"Há em ti": um olhar da psicanálise para o professor e o estudante haitiano no ensino fundamental
Data
2019-05-29Autore
Moraes, Helenara Sironi de
Orientador
Bisol, Cláudia Alquati
Metadata
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Os movimentos migratórios existem desde o princípio dos tempos. A guerra, a fome, os desastres naturais, a intolerância religiosa estão entre as razões que levam milhares de pessoas a abandonar sua terra natal em busca de novas possibilidades. As mudanças advindas dos grandes fluxos migratórios trazem consigo a necessidade de estudar, a partir de diferentes perspectivas, os desafios de construir uma nova vida em um novo país. Nesse sentido, observa-se a relevância de pesquisas que levantam questionamentos relativos à escolarização da criança migrante. Diante disso, este trabalho tem por objetivo investigar a fala do professor em relação aos estudantes haitianos do Ensino Fundamental, a partir da psicanálise. Como aporte teórico e metodológico, a psicanálise permite a leitura dos significantes advindos da escuta dos sujeitos da pesquisa. A partir do estudo de alguns aspectos da história natal do Haiti, do caminho percorrido para chegar ao Brasil, em específico, à Serra Gaúcha, aborda-se elementos da cultura haitiana, a fim de contextualizar as migrações no Brasil, com ênfase no atual movimento migratório haitiano. Após este percurso, a psicanálise permite pensar o encontro com o outro. Considerando o vasto caminho de possibilidades teóricas a ser percorrido ao abordar a questão do estrangeiro na perspectiva psicanalítica, optou-se por manter, como pano de fundo para a leitura sensível do fenômeno migratório na perspectiva da educação, o conceito do estranho freudiano. Para traçar algumas reflexões sobre psicanálise e educação no contexto específico
proposto por esta pesquisa, aspectos relativos à situação atual do estudante migrante no Brasil também foram considerados. A aproximação das possibilidades de leitura diante dos significantes, que surgiram na fala dos professores, permitiu a construção do ensaio metapsicológico. Nesse percurso, foram possíveis algumas associações: um sujeito nunca permanece indiferente diante do encontro com o outro, o estrangeiro. Sentimentos de indiferença ou hostilidade podem estar presentes, bem como a angústia diante da incerteza intelectual ao deparar-se com um estranho, materializado na figura do migrante. É possível
também que a partir da transferência um caminho de acesso ao outro seja criado. Uma espécie de ponte que conecta dois mundos diferentes, por meio de espaços de fala onde a palavra e a cultura circulam, fazendo com que possam ser diminuídas as resistências e expectativas diante do encontro com o outro, na relação possível entre professores e estudantes estrangeiros.