Travessias de uma experiência creep no ensino superior: verdades, relações e subjetividades
Data
2020-09-04Autore
Mujica, Juan Bolivar dos Santos Peña
Orientador
Bisol, Cláudia Alquati
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A presente dissertação tem por objetivo analisar os discursos de estudantes com deficiência física no ensino superior, utilizando-se dos aportes arqueogeneálogicos elaborados por Michel Foucault. Nesse sentido, esta pesquisa percorrera as diferentes perspectivas históricas acerca do sujeito anormal, a fim de evidenciar as transformações e rupturas ocorridas nos regimes de verdade, nas constituições dos saberes acerca da anormalidade ao longo do tempo. Realizouse entrevistas semiestruturadas com três estudantes com foco em suas vivencias no ambiente acadêmico, explorando os desafios encontrados, a relação com professores e colegas e suas trajetórias de vida. Em um primeiro momento da análise, denominado perspectiva histórica, teorizou-se sobre o surgimento na Idade Média da figura dos bufões e a utilização das anomalias para fins de teatralização, transformando-se no início do capitalismo em um modo de espetacularização denominado freak shows. Na segunda metade do século XX incidiu sobre o anormal um processo de medicalização e patologização de sua condição. Os modelos de deficiência surgidos posteriormente permitiram a estes sujeitos acessar direitos e a possibilidade de serem incluídos em espaços que outrora foram-lhes negados. O segundo momento da análise,
chamado caracol enunciativo, visou analisar a emergência dos discursos inclusivos na atualidade, os jogos de verdades e a materialidade destes enunciados. Em um horizonte de governamentalidade neoliberal há um imperativo por inclusão. Vive-se em uma sociedade do desempenho, onde o tempo é acelerado. A mercantilização do viver que torna o homem cada vez mais empresário de si mesmo dá lugar ao creep, esta aberração contemporânea. Este se situa imerso nos discursos de otimização do ser, estando ao mesmo tempo incluído em determinados espaços e excluído de outros, gradientes de in/exclusão. No terceiro momento chamado intencionalidade, verificou-se como as relações de poder atuam sobre estes sujeitos dentro de uma arena agonística. Da mesma forma que as relações de poder objetivam normalizar o creep por meio do imperativo de inclusão, para melhor controlá-lo e governá-lo,
existe a liberdade de insurgir-se perante aquilo que intenta os assujeitar. Assim, o último momento de análise, intitulado estatuto de presença, baseia suas reflexões nesta possibilidade de transgressão, de transformação e de criação de outros modos de existência. Portanto, a experiência creep no ensino superior pode auxiliar na problematização de como está acontecendo os processos inclusivos hoje em voga, a maneira de se conduzir diante da existência, potencializando o viés de criação frente à toda forma de instrumentalização e de mercantilização impostas pela governamentalidade neoliberal