Aspectos históricos e contemporâneos sobre a interposição entre as identidades materna e docente na educação infantil : decorrências para a prática pedagógica
Datum
2017-03-17Autor
Souza, Milena Cristina Aragão Ribeiro de
Orientador
Kreutz, Lúcio
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O presente estudo, inserido da linha de pesquisa História e Filosofia da Educação, aborda a relação entre gênero e docência na Educação Infantil. A questão central versa sobre os motivos que levam à interposição entre as identidades materna e docente na educação da primeira infância, bem como suas decorrências para prática pedagógica. Assim, utilizando a metodologia do grupo focal, foram entrevistadas seis professoras atuantes numa Escola de Educação Infantil da cidade de Caxias do Sul/RS, com o intuito de ouvir suas representações sobre o papel docente, a fim de compreender como percebem e lidam com esta questão. Os dados foram tratados a partir da Analise Textual Discursiva, da qual emergiram duas categorias: perfil e formação profissional. O suporte teórico deste estudo está apoiado em autores como Chartier (1990), Pesavento (2008), Hall (2002), Veiga (2007), Louro (2001), Kuhlmann (2003), Cerisara (2002), entre outros pesquisadores que ajudam e compreender a posição da mulher-professora na sociedade e na cultura, bem como o espaço educativo para a primeira infância, abordando aspectos históricos e contemporâneos. Como resultado, observei que a identidade feminina foi historicamente constituída em torno de forte discurso maternal, que influenciou sua inserção na docência, de modo que o magistério passou a ser representado como uma extensão do lar e a professora como a segunda mãe dos alunos. A inauguração de creches e pré-escolas reforçou esta representação, uma vez que exigia da educadora forte atuação maternal. As narrativas das docentes pesquisadas corroboraram esta interposição, sendo vista, inclusive, como característica positiva para o desempenho da função. É importante ressaltar que autores como Pesavento (2008) e Chartier (1990) afirmam que discursos geram condutas e práticas sociais que por vezes ultrapassam tempo e espaço. Neste sentido, quanto mais intenso for o discurso que interpõe o papel materno ao docente, maior a possibilidade de a educadora agir como mãe dos alunos, prejudicando sua atuação profissional, conforme estudos de Diniz (2002) e Zanella (1999). Desta forma, esta pesquisa mostra-se relevante por proporcionar uma reflexão crítica sobre a atuação docente, problematizando o que está “naturalizado” e denunciando contradições. O texto é concluído, abordando a importância de a professora tornar-se ciente sobre si, seu grupo social, sua história e o trabalho docente, fornecendo pistas para amenizar o conflito existente na função. Sendo assim, esta pesquisa abriu novas possibilidades de estudo, em especial na perspectiva da formação docente, tendo em vista a Educação Infantil ainda ser um espaço em construção, um lócus em busca de suas identidades.