Leitura e deliberação : um retorno a Aristóteles
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Data
2017-02-16Autor
Fantinel, Fernando Sidnei
Orientador
Feltes, Heloísa Pedroso de Moraes
Metadata
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A Tese investiga uma possível contribuição de Aristóteles à sistematização da leitura no ocidente. Parte do princípio de que a leitura é desencadeada pela admiração (to\qauma/zein) em relação à complexidade do mundo. Mundo esse entendido como kosmos (kosmoj), dando assim uma dimensão, sobretudo, física a ele, e não apenas metafórica. Busca encontrar evidências de que Aristóteles promoveu os primeiros elementos que permitiram o surgimento do leitor autônomo de forma ampliada. Paralelamente a isso, ao instituir o gênero do tratado como forma de expor o seu pensamento, favoreceu a transição da oralidade para a escrita, iniciada por Platão, ao menos no que se refere ao texto filosófico, mas não apenas. Procura, no conceito de deliberação (bou/leusij) proposto por Aristóteles, elementos que constituem e dão embasamento para os mais diversos modos de promover leituras que possam se aproximar daquilo que comumente chamamos de uma leitura apropriada. Assim, a deliberação e a sua relação com a leitura constituem-se no problema central da presente investigação. Problema esse que, dentre outros, procura verificar em que medida a deliberação poderia contribuir para uma leitura mais segura dentro de processos inferenciais que fazemos, bem como a utilização adequada, ou não, da deliberação pode interferir nos mais diversos modos de leitura e as implicações éticas envolvidas nesse processo. Assim, procura identificar os elementos que constituem a deliberação; verifica como se dá o processo de leitura a partir dela. De modo sintético, esses objetivos, na sua especificidade, tentam contemplar o que implica no processo de leitura. Tais implicações incluem aspectos cognitivos, emocionais, afetivos, sensoriais, apenas para citar alguns. A análise suscita uma preocupação sobre o texto escrito, no entanto, outros focos de leitura também são objeto de investigação. A pesquisa tem como aporte um caráter notadamente bibliográfico, não obstante apresente elementos exploratórios. O desenvolvimento do texto apresenta-se estruturado em três momentos: a) o surgimento da leitura a partir da admiração; leitura desencadeada pela deliberação humana; a transição da oralidade para a escrita; a superação às doutrinas não escritas; o tratado como gênero adotado por Aristóteles; a leitura como resultado da necessidade humana de oferecer explicações ao mundo que nos cerca; o pensamento platônico na “passagem” da oralidade para a escrita; possíveis conceituações de leitura; b) em que consiste a deliberação para Aristóteles e sua possível estruturação; análise da percepção (aiãsqhsij); escolha (proai/resij); desejo (bou/lhsij); inteligência (su/nesij) e o discernimento (gnw/mh); o meio-termo (meso/thj) e a sabedoria prática (fro/nhsij) como virtude intelectual (dianohtikh\ a)reth/) e os conceito de Ato (e)ne/rgeia) e Potência (du/namij); c) como a deliberação atua no processo de leitura; a relação da leitura com os elementos constituintes da deliberação; a leitura como um dizer sobre o dito; a leitura como a atualização da escrita; as ações e suas consequentes interpretações voluntárias, involuntárias e mistas, que possibilitam, dentre outros, modos pragmatistas e normativos de fazer uma leitura.