Eva Luna e Cuentos de Eva Luna: da fascinação da palavra à representação da mulher
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Data
2014-05-28Autor
Abreu, Aline Letícia Rech de
Orientador
Zinani, Cecil Jeanine Albert
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A prática e o estudo da literatura, em geral, foram realizados por homens os quais estabeleceram os conceitos a respeito da posição da mulher na sociedade e acabaram por determinar os papéis de subordinação feminina em relação ao poder masculino. A escrita da mulher rejeita as divisões de gênero e, na medida em que as autoras vão se apropriando do discurso, promovem, por meio do questionamento aos valores tradicionais, a desconstrução do modelo patriarcal, abrindo a possibilidade de a mulher tornar-se sujeito e atuar efetivamente na sociedade. Por isso, analisar a situação cultural da mulher torna-se fundamental na medida em que se pode perceber como ela vê o outro, como é vista pelo grupo dominante e por si mesma. Isabel Allende, em Eva Luna e Cuentos de Eva Luna, narra a história de uma mulher que se constitui a partir da palavra, assim, esta dissertação objetiva refletir não apenas a revalorização da literatura escrita por mulheres como também propor uma discussão sobre a representação do papel da mulher na reescrita da história, tanto no espaço privado quanto no público, a partir da possibilidade de modificação de seu destino por meio da subversão do poder patriarcal. As obras dialogam também com a história da Venezuela, possibilitando a leitura dos fatos históricos desse país a partir de estudos interdisciplinares, a qual se justifica tanto na construção dos múltiplos sentidos propostos por uma obra literária, quanto pela possibilidade de demonstrar o papel da reconstituição histórica na construção da identidade dos indivíduos e das sociedades, permitindo uma reflexão crítica sobre a história do continente latino-americano. As obras tematizam a potência transformadora da linguagem ao narrar a vida de uma personagem feminina que, usando seus contos, transforma a si e ao meio em que vive. A análise é pautada na apropriação de aportes da teoria feminista, associados à análise da regionalidade, da intertextualidade, ao estudo das fronteiras instauradas entre história e literatura e ao conto. Aspectos teóricos sobre o silêncio ao qual a mulher foi submetida e aos papéis representados por ela na literatura fundamentam a discussão a partir da constituição identitária da própria narradora, Eva Luna, que, apesar de ter sua existência programada para ser submissa, supera seus medos e modifica seu destino, tornando-se uma escritora e, assim como suas personagens, consegue restaurar o poder feminino, justamente porque, tal como Eva Luna, as demais escritoras se libertam da dominação, subvertendo e reinventando padrões por meio da escrita, detendo, assim, o poder sobre a narrativa e a fascinação da palavra.