Educação em saúde mental: encontros com a educação popular
Fecha
2021-12-21Autor
Santos, Janaina Dorigo dos
Orientador
Bisol, Cláudia Alquati
Metadatos
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Pensar possibilidades de potencializar a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) requer não apenas olhar para os dispositivos que a compõem, mas também para os trabalhadores, os sujeitos atendidos e as relações que estabelecem. Diante de um contexto de tensionamentos e desmontes legislativos das políticas públicas de saúde mental, faz-se necessário resgatar o histórico de aproximadamente três décadas da Reforma Psiquiátrica Brasileira para a compreensão da importância do cuidado em saúde mental que essa preconiza. Fruto do movimento reformista, a RAPS é uma pluralidade de serviços que se capilariza em uma rede de atenção em saúde mental no território existencial dos sujeitos que eram subjugados a modelos manicomiais. Como parte deste processo histórico, as práticas de cuidado em saúde mental são construídas junto a ações educativas que podem perpetuar modelos manicomiais ou construir processos de cuidado que respeitem a singularidade dos sujeitos, possibilitando a coconstrução de autonomia. Assim, este estudo objetiva investigar os princípios que sustentam e/ou emergem das relações entre trabalhadores e usuários nas práticas de cuidado em saúde mental. Para tal, esta investigação pauta-se nas concepções da educação popular, visto suas contribuições pelos movimentos populares que culminaram, entre outras questões, no entendimento de saúde como direito e no cuidado em saúde mental de base comunitária. A fim de aproximar a educação da saúde mental, realiza-se uma análise dos pressupostos da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) e da Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEPS-SUS), articulando-os à Política Nacional de Saúde Mental. Trata-se de um estudo qualitativo, de cunho exploratório, que contou com 18 entrevistas semiestruturadas, dando liberdade aos participantes para expressar sobre a temática. Os entrevistados foram trabalhadores de diferentes serviços e níveis de complexidade da RAPS do município de Caxias do Sul. Realizou-se análise de conteúdo dos dados a partir da proposta de Bardin. Os dados foram organizados em duas categorias. A primeira, denominada autonomia, foi estruturada em três subcategorias: construção/produção de autonomia; respeito à singularidade; escuta. A segunda categoria, denominada interdisciplinaridade, conta com duas subcategorias: trabalho coletivo e intersetorialidade. A partir dos resultados é possível compreender que a capilarização da RAPS em diferentes serviços, conforme a especificidade do público atendido, contribui para a coconstrução de autonomia de forma singular. Além disso, as concepções de autonomia são construídas e compreendidas a partir das singularidades dos sujeitos atendidos em cada serviço de saúde mental. A partir das características de cada serviço, a autonomia ganha nuances próprias para o cuidado em saúde mental. Evidencia-se também o trabalho coletivo como potencialidade do cuidado em saúde mental. A busca por espaços em que há o fazer pelos diferentes saberes contribui para a integralidade do cuidado. Este é produzido à medida que as equipes interdisciplinares se inter-relacionam dialogicamente, podendo produzir conhecimento conjunto acerca das problematizações que realizam.
[resumo fornecido pelo autor]