Neusa Welter Bocchese e as leituras da cidade de Antônio Prado, RS: representação de um patrimônio histórico
Date
2018-10-17Author
Galvani, Mara Aparecida Magero
Orientador
Arendt, João Claudio
Metadata
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Esta tese focaliza a obra de Neusa Welter Bocchese, artista nascida no Município de Vacaria, Rio Grande do Sul, em 1936, que reside em Antônio Prado, cidade que até hoje é tema de sua produção, iniciada em 1983. Com o objetivo de analisar suas representações da cidade, selecionamos 64 imagens de sua obra, distribuídas em oito grupos, para, sob a perspectiva de Burke (2017), avaliar o papel dessas imagens como evidências históricas e como testemunhos do processo cultural Itália-Brasil e, ainda, em que medida sua obra contribui para a preservação da identidade da região Nordeste do Rio Grande do Sul, considerando os fatores recepção, produção e temática. Olhando de uma perspectiva da história cultural, nossa análise é subsidiada pela metodologia acerca da representação ligada às práticas de leitura proposta por Chartier (2002). Também nos baseamos nos pressupostos teóricos de Stüben (2013), quanto à ideia de região como paisagem literária, aqui transposta para o campo da arte, e de Nora (1993), no que concerne aos lugares de memória, incluindo, ainda, as contribuições da literatura, por meio dos romances de Calvino (1990) e Pozenato (2000). Visto que a identidade é marcada por meios simbólicos, foi possível, a partir do cruzamento das leituras da artista acerca da cidade de Antônio Prado e das leituras que fazemos dos significados de suas representações, identificar que ela explicita o discurso do tombamento, mas, sobretudo, reescreve novos textos a partir do primeiro, sublinhando as diferenças que classificam um grupo cultural regional. Nas representações do vivido por outros, no tempo passado, e do vivido por Bocchese no tempo presente, a artista ora mantém similaridade com a cidade, ora a desmonta, reelaborando-a em novos arranjos, mas sem romper sua ligação com ela. Referindo-se às edificações e aos monumentos, Pozenato (2003) observa que, enquanto permanecem determinadas manifestações que identificam uma cultura, aquela cultura existe, mas na visão política de preservação cultural talvez não fosse necessário conservar o próprio monumento físico, já que a preservação da memória seria suficiente. Assim, podemos inferir que, do mesmo modo que Antônio Prado é lugar de memória, a obra de Bocchese surgida do/no contexto associado à imigração italiana torna-se lugar de memória. Suas representações são interpretações das práticas culturais de um grupo, constituindo-se em outro tombamento, antes mesmo do oficial, pelo IPHAN, em 1989. E, ainda, suas representações presentificam os elementos simbólicos não preservados em outras cidades da RCI, que são, então, materializados em sua obra – testemunho e identidade da regiã