A gestação de alto risco e o medo do colapso: o trabalho psíquico de gerar vida
Data
2021-12-02Autore
Gasparin, Gustavo
Orientador
Maggi, Alice
Metadata
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Gestar é um trabalho que envolve aspectos biológicos e psicológicos. Na condição de uma gestação de alto risco, o psiquismo é posto em prova frente aos receios de interrupção da gravidez, complicações no desenvolvimento do bebê ou possibilidade de óbito de ambos. O objetivo desta dissertação é identificar possíveis articulações entre o conceito de medo do colapso de Winnicott e as vivências da gestante de alto risco. Para isso, identificou-se fantasias e ansiedades nas gestantes diante de uma gestação de alto risco, decorrente de hipertensão. Buscou-se o aprofundamento do conceito teórico de medo do colapso de Winnicott, e temas associados. Além disso, identificou-se algumas formas possíveis de intervenção nos casos de gestação de alto risco. O presente trabalho trata-se de uma pesquisa qualitativa e exploratória, conduzida pelo estudo de casos múltiplos. As participantes deste estudo foram quatro gestantes de alto risco do Hospital Geral de Caxias do Sul, referência ao SUS no atendimento a este público. Foram incluídas aquelas que apresentaram hipertensão arterial durante o período gestacional, vivenciando a primeira gestação de alto risco. Foi realizada uma entrevista semiestruturada e aplicado o procedimento Desenho-Estória com tema, buscando ampliar a compreensão da experiência vivida neste momento delicado de manutenção à vida da gestante e de geração de um novo ser. Os resultados foram analisados e discutidos mediante à análise de conteúdo, seguindo o modelo misto, foram propostas oito categorias: elementos da história de vida; violência, abandono e traumas; lutos; vivências e expectativas da gestação; gestação de alto risco; sonhos; possíveis indícios de medo do colapso e, por fim, expectativas diante do futuro. Na discussão, articulou-se o conceito de medo do colapso e as vivências da gestante em alto risco com autores relevantes e atuais, destacando-se Roussillon, integrando conceitualmente o trauma originário e retorno do clivado com a compreensão de Winnicott. As falhas mais primitivas, do ambiente mãe, deixam marcas de algo não vivido. Gestar na condição de ameaça de morte imprime a possibilidade de retorno de algo que não foi integrado. Surge nova possibilidade de experenciar a situação traumática, momento possível de ressignificação, ou manutenção sintomática daquilo ainda inominável. No final, o trabalho psíquico de gestar, envolve regredir, identificar-se com o seu bebê e o bebê que foi. Na tentativa de vivenciar o não vivido, pode compreender mais a si e viver o luto de elementos da própria história, quando não vividos na sua plenitude. [resumo fornecido pelo autor]