Mais uma vez e apesar de tudo, o que pode uma educação
Datum
2025-01-23Autor
Almeida, Jefferson Pereira de
Orientador
Matos, Sônia Regina da Luz
Metadata
Zur LanganzeigeZusammenfassung
Desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Caxias do Sul, na linha de pesquisa História e Filosofia da Educação, o estudo de doutoramento tem seu primeiro motor na suspeita freudiana de que existiriam ofícios impossíveis. Semeada em terreno fértil, a hipótese da impossibilidade da educação surge com persuasão e cria as condições de um problema de pesquisa. Assim, faz-se uma travessia com Friedrich Nietzsche para realizar um pensamento das possibilidades e dos limites da educação, de seu vocabulário filosófico. Outros fluxos menos evidentes produzem o movimento. Elabora-se a redescrição e a crítica dos elementos conceituais do pensamento pedagógico: acessar o metavocabulário, questioná-lo em sua matéria e em suas intencionalidades, divisar as forças que as constituem, reivindicar a contingência e estimar os impactos dessas ações na atual forma de pensar a educação. No olhar e na suspeita, debruçar-se, pois, sobre o pretenso privilégio das palavras. Na tentativa que se estende, é importante que a criação conceitual entre em funcionamento pela fabulação de uma educação, oportunidade em que se experimenta sua virtualidade. Nesse momento, o pensamento ousa sair de Nietzsche, procura e atravessa outros referenciais da filosofia contemporânea, apropria-se de intercessores da literatura e age afirmativamente. Algo de rizomático afeta a disposição da matéria, que também não esconde o gosto pela repetição e a predileção de retornar a cada vez, sempre experimentando tensionar a curvatura do círculo. Cada capítulo é mais uma vez - bis, ter, quater, quinquies, sexies, septies, repete-se e, ainda assim, pouco parece idêntico, abundam relações que se querem diferenciais. Ao cabo, quem sabe o novo aconteça no et caetera. Desse modo, a escritura integra redescrição e crítica; uma após a outra, as categorias tranquilizadoras são trazidas à mostra, confrontadas, torcidas e retorcidas. A sintomatologia é apresentada como reação, evitação, captura, estagnação de fluxo. A educação é melancólica, persevera na memória e na idealização, mantém-se fixada ao télos que a definiria. Como força ativa e plástica, o esquecimento tenta servir de antídoto à melancolia, mas também gera reações adversas, deixa a porta entreaberta para retornarem as velhas categorias desta feita atualizadas pelas exigências da economia. Sob o capitalismo, a educação é um processo funcional em cujo desenvolvimento se priorizam o ensino e a aprendizagem. No entanto, algo de afirmativo percorre as veredas, algo escapa e vaza, sabotando a ordem, sacudindo a intenção de centro. No enfrentamento dos sintomas há alegria e riso, brincadeira e dança, há medialidade sem fim e invisibilidade do gesto; a escritura cria suas próprias linhas de fuga e certa ambientação dionisíaca prospera e dá o tom. Constrange diagnósticos absolutos, eles padecem de idealismo, desconforta admitir mortes peremptórias, desaparecimentos definitivos, fracassos inapeláveis, desesperos ético-políticos. Especifica-se a impossibilidade pela circunstancial impotência; como dispersão no meio de tanta algaravia, a impotência é reversível, contornável, subvertida, faz acreditar que nos interstícios e aberturas existe a oportunidade de frustrar o domínio. A experimentação realizada forja novas condições, fabula uma educação que seria atravessada pela composição, pela criação de estilo. A educação não é o caminho que leva de um lugar a outro, não é o ponto de articulação entre passado e futuro, lugar onde a memória se vê atualizada na finalidade da ação, ela não institui modelos, não é promessa de humanidade. A educação arrisca o fora, abre-se à infinitude e ao inconsciente produtivo, diagrama linhas de fuga; ela é devir-animal, a inquietante produção de saída que escapa da humanidade, que a tensiona até que assinale o inumano. Finalmente, acredita-se que a questão sobre o que pode uma educação esteja atendida quando se substitui o critério normativo da moral pela experimentação ética e política do desejo em agenciamento coletivo, na experiência micropolítica da multiplicidade e da diferença, na alegre tentativa de produção do comum. [resumo fornecido pelo autor]