A tomada de decisão estratégica pela alta direção em uma perspectiva bourdiesiana na ótica da estratégia com prática
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Data
2018-07-19Autor
Beims, Fabian Udo
Orientador
Larentis, Fabiano
Metadata
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Este trabalho investigou as práticas de tomada de decisão estratégica da alta direção (TMT) em uma empresa metalúrgica de Caxias do Sul utilizando a abordagem sociológica da Estratégia como Prática na perspectiva de Pierre Bourdieu. A estratégia como prática sugere uma análise da estratégia numa abordagem sociológica, de ontologia intersubjetiva que permeia os significados compartilhados pelos atores sociais nos diversos níveis da organização e entre as organizações, nos níveis da práxis (os recursos dos practitioners), dos practitioners (os praticantes da estratégia, ou os estrategistas) e das práticas. Para isto, a estratégia como prática recorreu a teorias sociológicas de epistemologia e ontologia próximas ao estudo da estratégia sendo que neste trabalho usou-se a Teoria da Prática de Pierre Bourdieu que cita o habitus, o campo e o capital como uma trilogia inseparável. Este trabalho investigou como a alta direção da empresa MCZ desenvolve o processo de tomada de decisão para a formação de estratégias, sendo que para isto analisou-se como estes atores sociais adquiriram e adquirem capital, como o seu habitus influenciou e influencia neste acúmulo de capital e como o capital é usado no campo para definir seu posicionamento e consequentemente influenciar na tomada de decisão. Uma etnografia focada foi conduzida para avaliar o processo de tomada de decisão estratégica dos atores sociais por cinco meses, no segundo semestre do ano de 2017, sendo que o habitus foi identificado através de entrevistas em profundidade com roteiro semiestruturado obtido através de um estudo prévio de Schreiber (2015) e com o suporte do software Nvivo. Os dados da fonte primária vieram de entrevistas com diretores e influenciadores que estão diretamente envolvidos na prática de tomada de decisão e/ou influenciam no processo diretamente. Observou-se que a empresa MCZ tem regras no qual os practitioners tem dificuldade de se aderir em virtude de práticas de alguns dos practitioners como tomada de decisão unilateral, baixa interação com os outros membros do TMT, falta de competências de gestão e decisão baseada na emoção e experiências passadas que vão em desencontro a sua ilusio (práticas desejadas, mas não necessariamente introduzidas). As práticas dos agentes geram doxas (tudo aquilo que é assim mesmo) que nem sempre estão em sincronismo com as regras da empresa e a ilusio dos agentes da empresa, gerando impactos negativos entre os agentes como conflitos e perda de capital. As dificuldades financeiras da empresa MCZ nos últimos anos influencia no habitus dos agentes de forma a concentrar a tomada de decisão nesta área, com viés financeiro, fazendo com que um dos practitioners tenha que usar de outros meios para tomar a decisão tendo em vista a falta de competências nesta área. A necessidade de manter a fábrica com um certo nível de pedidos para sanar os problemas financeiros leva os practitioners a priorizar o cliente que detém oitenta por cento da demanda, inviabilizando a estratégia de reduzir o impacto deste na organização, tendo em vista a dificuldade de negociação de prazo de pagamento e preços com este cliente. Além disto, há a necessidade de atender este cliente de modo flexível o que cria conflitos internos de obediência as regras, assim como práticas que vão em desencontro da ilusio dos practitioners. Por fim, este estudo contribuiu para o entendimento da tomada de decisão estratégica em nível micro, do ponto de vista do practitioner, no que tange ao trabalho do estrategista, e mostrou que a etnografia focada assim como a SasP foi bastante adequada para estudar o fenômeno no contexto interno da organização, além do que, a teoria da prática de Pierre Bourdieu tem aderência ao estudo da prática estratégica.