Epidemiologia molecular de Escherichia coli e Klebsiella spp produtoras de beta-lactamase de espectro ampliado
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Data
2014-05-23Autor
Wollheim, Cláudia
Orientador
Costa, Sergio Olavo Pinto da
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As beta-lactamases de espectro ampliado (ESBL) representam um importante mecanismo de resistência aos beta-lactâmicos. Essas enzimas disseminaram-se entre membros da família Enterobacteriaceae que causam infecções relacionadas à assistência à saúde, especialmente as nosocomiais. Objetivos: (a) Determinar a prevalência de Escherichia coli e Klebsiella spp produtores de ESBL de origem hospitalar e comunitária; (b) Verificar a origem dos isolados (amostra clínica e unidade de internação); (c) Avaliar a acurácia dos testes fenotípicos de detecção de ESBL; (d) Determinar os perfis de sensibilidade aos antimicrobianos; (e) Determinar os genes de beta-lactamase; (f) Avaliar o modo de disseminação e; (g) Realizar experimentos de transferência de resistência. Material e métodos: Foram avaliados 1346 isolados (1162 E. coli, 180 K. pneumoniae e 4 K. oxytoca), de pacientes internados e ambulatoriais, entre abril de 2003 a maio de 2006, em Caxias do Sul. Um isolado/paciente foi incluído e a infecção hospitalar definida pelo CDC (Centers for Diseases Control and Prevention). Pelo método disco-difusão, conforme CLSI (Clinical and Laboratory Standards Institute) identificou-se os produtores de ESBL (triagem: aztreonam, cefotaxima, ceftazidima, ceftriaxona e cefpodoxima e confirmatório: cefpodoxima, ceftazidima, cefotaxima, com e sem ác. clavulânico). A cefepima foi incluída nos testes. Os isolados foram submetidos a testes de sensibilidade aos antimicrobianos, por disco-difusão, segundo a CLSI; ao método de PCR para detecção dos genes bla TEM, bla SHV, bla CTX-M e; à tipagem por PGFE. A cepa E. coli αDH, como receptora, foi usada na conjugação e os transconjugantes pesquisados para produção de ESBL e perfil de sensibilidade. Resultados: As prevalências de ESBL em nível hospitalar foram: K. pneumoniae (43,7%) e E. coli (6,7%) e a comunidade, respectivamente, de 2,6% e 0,4%. As vias aéreas (escarro, aspirado traqueal, lavado broncoalveolar) , sangue e urina, e as UTIs e Clínica-Cirúrgicas foram as amostras clínicas e unidades de internação com os maiores percentuais de isolados produtores de ESBL. Independente da bactéria analisada, a ceftazidima foi o substrato com o pior desempenho nos testes. Já a cefpodoxima, a cefotaxima, a ceftriaxona e o aztreonam apresentaram sensibilidade de 100% e especificidade >94,0% para isolados de Klebsiella spp. Para E. coli a cefpodoxima foi o melhor substrato (sensibilidade de 100,0% e especificidade de 75,0%). A cepefima apresentou excelente desempenho. Os isolados de Klebsiella spp produtores de ESBL apresentaram taxas de resistência superiores àqueles apresentados pelos isolados não produtores de ESBL, para vários antimicrobianos beta-lactâmicos e não beta-lactâmicos. Independente da produção de ESBL esses isolados foram sensíveis aos carbapenêmicos e tigeciglina. Foram detectados em E. coli e Klebsiella spp com fenóitpo ESBL os genes de beta-lactamase blaTEM (89,0%), blaCTX-M (75,6%) e blaSHV (35,4%). Foram identificados 22 padrões de PFGE, sendo 11 com mais de um isolado. Esses padrões envolveram 50 isolados de K. pneumoniae produtores de ESBL, com alta disseminação intra-hospitalar entre as unidades de internação do hospital e por período superior a um ano. Os transconjugantes apresentaram fenótipo de ESBL e resistência aos aminoglicosídeos. Conclusões: Nossos resultados mostraram que a produção de ESBL constitui um problema essencialmente nosocomial. Concluímos que a adição da cefepima nos testes de detecção de ESBL leva a um aumento significante na acurácia para E. coli. No entanto, os isolados produtores de ESBL do gênero Klebsiella representam o maior problema no hospital. Esses apresentaram ampla variabilidade genômica, indicando forte pressão seletiva de antimicrobianos, mas também disseminação multiclonal, indicando transmissão cruzada e uma situação de endemia dessas bactérias no hospital. Por fim, nossos resultados indicaram uma fácil disseminação de plasmídeos multirresistentes, o que pode representar um impacto importante nas opções terapêuticas para o tratamento de infecções por bactérias produtoras de ESBL.