Da leitura prática às práticas de leitura: o caso dos cursos superiores de tecnologia
Resumen
A presente tese analisa as práticas de leitura de estudantes de Cursos Superiores de Tecnologia de uma instituição pública especializada em Educação Profissional e Tecnológica, investigando em que medida os contextos sociocultural e acadêmico atuam sobre essas práticas. A fundamentação teórica baseia-se, principalmente, na Sociologia da Leitura, a partir dos estudos de Horellou-Lafarge e Segré (2010), Chartier (1999a, 1999b, 2001, 2011), Bourdieu (2011, 2015), Petit (2009a, 2009b), Zilberman (1999, 2001, 2012), Escarpit (1968), Candido (2000), Darnton (2010), Manguel (1997), Aguiar (2007) Abreu (2001, 2015) e Carlino (2017), complementada pela perspectiva cognitivo-sociológica de teóricos como Giasson (2000), Marcuschi (1999, 2004, 2008), Paviani (2006, 2013), Kleiman (2013) e Gabriel (2005). A pesquisa, de caráter descritivo e explicativo e motivada pela experiência empírica enquanto docente de Língua Portuguesa e Literatura, deu-se a partir de um estudo de caso com estudantes de cinco Cursos Superiores de Tecnologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Bento Gonçalves, com aplicação de questionários, entrevistas e testes de leitura. Ao longo da tese, demonstra-se que não apenas o contexto sociocultural, como a origem social, as condições econômicas, a trajetória escolar, as atividades sociais e culturais de que os estudantes participam atua sobre as suas práticas de leitura, mas também que o contexto acadêmico possui fundamental importância na configuração dessas práticas, condicionando leituras, restringindo ou promovendo o acesso a determinados gêneros textuais, favorecendo a utilização de um ou outro suporte de leitura. No entanto, apesar de sua relevância, os contextos sociocultural e acadêmico revelam-se condicionantes, e não determinantes das práticas de leitura dos sujeitos, pois, sendo elas constituintes da ação humana, mostram-se sempre dinâmicas e flexíveis. Os resultados evidenciam que as práticas de leitura dos estudantes atendem a necessidades pragmáticas do cotidiano, priorizando textos curtos de tipologia expositiva, e ocorrendo principalmente em suportes digitais, além da leitura com vistas a atender às exigências dos componentes curriculares do curso superior, com destaque para o gênero artigo científico. A leitura de literatura ficcional não constitui uma atividade consolidada e perene entre as práticas socioculturais dos sujeitos pesquisados, sendo que o próprio Curso Superior de Tecnologia não favorece ou estimula essa prática. Além disso, a característica de estudantestrabalhadores dos sujeitos pesquisados implica não apenas menor disposição para os estudos, como também menos tempo disponível para as leituras acadêmicas e de lazer, compreendida aí a literatura ficcional, interferindo nos níveis de competência leitora. Finalmente, como intervenção prática, propõe-se a democratização da leitura no Ensino Superior Tecnológico a partir de duas vias: a) auxiliando os estudantes na compreensão dos textos que circulam no contexto acadêmico; e b) ampliando a diversidade de gêneros textuais lidos pelos estudantes, incluindo a literatura ficcional.