Experiência escolar juvenil em periferia urbana: sentimentos de injustiça e processos de reconhecimento
Visualizar/ Abrir
Data
2024-01-27Autor
Silva, Jourdan Linder
Orientador
Stecanela, Nilda
Metadata
Mostrar registro completoResumo
Esta pesquisa de tese, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Caxias do Sul, em parceria com a Universidade do Planalto Catarinense, no período de outubro de 2019 a outubro de 2023, teve como objetivo central evidenciar os efeitos dos sentimentos de injustiça e reconhecimento denegado na experiência escolar de jovens de periferia urbana. Para tanto, busquei identificar sentimentos de injustiça vivenciados por jovens estudantes; investigar a construção de narrativas, feitas pela escola, acerca das experiências estudantis dos jovens, em seu Livro de Ocorrências; e averiguar como esses estudantes percebiam sua experiência escolar. O estudo tomou por base as vivências do cotidiano escolar, fundamentadas nos estudos relacionados a cotidiano de Pais (1993; 2002; 2009; 2013; 2015), Lefebvre (2020) e Stecanela (2009; 2010; 2018). A Injustiça Escolar e os sentimentos atrelados a ela, foram tomados, a partir de Dubet (2008; 2014). O reconhecimento denegado foi analisado à luz de Honneth (2003). Já a experiência escolar teve como chave de intepretação a Sociologia da Experiência de Dubet (1994) e da parceria desse autor com Martuccelli (2014). Como metodologia de construção de dados realizei Grupos Focais com jovens estudantes da EMEB Mutirão, localizada na região periférica da cidade de Lages-SC. Participaram estudantes de turmas de 9º ano do Ensino Fundamental dos períodos matutino, vespertino e noturno. Além disso, analisei as narrativas construídas acerca da experiência escolar dos estudantes no Livro de Ocorrências da Escola. Para a construção desse estudo, utilizei a Análise Textual Discursiva de Moraes e Galiazzi (2007). Emergiram dos dados empíricos, em diálogo com os interlocutores teóricos, os sentimentos de injustiça dos jovens estudantes, os quais advêm do regramento escolar, sobretudo no que se refere às formas de intervenção da escola frente ao não cumprimento das regras. Além disso, a relação pedagógica, na perspectiva dos jovens participantes, está marcada por vários fatores que promovem sentimentos de injustiça: incompreensão, indiferença, discriminação, violência simbólica, e censura. A esses fatores ainda se somam a falta de diálogo e a precarização das condições estruturais da unidade escolar. Diante disso, identifiquei que o sentimento de injustiça tinha como efeito o demarcar de uma insatisfação quanto à experiência escolar proporcionada pela escola. Isso se manifestava em um boicote às aulas, demonstrado através de perturbações, fugas da sala, distrações, insubordinações e atitudes consideradas impertinentes. Toda essa realidade construía uma experiência esvaziada de sentido, levando os estudantes a adjetivarem-na como irritante, estressante, difícil, complexa, complicada, corrida, que demandava um esforço para um sucesso quase que inalcançável. Portanto, minha tese é a de que quando a escola dialoga com as juventudes, os aspectos promotores de sentimento de injustiça são minimizados, levando os jovens periféricos a vivenciarem uma relação pedagógica, com seus professores, fundamentada em reconhecimento mútuo, a partir da qual os estudantes se tornam sujeitos de uma experiência escolar mais justa, que tem como consequência aprendizagens significativas. No entanto, como existem variadas camadas no cotidiano escolar, não se pode vislumbrar um sentimento de justiça pleno, pois os processos de reconhecimento entre estudantes e docentes são diversos. Essa dinâmica torna inviável a construção de bases sólidas de sentimentos de justiça e reconhecimento. O que tem levado os atores sociais que habitam esse cotidiano escolar a travarem conflitos, a fim de lutarem por reconhecimento. [resumo fornecido pelos autor]