Práticas de escrita e leitura por imigrantes e descendentes, da península itálica à Região Colonial Italiana do Rio Grande do Sul (1875 - 1920)
Zusammenfassung
A presente tese investiga as práticas de escrita e a leitura realizadas por imigrantes da península itálica e descendentes na região colonial italiana do Rio Grande do Sul (RCI/RS) no recorte temporal de 1875 a 1920. O estudo é vinculado à linha de pesquisa "História e Filosofia da Educação" do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Caxias do Sul (UCS). O recorte temporal de 1875 refere-se ao início do estabelecimento de imigrantes na região e a década de 1920 corresponde ao final da Primeira República a uma configuração histórica escolar/educacional que passa a ter outras especificidades. Os pressupostos teórico-metodológicos que orientam a pesquisa advêm da História Cultural e da História da Educação, além da cultura escrita, a partir das contribuições de Graff (1995), Mortatti (2000, 2004), Ferraro (2002, 2004, 2009, 2014), e em especial, as obras de Chartier (1990, 1991a, 1991b, 2001a, 2001b), Castillo Gómez (2003a) e (2003b), Castillo Gómez e Sáez (2016) e Magalhães (2001), bem como pesquisadores que dialogam com as temáticas. As principais categorias analisadas foram práticas de escrita e de leitura. A análise documental foi a metodologia empregada, como fonte principal foram mensuradas a presença/ausência de assinaturas dos sujeitos em registros civis para a quantificação de parte do grupo investigado, além de documentos como: jornais, livros, registros do governo da chegada de imigrantes, registros de agentes escolares, entrevistas de descendentes, entre outros. Defendo a tese de que entre o período de estabelecimento de imigrantes e a década de 1920 houve um incremento da escrita e da leitura, impactados pela expansão das colônias, posteriormente municípios; ampliação de acesso à escolarização que entre professores particulares, escolas italianas, confessionais e iniciativas públicas, corroboraram para oportunizar rudimentos do aprender a ler e a escrever. Com a organização municipal, as escolas públicas foram expandidas. Além disso, no decorrer do período, percebe-se a circulação de jornais e livros em português e italiano, bem como requerimentos de pais para instalação de escolas, melhores condições de bens e serviços, desenvolvimento que repercutiu na demanda por utilização da escrita e da leitura no cotidiano e mundo do trabalho da RCI. Também foram evidenciadas práticas relacionadas à religião, aos costumes e aos hábitos familiares que fizeram com que a escrita e a leitura fossem utilizadas, difundidas e expandidas. A pesquisa permitiu a compreensão de algumas práticas sociais e culturais de escrita e leitura no ambiente escolar e além da escola, mostrando que os sujeitos as utilizavam no cotidiano, ao contrário da compreensão comum que seriam analfabetos e/ou que não se importavam com a educação. Os resultados sinalizaram também para a história da escrita e da leitura das mulheres, que neste estudo mostraram percentuais aquém dos homens. Entre as inúmeras possibilidades para continuidade fica a análise caligráfica de registros de assinaturas, estudos aprofundados de casos de sujeitos e de investigações geracionais e de gênero, além de demais fontes mobilizadas que podem ainda ser esmiuçadas e contribuir para a compreensão da escrita e da leitura em imigrantes italianos e descendentes na RCI. [resumo fornecido pelo autor]