Resumo
A viticultura brasileira apresenta-se como uma das atividades mais importantes social e economicamente dentro da fruticultura nacional. A Serra Gaúcha é a principal região produtora de uvas e vinhos do Brasil. Todavia, possui condições climáticas desfavoráveis ao cultivo, devido ao elevado índice pluviométrico e à alta umidade relativa do ar. Sendo assim,
a vitivinicultura na região somente se torna possível com um rigoroso sistema de controle preventivo e curativo de doenças fúngicas. Dentre as muitas doenças que acometem a cultura da videira, destacam-se Botrytis cinerea e Colletotrichum acutatum, causadores da podridão cinzenta e podridão da uva madura, respectivamente. Estes fungos atacam principalmente as bagas, o que reduz a qualidade e produtividade, acarretando elevados prejuízos econômicos. As medidas de controle para estas doenças geralmente consistem na aplicação de fungicidas sintéticos, porém este método pode apresentar consequências indesejáveis, tanto para a saúde humana quanto para o meio ambiente. Assim, se faz necessária a busca por novos métodos de controle de baixo impacto ambiental, que sejam economicamente viáveis e que possam ser integrados em programas de controle de doenças de plantas. Muitos óleos essenciais possuem propriedades fungicidas. Assim, pesquisas nesta área que confirmem esta atividade, segundo protocolos científicos, tornam-se cada vez mais necessárias. Diante desta situação, o objetivo do presente estudo foi avaliar a atividade antifúngica de óleos essenciais de Eucalyptus staigeriana, Eucalyptus globulus, Foeniculum vulgare, Baccharis trimera e Baccharis dracunculifolia sobre o crescimento in vitro e no controle in vivo de Botrytis cinerea e Colletotrichum acutatum em videiras (Vitis spp. e Vitis vinifera). Foram realizados testes in vitro para avaliar a ação fungicida dos óleos essenciais sobre a germinação de conídios e o crescimento micelial dos fungos (fase de contato e volátil) e a partir dos resultados obtidos, foram definidos os óleos essenciais a serem utilizados nos testes in vivo. Os testes in vivo foram realizados com o intuito de avaliar a atividade antifúngica dos óleos essenciais no ii controle das doenças causadas por B. cinerea e C. acutatum em uvas da cultivar “Isabel” (Vitis spp.) no pós-colheita e em videiras das cultivares “Isabel” (Vitis spp.) e “Tannat” (V. vinifera) no campo. As uvas provenientes dos tratamentos realizados nas videiras foram vinificadas e o vinho analisado quanto as suas propriedades químicas e seus compostos voláteis. Os resultados in vitro revelam que os óleos essenciais de E. staigeriana, E. globulus, B. trimera e F. vulgare possuem ação fungicida, inibindo ambos fungos em pequenas concentrações que variaram de 50 a 600 ppm de acordo com o óleo e o fungo testados. Nos testes pós-colheita foram utilizados os óleos essenciais de E. staigeriana, F. vulgare e B.trimera, todos reduziram a incidência e a severidade das doenças, tanto no tratamento preventivo quanto no curativo. O tratamento curativo foi mais eficiente, inibindo completamente os sintomas das doenças em concentrações que variaram de 100 a 600 ppm de acordo com o óleo e o fungo testados. Para o tratamento in vivo em videiras, foi utilizado o óleo essencial de E. staigeriana, nas concentrações de 100 e 500 ppm, que apresentaram resultados promissores, reduzindo a incidência e severidade das doenças em ambas as variedades de videiras. As análises químicas dos vinhos demonstram que o óleo essencial não interfere nas características do vinho. Nas análises dos compostos voláteis dos vinhos, foi identificado pequenas concentrações do composto 1,8-cineol em ambos os vinhos e o do composto citral no vinho produzido com as uvas de Vitis spp. var. “Isabel”, mas que não interferem nas características sensoriais do vinho. Assim, conclui-se que os óleos essenciais apresentam potencial uso como biofungicidas no controle de B. cinerea e C. acutatum em videiras.