O comportamento lingüistico na comunidade bilíngüe ítalo-brasileira de Nova Pádua/RS : identidade, prestígio e estigma lingüísticos
Fecha
2014-05-12Autor
Toscan, Mirian Peccati
Orientador
Frosi, Vitalina Maria
Metadatos
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Esta pesquisa foi desenvolvida na comunidade lingüística ítalo-brasileira de Nova Pádua, situada Nordeste do Rio Grande do Sul, fundada em 1885 por imigrantes italianos. Esse grupo etnolingüístico convive com uma situação de línguas em contato e bilingüismo. O objetivo deste estudo foi investigar atitudes lingüísticas dos bilíngües em relação aos sistemas de fala utilizados pelo grupo étnico-social: a língua portuguesa standard, o dialeto italiano (Coiné) e a variedade de fala de língua portuguesa local. A investigação partiu do pressuposto de que os bilíngües adotam atitudes positivas ou negativas, de prestígio ou estigma, em relação às variedades lingüísticas. Além disso, pressupõe-se que o comportamento dos bilíngües é regulado por valores atribuídos às línguas. Os resultados mostraram uma gama de valores positivos e negativos atribuídos e percebidos nas variedades lingüísticas, e esses valores orientam o uso dessas variedades. Não só a avaliação positiva ou negativa orienta o comportamento lingüístico dos bilíngües, mas também fatores extralingüísticos como situações de interação formal ou informal e a solidariedade ao interlocutor. Inesperadamente, a pesquisa mostrou um conflito de valores e de identidade lingüísticos entre os participantes da amostra. Esse conflito revelou-se na contradição existente nos juízos de valor atribuídos às variedades lingüísticas, nas duas situações de avaliação propostas pela pesquisa. Na primeira, em que o falante seria uma terceira pessoa e não o sujeito da pesquisa, o dialeto italiano é o sistema de fala de maior prestígio, e a língua portuguesa standard, a língua de menor prestígio. As atitudes positivas em relação ao dialeto italiano ou dialeto vêneto (Coiné) apontam para uma ligação afetiva entre o sentimento étnico italiano e a identidade lingüística da amostra. Contraditoriamente, para uma situação interpessoal, em domínios usuais como: casa, Capela, escola, em que o próprio bilíngüe deveria falar, os valores divergiram. Isto é, os sistemas de fala de língua portuguesa, local e standard, receberam maior prestígio do que o dialeto italiano. Essas atitudes foram justificadas, entre outros motivos, pela necessidade de domínio da língua portuguesa, pela solidariedade ao interlocutor e pelo reconhecimento de uma forma lingüística de língua portuguesa local, língua portuguesa com marcas italianas. Dessa forma, os dados mostraram que a identidade lingüística italiana é mais idealizada e/ou nostálgica do que real. Em contrapartida, parece surgir um latente reconhecimento de uma prática lingüística ítalo-brasileira local.