O filósofo e a Felicidade: o ideal ético do aristotelismo radical
Fecha
2023-05-05Autor
Sangalli, Idalgo José
Orientador
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O traço mais geral e comum presente tanto na concepção ética de Aristóteles, quanto na de Agostinho e, posteriormente, assumido por Tomás de Aquino e pelos chamados filósofos "averroístas" é o fato de o homem natural e conscientemente desejar e buscar o seu fim (télos), o seu finis bonorum. Isto é, pelo árduo caminho do agir virtuoso racional, o homem visa a alcançar o alvo, a realizar o desejo racional de perfeição do intelecto ou da alma, com ou sem o corpo. Todos os homens buscam realizar o seu fim, apetecendo, desejando, ansiando naturalmente o bem e evitando o mal. No fim último está o bem maior, o melhor dos bens, entendido no sentido de felicidade (eudaimonia) humana para Aristóteles, realizável nesta vida, ou no sentido de beatitude sobre-humana para os cristãos, realizável na outra vida. Entre esses dois modos opostos de conceber onde e como alcançar a finalidade última da
vida humana, são construídos, durante o medievo, discursos argumentativos e caminhos, ou teses alternativas, que vão muito além do debate teológico da relação corpo-alma ou de moralidade cristã e mesmo de um pretenso sentido unívoco de felicidade garantido pela verdade evangélica. Na perspectiva aristotélica, assumida parcialmente pelos pensadores
medievais, toda essa estrutura teleológica presente, tanto na natureza física (physis) como na práxis humana, é ontologicamente por natureza e, portanto, regida por uma constituição estrutural de necessidade, pois não pode desviar-se ou ser de outra maneira. No âmbito do agir humano da Filosofia prática, existe, porém, a possibilidade de escolha (no contexto do plano divino do paradigma cristão medieval é o livre-arbítrio), caracterizando o domínio do contingente, do possível e, portanto, constituindo a liberdade e a responsabilidade moral no agir humano.