O ensino primário em Caxias do Sul (1890-1930) : vestígios da cultura material escolar
Mostra/ Apri
Data
2020-09-10Autore
Vanz, Samanta
Orientador
Souza, José Edimar de
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Esta pesquisa buscou compreender como os vestígios de objetos, artefatos e materiais presentes nas escolas primárias de Caxias do Sul entre os anos de 1890 e 1930 contribuíram para compor uma narrativa histórica sobre o ensino primário em Caxias do Sul. O recorte temporal adotado inicia-se em 1890, quando é fundado o município de Caxias do Sul, estendendo-se até 1930, quando a Escola Complementar Duque de Caxias é inaugurada, influenciando na formação dos professores da região e consequentemente no contexto da educação primária. Os pressupostos teórico-metodológicos são ancorados na História Cultural, a partir do diálogo com historiadores
como Burke (1992; 2008), Chartier (1990; 1991; 2009), Le Goff (1990) e Pesavento (2014). Para possibilitar a tessitura teórica, também são utilizados os conceitos de Culturas Escolares a partir de Viñao Frago (1995; 2001), Julia (2001) e Escolano (2017). A investigação mobilizou a metodologia da análise documental histórica, considerando como principais fontes documentais as correspondências de professores, inspetores escolares e intendentes municipais, solicitações e inventários escolares, relatórios da intendência, atos e decretos e impressos. A narrativa realizada por meio dos vestígios materiais identificados nas análises das fontes documentais permitiu compreender como o processo de escolarização foi se desenvolvendo no interior das escolas isoladas. A materialidade identificada nas correspondências, solicitações e inventários permitiu recompor cenários em que as práticas se desenvolveram corroborando para
o projeto republicano e positivista de pátria, civilização e progresso. Destaca-se que objetos escolares para ler, escrever e contar, assim como mobiliário e objetos que instruíam a partir das “lições de coisas”, evidenciam os modos de fazer, de adaptar e de produzir uma cultura escolar. O estudo produzido traz indícios de uma rede de sujeitos envolvidos no processo de escolarização além de alunos e professores, como inspetores escolares, intendentes, os impressos jornalísticos, as famílias dos alunos e a própria comunidade. Observa-se a importância dessa Cultura Escolar como constituinte do espaço escolar e mediadora das relações entre sujeitos, permitindo desenvolver condutas, práticas, instaurar rotinas, representações, refletindo nas formas de usos e apropriações por parte de professores e alunos. Os indícios pesquisados apontam para a afirmativa de que os objetos escolares eram importantes no processo de escolarização, mas que, diferentemente do prescrito, o método intuitivo foi pouco aplicado em aula, em que saberes práticos voltados para o ensino básico do ler, escrever e contar fizeram-se mais representativos. Por fim, reconhece-se que mesmo diante
dos parcos recursos materiais existentes, houve movimento dos sujeitos envolvidos com a educação primária municipal para a constituição de uma Cultura material escolar que contribuísse, dentro do cenário possível, para a formação dos filhos dos colonos que se estabeleceram na comunidade a partir do século XIX.