Preparação e caracterização de filmes de látex de borracha natural contendo própolis vermelha e cobre para aplicações biomédicas
Resumo
A cicatrização de feridas pode ser retardada em função da resistência e da tolerância a vários antimicrobianos tópicos que são frequentemente utilizados para essa finalidade. Nesse contexto, o desenvolvimento de curativos com materiais que possuem propriedades
angiogênicas e bactericidas é desejável, uma vez que possibilitam tratar tais infecções por um longo período de tempo e de forma local. Nesse estudo foram preparados filmes de látex de borracha natural (LBN) contendo própolis vermelha e óxido de cobre (II)/nanopartículas de
óxido de cobre (II) (CuO/CuONPs). Os filmes foram obtidos em diferentes condições de temperatura e tempo (65 ºC por 24 h, 40 ºC por 24 h, 40 ºC por 12 h com circulação forçada de ar, e à temperatura ambiente). Tratamentos superficiais adicionais com plasma, utilizando os gases oxigênio, hidrogênio e uma mistura de ambos, além da deposição de cobre usando a técnica de magnetron sputtering, foram igualmente realizados. Os filmes foram então caracterizados pelas técnicas de espectroscopia no infravermelho com transformada de
Fourier e refletância total atenuada (FTIR-ATR), microscopia eletrônica de varredura com emissão de campo (MEV-FEG), espectroscopia por dispersão em energia (EDS) e fluorescência de raios X (XRF), e por medidas de ângulo de contato. A liberação de cobre dos
filmes, por sua vez, foi avaliada pela técnica de espectroscopia de emissão atômica por plasma acoplado indutivamente (ICP-OES), enquanto os ensaios antibacterianos foram realizados com inóculos de Escherichia coli. De modo geral, os filmes apresentaram caráter hidrofílico, com valores de ângulo de contato entre 22º e 65º; porém, com o passar do tempo, e devido ao envelhecimento do LBN, tornam-se mais hidrofóbicos. Além disso, os resultados obtidos a partir dos filmes que foram preparados por meio da incorporação direta de
CuO/CuONPs ao látex indicaram ausência de atividade bactericida, uma vez que o cobre reage com a matriz polimérica, promovendo a desintegração dos mesmos com o passar do tempo e, consequentemente, impossibilitando a visualização do mesmo por MEV-FEG e EDS. Em contrapartida, os resultados inerentes aos filmes preparados por magnetron sputtering revelaram que o modo de acondicionamento influencia diretamente na atividade bactericida. Os filmes conservados em dessecador apresentaram propriedades bacteriostáticas a partir de 10 s de deposição de cobre, enquanto aqueles que ficaram sob a bancada apresentaram uma menor atividade bacteriostáticas, devido à formação de óxidos. A análise por meio das técnicas de MEV-FEG e EDS demonstrou que a quantidade de cobre na superfície das amostras e o aumento do ângulo de contato estão diretamente ligados ao tempo de deposição de cobre. O resultado de liberação de cobre foi 0,16 mg/L, estando bem abaixo do limite padrão para lançamento de efluentes. Finalmente, o conjunto de todos os resultados indicou que os filmes de LBN/própolis vermelha/cobre podem ser considerados uma alternativa frente aos curativos de feridas tradicionais; porém, estudos mais aprofundados principalmente de caráter biológico, como de citotoxicidade, e a melhora da hidrofilicidade dos filmes são ainda necessários. [resumo fornecido pelo autor]