Um sofá por vez: aproximações entre a voz institucional da rede couchsurfing e concepções teóricas de hospitalidade
Abstract
O presente trabalho tem como objeto de estudo uma rede mundial de viajantes, intitulada Couchsurfing, ao qual se propõe realizar uma releitura de sua voz institucional à luz de proposições teóricas de hospitalidade/acolhimento. Esse projeto surgiu em 2003 por iniciativa do professor Casey Fenton e atualmente conta com 12 milhões de membros, espalhados por 200 mil cidades (COUCHSURFING, 2017). Para tanto, esta pesquisa caracteriza-se como predominantemente qualitativa, com abordagem hermenêutica. O campo pesquisado é definido como “voz institucional” que engloba missão da rede, seus valores e seus usuários embaixadores no Brasil. Como técnica de coleta, optou-se pela aplicação de entrevista, via questionário encaminhado pelo Google Forms, ao grupo de 10 membros embaixadores, do qual obteve-se resposta de oito deles. Na compreensão interpretativa proposta, fazem-se alinhamentos a perspectivas enunciativas bakhtinianas, em que o contexto enunciativo/discursivo tem valor (a posição dos falantes no discurso, as formas de dizer). De acordo com a voz dos sujeitos entrevistados, o Couchsurfing “é uma rede de relações”, ou “Couchsurfing é uma ferramenta agradável por proporcionar ao viajante conhecer as cores e sabores de diversas culturas”. Nos termos empregados para definir Couchsurfing, pode-se observar a existência dos que se voltam para uma ideia de compartilhamento de relação (rede, abertura, troca e descoberta), assim como os que apresentam um caráter mais utilitário (ferramenta, forma de hospedagem, instrumento). O discurso dos embaixadores permite identificar rupturas e discordâncias entre as proposições dos conceitos apresentados no site do CS, quando apresentam suas motivações que tendem mais para objetivos pessoais e não para as motivações globais que são defendidas no discurso online. Outro ponto se refere à motivação dos demais usuários, visto que os embaixadores indicam uma crescente demanda de pessoas querendo economizar e que veem a rede somente como forma de obter hospedagem gratuita. Reúnem-se, nesse sentido, indícios do surgimento de uma possível nova demanda e de conflitos entre o discurso institucionalizado da rede e o discurso de seus usuários embaixadores.