Por trás da voz de Malimalli: mapeamento das identidades histórica e literária de Malinche
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Data
2018-11-27Autor
Zanella, Sílvia Maria
Orientador
Zinani, Cecil Jeanine Albert
Metadata
Mostrar registro completoResumo
Esta dissertação analisa a figura histórica Malinalli-Malinche em paralelo à personagem Malinalli, na obra Malinche (2007), da escritora mexicana Laura Esquivel, tomando a literatura como referência humanizadora da personagem, cuja tradição histórica estigmatizou como a traidora mexicana a nativa que traduziu os discursos de Cortez por ocasião da conquista do México. Objetiva-se, portanto, problematizar a personagem Malinalli como representação da mulher/figura histórica Malinalli-Malinche, cujas habilidades linguísticas como tradutora conferiram-lhe poder em meio a um cenário duplamente patriarcal - tanto no contexto mexica (asteca) quanto no espanhol -, buscando mapear as diferentes formas como essa personagem foi retratada, representada e traduzida ao longo do tempo e analisar as relações de poder associadas aos lugares de fala que propiciam diferentes discursos. Para tanto, a partir de uma investigação biográfica da personagem e um histórico do seu povo, relatados por escritores da época e contemporâneos, em contraponto aos relatos dos conquistadores espanhóis, adentra-se nos conceitos de Canclini (2003) referentes às culturas híbridas formadas nas fronteiras culturais dos povos em contato, e de Todorov (1993) que analisa Malinche como o símbolo da mistura entre astecas e espanhóis. O segundo momento apresenta um panorama de contextos históricos e sociais que promoveram diferentes acepções ao sujeito feminino, a partir da análise do discurso hegemônico e da construção da identidade em períodos como Iluminismo e Romantismo e da ressignificação da identidade impulsionada pelos movimentos de contracultura, Estudos Culturais e movimentos feministas à guisa de autores como Hall (2003, 2005) e Todorov (2008) discutindo a questão da identidade, Bourdieu (2007, 2009) e Foucault (1979, 1996) destacando nesses autores o conceito de poder e a análise do discurso hegemônico e, ainda, adentrando na crítica feminista com autoras como Simone de Beauvoir (2016), Showalter (1994) e aprofundando a questão da interseccionalidade com base em Davis (2017) e Crenshaw (2017). A análise da obra apresenta a simbologia da língua e do poder da palavra, dos símbolos de mestiçagem e da metáfora de uma Malinche líquida, que, assim como o elemento água, se molda e se adapta de acordo com o ambiente, fazendo referência aos estudos de Bhabha (1998) e Santiago (2000) que teorizam a concepção de hibridismo cultural e entre-lugar na cultura. Por fim, destaca-se a importância de uma escrita revisionista, teorizada por Lemarie (1994) e Zinani (2006), que clamam por uma revisita ao passado, a fim de buscar personagens que passaram a história sendo descritas a partir do ponto de vista do outro, para ressignificar sua identidade e representá-la, assim como a personagem Malinche, como sujeito de sua história.