Os processos educativos e a construção identitária dos jovens agricultores do município de Vacaria (RS)
Abstract
A pesquisa teve como objeto de estudo os processos educativos e a construção identitária dos jovens agricultores do município de Vacaria (RS). O objetivo principal do estudo consistiu em investigar as influências dos processos educativos escolares e não escolares na construção identitária da juventude representada por pequenos agricultores familiares de Vacaria. O referencial teórico buscou conceituar o que se entende por juventudes plurais e construção identitária, além de educação escolar e não escolar, a partir de autores como Pais (1990; 2003), Sposito (1997; 2002; 2003; 2018), Carneiro (1998; 2007; 2008), Castro (2009; 2016); Hall (2006); Brandão (1984; 2007) e Freire (1996; 2017), entre outros. A análise textual discursiva proposta por Moraes e Galiazzi (2007) foi utilizada como metodologia após as transcrições das entrevistas semi-estruturadas realizadas com cinco jovens entre 15 e 29 anos de idade. As narrativas dos jovens fizeram emergir categorias que se encaixaram em cinco diferentes temas: 1) Relações intrafamiliares e a condicionalidade da profissão; 2) A difícil tarefa de conciliar diferentes identidades: ser jovem, ser agricultor e ser estudante; 3) O conhecimento escolar e a afirmação da identidade do agricultor; 4) Estabelecendo uma rede de colaboração: o ensino não escolar; e 5) O compromisso social da agricultura. Os resultados da pesquisa mostraram que existem contribuições significativas, mas também limitações dos processos educativos escolares e não escolares na construção identitária dos jovens. O fato de terem nascido em famílias agricultoras fez com que se inserissem automaticamente na profissão e tivessem as suas primeiras experiências formativas, aprendendo desde cedo o trabalho na terra pela observação e reprodução das formas de trabalho dos adultos. Porém, para superar o papel inicial de ajudante até a consolidação da identidade de agricultor, com autonomia para atuar na profissão, foi verificado um longo trajeto que ainda está sendo percorrido pela maioria dos entrevistados. Para eles, o sentimento de pertença e valorização do meio rural deve ser reforçado pela escola básica, enquanto que os conhecimentos técnicos necessários para serem autônomos em suas profissões são atribuídos ao ensino superior ou técnico. O acesso ao saber sistematizado é entendido como uma forma de emancipação para os jovens. Mas revelam enfrentar inúmeras limitações para conciliarem suas identidades de jovens, estudantes e agricultores quando diferentes significados se confrontam em suas narrativas. É verificada a vivência de uma solidão juvenil quando não encontram referências no desenvolvimento da profissão por outros jovens em suas comunidades. Por fim, relatam buscar mecanismos para suprir a falta da educação escolar, atender as demandas diárias e complementar a escola da vida, em formações oferecidas pelo sindicato dos trabalhadores rurais e pela Emater.