Educação das relações étnico-raciais : escrevivências de estudantes negras(os) em um município marcado pela colonialidade ítalo-brasileira

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Data
2025-06-14Autor
Rosa, Joelma Couto
Orientador
Rosa, Geraldo Antônio da
Metadata
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A presente pesquisa busca promover uma reflexão acerca da implementação da Lei 10.639/2003 e da Educação das Relações Étnico-Raciais na Rede Municipal de Ensino de Caxias do Sul, município localizado na Serra Gaúcha, bem como problematizar questões relativas à branquitude e à supremacia branca. O estudo foi ancorado no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade de Caxias do Sul e na Linha de Pesquisa: História e Filosofia da Educação. É uma pesquisa qualitativa, construída a partir das escrevivências - conceito cunhado pela escritora Conceição Evaristo - da pesquisadora, uma professora negra, e de 32 adolescentes negras(os), estudantes de 7º, 8º e 9º ano do Ensino Fundamental, com faixa etária compreendida entre doze e quinze anos de idade. Nesse sentido, o estudo se fez numa relação de subjetivação da pesquisadora e sua relação com o tema, que não é apenas um tema. É vida. Vida de pessoas em movimento. Essa abordagem busca dar voz às vivências, histórias, memórias e subjetividades das(os) participantes, promovendo uma conexão profunda entre a escrita, a identidade e a luta por reconhecimento. Dessa maneira, as escrevivências no formato de carta criam uma conexão íntima, direta e afetiva entre quem escreve e quem lê, pois permite confidências, reflexões pessoais e diálogos com a(o) outra(o) e consigo mesma(o). O estudo foi realizado em uma escola da Rede Municipal de Ensino de Caxias do Sul, situada muito próximo ao "Burgo", uma comunidade com expressiva presença negra neste município fortemente marcado pela colonialidade ítalo-brasileira. A investigação realizada por meio das escrevivências, aqui mobilizadas através de cartas com produções escritas variadas, trocadas entre a pesquisadora e as(os) estudantes, teve como objetivo central analisar e compreender como a Educação das Relações Étnico-Raciais é vivida e experienciada por elas(es) e abordada por gestoras(es) e professoras(es), num contexto de colonialidade ítalo-brasileira, em que há uma predominância da branquitude na docência - o que será denominado nesse estudo de branquitude docente. O debate acerca das relações raciais não é recente em pesquisas acadêmicas nacionais e internacionais, o que não se reflete no contexto de Caxias do Sul em que os primeiros estudos acerca desta temática ainda são tímidos e a negritude sempre aparece como o elemento central. Por meio deste estudo, apresento a possibilidade de analisar a racialização das pessoas brancas em contextos de colonialidade ítalo-brasileira. Esse termo situa-se dentro da lógica da expansão do colonialismo europeu sobre o restante do mundo, o que fortalece a ideia errônea e equivocada de superioridade do europeu em relação aos demais povos explorados. Ao abordar a branquitude, busco provocar um movimento de romper com a ideia de que relações étnico-raciais se trata apenas de pessoas negras ou indígenas. Desta forma, considerando que, o conceito de branquitude está diretamente ligado a um lugar de privilégios simbólicos, subjetivos e objetivos, que colaboram para a construção social e reprodução do racismo, este estudo contribui com o processo de promoção de uma educação mais equânime e antirracista, na tentativa de apreender como o conceito de branquitude e de supremacia branca se escondem no currículo escolar, pela perspectiva das(os) estudantes negras(os). Os resultados obtidos através das escrevivências, escancaram essa agência da supremacia branca no âmbito da educação, pois a maioria delas trouxeram muitas denúncias sobre a ocorrência do racismo no espaço da escola e que passa despercebido pela branquitude docente. Algumas cartas revelaram atitudes de empoderamento das(os) estudantes, outras apresentaram importantes movimentos autotransformativos em relação à identidade racial dessas(es) adolescentes. Diante dessa percepção, as escrevivências que chegaram pelas cartas foram organizadas em três categorias: denúncias, empoderamento e autotransformação, como uma estratégia de análise. O resultado da pesquisa também é apresentado em formato de cartas, de acordo com essa categorização, em que a pesquisadora - uma mulher negra adulta - escreve para a sua criança interior. Assim, essa é uma pesquisa que intenciona desestabilizar verdades impostas pela branquitude que silenciam, invisibilizam ou visibilizam de maneira perversa a história, a cultura e os saberes de sujeitos não-brancos. [resumo fornecido pelo autor]
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