Práticas discursivas e modos de subjetivação no ensino médio particular
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Data
2014-06-02Autor
Gasperin, Ângela Garziera
Orientador
Stein, Sofia Albornoz
Metadata
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Este trabalho realiza a análise de práticas discursivas e modos de subjetivação no ensino médio particular, problematizando as finalidades desta etapa educacional. Os estudos de nível médio no Brasil têm sua constituição histórica marcada pela dualidade entre as finalidades profissionalizante e preparatória para o ensino superior. Parte-se do referencial foucaultiano que compreende a produção de subjetivação a partir dos regimes de saber disponíveis em uma sociedade. Assim, as práticas discursivas, ao produzirem objetos de saber, estruturam o campo de ação dos sujeitos, materializando-se em técnicas diversas, entre as quais situam-se os dispositivos pedagógicos. A fim de cumprir o objetivo deste estudo, foram realizadas entrevistas junto a dez professores de uma escola particular, cujos depoimentos foram submetidos à análise textual discursiva proposta por Moraes (2003) e à análise do discurso de orientação foucaultiana, subsidiada pelo trabalho de Willig (2001). A análise dos dados coletados demonstrou que a produção discursiva do ensino médio enfatiza sua finalidade preparatória para o ingresso no ensino superior, o que se concretiza em uma série de práticas pedagógicas. O acesso a um curso superior é tido como a forma de profissionalização dos egressos de ensino médio. Observa-se, igualmente, que a formação cidadã e a preparação para a vida são remetidas à escolha de um trabalho, relacionada, por sua vez, à constituição identitária. As práticas pedagógicas produzidas por este discurso promovem uma relação com o conhecimento pautada pelo consumo deste com vistas à ascensão social. Há pouco espaço, neste sistema de ensino, para o prazer de aprender, já que as aulas são especialmente conduzidas pelos professores e restringem-se à memorização de informações que caem no vestibular. Os sujeitos educacionais não podem lançar questões que lhes mobilizem, pois têm que atender aos requisitos do vestibular. Ao estruturar o campo de ação dos atores educacionais, os discursos que vinculam a escola média ao vestibular limitam o atendimento de outras finalidades educacionais. Acredita-se que o melhor a fazer no ensino médio é capacitar os estudantes para o trabalho. Assim, constituem-se projetos de vida individualizados, que tornam difícil a implicação dos sujeitos em aspectos da vida coletiva. Enfim, o ensino médio na escola particular porta traços elitistas, já que se ocupa especialmente de preparar seus estudantes para o ingresso no ensino superior. Além disso, evidencia-se a ação dos mecanismos disciplinares escolares que produzem individualização e docilização dos corpos, que submetem-se, deste modo, às demandas do sistema produtivo sem opor-lhes questionamentos. Ademais, a psicologização do saber escolar promove o governamento dos indivíduos, na medida em que controla suas condutas de forma muito sutil. Produz-se, diante disso, o questionamento acerca da possibilidade de que os saberes escolares problematizados favoreçam processos de invenção de si em detrimento de promover a moldagem dos sujeitos a preceitos produtivistas, desmobilizando-os politicamente. No entanto, é apenas fazendo mover os discursos produtores do ensino médio que se pode passar a imaginar outras possibilidades de subjetivação. Esta é a contribuição que o presente estudo apresenta, abrindo espaço para novas problematizações sobre cultura juvenil, políticas educacionais e de formação de professores.