industrialização e a urbanização levam ao esvaziamento progressivo do campo a favor das cidades que representam a nova via do futuro e oferece inúmeras oportunidades de trabalho. Atraídos pelo encanto das cidades, os jovens desertaram as regiões rurais, fenômeno amplamente observado até os dias de hoje (p. 07). A única propriedade que hoje possui descendentes com interesse em permanecer frente às atividades da família é o Sítio Ecológico Falkoski. Porém esse é um dos empreendimentos que não está mais aberto à visitação na Rota, apenas estão participando como fornecedores de produtos, desde o ano de 2012. O filho do proprietário já está trabalhando com o pai e assumindo a responsabilidade pelo beneficiamento das frutas para a fabricação dos sucos, Schmiers e doce de leite. Outro empreendimento onde surge a possibilidade da administração continuar na família é na Cervejaria Hunsrück. Um dos proprietários conta que o filho do seu sócio seria o único que poderia vir a assumir os negócios, já que ele não tem 203 filhos. Este proprietário relata que o rapaz teria interesse, mas só daqui a algum tempo é que eles terão certeza se o mesmo terá interesse, ou não, em querer administrar o empreendimento. Outro atrativo, com possibilidade da administração ser assumida por um membro da família, é a Propriedade Rural Ignácio Stoffel. O proprietário menciona que o seu filho tem intuito de continuar atendendo aos turistas, uma vez que ele, com oitenta e cinco anos, não tem mais condições para realizar tal função. No entanto, não foi possível verificar com o filho a sua real intenção, uma vez que ele não quis ser entrevistado. Essas afirmações possibilitam demonstrar que 77% dos estabelecimentos não possuem familiares interessados em continuarem as atividades da família, e isso passa a ser uma preocupação com a continuidade da Rota Colonial Baumschneis, a partir do momento que os proprietários atuais não tiverem mais condições de exercer suas funções. A descendência germânica é bastante expressiva na Rota Colonial, fazendo jus à colonização do município de Dois Irmãos. São oito propriedades que possuem essa característica, ou seja, 62% dentre as treze pesquisadas. Esses traços germânicos mostram-se evidentes, principalmente na forte presença do dialeto Hunsrück, ainda falado pelas famílias e também fica evidente nas construções históricas preservadas. Brambatti (2002, p. 08, grifo do autor) enfatiza que "os roteiros constituem também uma forma de resistência à destruição causada pelo assim dizer tempo, que é a supressão lenta da memória, da cultura, da língua, dos costumes, dos prédios históricos". A Rota Colonial foi criada, tendo como um de seus objetivos a preservação das características germânicas encontradas em cada atrativo, como forma de manter viva a cultura herdada dos antepassados que colonizaram o município, pois, [...] em tempos de globalização, a sobrevivência da diversidade cultural pode contribuir para o alcance de um mundo plural cujas comunidades sejam capazes de manter sua identidade, consolidando seus valores, hábitos e costumes, bem como sua forma particular de desenvolvimento de atividades ao longo do tempo (NORA, 2008, p.109). Outro dado coletado, relacionado à descendência germânica, diz respeito ao número de gerações que mantêm a posse da propriedade no nome da mesma família, como demonstra o Gráfico 9, sendo que apenas 15% das propriedades estão há quatro gerações na mesma família e 23% das propriedades pertencem aos da terceira geração. 204 Gráfico 9 - Histórico hereditário das propriedades 31% 31% 23% 15% Uma Duas Três Quatro geração gerações gerações gerações Fonte: Pesquisa de Campo (2013-2014) A permanência de uma propriedade em uma mesma família "indica um apego das famílias por seu patrimônio" (SANTOS, 2004, p. 78), como é o caso da Casa da Colônia Klaus, Propriedade Rural Ignácio Stoffel e Mundo dos Ovos, cujas propriedades são administradas pela terceira geração. A Serraria e Carpintaria Becker e a Casa Dienstmann estavam na quarta geração, enquanto integravam a Rota Colonial. Os proprietários relataram que ao iniciar as atividades do roteiro houve a fase de adaptação à nova atividade e à nova realidade em suas vidas. Eles expõem que ocorreram mudanças na forma da organização familiar, com mais afazeres e atividades direcionadas às atividades turísticas como limpar a propriedade e organizar o local de recepção aos turistas. A partir do ingresso na Rota tiveram que se acostumar a uma rotina diferente da tradicional. Elesbão e Texeira (2011) alegam que a crescente demanda pelas áreas rurais onde ocorrem atividades turísticas [...] oportuniza a diversificação de atividades, em um contexto de desenvolvimento de novas funções e rendimentos. No entanto, também vem trazendo inquietações, pois provoca uma série de mudanças nos locais que passam a receber fluxos de visitação, implicando, entre outros, na alteração da dinâmica familiar das pessoas que se envolvem com os visitantes (p. 267). Alguns citaram esta mudança como a mais significativa, considerando-a também como uma das maiores dificuldades enfrentadas, pelo fato de terem que trabalhar aos finais de semana, impossibilitando assim o convívio habitual com a família e amigos, conforme se reporta o Sujeito 4 "eu tenho que estar lá embaixo atendendo turista, daí os familiares vem, aí não funciona, receber visitas assim". 205 No começo da atividade da Rota, todos os estabelecimentos deveriam estar abertos todos os dias da semana, ou seja, de segunda a segunda. Após, algum tempo, modificaram a sistemática de visitação da Rota Colonial e começaram a atender somente a grupos de excursão, agendados durante a semana porém, aos finais de semana, deveriam todos os atrativos estarem abertos à recepção turística, independentemente se houvesse agendamento ou não. Contudo, esta sistemática de atendimento sofreu uma nova mudança com o decorrer do tempo, motivada principalmente pelo baixo fluxo turístico, o que pode ser observado na fala do Sujeito 7, "primeiro não era pra fechar, era toda a semana, pô, mas vou trabalha toda a semana, e vou me senta sábado e domingo esperando vir alguém, daí eu disse, ou eu caio fora, ou então vamo faze só agendado". No entanto, é necessário salientar que, atualmente, grande parcela dos empreendimentos da Rota atende somente mediante agendamento, em qualquer dia da semana e inclusive nos finais de semana. O Sujeito 1 se reporta à este fato com o seguinte comentário: Tem muitos que não querem trabalhar sábado e domingo ou domingos, que nem eu já sou um ponto que optei mais só pelo sábado, porque vivia só trabalhando, então, no fim tu não tinha mais fim de semana, ou tu tinha que tirar um dia de semana,[...] mas dia de semana algumas pessoas que estão próximas a ti, também tão trabalhando dia de semana, então quando tu via tu só vivia mais trabalhando, né. Então alguma coisa nós tinha que faze, [...] então vamos atende no sábado. Graças a Deus está dando certo, tá indo tranquilo, se vier alguém em dia de semana a gente atende também, e domingo a gente tirou um pouquinho para nós. [...] treze anos trabalhando, praticamente, sábado e domingo, né, ou de segunda a domingo, então não, vamos dá uma acalmada, porque senão, [...] até pelo meus pais que sempre estão aqui junto, eles também se viam cansados. Domingo a gente tem como sair, então vamos dar uma acalmada. Pelas informações e colocações do Sujeito 1, as dificuldades dos empreendedores em disponibilizar seus atrativos aos finais de semana se transformou num dilema, o que eles foram lentamente resolvendo, cada qual a sua maneira, ficando assim constatado a progressiva mudança em praticamente todos os empreendimentos e a introdução de formas diferenciadas de atendimento. Dessa forma, quatro empreendimentos, além de também atenderem por agendamento, realizam a recepção aos turistas de acordo com a seguinte sistemática: a propriedade Casa Velha - Colha e Pague, funciona aos sábados, o atrativo Mundo dos Ovos, abre seu espaço aos domingos, e o estabelecimento 206 Campo 7 Amigos, pela sua singularidade, uma vez que oferece atividades de lazer, como piscinas e pedalinhos, funciona o ano todo aos finais de semana e, no período do verão, também durante a semana. A Cervejaria Hunsrück, conforme informado pelos proprietários, está em fase de estruturação para receber turistas aos finais de semana. Atualmente, atende no horário comercial e aos finais de semana, mediante agendamento. O procedimento adotado por muitos proprietários em atender aos turistas, somente mediante agendamento, denota a pouca procura pelo roteiro, uma vez que eles se mostram insatisfeitos em terem que permanecer no atrativo o dia todo, conforme comentou o Sujeito 7, aguardando os turistas, que afirmam serem poucos, e assim deixam de ficar em companhia de seus amigos e familiares. Silva e Almeida (2002) ao analisar o roteiro Caminhos de Pedra, localizado na zona rural do município de Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul, também se depararam com os aspectos sinalizados pelos proprietários da Rota Colonial Baumschneis referentes às mudanças familiares, a partir da participação nesse projeto. Com a participação no roteiro, as famílias disseram que houve a redução no tempo de lazer, comprometimento das refeições em família, prejuízo da privacidade e nos horários em que deveriam estar abertos ao público, dificultavam a vida normal, ou seja, respostas muito parecidas com às dos proprietários da Rota Colonial. Essas evidências demonstram que as dificuldades encontradas no roteiro, objeto desta pesquisa, também ocorrem em outros roteiros rurais. No início das atividades da Rota Colonial, o maior fluxo turístico de carros particulares acontecia nos finais de semana. Durante a semana eram mais ônibus agendados, porém, nos últimos seis ou sete anos, o fluxo turístico vem diminuindo gradativamente, ocorrendo hoje poucas visitações aos finais de semana com ônibus agendados. Esta falta de público desestimulou muitos proprietários, o que motivou algumas desistências. Os que permanecem na atividade, atualmente, fazem isso porque acreditam que a Rota vai novamente melhorar, ou porque gostam de receber os turistas, mesmo que seja, como menciona o Sujeito 4, "lá de vez em quando". O Sujeito 5 expressa que permanece "porque faz bem" e o Sujeito 7 diz não querer sair porque acredita que a Rota "um dia pode vir a melhorar, né". O Sujeito 4 também comenta ser "cômodo" permanecer no roteiro, uma vez que mora no local do seu empreendimento e, estando em casa, não se importa em 207 receber visitas inesperadas, todavia, prefere que sejam mediante agendamento, pois assim ele pode se preparar e se programar para melhor atender o visitante. Os proprietários expõem que depois do trajeto da Rota ter sido asfaltado, constataram um aumento no fluxo turístico. Essa melhoria trouxe mais conforto ao turista, facilitando a locomoção do mesmo, bem como houve benefícios aos empreendimentos localizados às margens do asfalto, diminuindo sensivelmente a poeira e consequentemente a sujeira. Estradas e sinalizações adequadas são necessárias, para que haja maior desenvolvimento turístico de um lugar, como bem se referem Santos, Souza e Rapoport (2006, p. 159), em relação ao acesso como um dos aspectos fundamentais para o turismo rural, "tanto em relação a rodovias e estradas vicinais conversadas como bem sinalizadas". Teixeira et. al (2005, p. 145) comentam que "a má conservação das estradas na Mesorregião Sul gaúcha dificulta o acesso às propriedades e, consequentemente, desestimula o fluxo turístico". Relacionando esse argumento à Rota, constata-se a importância de acessos adequados e que a condição destes "influenciam na decisão do turista" (ZIMMERMANN, 1996, p. 36), quando este resolve o destino da sua viagem, uma vez que os proprietários enfatizam que houve um aumento do fluxo, a partir do asfaltamento da via. Esse asfaltamento também é um fato de grande importância porque valorizou a Rota Colonial Baumschneis, como também beneficiou os moradores de todo o seu entorno, transformando-se num ganho social para toda a comunidade. Parcela dos proprietários entrevistados não tinham informações precisas sobre a procedência dos visitantes. Contudo, aqueles que sabiam, comentaram e confirmaram que a parcela maior era proveniente da região do Vale do Rio dos Sinos, de Porto Alegre e da Região Metropolitana do Rio Grande do Sul. Sob o ponto de vista de Martínez e Monzonís (s/d), um dos fatores que influenciam a capacidade de atração de um produto turístico é a sua proximidade com os destinos emissores. Para tanto, os autores criaram uma relação de distância necessária para se chegar a um destino e o tempo de permanência no mesmo, demonstrado na Tabela 8. 208 Tabela 8 - Relação da distância e tempo de viagem e a frequência das visitas Distância-tempo de viagem Frequência Menos de 1h30min e menos de 150 km Finais de semana De 1h30min até 3horas / 150 km - 300 km Feriados prolongados Mais de 3horas e mais de 300 km Férias Fonte: Extraído de MARTÍNEZ e MONZONÍS (s/d, p. 39) Analisando a pesquisa realizada por Moletta (2002), os dados citados por Schneider e Fialho (2000), as respostas das entrevistas, a relação dos dados disponibilizados pela única propriedade que fazia um acompanhamento dos turistas, a Casa Dienstmann e, considerando-se também a relação exposta na Tabela 8, verifica-se que a Rota atingiu e atinge o turista que viaja menos de 1h30min, ou seja, 150 km, o que caracteriza e enquadra o visitante da Rota como os turistas dos finais de semana, demonstrando que o roteiro possuiu uma demanda de abrangência regional e estadual. Zimmermann (1996) afirma que o TER se caracteriza por ter uma clientela regional. Para Fucks e Souza (2010) as motivações que ocasionam o deslocamento urbano para áreas rurais [...] está ligada ao imaginário rural dos urbanos e à busca por espaços com valores ecológicos, simbólicos e culturais a apreciar, bem como por lugares autênticos, com belas paisagens, com níveis mais baixos de poluição, ruídos e agitação que as cidades, no intuito de resgatar a nostalgia da vida próxima à natureza, a memória e as raízes históricas no passado, de obter novas experiências e conhecimentos (p. 100). Comparando os relatos dos proprietários ao exposto pelos autores, verifica- se que as mesmas motivações elencadas por Fucks e Souza se relacionam com os motivos referidos pelos turistas, ao se deslocarem até a Rota. O tempo de permanência do turista na Rota não é muito longo, visto que, na maioria dos atrativos, eles ficam, no máximo, vinte ou trinta minutos. Esse tempo só se prolonga, quando ocorre uma visitação mais demorada, com alguma atividade específica, como é o caso dos passeios de carroça ou da ida dos turistas às plantações, onde eles mesmos colhem as verduras e frutas ou retiraram os ovos diretamente do galinheiro. Os proprietários comentaram que, durante as visitações, os turistas costumam questionar sobre a história do município de Dois Irmãos, perguntam o que 209 mais existe para visitar na cidade, eventos locais e, especificamente, a respeito da história das propriedades rurais, das famílias bem como sobre os seus antepassados germânicos. Nota-se, que estes questionamentos, quando relacionados a informações sobre as famílias e edificações antigas das propriedades, enchem de orgulho os moradores, pois eles se sentem importantes e valorizados. A valorização da cultura, da história e dos costumes dos descendentes germânicos que integram a Rota, assim como a possibilidade em poder contar a história de seus antepassados, de satisfazer a curiosidade dos turistas com respeito ao seu modo de viver e de falar, é um dos pontos mais significativos para eles, quando questionados sobre os pontos positivos que o roteiro trouxe para suas vidas. Por preservarem seus usos e costumes, típicos da zona rural, e com forte influência germânica, eles comentam que antes de desenvolverem atividades turísticas na propriedade, quando somente trabalhavam na roça, tinham vergonha de falar errado a Língua Portuguesa, e do forte sotaque germânico, consequência por falarem o dialeto Hunsrück. Também comentam que sentiam vergonha em usar roupas simples, de não ter a casa reformada e arrumada como muitos que vivem na cidade. Hoje, se sentem valorizados, sentem orgulho de quem são, de como falam e se vestem. Pode-se perceber esta valorização e aumento da autoestima na fala do Sujeito 1: Então a parte cultural foi muito, a gente ganhou muito com isto, com o turismo né, até a gente se valorizou mais. A gente se sentia mal ou tinha vergonha de fala - não, eu sou colono ou falo alemão. Hoje não, eu chego, vou pro centro da cidade, quem não quise fala comigo o alemão que não fala, mas eu falo, se eu sei que sabe falar eu continuo falando alemão, não tenho vergonha, para que ter vergonha. Para Brambatti (2002), roteiros turísticos como a Rota Colonial Baumschneis, que enaltecem a história, costumes e memórias de uma cultura ou de várias culturas, [...] se afirmam como instrumentos de resistência a padrões unificadores da globalização, [...] são formas de legitimação de um cultura e identidade existentes. São, portanto a prova histórica, o testemunho vivo de uma identidade que se manifesta no espaço e no território geográfico, legitimando uma identidade regional, étnica, uma verdade afirmação de diferenças, de especificidades, de positividades constitutivas não do velho, que serve de referência, mas do novo, produto de criatividade reinventora da tradição, como uma vantagem comparativa e competitiva do mundo moderno (p. 08, grifo do autor). 210 Aqueles proprietários que não possuem atividades primárias, como o Convento Doce, o Atelier de Arte, o Kioske da Rota, entre outros, também dizem que evoluíram no aspecto social e humano, que o convívio com diferentes pessoas ampliou seus conhecimentos, que aprenderam muito, trocaram experiências valiosas para a vida com os turistas. O Sujeito 14 expressa sua opinião sobre a melhora social e cultural que a Rota proporcionou aos empreendedores: Eles passaram de simples colonos, vamos dizer assim, onde tinham propriedades ali que iam fatalmente desaparecer, [...] eles, de alguma forma, mantiveram, conservaram, e passaram a saber que as outras pessoas, de outros lugares dão importância para aquele tipo de vida, para aquele tipo de propriedade, para aquelas coisas que para eles eram comuns, era simples, era do dia-a-dia, mas que muitas pessoas veem e tiram fotos, é atração. O Sujeito 3 faz referência ao bairro rural, Travessão Rübenich, ter tido um aumento do fluxo de pessoas. Hoje, muitas pessoas transitam pelo bairro, não necessariamente para visitar os empreendimentos, mas se utilizando da rua asfaltada como a via de acesso ao centro de Dois Irmãos, uma vez que a Rua Alberto Rübenich é um dos caminhos para se chegar ao centro da cidade (Figura 48). O Sujeito 7 comenta que muitas pessoas lhe confidenciaram que preferem fazer esse trajeto ao se deslocarem ao centro de Dois Irmãos, passando e passeando pela zona rural, pois a paisagem é muito mais bonita. Um dos problemas, expostos pelos proprietários, refere-se a duplicidade de locais que ofertavam a mesma atração e/ou produto aos turistas. Nas entrevistas ficou saliente a preocupação que os empresários da Rota têm quanto a esse assunto. Alegam que existe uma situação conflitante no que diz respeito à oferta dessas atrações e produtos nos atrativos. Segundo relatam, inicialmente, cada empreendimento tinha seus produtos característicos, mas, lentamente, outros locais passaram a também comercializá-los, aumentando suas vendas e seus rendimentos, no entanto, diminuindo o rendimento do outro. 211 Figura 48 - Paisagens do trajeto da Rota Colonial Baumschneis Fonte: Própria autora (2014) Acredita-se que esta prática descaracteriza um pouco a Rota, pois o "atrativo turístico possui, via de regra, maior valor quanto mais acentuado for o seu caráter diferencial. Assim, aquele atrativo que é único, sem outros semelhantes, possui maior valor para o turista" (IGNARRA, 2003, p. 53). Sendo assim, o roteiro deveria se manter fiel à primeira forma de comercialização, a qual induzia e estimulava o turista a visitar todos os atrativos com possibilidade de encontrar produtos e atrações diferenciadas nesses locais, uma vez que "são as 212 peculiaridades que motivam as pessoas a visitarem outros locais, fora do seu habitat, à procura de algo que seja diferente e que por isso exerce atração" (BAHL, 2004, p. 75). Bahl (2004, p. 52, grifo nosso) ainda enfatiza a importância de haver uma diversificação da oferta no roteiro, pois "é uma maneira de reunir diversos elementos que apresentem os mais diversos aspectos de uma região ou localidade". A inclusão, no percurso do roteiro, de pontos de venda de produtos de fabricação artesanal é interessante, uma vez que diversifica os atrativos e viabiliza opções diferenciadas ao turista. Santos, Souza e Rapoport (2006) menciona: As origens e a cultura da região também devem ser valorizadas e divulgadas. Por exemplo, a presença de um artesão mostrando como seu produto é feito, exposição de peças antigas típicas da região, apresentações de cantadores, músicos e grupos folclóricos devem fazer parte do agroturismo e do turismo rural (p. 159, grifo dos autores). Da mesma forma que a inclusão de espaços que oferecem serviços de gastronomia também são necessários a fim de melhor atender ao público visitante, principalmente se ofertarem produtos gastronômicos típicos da região. Conforme Santos, Souza e Rapoport (2006), A gastronomia no meio rural oferece oportunidade ao turista de degustar pratos simples, caseiros e típicos da região. A comida, diferente daquela que o turista usualmente come em seu dia-a-dia, torna-se um atrativo tanto pela forma como é preparada (ex. fogão a lenha, panelas de barro ou de ferro), como por todo ritual envolvido na refeição (p. 158, grifo dos autores). Desta forma, a inclusão de dois estabelecimentos comerciais voltados à gastronomia, Kaffe Haus e Kioske da Rota, é importante, necessária e prática aos turistas que estejam passeando pelo trajeto, pois se localizam próximo a maioria dos atrativos turísticos da Rota. No entanto, o funcionamento desses estabelecimentos comerciais deveria também se identificar com o resgate histórico e cultural dos descendentes, principalmente no que tange ao cardápio oferecido, conforme enfatizam os autores e, talvez, também, quanto ao prédio onde funcionam, uma vez que não possuem características germânicas na sua arquitetura e, somente o Kaffe Haus oferece, aos domingos, café colonial, refeição que é reconhecida como uma herança da imigração germânica em Dois Irmãos. Todavia, os dois 213 empreendimentos não apresentam no seu cardápio nenhum outro prato típico da gastronomia germânica, durante a semana. A criação da Rota incentivou o empreendedorismo no município, fazendo com que pessoas da comunidade rural visualizassem em suas propriedades uma possibilidade de transformá-las em atrativos turísticos, proporcionando atividades para os turistas, desenvolvendo produtos para comercialização e investindo nos seus empreendimentos com pequenas melhorias e adequações, como por exemplo, o proprietário do Sítio Ecológico Falkoski, que fez uso do PRIT para financiar algumas melhorais e a compra de maquinário para iniciar sua agroindústria no ano de 2001. A partir dos relatos, observou-se que a Rota Colonial Baumschneis obteve êxito no início de sua implantação, visto que, os proprietários informaram que havia fluxo turístico, principalmente, em ônibus fretados, "vinham ao menos um, dois, três ônibus por semana" (Sujeito 6), já os carros particulares eram poucos. O Sujeito 4 conta que "no início veio mais ônibus sim, aí vinha os colégios de Porto Alegre" e, a partir desta observação, da vinda de alunos dos colégios do município de Porto Alegre, observa-se que a Rota despertou o interesse também de escolas que vinham conhecer os atrativos histórico-culturais e a forma da produção dos hortifrutigranjeiros, com cuidados voltados à preservação do meio ambiente, principalmente nos atrativos Sítio Ecológico Falkoski e Casa Velha - Colha e Pague. Nesse período foram realizadas diversas iniciativas para a divulgação do roteiro, como a participação, no ano de 2002, da Diretoria da Associação da Rota Colonial, juntamente com os empreendedores na Exposição Internacional de animais, máquinas, implementos e produtos agropecuários (Expointer), realizada no município de Esteio, como mostra a Figura 49, no Salão Gaúcho do Turismo, ocorrido no município de Porto Alegre, no Kerb de São Miguel, evento local, em Dois Irmãos, no Festival do Turismo de Gramado, realizado no município de Gramado, na Oktoberfest, no município de Santa Cruz do Sul, no Sábado Show e no Natal dos Sinos, ambos eventos que aconteceram no município de Novo Hamburgo. 214 Figura 49 - Participação na Expointer Fonte: acervo pessoal do Sr. Juarez Stein A participação na Expointer foi interessante para os proprietários, pois puderam expor seus produtos e divulgar a Rota Colonial Baumschneis em um evento com um amplo fluxo de pessoas. A participação no Festival do Turismo de Gramado, no qual circulam pessoas ligadas ao trade turístico, também foi outro momento importante para divulgação da Rota, pois esse evento reúne agências e operadoras de diferentes locais do Brasil. No mesmo ano 2002, em que houve as diversas participações em eventos de grande, médio e pequeno porte, os proprietários dos pontos turísticos da Rota Colonial também visitaram a propriedade rural Pedacinho do Céu, no município de Gravataí, com o intuito de trocar experiências com os proprietários da mesma e adquirir mais conhecimentos, possíveis de serem implementados em seus empreendimentos. Em dezembro desse ano foi organizado, pela Diretoria da Associação da Rota Colonial, o Natal da Colônia. Esse evento teve como objetivo promover a Rota Colonial, e contou com a participação de todos os proprietários dos empreendimentos do roteiro. O Sujeito 18 enfatiza que o evento foi um sucesso, O Natal da Colônia, dentro da estrebaria do Mundo dos Ovos. Eu organizei e foi o Pastor, o Padre, em cima de uma carroça foi o altar, [...] foi muito lindo, tinha bastante gente. E eles (os proprietários da Rota) eram os reis 215 magos, cada colono, [...] até o Cônsul da Alemanha tava presente no evento. O mesmo Sujeito lamenta que não houve a possibilidade da realização de mais edições desse evento, pois foi uma forma de divulgação da Rota, já que houve grande comunicação no rádio e nos jornais locais e da região. O Sujeito 17 relata que realizava muito o trabalho de divulgação, especificamente na Rádio Gaúcha e na Rádio Imperial: O que eu mais fazia era isso, eu tinha a Gaúcha na mão. Eu ia lá aos domingos, e o Nico, quando eu chegava ele me apresentava, e ele dizia, vou tomar café, e me deixava falando ali meia hora. Daí eu falava dos evento tudo, e falava da Rota Colonial Baumschneis, e falava da cidade, e falava dos eventos paralelos. Ai ele chegava e eu tava cansado de tanta propaganda. Se ficava alguma coisa eu complementava. Ai eu ia muito na Imperial de Nova Petrópolis, divulga o evento, porque esta área é muito ouvida. Ai eu reforçava mais um pouco, com folders, eu distribuía em todos os pontos. Então a divulgação pra mim era primordial, sem isso não adianta, as vezes fazem um evento e esquecem de divulgar. Gastam dinheiro à toa. O Sujeito 18 ainda ressalta que houve retorno de visitantes à Rota, fora da realização do evento, certamente, motivados em conhecer os outros atrativos ainda não visitados. A propaganda chamou também mais turistas para conhecerem as atrações e produtos ofertados. Iniciativas como essas, de participação em eventos no estado do Rio Grande do Sul, visitação a outros empreendimentos similares, com objetivo de aquisição de mais conhecimentos e troca de experiências, bem como a realização de eventos na própria Rota, envolvendo os atrativos, como forma de divulgação da mesma, foram realizadas, conforme relatos, mais especificamente nos primeiros três anos da implantação desse roteiro, ou seja, até o ano de 2003, e seriam essas iniciativas as responsáveis pelo fluxo de turísticas que visitavam o roteiro durante este tempo. O Sujeito 17 conta o que ele fazia para atrair mais visitantes ao município: No meu tempo, em domingo, eu pegava uma bandinha alemã, contratada pela Prefeitura, a Rainha, as Princesas, e nós ia lá pra entrada da cidade, e ali ficava tocando e abanando pro pessoal que cruzava. De início ninguém parava, todo mundo subia para Gramado, que o ponto do turismo é lá e não adianta brigar com Gramado que eu nunca vou levar a melhor. Então, os autos se iam, e eu ficava abanando, e triste, né. Mas eu digo, vamos persistir. A persistência no turismo é que manda. A Rainha com os folders da cidade, dos restaurantes, tudo, né. Aí as poucos, de dez carros parava um, depois no outro domingo já parava dois, pra saber o que que nós tava fazendo. Aí a Rainha levava o folder, falava da cidade, da gastronomia. E aos poucos aquilo foi parando gente, as vezes ônibus cheio de gente 216 paravam, pra tirar foto com a bandinha, achavam coisa mais linda aquilo, e a Rainha já saia dançando com alguém. Então isso era uma recepção maravilhosa. Ai aos domingos o pessoal cruzava abanando, mas entrando pra Dois Irmãos. [...] Depois nós passava pelo restaurante com a bandinha e tocava. Isto é recepção, e hoje não tem nada, nada. A partir das colocações do Sujeito 17, juntamente com o relato dos proprietários, demonstram a forma como era realizada a divulgação da Rota nos primeiros anos, logo após a sua implantação. Após esse período houve poucas iniciativas com respeito a todos esses aspectos mencionados. Para Jasper (2012, p. 93) as participações em feiras e eventos de turismo tornam-se estratégias de divulgação e comercialização dos roteiros, assim como "escolher meios de divulgação de acordo com o público que se quer atingir, criar folhetos e guias turísticos específicos, elaborar CDs, DVDs com vídeos, criar homepage na internet e utilizar a assessoria de imprensa da prefeitura". Foi criado um site39 da Rota Colonial Baumschneis, pela Associação da Rota Colonial, em janeiro de 2011. Contudo, o espaço, que era para servir como fonte de divulgação do roteiro, não está sendo atualizado, causando, desta forma, má impressão e confusão àqueles que o acessam e, portanto, não cumpre com a sua finalidade. Fávero e Beni (2005, p. 146) reforçam que o "marketing [...] precisa ser reforçado. Há que se investir mais nesse sentido" se a pretensão é atingir o público alvo e fortalecer a vinda dos turistas. Aoun (2001) pondera a internet como uma importante aliada para os negócios turísticos, ressaltando: [...] ela é uma poderosa prestadora de serviços, que possibilita a qualquer usuário terem acesso às agências de viagem, comparar preços e roteiros, fazer reservas on-line em hotéis, comprar passagens aéreas, alugar carros nas locadoras de veículos, enfim, a opção de montar o seu próprio pacote de viagens (p. 21, grifo nosso). Fucks e Souza (2010) enfatizam que existem divulgações de atividades turísticas sendo realizadas no espaço rural, porém afirmam que muitas se encontram distorcidas entre o que se divulga e o que realmente existe no local: O produto turístico rural de fato vem sendo comercializado; basta analisar a qualidade de fôlderes turísticos e informativos eletrônicos que mostram os atrativos de um empreendimento isoladamente ou agrupados em roteiros. Contudo, muitas vezes percebe-se um grande distanciamento entre os 39 Disponível em: . 217 atrativos comercializados e o rol daqueles que realmente são encontrados à disposição nas localidades (p. 98). As informações constantes nos materiais de divulgação, tais como folders, flyers e materiais virtuais, devem ser claras, concisas, objetivas e padronizadas. Segundo Bahl e Nitsche (2012), [...] o aspecto da comunicação visual e das facilidades de informação é essencial na formatação, tanto na sinalização viária oficial, quanto na interpretativa criada a partir dos seus símbolos identitários, os quais também devem estar presentes no seu material de divulgação (p. 41). A Rota Colonial Baumschneis necessita investir mais na sua comunicação turística, de maneira mais concreta e permanente. Acredita-se que a falta de divulgação nos últimos anos, foi um dos motivos que levaram a diminuição do fluxo turístico. O último folder turístico que a Rota possui para propalar o roteiro e seus atrativos foi criado em 2011. Entretanto, hoje já existe a participação de novos empreendimentos e alguns atrativos se desligaram do roteiro, porém ainda constam nesse folder. Essas informações inexatas não auxiliam em nada o turista que tem o interesse de conhecer o local. A manutenção de atrativos que não mais integram o roteiro, frustram a quem se programa e não mais encontra esses espaços abertos à visitação, causando um impressão negativa, o que indiretamente só irá prejudicar ainda mais a Rota Colonial Baumschneis. Neste sentido, faz-se necessário uma revisão dos folders, no site e outros materiais de divulgação do roteiro, com o objetivo de uniformizar todas as informações existentes em diferentes meios de comunicação. Zimmermann (1996) recomenda que a promoção de marketing seja feita em parceria entre os envolvidos no turismo, no caso, o Poder Público Municipal, a iniciativa privada e os associados da Rota, os quais possuem todas as condições para, através dessa gestão participativa, alavancar o turismo tanto na Rota Colonial, como também no município de Dois Irmãos. Ainda se referindo à comunicação que divulga o roteiro, o Sujeito 16 conta que as antigas placas de identificação dos atrativos estão mal conservadas e ainda se encontram no trajeto (Figura 50), causando uma impressão de desleixo aos que por ali passam. 218 Figura 50 - Antigas placas dos atrativos turísticos Fonte: própria autora (2014) O mesmo Sujeito ainda enfatiza que não existem placas no trajeto da Rota com indicações de informações do roteiro e nem de Dois Irmãos, e ainda se refere a um projeto para colocação de placas o que não foi até hoje executado: Não tem placa de indicação, de localização dos locais. A sinalização é muito pobre. Nem na entrada de Dois Irmãos tem uma coisa. Tem muito, muito o que se fazer, neste sentido. Tem um projeto das microrregiões do turismo, que é Novo Hamburgo, Ivoti, Dois Irmãos, etc, [...] tem um encaminhamento, que antes de eu entrar na Prefeitura não tinha sido feito, e até hoje não saiu ainda. Porque assim, as placas de todos os municípios tem que ta tudo Ok, [...] se um município tem uma placa que não tá certa, então aquilo tranca tudo. E já até foi pago, não sei como é que isso vai ficar. As sinalizações de espaços turísticos com placas indicativas nas estradas e caminhos de acesso às localidades são fundamentais, bem como aquelas que identificam os atrativos turísticos. A Figura 51 mostra a única placa de sinalização da Rota que se localiza na BR 116, quase no entroncamento com a Rua Alberto Rübenich, início do traçado do roteiro. 219 Figura 51 - Placa de sinalização da Rota na BR 116 Fonte: Própria autora (2014) As placas indicativas dos atrativos turísticos da Rota Colonial Baumschneis estavam localizadas junto a eles, simbolizando na sua apresentação uma casa, identificando o atrativo em Língua Portuguesa e Alemã, enfatizando a germanidade presente no roteiro, tornando-se até mais uma atração, pois muitos turistas tiravam fotos ao lado das placas como lembrança de suas visitas à Rota. No entanto, atualmente, essas placas estão deterioradas, conforme coloca o Sujeito 15, fazendo menção à necessidade de arrumá-las: [...] a Rota Colonial tem uma placas em formato de casinhas, que em cima tem o nome, e embaixo tem o nome em alemão, ali já tá falho, tem muitos que não estão e ainda continua, ou que as plaquinhas já perderam as cores, isso já é uma melhoria que se faz necessária. A Figura 52 apresenta uma comparação entre a antiga placa indicativa dos atrativos e a nova que está sendo colocada este ano, 2014. Porém essa em substituição à antiga, não tem semelhança com a anterior e, assim não mantêm as 220 características que a tornava atrativa era fonte de curiosidade dos turistas que transitavam pelo trajeto da Rota Colonial. Figura 52 - Comparação das placas de sinalização turística dos atrativos Fonte: Própria autora (2003-2014) O Sujeito 16 compreende que deveria haver mais sinalização no município, que apresentasse a Rota Colonial, dando a localização e sinalizando o caminho a ser percorrido: Precisa de uma sinalização maior nas entradas, da Rota, e depois assim na própria cidade, ter uma sinalização que indicasse a Rota Colonial. É um caminho lindo de se fazer. Mas não tem sinalização, quem não conhece. Por exemplo, se tô aqui na cidade, a pessoa não sabe por onde ir pra passar pela Rota Colonial, não tem sinalização. A pouca sinalização do roteiro em todo o trajeto foi mencionado pelo Sujeito 3, ele contou que haviam prometido a implantação de um pórtico, que ficaria localizado na entrada da Rota Colonial Baumschneis, para aqueles que trafegam na BR 116, sentido sul-norte do estado do Rio Grande do Sul, mas que este projeto só foi comentado em reuniões da Associação e, não mais voltou à discussão, conforme relata: "esta questão das placas desde lá na entrada e, um pórtico lá na entrada e, isto ficou nas reuniões, acho que sete anos atrás já foi falando nisso e até hoje 221 nada" (Sujeito 3). Mais uma vez, constata-se que a Associação não teve uma presença mais atuante na concretização dos anseios dos associados. Conforme relato dos proprietários, se evidenciou que a Associação da Rota Colonial, que deveria representar as "aspirações de seus associados, na figura de um ator social, o qual procura estabelecer uma discussão com os demais atores sociais, visando viabilizar os desejos e aspirações de seus associados" (BOVO, 2005, p. 151), não está atuante. Foi questionado aos representantes da Associação sobre os documentos da entidade, como a ata de criação e demais atas e documentos referente às reuniões e além de outras ações que a mesma teria desenvolvido, durante os quatorze anos, porém foi informado que esses materiais foram extraviados ou não existem mais, impossibilitando maiores pesquisas sobre a atuação da Associação da Rota Colonial. Conforme relatos, há pelo menos dois anos, não ocorrem mais reuniões. De acordo com o Sujeito 5, a Associação "existia, mas agora, agora eu acho que nem tá tendo mais reuniões". O Sujeito 10 relatou que não lembrava quando havia acontecido a última reunião: "óia, nos últimos tempos não vi, óia, pelo jeito [...] deve ser mais que um ano, dois anos, só se nem avisaram, [...] mas acho que não". A Associação da Rota Colonial foi criada com o intuito de fortalecer a Rota e dar suporte a seus associados, auxiliando no crescimento do roteiro. O papel de uma associação é "expressar demandas e defender interesses comuns, seja de cunho, econômico, político ou social" (TEIXEIRA, ANO, p. 63), operando como uma dinamizadora do desenvolvimento. Pela fala dos proprietários, ela esteve mais presente no início, com reuniões e atividades realizadas com os associados. No entanto, paulatinamente, sua atuação foi diminuindo e, atualmente, não se realizam mais atividades com os associados, bem como reuniões. Não havendo esta participação ativa da Associação, os associados não têm a quem solicitar respaldo para iniciativas, a quem se reportar, quando tiverem problemas. Um fato que denota essa falta de gestão é relatado pelo Sujeito 15: Olha o que tinha sido feito para a Rota Colonial, no ano passado (2013). Foi cedida uma casinha da Praça do Imigrante para a Rota Colonial explorar comercialmente como uma agência receptiva. Então ele ia achar um parceiro, alguém para ter um lugar onde ele pudesse vender os passeios da jardineira (ônibus da Rota - Kolonistenwagen). Deixava ela ali nos domingos e vendia os passeios na casinha. A casinha não abriu, se abriu foi dois finais de semana foi muito, não conseguiram se organizar para fazer, e a jardineira também ficou estes dois finais de semana estacionada lá, mas 222 não voltou mais. Não sei se por falta de demanda, não sei, o que acontece. Mas também acredito que fique tudo sempre nas mesmas pessoas. A partir do relato desse episódio visualiza-se que a Associação da Rota Colonial não está atuando, bem como os associados estão muito desmotivados, pois nenhum deles teve interesse em utilizar este espaço, que foi cedido, para comercializar os produtos da Rota e aumentar o fluxo turístico do roteiro, bem como os lucros advindos dessas visitas. Este foi o único Sujeito que comentou sobre este fato, nenhum dos outros se referiu a este assunto. Quando questionado sobre a falta de divulgação do roteiro, durante os últimos anos, a motivação dos proprietários e a atuação da Associação da Rota Colonial, o Sujeito 21 respondeu: [...] é que nós passamos por fases, mais e menos complicadas, [...] A gente tá tentando fomentar. [...] Tu não precisa investir dinheiro, tu tem que investir vontade. [...] opções a gente tem, local a gente tem, o que realmente precisa assim, é o incentivo extra. [...] temos que crescer juntos, isto é a maior indústria que existe. Não poluente, de baixo investimento, de alta rentabilidade. A falta de uma gestão dificulta as ações da Associação. Dinis (2011, p. 39) refere-se à falta de capacidade de gestão como uma das dificuldades encontradas no desenvolvimento turístico em áreas rurais, se constituindo, muitas vezes, como "um obstáculo para a organização profissional", se tornando assim uma das barreiras para o sucesso das associações. Neste sentido, torna-se imprescindível que a Associação se torne mais ativa, bem como os proprietários participem de suas reuniões e atividades programadas, e ela canalize os interesses dos sócios para mudanças, inovações e modificações em seus empreendimentos, bem como no roteiro que eles julgarem necessário para o sucesso da Rota Colonial Baumschneis. Por fim, evidencia-se que as dificuldades enfrentadas pelos proprietários no decorrer dos quatorze anos da Rota Colonial deveriam ter recebido maior atenção do Poder Público Municipal e da Associação da Rota Colonial. As reuniões que eram realizadas no início, precisariam ter ocorrido de maneira contínua, a fim de possibilitar um espaço para o relato das dificuldades e a discussão de caminhos que seriam traçados para saná-las, além de oferecer, aos seus associados, cursos e/ou atividades que lhes fornecessem informações para desenvolverem suas atividades turísticas. 223 A marca da Rota Colonial Baumschneis está presente desde a criação do roteiro. Nas placas indicativas dos atrativos, a marca induzia o visitante a encontrar as peculiaridades nos pontos de visitação. Com o passar dos anos, os produtos ofertados levam esta identificação em seus rótulos, no entanto, observou-se que, atualmente, alguns ainda não exibem a marca, o que não corrobora em difundir e propagar o roteiro. A utilização da marca, para identificação de produtos ofertados nos atrativos, é uma forma simples, mas eficiente, de divulgação, pois o turista, indiretamente, realiza a propaganda no regresso à sua comunidade, com produtos identificados da Rota Colonial Baumschneis. Ao município de Dois Irmãos, a criação da Rota, possibilitou e possibilita a divulgação de toda a sua história, através da preservação de várias construções de grande valor histórico para o município e inclusive para o Rio Grande do Sul. 224 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Dois Irmãos é dos municípios da região do Vale do Rio dos Sinos que foi colonizado por imigrantes germânicos, desde 1824. As características da germanidade estão presentes até hoje em diversos aspectos encontrados no município: nas diversas construções históricas, na gastronomia, no preparo de algumas comidas e bebidas, nos costumes da população local, pela presença marcante do dialeto germânico Hunsrück, como forma de expressão oral no dia a dia de parcela da população, principalmente, a residente na zona rural. Essas características podem ser visualizadas nos eventos proporcionados pelo município, principalmente no Kerb de São Miguel, o qual é a festividade local que mais enaltece as características histórico-culturais e, neste ano, 2014, serão comemorados no município, os cento e oitenta e cinco anos dessa festa. Esta pesquisa mostrou que Dois Irmãos investe no segmento turístico de eventos como forma de atrair turistas ao município, tendo este ano criado mais um evento: o Choco Circus - Um doce de Páscoa, com o intuito de aumentar o leque de opções aos turistas e também de renda à comunidade. Além dos eventos, o município possui um produto turístico formatado, desde o ano 2000, denominado Rota Colonial Baumschneis, que abrange a área urbana e rural do município, composta, hoje, por quinze atrativos. Esse roteiro foi alicerçado nos aspectos histórico-culturais e nas áreas naturais rurais, encontradas na zona rural, enaltecendo as características germânicas legadas pelos antepassados. O roteiro abarca o segmento do Turismo no Espaço Rural, pois é no meio rural que estão concentrados a maior parte dos seus pontos de visitação. O espaço rural, antes considerado, principalmente, como local de produção agrícola, se configurou, no Brasil, fundamentalmente após a década de oitenta, num lugar multifuncional, com a introdução de atividades não agrícolas. Entre estas atividades pluriativas, executadas no campo, o turismo ganhou destaque através do TER. O desenvolvimento desse segmento turístico busca criar estratégias para o aumento da renda das famílias rurais, a partir das peculiaridades de seus lugares e os modos de vida dos moradores. Esses aspectos tornam-se uma das principais atrações desses locais, e motivos do deslocamento de citadinos para esses espaços. Nesse sentido, muitas propriedades rurais estão investindo no desenvolvimento de atividades turísticas, agregando valor ao local e gerando, muitas 225 vezes, mais renda aos seus moradores. Uma das formas que ocorre a inserção dessas propriedades no mercado turístico é através da criação de roteiros turísticos, os quais atuam como articuladores de atrativos, aumentando assim o potencial turístico do lugar, uma vez que será ofertado ao turista um conjunto de atrativos conectados, acrescendo suas opções de lazer. Contudo, muitas vezes, esses roteiros são implantados e/ou conduzidos de maneira inadequada, acarretando na desistência de muitos integrantes dos roteiros, ocasionando, assim, a frustração ou a desmotivação com a atividade turística. Esta dissertação se propôs a realizar um estudo longitudinal da Rota Colonial Baumschneis, localizada no município de Dois Irmãos, Rio Grande do Sul, tendo como intuito analisar sua construção e desenvolvimento durante os seus quatorze anos de funcionamento, buscando descobrir os fatores que somaram para a atual situação do roteiro. Esta análise pautou-se, principalmente, na fala dos proprietários dos estabelecimentos turísticos da Rota, verificando a percepção desses autores a respeito da Rota e os acontecimentos relacionados a ela, ocorridos desde sua criação, no ano 2000 até hoje, 2014. No que se refere ao primeiro objetivo da pesquisa, qual seja, identificar os aspectos relacionados à criação, organização e desenvolvimento da Rota, constatou-se que os objetivos da sua criação estavam alicerçados na preocupação do Poder Público Municipal com os moradores da zona rural, em buscar alternativas socioeconômicas para a área rural do município, diversificando suas atividades, ressaltando as características naturais, culturais e sociais do local, com a possibilidade de um retorno financeiro, aliado à permanência da população rural em seu local de origem, bem como valorizar a parte histórica e cultural do município. Compreende-se que num mercado de trabalho, cada vez mais competitivo, é sempre bem vinda uma ideia, uma decisão, uma iniciativa, como a implantação dessa Rota, que possibilite a criação de mais vagas de trabalhos e consequentemente, na possibilidade de auferir uma renda, tão necessária para manutenção de um nível social de vida. Sob a ótica dos entrevistados, proprietários e gestores públicos, houve no início da criação da Rota um engajamento de todos os envolvidos, de um lado o Poder Público, pelo interesse em propiciar uma nova atividade no município que gerasse emprego e renda e, por outro lado, a comunidade, os proprietários dos estabelecimentos envolvidos, os fornecedores de produtos, que acreditaram que o 226 turismo lhes traria benefícios, que seria economicamente rentável e adequado para a conservação do patrimônio histórico-cultural das propriedades com edificações histórias, identificados com a cultura germânica existente no local. Formatar um produto com essas características exige uma série de atividades preliminares para colocá-lo à disposição do público e foi isso que ocorreu nesse roteiro turístico. Verificou-se que, ao longo de um período de dois anos, antes da implantação oficial da Rota Colonial, nos anos de 1998 e 1999, foram realizados estudos de viabilidade, os locais foram preparados e os proprietários capacitados para receber os turistas e desenvolver o turismo em Dois Irmãos. As atividades da Rota Colonial Baumschneis iniciaram no ano 2000 em clima de otimismo. Cada empreendedor tinha suas expectativas, seus planos e suas aspirações. Além do atendimento ao público, foram propiciados aos proprietários reuniões, participação em eventos e atividades correlatas, com o objetivo da divulgação e comercialização da Rota. Porém, nesse período foram feitas muitas promessas, nas quais muitos proprietários acreditaram, como por exemplo, que viriam diversos ônibus no decorrer da semana, durante o mês e que seria idêntico ao que ocorre no roteiro Caminhos de Pedra, no município de Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul, o qual eles haviam visitado e que tem um fluxo turístico regular durante todo o ano. Com o passar dos anos, foram aparecendo dificuldades, muitas superadas e outras apenas postergadas e acumuladas, gerando frustrações quanto ao gerenciamento da Rota. Surgiram sinais de acomodação, de desmobilização e de descrédito no que lhes havia sido dito e o que a realidade demonstrava. Segundo a opinião dos empreendedores, pode-se concluir que o sucesso do roteiro durou em torno de três anos e, nos outros onze anos, os empreendedores continuaram o seu trabalho, sem, no entanto, acrescentar novas ideias e sem um trabalho maior de divulgação do roteiro, havendo assim, pouco engajamento dos proprietários, bem como pouca atuação da Associação da Rota Colonial, condizente com o que se espera de uma entidade associativa. Nesse sentido, a partir do que fora descoberto pelas pesquisas bibliográfica e de campo, evidencia-se que um dos objetivos da implantação da Rota Colonial, relacionado a criar alternativas econômicas, com possibilidade de retorno financeiro, não foi alcançado plenamente, sendo, apenas, atingido satisfatoriamente, no início das atividades e, parcialmente, no decorrer dos anos subsequentes. Contudo, os 227 demais objetivos, no que se refere à valorização dos aspectos históricos e culturais do município e, principalmente, dos moradores da área rural, foram inteiramente alcançados, uma vez que os proprietários relataram que houve um aumento cultural e social significativo em suas vidas, a partir do momento que iniciaram suas atividades junto à Rota Colonial Baumschneis. O segundo objetivo deste estudo pretendia caracterizar os atrativos turísticos, que fizeram e fazem parte do roteiro, nestes quatorze anos, apresentando seu potencial turístico, motivação e a permanência no turismo. Portanto, ficou evidenciado que a Rota tem uma ampla diversidade de atrativos, tanto naturais, propiciando atividades ligadas à exploração agrícola, com visitação a plantações e observação do manejo com animais, bem como caminhadas ao ar livre e apreciação da paisagem; quanto culturais, com edificações históricas, relacionadas ao início da colonização germânica, aos costumes e hábitos dos descendentes e à comercialização de produtos artesanais, sendo que todos possuem potencial apreciável e atratividade turística pera o público visitante. Os dois estabelecimentos comerciais voltados à gastronomia, Kaffe Haus e Kioske da Rota poderiam melhor se adequar ao roteiro, principalmente no que se refere ao estilo arquitetônico, uma vez que ambos não possuem uma edificação característica para a região, isto é, germânica, relacionada com a germanidade, presente na Rota Colonial Baumschneis. Os dados da análise reforçam que a motivação da maioria dos proprietários, ao se inserirem na Rota, foi a expectativa da melhora econômica da sua propriedade, aliada à preservação dos aspectos histórico-culturais das edificações ali existentes. Por mais que, financeiramente, essa Rota não tenha sido rentável para a maioria dos estabelecimentos, por seu baixo fluxo turístico, no decorrer desses quatorze anos e, nesse sentido, não ter atingido plenamente um dos intuitos da sua criação, essa não foi a razão principal do desligamento daqueles que hoje não participam mais da Rota Colonial. Conforme relatam os proprietários, a desistência se sucedeu por desentendimentos, por problemas familiares, por interesses particulares e pelo tombamento do imóvel. A permanência na atividade turística dos quinze atrativos que hoje ainda atuam na Rota, segundo os proprietários, ocorre por que:  acreditam que o roteiro vai melhorar; 228  consideram que vai haver um aumento na demanda de turistas;  gostam de receber os turistas em seus empreendimentos;  sentem-se valorizados pelos turistas, quanto a sua cultura e modo de vida. Quanto ao terceiro e último objetivo, o qual tinha o intuito de identificar os fatores que levaram a Rota Colonial Baumschneis ao estágio atual, o que mais se evidencia é a falta de divulgação do roteiro durante os últimos onze anos, ou seja mais de dois terços do tempo que o roteiro, existe. Nos primeiros três anos, após a implantação, no ano 2000, foi constatado que houve incentivo do poder público e dos próprios associados da Associação da Rota Colonial em participar de eventos regionais e estaduais, com o intuito de divulgar a Rota Colonial Baumschneis, bem como ocorreram ações de divulgação em programas de rádio e em jornais de circulação local e regional. Eles ressaltam que essa divulgação trazia resultados positivos, com a vinda de alguns ônibus fretados de várias regiões do Estado, principalmente da Região Metropolitana de Porto Alegre e Vale do Rio dos Sinos, demonstrando que havia interesse das pessoas em conhecer a Rota. No entanto, se observa que foram durante estes anos 2000-2003 em que estavam na Prefeitura o Sr. Laurindo Julien, Chefe do Departamento de Turismo, o Sr. Juarez Stein, Prefeito Municipal, e a Sra. Cládis Maria Hansen, moradora de Dois Irmãos, que tinha muito interesse em auxiliar no desenvolvimento da rota turística, tornou-se Presidente da Associação e, assumiu, mais tarde, o cargo de Chefe de Departamento de Turismo juntamente com o Sr. Laurindo. Essas três pessoas acreditavam que a Rota tinha futuro e se dedicaram muito para que a mesma se desenvolvesse e fosse reconhecida pelo público. Pelos relatos dos entrevistados, esse roteiro passou por um processo de diminuição do fluxo de visitantes e, consequentemente, de desmotivação de alguns proprietários de pontos de visitação, a partir do momento que essas pessoas não eram mais responsáveis por seus cargos na Prefeitura Municipal ou na Associação da Rota Colonial, faltando então o incentivo necessário para manter e melhorar os seus empreendimentos. Os relatos sinalizam que houve a vontade e a disposição de outros gestores municipais e da Associação da Rota Colonial, a partir de 2003, em motivar com empenho e o desenvolvimento da Rota Colonial Baumschneis, todavia, observa-se, pela desistência de alguns pontos de visitação e pela desmotivação da maioria dos proprietários, não foram alcançados os resultados desejados. 229 A falta de gerenciamento, enfatizada em alguns relatos, é outro aspecto citado como um dos maiores fatores para o roteiro se encontrar em tal situação. Julgam que um melhor gerenciamento da Rota teria, talvez, evitado e solucionado o problema que motivou o afastamento de alguns estabelecimentos. Outro ponto a considerar foi a falta de estratégias de marketing para a comercialização do roteiro para o público alvo. Como diz o Sujeito 4 "é que nem uma fábrica sem gerente, precisa ter uma mãe ou um pai pra tudo", referindo-se ao fato de não ter havido alguém que incentivasse os demais, que fosse o líder para novas ideias e para a solução dos problemas e, com sua liderança, engajasse os demais a tomar atitudes voltadas a encontrar meios e fórmulas que criassem um novo impulso para o desenvolvimento dessa Rota. Outro aspecto que foi salientado, que também contribui com a atual situação do roteiro, expressa na fala dos proprietários, é que não existe o interesse de praticamente nenhum familiar dos atuais proprietários participantes desse roteiro turístico, em continuarem a atividade da família. Esse fato enseja, no futuro, o fechamento de alguns atrativos, ou até inviabilizará a continuação dessa Rota por completa. Nesse sentido, faz-se necessário um trabalho de conscientização e de incentivo, junto aos familiares, para uma mobilização, no sentido de verificar possíveis pessoas que queiram assumir, no futuro, os empreendimentos. O otimismo do Sujeito 12, expresso em seu comentário: "a rota, no meu ponto de vista, está um pouco devagar, e demais, [...] nós vamos trabalhar bastante a parte do turismo", é um posicionamento raro entre os proprietários atuais. O trabalho de motivação deveria ser feito pela própria Associação da Rota Colonial, uma vez que uma das funções dessa entidade é criar condições que mobilizem os associados a, unidos, trabalharem em prol do bem comum, buscando, através da participação em reuniões, ouvir opiniões e sugestões, que visem melhorar o crescimento e o desenvolvimento do roteiro nos aspectos sociais, culturais e, principalmente, econômicos. Contudo, para que as pessoas tenham mais incentivo em permanecer na Rota é de suma importância que a mesma gere lucros. Pela fala dos proprietários, o roteiro não rendeu economicamente como o esperado e, a falta de perspectivas de renda com a atividade turística fez com que alguns empreendimentos tenham se desligando do roteiro, sendo também um dos principais motivos da falta de interesse por parte dos familiares mais jovens em dar continuidade ao empreendimento 230 familiar e permanecer na zona rural e, principalmente atuando na atividade turística, através da Rota Colonial Baumschneis. Outro aspecto que foi evidenciado como mais um dos problemas da atual situação da Rota e está relacionado com a geração de mais lucros é a semelhança das atrações e dos produtos oferecidos aos turistas em muitos pontos de visitação. Talvez, com o intuito de aumentar a renda da propriedade e oferecer mais atrativos aos turistas que a visitam, uma parcela dos proprietários introduziu, paulatinamente, no seu empreendimento, produtos e/ou serviços, os quais, inicialmente, eram apenas comercializados por um atrativo da Rota. Com a múltipla oferta de produtos em dois ou três lugares do trajeto, simultaneamente, o roteiro ficou muito uniforme, afastando-se assim, das características iniciais, qual era, oferecer produtos e atrações diversificadas em toda sua extensão. O Sujeito 4 relata que "no começo a Rota era diferente [...] Aí quando o pessoal consegue tudo lá [...] não vai vir aqui. Isto que é ruim! O que ele não tem, ele arruma nas vizinhanças dele lá, isto que é o ruim! Aí me mata", se referindo ao fato de outro local oferecer os mesmos produtos que o Sujeito 4 oferta na sua propriedade. Nota-se que esta liberdade de oferta de produtos e atrações possa ter influído na diminuição do fluxo turístico da Rota, mais, especificamente, em alguns atrativos, não sendo, portanto, recomendada, uma vez que, como diz o Sujeito 4 "aí me mata", referindo-se ao decréscimo de seus rendimentos, por não comercializar os seus produtos característicos. A comercialização pré-estabelecida para cada empreendimento, talvez fosse a melhor alternativa, pois assim se estimula o turista a procurar os outros atrativos do roteiro. Este é um assunto a ser discutido em uma reunião entre os associados, para que se chegasse a um acordo sobre o que cada local ofertaria ao turista. Observa-se que, pela oferta de produtos e atrações, a Rota foi e está bem estruturada, mesmo havendo a repetição de produtos e/ou serviços em alguns locais, porque o turista encontra no seu trajeto, atrativos relacionados à história, à cultura, e pode adquirir produtos artesanais, além dos provenientes das lidas da agricultura e pecuária, bem como permite um espaço voltado à natureza com paisagens rurais. Também oferece uma gastronomia com possibilidades de atendimento personalizado e com produtos característicos da região, isto é, o café colonial, encontrado no Convento Doce e no Kaffe Haus. 231 Analisando a Rota sob a ótica social e cultural, verifica-se que a mesma trouxe benefícios positivos, durante estes quatorze anos de existência para a maioria dos proprietários dos atrativos, uma vez que as pessoas envolvidas tiveram, através dela, a oportunidade de se inserir em um roteiro turístico, sendo que, individualmente, não teriam tantas facilidades. O aspecto econômico também foi importante, mas em pequena escala, ocorrendo um retorno financeiro mais significativo logo após a implantação do roteiro. A partir das vozes dos proprietários, a Rota Colonial Baumschneis lhes proporcionou:  a visualização aos olhos dos turistas;  a inserção no mundo empresarial;  a oportunidade de exporem e venderem seus produtos;  a divulgação do que faziam e produziam, isto é, a forma, o método e o manejo utilizado na produção e fabricação de seus produtos ofertados;  o reconhecimento de suas tradições e costumes, herdados dos antepassados, expressos no modo de vida que ainda preservam;  a divulgação do patrimônio histórico de suas casas e edificações antigas, alguns com mais de cem anos de existência e ainda servindo às mesmas finalidades de outrora, bem como o acervo de móveis, utensílios e ferramentas existentes no interior das habitações, consideradas um legado e preservadas como "relíquias do passado";  a apresentação da propriedade, no que diz respeito ao reconhecimento do espaço geográfico onde se localiza, pelas paisagens e ambientes que ali existem e pelas culturas agrícolas desenvolvidas. Corrobora-se que a atividade turística, quando bem planejada e executada, adequando-se à realidade local, com a participação efetiva da comunidade e, principalmente, das pessoas diretamente envolvidas, pode se constituir numa atividade que se torne um importante fator de desenvolvimento econômico, social e cultural. A Rota Colonial Baumschneis não obteve todos os resultados esperados, mas alcançou parcela deles, principalmente no que diz respeito aos aspectos culturais e sociais, relacionados à valorização e reconhecimento do morador rural. Esses dois aspectos foram os mais citados por todos os proprietários, os quais afirmam que, com a criação da Rota, passaram a considerar que, o uso do dialeto Hunsrück, e a consequente incorporação de um forte sotaque característico, 232 quando se expressam na Língua Portuguesa, eram motivos de sentimentos de exclusão e atraso no contato com pessoas estranhas ao seu convívio social, no entanto, reconhecem que, a partir da convivência com os turistas, que visitavam seus atrativos, se sentiram valorizados, justamente pela manutenção e preservação dessas características e passaram, então, a se sentirem reconhecidos, valorizados e orgulhosos por suas formas de expressão verbal e por suas residências simples. Eles elegeram esses fatores como motivos de desejarem a manutenção, o crescimento e a valorização da Rota. A criação da Rota Colonial Baumschneis é para Dois Irmãos um fator importante na divulgação do município, como forma de apresentar ao turista a sua história e a herança cultural, que ficou transmitida, com o passar dos anos, de geração em geração. Ao mesmo tempo em que se destacam as conclusões a qual se chegou por meio das informações obtidas em todas as fases deste estudo, torna-se pertinente trazer as restrições e limitações encontradas no decorrer do trabalho. Dentre outras passíveis de terem acontecido, ressalta-se a recusa e a indisponibilidade de alguns proprietários de empreendimentos turísticos da Rota Colonial e gestores municipais em participar da pesquisa, não sendo possível, assim, realizar a pesquisa censitária que fora prevista, trazendo, desta forma, um resultado por amostragem. A impossibilidade das entrevistas com todos os proprietários e gestores, teria, talvez, produzido uma resposta diferente à problemática desta pesquisa. Todavia, considera-se que os objetivos elencados nesta pesquisa foram alcançados, mas, talvez, algumas questões deveriam ter sido tratadas de forma diferenciada e mais aprofundadas, porém o tempo de duração do Mestrado se mostrou insuficiente para abarcar todas as indagações que foram se apresentando no decorrer da pesquisa. 233 REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Ricardo. O futuro das regiões rurais. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003. AGUIAR, Marina Rodrigues de; DIAS, Reinaldo. Fundamentos do Turismo: conceitos, normas e definições. Campinas, SP: Alínea, 2002. ALMEIDA, Joaquim Anécio; RIEDL, Mário. Prefácio. In: ALMEIDA, Joaquim Anécio; RIEDL, Mário (Orgs.). Turismo rural: ecologia, lazer e desenvolvimento. Bauru, SP: EDUSC, 2000. ALEMIDA, Joaquil Anécio; SOUZA, Marcelino de. Apresentação. In: ALEMIDA, Joaquil Anécio; SOUZA, Marcelino de. Turismo rural: patrimônio, cultura e legislação (Orgs.). Santa Maria, RS: FACOS/UFSM, 2006. p. 07-13. ANDRADE, Alexandre Carvalho de; MARQUES NETO, Roberto. 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Teoria e prática do turismo no espaço rural. Barueri, SP: Manole, 2010, p. 209-223. 251 APÊNDICE A ENTREVISTA COM O PROPRIETÁRIO Prezado(a) proprietário(a), A presente entrevista é direcionada a cada proprietário(a) de atrativos da Rota Colonial Baumschneis de Dois Irmãos. Os dados fornecidos serão mantidos em sigilo, sendo revelado apenas o nome das propriedades que participarem do estudo, e fotos do local retiradas de sites e/ou fotografadas pelos pesquisadores. A sua participação é fundamental para a realização deste estudo. I – Dados de Identificação dos(as) 6) Nome do Cônjuge proprietários(as) e da Propriedade _____________________________________ _____________________________________ 1) Nome do Proprietário(a) _____________________________________ 7) Atividade profissional do Cônjuge _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 2) Sexo O 1 Feminino O 2 Masculino 8) Possui filhos O 1 Sim O 2 Não 3) Estado Civil O 1 Casado(a) / vive com alguém 9) Caso a resposta acima seja sim, informar O 2 Solteiro(a) quantos. O 3 Separado(a) / Divorciado _____________________________________ O 4 Viúvo(a) O 5 Outro:_ ________________________ 10) Área da Propriedade em hectares (há) ou metros (m²) 4) Escolaridade do proprietário _____________________________________ O 1 Ensino Fundamental incompleto O 2 Ensino Fundamental completo 11) Nome da Propriedade O 3 Ensino Médio incompleto _____________________________________ O 4 Ensino Médio completo _____________________________________ O 5 Ensino Superior incompleto O 6 Ensino Superior nas áreas agrárias 12) Endereço da Propriedade O 7 Ensino Superior na área do Turismo _____________________________________ O 8 Ensino Superior completo _____________________________________ O 9 Ensino Superior completo na área agrária 13) Vocês possuem residência urbana? O 10 Ensino Superior completo na área do O 1 Sim O 2 Não Turismo Endereço: O 11 Pós-graduado _____________________________________ O 12 Pós-graduado nas áreas agrárias _____________________________________ O 13 Pós-graduado na área do Turismo 14) Moram na propriedade: 5) Atividade profissional do proprietário O 1 Sim O 2 Não O 1 Agropecuarista O 2 Aposentado(a) 15) A que distância a Propriedade rural fica O 3 Comerciante do centro de Dois Irmãos em Km? O 4 Agricultor(a) _____________________________________ O 5 Corretor(a) rural O 6 Dona de Casa 16) Telefone e E-mail de contato O 7 Empresário(a) _____________________________________ O 8 Engenheiro(a) Ciências Agrárias _____________________________________ O 9 Engenheiro(a) Não Agrárias O 10 Professor O 11 Outro________________________ 252 17) Percentual de receita da atividade O 9 Ásia primária O 10 Oceania _____________________________________ O 11 África 18) Percentual de receita da atividade 27) Realizou alguma visita a parentes ou terciária amigos nos últimos 12 meses? _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não Para onde: 19) Possui meio de transporte particular? _____________________________________ O 1 Moto _____________________________________ O 2 Carro _____________________________________ O 3 Outro: _________________________ 28) Qual a principal atividade de lazer 20) Esta Propriedade vem desde qual praticada pelos integrantes da família: geração na sua família? _____________________________________ O 1 1ª geração O 5 5ª geração _____________________________________ O 2 2ª geração O 6 6ª geração _____________________________________ O 3 3ª geração O 7 7ª geração O 4 4ª geração O 8 8ª geração 29) Frequenta algum clube social: O 1 Sim O 2 Não 21) Possui irmãos? Qual: O 1 Sim O 2 Não _____________________________________ _____________________________________ 22) Quem administra a propriedade? O 1 Proprietário 30) Caso a resposta seja positiva, com que O 2 Proprietário/Parceiro frequência: O 3 Proprietário/Arrendatário O 1 1 x por semana O 4 Parente (filhos/irmãos) O 2 2 x por semana O 5 Outro: ________________________ O 3 3 x por semana O 4 1 x por mês 23) Essa propriedade já foi dividida? O 5 2 x por mês O 1 Sim O 2 Não O 6 3 x por mês O 7 nunca 24) Caso a resposta acima for sim, informar qual área total anterior em hectares? 31) Caso a resposta seja positiva, qual a _____________________________________ atividade social que mais pratica no clube: _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ II – INFORMAÇÕES CULTURAIS E SOCIAIS _____________________________________ DOS PROPRIETÁRIOS 32) Exerce alguma atividade social no bairro? 25) Quais os locais para onde foi nos últimos O 1 Sim O 2 Não 24 meses? Qual: O 1 Dentro do Estado _____________________________________ O 2 Em outro Estado da Federação _____________________________________ O 3 América do Sul O 4 América do Norte 33) Exerce alguma atividade social na O 5 América Central cidade? O 6 Europa O 1 Sim O 2 Não Qual: 26) Além dessa últimas viagens feitas, quais _____________________________________ outros lugares você já visitou? _____________________________________ O 1 Sul do Brasil O 2 Sudoeste do Brasil 34) Pertence a alguma comunidade O 3 Centro-Oeste do Brasil religiosa? O 4 Nordeste do Brasil O 1 Sim O 2 Não O 5 América do Sul Qual: O 6 América do Norte _____________________________________ O 7 América Central _____________________________________ O 8 Europa 253 III - INFORMAÇÕES SOBRE A ATIVIDADE 42) Número de familiares envolvidos no início PRIMÁRIA da atividade turística? O 1 1 O 4 4 35) Qual é a exploração primária da O 2 2 O 5 5 Propriedade? O 3 3 O 6 Nenhum O 1 Abóbora O 2 Aipim ou Mandioca 43) Número de familiares envolvidos O 3 Arroz atualmente na atividade turística? O 4 Batata Doce O 1 1 O 4 4 O 5 Hortaliças O 2 2 O 5 5 O 6 Feijão O 3 3 O 6 Nenhum O 7 Frutas O 8 Acácia 44) Número de funcionários permanentes no O 9 Milho início da atividade turística? O 10 Eucalipto O 1 1 O 4 4 O 11 Outro: ________________________ O 2 2 O 5 5 O 3 3 O 6 Nenhum 36) Objetivo da exploração primária: O 1 Família 45) Número de funcionários permanentes O 2 Comércio atualmente na atividade turística? O 3 Outro: ________________________ O 1 1 O 4 4 O 2 2 O 5 5 37) Existem outros tipos de criação? O 3 3 O 6 Nenhum O 1 Cabra O 7 Ovelha O 2 Chinchila O 8 Pato V – EMPREGOS TEMPORÁRIOS NA O 3 Emas O 9 Gado PROPRIEDADE O 4 Pavão O 10 Peru O 5 Galinha O 11 Porco 46) Número de empregados temporários O 6 Ganso O 12 Outros______ envolvidos no empreendimento com a atividade agrícola? O 1 1 O 4 4 IV – EMPREGOS FIXOS NA PROPRIEDADE O 2 2 O 5 5 O 3 3 O 6 Nenhum 38) Número de familiares envolvidos no empreendimento com a atividade agrícola? 47) Número de empregados temporários O 1 1 O 4 4 envolvidos no empreendimento com a O 2 2 O 5 5 atividade turística? O 3 3 O 6 Nenhum O 1 1 O 4 4 O 2 2 O 5 5 39) Número de familiares envolvidos no O 3 3 O 6 Nenhum empreendimento com a atividade turística? O 1 1 O 4 4 48) Número de funcionários temporários no O 2 2 O 5 5 início da atividade turística? O 3 3 O 6 Nenhum O 1 1 O 4 4 O 2 2 O 5 5 40) Número de empregados permanentes O 3 3 O 6 Nenhum envolvidos no empreendimento com a atividade agrícola? 49) Número de funcionários temporários O 1 1 O 4 4 atualmente na atividade turística? O 2 2 O 5 5 O 1 1 O 4 4 O 3 3 O 6 Nenhum O 2 2 O 5 5 O 3 3 O 6 Nenhum 41) Número de empregados permanentes envolvidos no empreendimento com a atividade turística? O 1 1 O 4 4 O 2 2 O 5 5 O 3 3 O 6 Nenhum 254 VI – POTENCIAL TURÍSTICO DA O 4 A venda de produtos coloniais PROPRIEDADE O 5 Outro: _________________________ 50) Qual foi o ano de início das atividades 56) Você considera o acesso à propriedade: turísticas na propriedade? O 1 Bom _____________________________________ O 2 Regular O 3 Ruim 51) Qual a razão para o início das atividades turísticas? VII – MOTIVAÇÃO E PERMANÊNCIA NA _____________________________________ ATIVIDADE TURÍSTICA _____________________________________ _____________________________________ 57) Qual(is) o(s) motivos que fizeram você _____________________________________ olhar para o Turismo no Espaço Rural como _____________________________________ mais uma fonte de receita para sua _____________________________________ Propriedade? _____________________________________ 52) Quais os atrativos que existem na _____________________________________ propriedade para o turista? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 58) Por que entrou na atividade turística? _____________________________________ O 1 Área ociosa na propriedade _____________________________________ O 2 Aumentar rendimentos/agregar valores _____________________________________ O 3 Beleza naturais na propriedade _____________________________________ O 4 Demanda para o turismo O 5 Diversificação da atividade econômica 53) Equipamentos e atrativos de animação. O 6 Maior convivência social no campo Áreas de recreação e instalações desportivas: O 7 Manutenção econômica da O 1 Açude propriedade O 2 Baralho O 8 Melhoria da qualidade de vida O 3 Cancha de bocha O 9 Morar no local O 4 Quadro de vôlei O 10 Prevenção do patrimônio histórico da O 5 Campo de futebol propriedade O 6 Carreta com bois O 11 Outros:_________________________ O 7 Carreta com cavalos O 8 Cavalos 59) Por que permanece na atividade O 9 Jogo do Osso turística? O 10 Lida Campeira _____________________________________ O 11 Piscina _____________________________________ O 12 Playground _____________________________________ O 13 Trilhas ecológicas _____________________________________ O 14 Outros_________________________ _____________________________________ _____________________________________ 54) Quem faz o serviço de recepção e _____________________________________ reservas? O 1 Agência de viagens 60) Quem teve a ideia de iniciar a atividade O 2 Órgão de Turismo responsável de turismo nesta Propriedade? O 3 Transportadora Turística O 1 Amigos O 4 O proprietário O 2 Filhos O 5 Outro__________________________ O 3 Netos O 4 Proprietário 55) Na propriedade é explorado: O 5 Comunidade O 1 A área de lazer O 6 Conhecimento de outra rota O 2 A venda de produtos agropecuários O 7 Outros:_________________________ O 3 A venda de artesanato 255 61) Quais as dificuldades para permanecer 66) Caso a resposta seja positiva, a na atividade turística? execução da obra seria: O 1 Sazonalidade do turismo O 1 Nos próximos 12 meses O 2 Dificuldade de acesso O 2 Mais de 12 meses O 3 Falta de divulgação O 4 Problemas financeiros 67) Caso a resposta seja positiva, os O 5 Falta de apoio do governo recursos para ampliação seriam: O 6 Distância/localização O 1 Próprios O 7 Dificuldade de comercialização do O 2 A partir de financiamento turismo rural O 8 Nenhuma 68) Houveram mudanças no fluxo de turistas O 9 Outros: após as melhorias no acesso da rua principal: _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não _____________________________________ _____________________________________ 69) Caso a resposta seja negativa, por quê? _____________________________________ 62) Investimentos em equipamentos para o _____________________________________ funcionamento? O 1 Infraestrutura 70) A propriedade teve, desde o seu início na O 2 Eletrodomésticos atividade turística: O 3 Equipamentos de lazer O 1 Crescimento no número de visitantes O 4 Móveis e Utensílios O 2 Crescimento e estagnação no número O 5 Outros Investimentos: de visitantes _____________________________________ O 3 Crescimento e declínio no número de _____________________________________ visitantes O 4 Decréscimo 63) Quais os resultados? O 1 Satisfatórios 71) Os visitantes questionam sobre a história O 2 Bons do lugar? O 3 Bons, porém o retorno é sazonal O 1 Sim O 2 Não O 4 Financeiramente empatado O 5 Dá para continuar 72) O que gostaria de introduzir/modificar na O 6 Bons, mas existe pouca procura sua propriedade para melhorar o local para a O 7 Excelente, lucrativa recepção dos turistas? O 8 Mais positiva que negativa _____________________________________ O 9 Realização, está ótimo _____________________________________ O 10 Dentro das expectativas _____________________________________ O 11 Perspectiva de melhoras _____________________________________ O 12 Pequena tendência de melhora a _____________________________________ médio e longo prazo _____________________________________ O 13 Retorno lento O 14 Baixos, pois recebe somente fins de 73) Época do ano em que ocorre o maior semana fluxo de visitantes: O 15 Abaixo daquilo que esperava O 1 Verão O 16 Outros:_________________________ O 2 Outono O 3 Inverno 64) Quais as dificuldades operacionais? O 4 Primavera _____________________________________ _____________________________________ 74) O fluxo de turistas aumentou após a _____________________________________ implantação da Rota? _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não ____________________________________ 75) Caso a resposta seja negativa, por quê? 65) Existe uma projeção de ampliação da _____________________________________ propriedade? _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não _____________________________________ Por quê? _____________________________________ _____________________________________ ____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 256 76) Houve a necessidade de ampliação da 86) Poderia enumerar sugestões de área de lazer para melhor atender os turistas? melhorias para a Rota? O 1 Sim O 2 Não _____________________________________ _____________________________________ 77) Houve a necessidade da comercialização _____________________________________ de novos produtos para melhorar a renda _____________________________________ familiar? _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não 87) Qual seu grau de satisfação em participar 78) Há interesse dos descentes da Rota? permanecerem na propriedade e continuarem O 1 Muito Bom com a atividade turística? O 2 Bom O 1 Sim O 2 Não O 3 Regular O 4 Ruim 79) Por quê? _____________________________________ 88) Houve ganhos culturais na troca de _____________________________________ vivências com os turistas? O 1 Sim O 2 Não 80) Ao iniciar na atividade turística ocorreram mudanças na forma de viver da família? 89) Quais as três maiores dificuldades O 1 Sim O 2 Não encontradas para a administração da Quais? propriedade em relação a atividade turística? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 81) Gostaria de participar de cursos de _____________________________________ capacitação voltados ao Turismo: _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não 90) O que esperava do Turismo a partir do 82) Gostaria de participar de cursos de momento que iniciou as atividades capacitação voltados à gestão, administração: relacionadas ao segmento de Turismo no O 1 Sim O 2 Não Espaço Rural? _____________________________________ 83) Comente sobre fatos negativos que _____________________________________ aconteceram durante o período que fizeste _____________________________________ parte da Rota Colonial: _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 91) Qual a efetiva participação dos _____________________________________ proprietários, dos atrativos integrantes do _____________________________________ roteiro, durante a criação e planejamento da Rota Colonial Baumschneis? 84) Comente sobre fatos positivos que _____________________________________ aconteceram durante o período que fizeste _____________________________________ parte da Rota Colonial: _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 92) Qual a participação do Poder Público _____________________________________ desde a criação da Rota, em relação a melhoria nos acessos, colocação de placas 85) Na sua opinião, quais são os problemas indicativas do roteiro, infraestrutura de que impedem o crescimento do roteiro: comunicação? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 257 93) Houve a realização de cursos de gestão, O 4 Cartazes atendimento ao cliente, conversação e higiene O 5 Boca a Boca dos alimentos, empreendedorismo, ou outros no início do funcionamento da Rota? VIII – PERFIL E MOTIVAÇÃO DOS O 1 Sim O 2 Não TURISTAS QUE FREQUENTAM A Quais? PROPRIEDADE _____________________________________ _____________________________________ 103) Quais as idades das pessoas que _____________________________________ costumam frequentar as propriedades rurais? _____________________________________ O 1 Menos de 10 anos _____________________________________ O 2 11 a 16 anos _____________________________________ O 3 17 a 22 anos _____________________________________ O 4 23 a 28 anos O 5 29 a 34 anos 94) Ocorrem reuniões com os integrantes da O 6 35 a 40 anos Associação da Rota Colonial ? O 7 41 a 46 anos O 1 Semanais O 8 47 a 52 anos O 2 Quinzenais O 9 53 a 58 anos O 3 Mensais O 10 59 a 64 anos O 4 Semestrais O 11 Mais de 65 O 5 Anuais O 6 Não ocorrem 104) Qual a profissão dos turistas? O 1 Aposentados 95) Por quê? O 2 Advogados _____________________________________ O 3 Bancários _____________________________________ O 4 Comerciantes _____________________________________ O 5 Dentistas O 6 Empresários 96) Porque foi criada a Associação da Rota O 7 Engenheiros Colonial Baumschneis? O 8 Estudantes universitários _____________________________________ O 9 Funcionários públicos _____________________________________ O 10 Médicos _____________________________________ O 11 Políticos O 12 Outros:_________________________ 97) Qual o objetivo da Associação? _____________________________________ 105) Qual o poder aquisitivo do turista que _____________________________________ visita o seu empreendimento? _____________________________________ 98) Você faz parte da Associação? _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não 106) A pessoa que visita a sua propriedade 99) Você participa das reuniões/encontros vem com: toda vez que ocorrem? O 1 Amigos O 1 Sim O 2 Não O 2 Avós e netos Porquê? O 3 Casais em lua de mel _____________________________________ O 4 Casal de namorados _____________________________________ O 5 Cônjuge _____________________________________ O 6 Cônjuge e filhos O 7 Família em sua totalidade 100) Considera importante haver uma O 8 Somente um dos pais com os filhos divulgação da Rota Colonial Baumschneis: O 9 outros:_________________________ O 1 Sim O 2 Não 107) Localidade dos turistas: 101) Esta divulgação ocorre? O 1 Urbana Local O 1 Sim O 2 Não O 2 Urbana Regional O 3 Urbana Estadual 102) Como ocorre esta divulgação? O 4 Urbana Fora do Estado O 1 Folder O 5 Urbana Internacional O 2 Jornal O 3 Placas 258 108) De qual município é o maior fluxo de O 4 Durante a semana turistas? _____________________________________ 117) Principal tipo de transporte utilizado pelo _____________________________________ turista: O 1 Moto 109) Qual a quantidade de turistas/dia? O 2 Carro _____________________________________ O 3 Ônibus de excursão O 4 Ônibus turístico (Jardineira) 110) Qual a quantidade de turistas/mês? _____________________________________ IX – PROPRIEDADES QUE ESTÃO FECHADAS OU QUE INTERROMPERAM 111) Qual a quantidade de turistas/ano? SUAS ATIVIDADES TEMPORARIAMENTE _____________________________________ 118) O fechamento das atividades turísticas 112) Período de permanência do turista? ocorreu: O 1 15 minutos O 1 Permanente O 2 30 minutos O 2 Temporário O 3 1 hora O 3 Venda da propriedade O 4 Meio dia O 5 Um dia inteiro 119) Quais foram os motivos para o fechamento das atividades turísticas nesta 113) Os turistas costumam retornar? propriedade? O 1 Sim O 2 Não O 1 Melhoria dos rendimentos da agricultura e pecuária 131) Quantas vezes? O 2 Pouco fluxo de turistas na propriedade O 1 1 a 2 vezes ao ano O 3 Pouca rentabilidade da atividade O 2 3 a 4 vezes ao ano turística O 3 4 a 5 vezes ao ano O 4 Despreparo dos recursos humanos O 4 Nunca retornam vinculados ao turismo O 5 Problema de sazonalidade do turismo 114) Ao que você atribui o retorno/ou não do O 6 Problema de sazonalidade da turista? agricultura ou pecuária O 1 Atendimento O 7 Outras atividades profissionais O 2 Localização O 8 Problemas pessoais O 3 Atrativos O 9 Problemas familiares O 4 Contato com a natureza/campo O 10 Outros_________________________ O 5 Descanso/fuga do estresse O 6 Outros 120) Quais foram os motivos para a reabertura das atividades turísticas nesta 115) O que motiva, na sua opinião, o turista a propriedade? procurar o turismo rural em uma propriedade O 1 Baixa nos rendimentos da como forma de lazer para si e para sua agricultura/pecuária família? O 2 Aumento no fluxo de turistas na O 1 Físicos propriedade O 2 Emocionais O 3 aumento da rentabilidade da atividade O 3 Culturais turística O 4 Desenvolvimento pessoal O 4 Melhoria dos recursos humanos O 5 Pessoais vinculados ao turismo O 6 Status O 5 Diminuição da sazonalidade da O 7 Outros_________________________ agricultura/pecuária O 6 Problema de sazonalidade da 116) Qual(is) o(s) dia(s) que ocorre maior agricultura/pecuária frequência de turistas na propriedade: O 7 Outros_________________________ O 1 Feriados O 2 Sábado O 3 Domingo 259 APÊNDICE B ENTREVISTA COM GESTORES MUNICIPAIS Prezado(a) Sr., A presente entrevista é direcionada a cada Secretário(a) e/ou Diretor(a) de Turismo que fez parte das gestões municipais entre os anos de 1997 e 2013. Os dados fornecidos serão mantidos em sigilo. A sua participação é fundamental para a realização deste estudo. I - Dados de Identificação 8) Em quais aspectos ela deveria ser melhorada? 1) Nome: _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 2) Em qual gestão teve um cargo na Prefeitura 9) Qual sua opinião sobre o setor de Dois Irmãos? gastronômico de Dois Irmãos? _____________________________________ O 1 Bom _____________________________________ O 2 Regular O 3 Ruim II - Eventos 10) Você acha que este setor atende a toda 3) Quais são os eventos que acontecem hoje demanda turística do município? no município relacionados com o turismo? O 1 Sim O 2 Não _____________________________________ _____________________________________ 11) Você acha que este setor deveria/poderia _____________________________________ ser melhorado? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 4) O Kerb da Bergamota ocorre desde _____________________________________ quando? _____________________________________ 12) Dois Irmãos é reconhecido como o Berço do Café Colonial. Na sua opinião o café 5) Porque começou a ocorrer este evento? colonial deveria ser melhor estruturado? _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não _____________________________________ Sugestão: _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 6) Qual a importância deste evento para o _____________________________________ município? _____________________________________ 13) Este setor e este "nome" deveria receber _____________________________________ uma atenção maior por parte da gestão ____________________________________ pública e privada? O 1 Sim O 2 Não III - Turismo em Dois Irmãos Sugestão: _____________________________________ 7) Como você considera a infraestrutura da _____________________________________ cidade para receber os turistas? _____________________________________ O 1 Boa O 2 Regular 14) Você acha que ele não é tão divulgado, ou O 3 Ruim comercializado? O 1 Sim O 2 Não 260 Por quê? Por quê? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ ____________________________________ _____________________________________ 15) Você considera a sinalização turística IV - Rota Colonial Baumschneis adequada? O 1 Sim O 2 Não 23) Como foi iniciado o projeto da Rota? Em Quais melhorias acha necessário: que ano? Quem o iniciou, quais pessoas _____________________________________ participaram deste projeto? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 16) Na sua opinião qual é a vocação/potencial _____________________________________ turístico de Dois Irmãos? _____________________________________ O 1 Turismo Cultural _____________________________________ O 2 Turismo Religioso _____________________________________ O 3 Turismo de Eventos O 4 Turismo no Espaço Rural 24) Qual foi o envolvimento da Prefeitura na O 5 Turismo de Aventura criação da Rota? O 6 Turismo Esportivo _____________________________________ O 7 Outros:_________________________ _____________________________________ _____________________________________ 17) Na sua opinião, a comunidade sempre foi envolvida no Turismo? 25) Quais as pessoas e entidades envolvidas O 1 Sim O 2 Não na criação da Rota? _____________________________________ 18) A comunidade participa ou participava no _____________________________________ desenvolvimento das festas municipais? _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não 26) Com quantos atrativos a Rota Colonial 19) Você considera que a comunidade de Dois iniciou? Irmãos entende o que é Turismo, e que este _____________________________________ possa trazer benefícios para a população? _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não _____________________________________ Por quê? _____________________________________ _____________________________________ ___________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 27) Como funcionava os cursos de capacitação que foram disponibilizados para 20) Como atualmente você analisa o fluxo os empreendedores da Rota? turístico da cidade? _____________________________________ O 1 Bom _____________________________________ O 2 Regular _____________________________________ O 3 Ruim 28) Porque não foram utilizados outros 21) Caso a resposta seja regular ou ruim, prédios, construções históricas e propriedades quais as mudanças que poderiam/deveriam no roteiro da Rota Colonial? ocorrer? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ ____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 29) A história que consta sobre os atrativos, no livro e materiais de divulgação da Rota 22) Você considera o Turismo como uns dos Colonial, é verdadeira? fatores de desenvolvimento para o município O 1 Sim O 2 Não de Dois Irmãos? O 1 Sim O 2 Não 261 30) As informações foram pesquisadas com os O 1 Sim O 2 Não proprietários, em livros? Por quê? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ ____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 31) Ainda existe a "Jardineira"? O 1 Sim O 2 Não 38) Dê que forma foram enfrentados os problemas da desistência de alguns 32) A Jardineira é propriedade de quem: empreendedores da Rota Colonial? O 1 Prefeitura _____________________________________ O 2 Associação da Rota Colonial _____________________________________ Baumschneis _____________________________________ O 3 Particular _____________________________________ O 4 Outro: _________________________ ____________________________________ 39) Quais os critérios que são utilizados para o 33) Você considera que a Rota Colonial ingresso de novos empreendedores na Rota? Baumschneis tem potencial turístico? _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não _____________________________________ Por quê? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ ____________________________________ _____________________________________ V - Associação da Rota Colonial 34) Você teria sugestões de melhorias para o Baumschneis: aumento do fluxo turístico da Rota Colonial? _____________________________________ 40) Existe a Associação da Rota. Porque ela _____________________________________ foi criada? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 41) Quem foi o responsável pela sua criação? 35) Você considera que a Rota tenha _____________________________________ contribuído, no início das atividades, para uma _____________________________________ melhora no nível de renda familiar dos _____________________________________ empreendedores? O 1 Sim O 2 Não 42) Quais foram os envolvidos nesta criação? Por quê? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 43) Existe um encontro com os empreendedores da Rota? 36) Você considera que a Rota tenha O 1 Sim O 2 Não contribuído, no início das atividades, para uma melhora no aspecto social dos 44) Caso a resposta seja negativa, por quê? empreendedores? _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não _____________________________________ Por quê? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 45) Qual a frequência destes encontros: _____________________________________ O 1 Semanais _____________________________________ O 2 Mensais O 3 Semestrais 37) Você considera que a Rota tenha O 4 Anuais contribuído, no início das atividades, para uma O 5 Não existem melhora no aspecto cultural dos empreendedores? 262 V - Informações adicionais 46) O Departamento do Turismo atual pretende realizar alguma ação específica para com a Rota: O 1 melhorias no acessos aos empreendimentos O 2 continuação da colocação de calçadas e paradas de ônibus no trajeto do roteiro na zona rural O 3 Outro: _________________________ 47) Qual a participação/envolvimento da Prefeitura na Rota? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 48) No período que você trabalhou na Prefeitura a comunidade era incluída nos planejamentos turísticos da cidade? O 1 Sim O 2 Não 49) Caso a resposta seja negativa, por quê? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 50) Caso a resposta seja positiva, como ocorria esta participação? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 263 APÊNDICE C ENTREVISTA COM O SR. ÉVERTON FRITSCH Prezado Senhor, A presente entrevista é direcionada a cada Secretário(a) e/ou Diretor(a) de Turismo que fez parte das gestões municipais entre os anos de 1997 e 2013. Os dados fornecidos serão mantidos em sigilo. A sua participação é fundamental para a realização deste estudo. I - Dados de Identificação Sugestão: _____________________________________ 1) Nome: _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 9) Este setor e este "nome" deveria receber 2) Qual sua relação com a Rota Colonial? uma atenção maior por parte da gestão _____________________________________ pública e privada? _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não Sugestão: III - Turismo em Dois Irmãos _____________________________________ _____________________________________ 3) Como você considera a infraestrutura da _____________________________________ cidade para receber os turistas? O 1 Boa 10) Você acha que ele não é tão divulgado, ou O 2 Regular comercializado? O 3 Ruim O 1 Sim O 2 Não 4) Em quais aspectos ela deveria ser Por quê? melhorada? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ ____________________________________ _____________________________________ 11) Você considera a sinalização turística 5) Qual sua opinião sobre o setor adequada? gastronômico de Dois Irmãos? O 1 Sim O 2 Não O 1 Bom Quais melhorias acha necessário: O 2 Regular _____________________________________ O 3 Ruim _____________________________________ _____________________________________ 6) Você acha que este setor atende a toda demanda turística do município? 12) Na sua opinião qual é a vocação/potencial O 1 Sim O 2 Não turístico de Dois Irmãos? O 1 Turismo Cultural 7) Você acha que este setor deveria/poderia O 2 Turismo Religioso ser melhorado? O 3 Turismo de Eventos _____________________________________ O 4 Turismo no Espaço Rural _____________________________________ O 5 Turismo de Aventura _____________________________________ O 6 Turismo Esportivo O 7 Outros:_________________________ 8) Dois Irmãos é reconhecido como o Berço do Café Colonial. Na sua opinião o café colonial 13) Na sua opinião, a comunidade sempre foi deveria ser melhor estruturado? envolvida no Turismo? O 1 Sim O 2 Não O 1 Sim O 2 Não 264 14) A comunidade participa ou participava no 22) Com quantos atrativos a Rota Colonial desenvolvimento das festas municipais? iniciou? O 1 Sim O 2 Não _____________________________________ _____________________________________ 15) Você considera que a comunidade de Dois _____________________________________ Irmãos entende o que é Turismo, e que este _____________________________________ possa trazer benefícios para a população? ___________________________________ O 1 Sim O 2 Não Por quê? 23) Como funcionava os cursos de _____________________________________ capacitação que foram disponibilizados para _____________________________________ os empreendedores da Rota? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 16) Como atualmente você analisa o fluxo _____________________________________ turístico da cidade? O 1 Bom 24) Porque não foram utilizados outros O 2 Regular prédios, construções históricas e propriedades O 3 Ruim no roteiro da Rota Colonial? _____________________________________ 17) Caso a resposta seja regular ou ruim, _____________________________________ quais as mudanças que poderiam/deveriam _____________________________________ ocorrer? _____________________________________ _____________________________________ ____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 25) A história que consta sobre os atrativos, no _____________________________________ livro e materiais de divulgação da Rota _____________________________________ Colonial, é verdadeira? _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não 19) Você considera o Turismo como uns dos 30) As informações foram pesquisadas com os fatores de desenvolvimento para o município proprietários, em livros? de Dois Irmãos? _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não _____________________________________ Por quê? ____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 26) Ainda existe a "Jardineira"? _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não IV - Rota Colonial Baumschneis 27) A Jardineira é propriedade de quem: O 1 Prefeitura 20) Como foi iniciado o projeto da Rota? Em O 2 Associação da Rota Colonial que ano? Quem o iniciou, quais pessoas Baumschneis participaram deste projeto? O 3 Particular _____________________________________ O 4 Outro: _________________________ _____________________________________ _____________________________________ 28) Você considera que a Rota Colonial _____________________________________ Baumschneis tem potencial turístico? _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não _____________________________________ Por quê? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 21) Quais as pessoas e entidades envolvidas _____________________________________ na criação da Rota? _____________________________________ 29) Você teria sugestões de melhorias para o _____________________________________ aumento do fluxo turístico da Rota Colonial? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 265 30) Você considera que a Rota tenha V - Associação da Rota Colonial contribuído, no início das atividades, para uma Baumschneis: melhora no nível de renda familiar dos empreendedores? 35) Existe a Associação da Rota. Porque ela O 1 Sim O 2 Não foi criada? Por quê? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 36) Quem foi o responsável pela sua criação? _____________________________________ 31) Você considera que a Rota tenha _____________________________________ contribuído, no início das atividades, para uma _____________________________________ melhora no aspecto social dos empreendedores? 37) Quais foram os envolvidos nesta criação? O 1 Sim O 2 Não _____________________________________ Por quê? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ 38) Existe um encontro com os _____________________________________ empreendedores da Rota? O 1 Sim O 2 Não 32) Você considera que a Rota tenha contribuído, no início das atividades, para uma 39) Caso a resposta seja negativa, por quê? melhora no aspecto cultural dos _____________________________________ empreendedores? _____________________________________ O 1 Sim O 2 Não _____________________________________ Por quê? _____________________________________ 40) Qual a frequência destes encontros: _____________________________________ O 1 Semanais _____________________________________ O 2 Mensais _____________________________________ O 3 Semestrais O 4 Anuais 33) Dê que forma foram enfrentados os O 5 Não existem problemas da desistência de alguns empreendedores da Rota Colonial? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ ____________________________________ 34) Quais os critérios que são utilizados para o ingresso de novos empreendedores na Rota? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ ____________________________________ 266 ANEXO A Lista de casas tombadas no município de Dois Irmãos nos anos de 2002 e 2003:  Casa Ellwanger, pertencente à família de Herberto Ellwanger;  Casa Família Engelmann, pertencente à família de Waldemar Engelmann;  Casa Auler, pertencente à família de Seno Auler;  Casa Dienstmann, pertencente à família de Roberto Dienstmann;  Casa Soine, pertencente à família de Edvino Soine  Museu Histórico Municipal pertencente à Prefeitura Municipal de Dois Irmãos;  Casa Konrath, pertencente à família de Waldir Konrath;  Conjunto Igreja Luterana, pertencente à Comunidade Evangélica Luterana;  Igreja Evangélica – IECLB, pertencente à Comunidade Evangélica de Confissão Luterana do Brasil;  Casa Pastoral Evangélica, pertencente à Comunidade Evangélica de Confissão Luterana do Brasil;  Casa Kollingde, pertencente à família José Aloysio Kolling;  Salão Sander, pertencente à família de Ari e Ricardo Nienow;  Armazém Sander, pertencente à família de Hugo Sander;  Casa Scholl, pertencente a Vale Serra Construções;  Antiga Igreja Matriz de São Miguel, pertencente à Prefeitura Municipal de Dois Irmãos;  Escola Imaculada Conceição, pertencente à Sociedade Educação e Caridade;  Casa Prof. Matheus Grimm, pertencente à família de Benno Kaefer;  Moinho Collet , pertencente à família de Nélson Collet;  Ponte de Pedra, pertencente à Prefeitura Municipal de Dois Irmãos;  Serraria Becker, pertencente à família de Hugo Guilherme Becker;  Cemitério Evangélico do Travessão, pertencente à Comunidade Evangélica de Confissão Luterana do Brasil. 267 ANEXO B 1º FOLDER DA ROTA 268 ANEXO C 2º FOLDER DA ROTA 269 ANEXO D 3º FOLDER DA ROTA