História e cultura afro-brasileira no curso de letras/português da UFPE (1998-2018) : trajetórias, memórias e reflexões decoloniais
Resumo
A presente tese, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Caxias do Sul, na Linha de Pesquisa História e Filosofia da Educação, e abrigada no Grupheim – Grupo de Pesquisa História da Educação, Imigração e Memória, investigou como licenciados formados entre 1998 e 2018
rememoraram sua trajetória formativa sobre o ensino da história e cultura afrobrasileira no curso de Letras/Português da UFPE e, a partir dessas lembranças, o estudo identificou as representações que eles produziram sobre sua formação na temática afro-brasileira. A pesquisa é de perspectiva histórica e se insere na área da História da Educação, tomando por referência a Lei nº 10.639, de 09/01/2003, que instituiu no currículo oficial da Educação Básica do país a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira. Teoricamente, o estudo ancorou-se nos pressupostos da história cultural, apoiando-se nas interlocuções principais de Burke (1992, 2005), Chartier (1991, 2002) e Pesavento (2008), além das contribuições dos estudos decoloniais de Mignolo (2005), Quijano (2005), Munanga (2004, 2005), Gomes (2001, 2012, 2017) e Silva (2005, 2008), dentre outros, a fim de buscar compreender a implementação da temática afro-brasileira num curso de graduação. Metodologicamente, memórias de egressos foram recolhidas a partir de entrevistas semiestruturadas baseadas na história oral, as quais foram cotejadas com documentos do curso em análise, a saber, Projeto Pedagógico, Matrizes Curriculares, Programas de Disciplinas e atas de reuniões. Como resultados, observamos a partir da análise da empiria que foi possível estabelecer um pequeno contato da temática
afro-brasileira no curso analisado, porém, ainda com muitas lacunas, a exemplo da ausência de discussões planejadas e diretamente relacionadas à Literatura AfroBrasileira; da predominância de textos de autores clássicos da Literatura Brasileira, representada majoritariamente por homens brancos; da discussão de questões relacionadas à história e cultura afro-brasileira de forma tangencial e com ênfase em aspectos negativos das vivências dos negros brasileiros, como violência, preconceito e racismo; a ausência de escritores da Literatura Afro-Brasileira e intelectuais negros que trazem a discussão sobre a formação da sociedade brasileira sob o seu pertencimento étnico-racial, e, por isso, imprimem um outro olhar para a história, cultura e temática afro-brasileira. Por outro lado, ações institucionais para atendimento à comunidade estudantil negra e para a discussão das relações étnico-raciais nos espaços da UFPE vêm sendo desenvolvidas, o que pode ser um mecanismo para se efetivar a implementação da Lei nº 10.639/2003 em seus cursos de graduação, dentre
eles, o de Letras/Português. [resumo fornecido pelo autor]