Dos Joaquimitas, Franciscanos e Aragoneses aos Açorianos: a hospitalidade na teia da comensalidade na festa do Divino Espírito Santo em Alcântara (MA) e Distrito de Criúva (Caxias do Sul- RS)
Datum
2019-06-24Autor
Martins, Cristiane Mesquita Gomes Albuquerque
Orientador
Gastal, Susana de Araújo
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A pesquisa intitulada Dos joaquimitas, franciscanos e aragoneses aos açorianos: A Hospitalidade na teia da Comensalidade na Festa do Divino Espírito Santo em Alcântara (MA) e Distrito de Criúva (Caxias do Sul-RS), tem como objeto as práticas de Comensalidade nas comemorações do Divino Espírito Santo em Alcântara-MA e no Distrito de Criúva, Caxias do Sul-RS, nas suas interligações com a Hospitalidade. O objetivo é o de estabelecer relações das práticas de Comensalidade e as
interligações com a Hospitalidade, nas Festas do Divino Espírito Santo como comemoradas em Alcântara e Distrito de Criúva como expressão de diferenças culturais (Sul/Nordeste), culturalmente distintos, mas aproximados pela festa. Atende às questões de pesquisa: como se dá a Hospitalidade nos rituais das festas do Divino Espirito Santo? As festas do Norte e do Sul apresentam diferenças substanciais nos seus rituais? A estratégia metodológica, de caráter qualitativo, seguiu os pressupostos
da observação participante, envolvendo além da observação em espaços festivos como casas de fiéis, mais propriamente; entrevistas abertas com pessoas da comunidade envolvida, visitantes e gestores religiosos; registros fotográficos e gravações de procissões, missas, banquetes e jantas. Para tratamento dos dados houve uso do software Max QDA. Para compreensão da Santíssima Trindade, especialmente na dimensão do catolicismo popular, o resgate histórico reportou à Baixa Idade Média e à exaltação do Espírito Santo por Joaquim De Fiore, abade cisterciense, defendia que o Tempo do Espírito Santo seria de equidade e justiça social. As ideias do monge influenciaram, entre outros, a rainha Isabel de Aragão, que passa a incentivar a exaltação e os festejos em homenagem ao Divino. Em tempos seguintes, a devoção será especialmente forte nos Açores, de onde chega ao Brasil pelas mãos dos imigrantes açorianos. A digressão histórica priorizou a compreensão da Hospitalidade, imbricada nas formas de festejar o Divino Espírito Santo, na atualidade comemorado em muitos estados brasileiros, mas com contornos diferenciados em cada região. Em Alcântara-MA, hibridizando-se tradições indígenas, africanas e europeias, a Festa reporta a cultura quilombola expressa especialmente nos alimentos e bebidas servidos, de maneira farta e gratuita, a todos que se fizerem presentes. Os festejos centram-se a partir da tutela das Caixeiras do Divino, com fortes marcas quilombolas. Em Caxias do Sul-RS, o Distrito de Criúva tem história própria, não necessariamente associada à da sede municipal, onde se misturam tradições portuguesas e heranças tropeiras, depois hibridizadas com a presença de outras etnias europeias. A Festa é comandada por casais da comunidade, em relação direta com a Igreja Católica. Em ambos os casos, as tradições associadas à festividade ancoram-se na família, que as repassa entre gerações. Em termos teóricos, a pesquisa associa a festividade à Hospitalidade e à Comensalidade. Ambas se sedimentam na religião católica, mantendo-se fiéis aos predicados do catolicismo
popular às tradições das culturas locais. Em Alcântara, com renda per capta três vezes menor do que a de Criúva, a distribuição de alimentos é gratuita e permeia quase todo o período de Festa. Já na festa sulista, a oferta de alimentos gratuitamente se dá apenas durante as louvações; nos demais dias há venda de ingressos para os jantares e almoços, para garantir o financiamento da Festa. As personagens constituintes do legado, a exemplo dos Açores, são basicamente as mesmas, variando os papéis que desempenham nas festividades. Denotaram Hospitalidade com as práticas de Comensalidade, ainda que a Hospitalidade em sentido de alteridade se instaure no período de Pentecostes e, depois, os conflitos sociais voltam a imperar.