Mediações pedagógicas no território de empoderamento popular : uma experiência em processo / Caxias do Sul - RS
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Data
2022-08-26Autor
Pedro, Joanne Cristina
Orientador
Stecanela, Nilda
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Esta tese se constitui como uma escrita imbricada na práxis, no ato de conhecer que se estabelece, acessando metodologicamente a realidade e se insere no diálogo com o campo teórico que estuda as relações entre Movimentos Sociais Populares, Trabalho e Educação, considerando que na travessia para a transformação da sociedade implica-se uma processualidade histórica, na qual o novo é engendrado na luta concreta, teórica e prática, dentro de velhas relações. A pesquisa-ação, como opção metodológica, se perfaz na dimensão do compromisso social da pesquisadora militante com os sujeitos participantes, convertendo a investigação, a educação e a ação social em momentos metodológicos de um único processo, com vistas à transformação social. Essa perspectiva mobiliza a produção de conhecimento em conexão com o Movimento Popular, possibilitando aos sujeitos envolvidos,
construírem coletivamente estratégias de enfrentamento às problemáticas e à superação das
problematizações que se apresentam na concretude da vida cotidiana. O objetivo que se coaduna à
pergunta mobilizadora da pesquisa corresponde a analisar as mediações pedagógicas construídas no encontro entre militantes do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) e a comunidade do loteamento Vila Ipê (que se integra ao movimento), situado em Caxias do Sul/RS, de modo a sistematizar as rupturas acumuladas como potenciais de emancipação humana e social, a partir do território periférico. O percurso retratado corresponde ao que denominamos como "travessia pelo campo empírico", no qual identificamos dois momentos metodológicos para análise das mediações pedagógicas: a imersão do coletivo na etapa que nomeamos "trabalho de base" (2017 a 2020) e na etapa do "trabalho associado" (2020 a 2022), sendo que ambas as etapas se entrecruzam e se inter-relacionam. Consideramos o cotidiano do território periférico, o lócus da experiência, a Educação Popular em sua dimensão humanizadora e emancipadora e a categoria trabalho como fundante do ser social, além do Trabalho Socialmente Necessário como a conexão entre teoria e prática. Nesta composição fundamentamo-nos no referencial epistemológico freiriano, adotando também como método de análise o Materialismo Histórico Dialético, considerando as contribuições de Karl Marx, István Mészáros, Edward P. Thompson, Ricardo Antunes, dentre outros. A noção de espaço, conforme Milton Santos, como acumulação de tempos, nos apoia na análise das periferias, historicamente constituídas e vulnerabilizadas pelo interesse do capital e dialeticamente forjando espaços de valorização e criação de novas racionalidades. A participação no território constitui-se como um dos potentes instrumentos para
a construção do Poder Popular, além do trabalho auto-organizado. A concretização da Saboaria Popular Las Margaritas pelo grupo de mulheres do Movimento foi um salto qualitativo na organização da militância orgânica no território, com centralidade na concepção de trabalho associado, em sua dimensão ontológica e que traz no seu bojo, para além da esfera produtiva (geração de trabalho e renda), uma práxis feminista alicerçada na Educação Popular. A dimensão da resistência à opressão/exploração se expressa nas demais frentes da Saboaria: a territorial, a formativa e a política, desenvolvendo-se no cotidiano dos sujeitos implicados na experiência, como palco da vida e lugar imediato de suas necessidades mais urgentes, sem perder a conexão com a totalidade histórica. Esse percurso da Saboaria,que a Sistematização de Experiências buscou recuperar e analisar reafirma a sua construção em um momento permeado por interrogações: o advento da pandemia da Covid-19, no qual o anúncio da agudização de diferentes crises, dentre elas a crise estrutural do capital, mobiliza a ação de solidariedade política da classe trabalhadora. Por fim, nossa contribuição à guisa de uma síntese conceitual, tem no "Processo de Flor(ação) Pedagógica" a sua representação, considerando elementos da Pedagogia do
Oprimido, da Pedagogia Socialista e da Pedagogia do Movimento, além da Economia Popular e Solidária como campo de ação política pautado em um projeto de sociedade que avance para além do capital. Tal processo constitui-se como um movimento vivo e radical, com base prática e real, o qual demanda mulheres que se formam no movimento de luta e contradição. Nesta travessia, cujo horizonte
é a construção da consciência de classe, florescem potenciais emancipatórios e indícios de novas sociabilidades engendradas como possibilidades reais, gestadas em uma conjuntura adversa, trazendo em sua constituição formas embrionárias de Poder Popular. [resumo fornecido pelo autor]