A estimulação cognitiva em trabalhadores idosos: possíveis impactos desta intervenção
Resumo
A modificação da pirâmide populacional, decorrente da redução da taxa de fecundidade e do aumento da expectativa de vida, está produzindo um acréscimo significativo na proporção da população com 60 anos ou mais. Este envelhecimento tensionará a participação dos velhos na sociedade, principalmente no mercado de trabalho. A Política do Envelhecimento Ativo, desenvolvida em 2005 pela Organização Mundial da Saúde, define quatro pilares: a "saúde", o "direito à segurança", a "participação dos idosos na sociedade" e a "aprendizagem ao longo da vida". Estes pilares formulam ações visando um envelhecimento saudável e ativo, a melhoria da qualidade de vida e a aprendizagem ao longo da vida que auxiliam a postergar o aparecimento de declínios cognitivos que resultem em dificuldades na velhice. Neste sentido, o problema de pesquisa que desencadeou esta investigação foi como intervenções de estimulação cognitiva podem impactar no desempenho cognitivo e produtivo de trabalhadores idosos no ambiente de trabalho. O embasamento teórico foi realizado a partir dos autores Baltes, com sua proposta da perspectiva lifespan, e Bernal. Esta dissertação possui como objetivo principal analisar como intervenções de estimulação cognitiva podem impactar no desenvolvimento cognitivo de trabalhadores idosos no ambiente de trabalho. Para dar conta deste, são objetivos específicos: a) identificar o nível cognitivo e produtivo pré e pós intervenções; b) descrever as percepções dos trabalhadores sobre possíveis impactos das estratégias de estimulação cognitiva realizadas; c) conhecer possíveis mudanças nas estratégias utilizadas pelos trabalhadores idosos para aprenderem atualmente; d) conhecer possíveis impactos no desempenho produtivo dos trabalhadores idosos no ambiente de trabalho; e e) oferecer subsídios teóricos para a proposição de exercícios de estimulação cognitiva com foco no desempenho profissional e pessoal. A metodologia caracteriza-se por ter uma pesquisa descritiva de abordagem mista, contemplando aspectos qualitativos e quantitativos. A amostra foi constituída de forma intencional e composta por oito trabalhadores idosos, sendo cinco mulheres e três homens de uma indústria de alimentos da cidade de Nova Petrópolis/RS. A abordagem quantitativa do campo utilizou a aplicação de um instrumento de rastreio cognitivo (MoCa) e de um instrumento de investigação de satisfação no trabalho (EST), que foram analisados com os softwares de análise de dados Jomovi e Jasp. A abordagem qualitativa foi realizada a partir da Análise de Conteúdo, proposta por Bardin, e foram organizadas em duas categorias: "Possibilidades de aprendizagem no ambiente de trabalho para além da atividade laboral" e "Estratégias de aprendizagem". A análise dos resultados na pesquisa demonstrou que a idade como fator isolado não é determinante do declínio cognitivo. Também não se identificou correlação entre a escolaridade dos participantes e seu desempenho. Os resultados da investigação da satisfação no trabalho não identificaram insatisfação em nenhuma das dimensões analisadas, sendo que as dimensões de "satisfação com os colegas", "satisfação com a chefia" e "satisfação com a natureza do trabalho" mostraram que os participantes, no geral, estão satisfeitos, e as dimensões de "satisfação com o salário" e "satisfação com as promoções" indicaram indiferença. A reavaliação dos participantes com o teste de rastreio cognitivo, após as sessões de estimulação cognitiva, demonstrou uma evolução positiva significativa entre a primeira e segunda avaliação: p = 0,011. Em análise individualizada dos domínios cognitivos, constatou-se que os domínios de "linguagem" e "evocação tardia" apresentam pontuação com diferença significativa maior após a aplicação das sessões de estimulação: p = 0,036 e p = 0,010, respectivamente. Os domínios de "nomeação" e "abstração", apesar de não apresentarem resultados dentro dos parâmetros significância, tiveram resultados muito próximos deste, com p = 0,074 e p = 0,087, respectivamente. Por fim, os resultados dos domínios "visuoespacial/funções executivas" (p = 0,293), "atenção" (p = 1) e "orientação" (p = 0.977) não demonstraram evolução significativa após a segunda avaliação. Os resultados apresentados nestes últimos três domínios podem ser explicados, em parte, pelo desempenho máximo dos participantes no primeiro teste realizado, impedindo, desta forma, que eventual melhora no desempenho pudesse ser observada na segunda avaliação do teste de rastreio cognitivo. O questionário qualitativo demonstrou melhora na qualidade de vida dos participantes, tanto em âmbito pessoal quanto profissional. A apropriação de novas estratégias de aprendizagem vivenciadas nas sessões de estimulação e a integração com o outro impactaram positivamente os participantes. Diante disso, as principais conclusões deste estudo baseadas nos resultados encontrados são de que, no geral, há eficácia da prática de estimulação cognitiva como instrumento de melhora no desempenho cognitivo dos participantes e na melhoria da qualidade de vida. Este estudo, portanto, serve como referência para utilização da estimulação cognitiva como ferramenta de promoção da saúde e qualidade de vida, no envelhecer, de maneira as postergar a manifestação de declínios cognitivos. [resumo fornecido pelo autor]