Investigando Jean Piaget : a epistemologia genética e o apriorismo
Zusammenfassung
O presente estudo constitui-se na Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade de Caxias do Sul, pertencente à linha de pesquisa Educação, Epistemologia e Linguagem, e ancora-se nos pressupostos teóricos e conceituais da Epistemologia Genética. Essa teoria, criada pelo pensador suíço Jean Piaget, com o fim investigativo de entender os processos cognitivos, mais especificamente, no que se direciona a revelar a gênese do conhecimento. O intuito principal do estudo a ser apresentado está na possibilidade de desvelar os vieses apriorísticos da teoria piagetiana por meio de um estudo teórico analítico, realizado, basicamente, a partir em três obras piagetianas, a saber: Nascimento da Inteligência na Criança (1975 [1936]), Biologia e Conhecimento (2003 [1967]) e Epistemologia Genética (2007 [1970]). Como forma de elucidar o pensamento piagetiano, se fazem presentes os preceitos epistemológicos platônicos, mais especificamente a teoria da reminiscência, assim como as ideias racionalistas de Descartes, o empirismo clássico de Locke, a teoria da harmonia preestabelecida de Leibniz, o apriorismo de Kant e o evolucionismo de Lamarck e de Darwin. A partir dos entendimentos revelados pela análise e interpretação das obras piagetianas, pela reflexão acerca de seus comentadores, e pelas proposições epistêmicas contidas nos pensadores da antiguidade a modernidade nomeados acima, entende-se que Piaget foi, veementemente, um epistemólogo, por suas pesquisas teóricas e empíricas - estarem envoltas pelo propósito de esclarecimento de como se desenvolve o conhecimento. Contudo, a constituição epistêmica piagetiana se adentra, mais especificamente, pela Biologia, Filosofia e Psicologia, passando a revelar que o processo cognitivo do sujeito epistêmico ocorre na relação entre ele e o objeto a ser conhecido. Nesse sentido, Piaget elaborou uma teoria que se contrapôs aos pressupostos epistemológicos do empirismo clássico, assim como aos pressupostos racionalistas que sustentam a existência das ideias inatas , por entender que o conhecimento não está unicamente no sujeito ou no objeto cognoscível e, mas sim na relação entre ambos. Piaget não nega o papel fundamental da experiência no processo cognitivo; contudo, sua proposta se diferencia da Epistemologia Empírica por essa afirmar que a experiência é a única fonte do conhecimento. No mesmo sentido, afirma que há um sujeito cognoscente, porém esse não apresenta estruturas cognitivas inatas imutáveis, como afirmam as epistemologias de cunho inatistas, mas dirá que esse é dotado de uma funcionalidade cognitiva a priori. No campo educativo as proposições teóricas suscitadas, neste estudo, se fazem relevantes na medida em que promovem no docente uma problemática epistêmica, de cunho reflexivo, do seu agir pedagógico. O estudo divide-se em três capítulos: o primeiro deles trata dos fundamentos da Epistemologia tradicional, empirista e racionalista, enquanto disciplina filosófica, e da Epistemologia Genética; o segundo, dos processos de conhecer elencados, descritos e explicados por Piaget a partir de suas preocupações de biólogo e filósofo; e o terceiro aborda a posição e os aspectos aprioristas da Epistemologia Genética.