As autoras de "Tempos Rudes: a precarização estrutural na trajetória profissional de catadores e de catadoras de resíduos de Caxias do Sul/RS" são recorrentes em falar sobre coisas que alguns gostariam de deixar de lado. São impertinentes em tornar visível aquilo que os mecanismos de dominação da sociedade hegemonizada pelo capital se esmeram em deixar no esquecimento. É o segundo livro que publicam a partir de uma pesquisa com trabalhadoras e trabalhadores pobremente remunerados, apesar da relevância do trabalho que executam. Frente a indiferença de significativa parte do corpo social em relação a estas pessoas elas insistem em colocá-las sob luzes reveladoras da sua condição humana. A partir do lugar de fala dos sujeitos da pesquisa que originou o livro vão se descortinando as condições de existência de homens e mulheres que vivem à margem do mercado formal de trabalho. Trabalhadores e trabalhadoras que, apesar de realizarem função socioambiental essencial à sociedade, são vítimas de várias formas de exclusão, perpetuadoras de indignas condições de trabalho e vida. A revolução industrial nos legou a sociedade de consumo, que elevou as condições materiais de existência de parcela da humanidade. Mas, também, nos deixou como herança diversos problemas e iniquidades. Cabe, aqui, citar: o exército de mão-de-obra de reserva, necessário para rebaixar salários e ampliar os lucros dos donos do capital; e o passivo ambiental dos materiais descartáveis provenientes do consumo dos produtos disponíveis no mercado.